Orgulho!

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terça-feira, 29 de junho de 2010

VESTÍGIOS JUDAICOS










Em criança e seguindo adiante, ouvia minha mãe contar de uma antiga sinagoga que havia na rua Major Ouriques, próxima à Escola Estadual Rio Jacuí.

Em criança e sempre passando em frente ao referido prédio, ergui inúmeras vezes os olhos para observar o cimento áspero na platibanda do prédio com nítidos contornos da Estrela de Davi, símbolo da religião.

Em criança, os judeus da minha cidade haviam partido e a sinagoga, negociada com a Igreja Batista, em 1963.

Contudo, o vestígio da Estrela seguiu (e segue) misterioso, mesmo nos anos em que o prédio foi Igreja Cristã, até ser novamente negociado. Hoje, é oficina de consertos - a Eletrônica Fronza.

Seu proprietário cortês autorizou as fotos que ilustram esta matéria e alcançou-me uma cópia da conta de água que interessantemente, permanece em nome da Sociedade Israelita Cachoeirense.

Os judeus cachoeirenses chegaram na primeira década (entre 1913 e 1915 – antes do estouro da Revolução Russa) do início do século passado. No seu auge havia por aqui cerca de 25 famílias totalizando 60 pessoas. Os registros confiáveis confirmam a vinda de vários deles provenientes das terras da ex-URSS. Dedicaram-se ao comércio e indústria, principalmente.

Sem dúvida, a onda migratória russa de judeus naquela época para várias regiões do planeta e principalmente, EUA e Palestina, deveu-se às violentas perseguições a eles direcionadas nas terras russas. Conhecidas como POGROMS começaram a acontecer a partir de 1883, ainda durante o czarismo, ataques esses que se tornaram cíclicos, prosseguindo pelos primeiros anos da Revolução Russa de 1917, durante a Guerra Civil e posteriormente nos duríssimos anos iniciais da ditadura stalinista. Stálin pretendia criar repúblicas étnicas – uma delas, cuja capital era Birobidzhan, era república judaica na Sibéria.

Segundo uma das fontes pesquisadas, curiosamente “Birobidzhan hoje vive um renascimento graças à chegada de judeus vindos de Israel”.

Pelo Tratado de Versalhes, a Palestina passa a ser administrada pela Grã-Bretanha, contudo um ano antes (1917) havia sido assinada a Carta de Balfour pela qual os ingleses comprometiam-se a criar o Estado judaico.

Conclui-se, portanto, que a causa provável da vinda desses judeus foi todo esse imbróglio político dos primeiros anos do século passado, no qual havia um povo sem pátria e em evidente estado de diáspora. Destaco que ainda hoje, subsistem outros como os armênios, chechenos, bascos e palestinos, este últimos presos atualmente num gueto e palco de recente acontecimento internacional de ataque e aprisionamento, por parte de Israel, de navios com ajuda humanitária.

Há uma excelente matéria do Marcus Tatsch, no Jornal do Povo sobre o tema. O título é “Judeus, a etnia que desapareceu de Cachoeira”, cuja página pode ser pesquisada no JP online com data de 24/25 de julho de 2004. Esclarece, por exemplo, o porquê da partida destes cidadãos cachoeirenses.

Renate E S Aguiar

Pesquisa Histórica: Arquivo Histórico Municipal, Eletrônica Fronza, Jornal do Povo e biblioteca particular.

Fotos: acervo pessoal
Foto judeus cachoeirenses Abrahão Sklar, Sima German e Simão Sklar: Jornal do Povo.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

OS DEUSES GOSTAM DE SE DISFARÇAR



Zeus (gregos) ou Júpiter (romanos)



Abraão e Isaque

Se você tem uma ideia incrível, é melhor escrever um livro, mas saiba antes que não existe nada de novo sob o sol. Tudo já foi escrito antes. Duas fontes são a base de nossa cultura e da civilização ocidental. A Bíblia hebraica, que é o antigo testamento, e os textos de Homero sobre os deuses gregos com as viagens de Ulisses. O resultado é a civilização greco-cristã. Foram estes textos que nos mantiveram unidos em sociedade e formaram nosso caráter para o bem ou para o mal. Homero foi o autor grego. O Antigo Testamento foi escrito por Deus. Um era cego, o outro não podia ser visto, talvez daí aconteça esta tensão latente entre religião, Estado e o povo, todos meio cegos em relação aos outros. O maior escritor atual da língua portuguesa, que foi o Saramago, disse que a Bíblia é um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e da vileza da natureza humana.


