Orgulho!

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domingo, 8 de abril de 2012

TITANIC - VIII PARTE

Apagado todo o rumor de gente, um dos homens que estavam comigo em cima do batel, um fogueiro, figura esguia de demônio, com catadura de salteador, que sobre a quilha se sustinha encavalgado, disse-nos com um grave tom de voz:
"Rapazes, é preciso rezar pelas almas desses finados."
Estávamos ali homens de todas a religiões, com certeza, sem contar os que não tinham nenhuma; todos porém, todos, sim rezamos o Padre Nosso com intensa comoção. No fim acrescentou o fogueiro:
"O descanso eterno seja com os nossos irmãos que aqui morreram."
E então ouvi muitos de meus rudes companheiros, chorando, responderem:
Amém.
Depois fomos boiando, sem dizer palavra.


Uma das famílias a bordo. O pai faleceu, a esposa e a filha sobreviveram
Imagem: Maritime Quest

De quando em quando, se bem que o mar estava mansíssimo, passava uma vaga que cobria o nosso esquife e novamente nos molhava o corpo enregelado.
Passou uma hora, se não foram duas, pois em semelhante posição o tempo dura muito. Um cabo de marinheiro propôs, este alvitre:
"Se nós virássemos o barco? Dentro estaríamos perfeitamente sempre melhor do que pegados à quilha. De mais a mais, camaradas, a gente não pode ficar assim até que tempos! Já lá vão sete ou oito, que se não aguentaram!"
Com efeito, à minha parte, as mãos com o frio e a fadiga do afinco faziam me sofrer tanto, que eu a cada momento temia despegar e cair. Quanto aos pés, como iam rojando na água gelada, era indizível o tormento que me causavam.
E contudo, o alvitre do cabo foi rejeitado por quase todos: tão arriscada se afigurava a manobra precisa para o realizar.

No fundo do mar lúgubre, espectros de uma tragédia

Assim fomos flutuando ao som da água, vendo amiúdo náufragos que boiavam semi-cadáveres. Havia momentos em que a ilusão dum infeliz companheiro febricitante, ou o clarão enganador dos faróis verdes e dos foguetes nos escaleres de salvação, nos animava a todos com doloroso alento de esperança; porém, depois do desengano, recaíamos no taciturno abatimento da expectativa interminável.
Seriam as três da manhã, o marinheiro Johnston começou a queixar-se doloridamente. Deu-nos uma estremeção; porque já conhecíamos bem esse modo de gemer, que tínhamos escutado cada vez que um de nossos companheiros já exausto se apartara do lastimoso grupo para sempre.
- Sofres muito, Johnston?
- Oh! Yes!
- De quê, Johnston?
- De frio! Ai! Como estou com frio!

Continua ....

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