Pecado Original

Os deuses eram bastante vingativos e muitas vezes apelavam para a ira. Os relatos de Homero contam sobre a aproximação entre deuses e homens e foi a mais antiga história que a civilização ocidental ouviu e tornou um símbolo para tudo que veio depois. Se tivermos que encontrar um exemplo para alguma coisa de hoje, saiba que os gregos já escreveram sobre isto. Foi quase um compêndio da sexualidade e das taras da vida privada dos deuses. Estes registros servem até hoje de releituras e são reescritos infinitamente, sendo adequados para cada século. Se você tem uma ideia incrível, leia a Bíblia ou a Odisseia e faça uma história a partir do Édipo, do José e seus irmãos, do Salomão com a rainha de Sabá e o templo, do Caim e Abel, do Teseu e do Minotauro, do Jacó durante 14 anos esperando a Raquel, da caixa de Pandora. Até o Shakespeare se inspirou no rei Salomão para escrever o "Rei Lear".

Originalidade não existe mais. Tudo se copia, e até o batismo religioso já existia antes do cristianismo, seja nos persas, nos egípcios e nos gregos. O paraíso, muito antes dos judeus e dos cristãos, já era relatado pelos hindus, chineses e pelo Zoroastro.

Até surgir o Guttemberg, que inventou a imprensa, a sabedoria sobre os gregos e troianos e cristãos era oral e os papéis escritos em latim. Somente monges e nobres tinham acesso à “verdade” e a interpretavam conforme a música e os clamores do povo. Usavam o fogo do inferno para domesticar e dominar a população. Quando o povo passou a ler, democratizou-se a cultura e a sapiência.


Hereges queimados vivos pela Inquisição.

A Copa do Mundo e as Olimpíadas nada mais são que os jogos gregos entre as cidades-estado.

Nada de novo sob o sol. As sacerdotisas gregas tomavam drogas e entravam em transe de mães-de-santo, orientando os fiéis. Sempre o homem usou drogas. Os deuses gostavam de se divertir.


Dionísio

Os deuses gregos foram um inventário de devassidão. Tudo começa quando Urano fornicou com a mãe terra, a Gaia, e teve um filho chamado Cronos, que ao crescer cortou a genitália do pai e depois casou com a irmã, que devorou os filhos. Enfim, era uma putaria escancarada e um manual de incesto e de antropofagia. Zeus se transformou num cisne para fazer um filho na Leda. Zeus era um garanhão e comeu quase todas as deusas. Gerou hermafroditas, ladrões, sádicos e sátiros. Um dos filhos de Zeus era o Dionísio, que ensinou a fazer o vinho e foi eleito o rei das safadezas e das inebriações andando com as bacantes em rituais de vinho e orgias.
Dionísio era um subversor do Estado e dos costumes, ao contrário do correto Apolo.

Bacantes

Dizem que a diferença entre os países do mundo é a sua característica ser dionisíaca ou apolínea. Enfim, a história dos deuses gregos é um compêndio de sexo, aberrações, drogas e taras. Todo mundo come todo mundo.

O antigo testamento também é repleto de inveja, calúnias e maledicências.

Esaú e Salomão foram, no fim da vida, uns devassos incuráveis. Irmão que mata irmão, o José sendo vendido pelos seus irmãos, Abrão que tentou matar o próprio filho Isaac. O Jacó e seu irmão Esaú. Jacó era o preferido da mamãe e o Esaú era o subestimado, daí contam que Jacó gerou os judeus e Esaú os árabes. Todas as reações humanas estão presentes no antigo testamento até chegar a palavra de Deus, repleta de acessos de raiva e de ações punitivas. Parece que toda aquela loucura precisava ter um processo judicial contínuo com penalidades e a possibilidade de garantias processuais. Todo mundo passou a viver com medo, esperando a redenção. Foi o grito de “Cristãos do mundo, uni-vos”.

Jacó

Abel morto

Mas sempre retornamos à Grécia, que inventou a filosofia que nos liberta das amarras das religiões e dos deuses. Pensar é a dialética em questão, que observa todos os aspectos de uma questão. Pensar é dialogar e não seguir em frente nos monólogos dos deuses. Isto é a democracia.

Se você tem uma ideia incrível, leia a Bíblia e a Odisseia. Ainda estamos repletos de Dionísios, Zeus, Esaús, Cains e até de Pandoras.
Carlos Eduardo Florence

Publicado no Jornal do Povo na edição dos dias 26-27 de junho de 2010.