Orgulho!

Orgulho!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

AS VIAGENS DE TREM - PRIMEIRA PARTE


Corina de Abreu Pessoa, à direita, no Rio de Janeiro em 1962


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A viagem pelo trem era mais rápida. Não ia até Porto Alegre, nesse tempo. Os trilhos chegavam só a Santo Amaro. Aí fazia-se a baldeação para um vaporzinho, que entrava em combinação com o trem.
No porto de Santo Amaro, o vapor recebia os passageiros, que sentiam um grande prazer, quando deixavam o trem e tomavam o vapor, livrando-se da poeira. De cara lavada, reconfortados com um bom jantar, chegavam em Porto Alegre à hora em que começavam a brilhar as luzes da cidade e ainda se viam as torres de N. S. das Dores.
Mais tarde, os trilhos alcançaram a capital gaúcha, atravessando as novas pontes do Caí, Gravataí e rio dos Sinos. O costume de baldeação ainda durou muito tempo, pois quem não tinha pressa preferia terminar a viagem pelo vapor, gozando a bela paisagem dorio e suas margens. Os apressados seguiam a viagem pelo trem. Mas ... passou tudo! Acabou-se a baldeação em Santo Amaro!
Grandes foram as mudanças em pouco mais de meio século. Abriram-se estradas de rodagem, cortando distâncias, reduzindo-as, aumentando populações, mudando nomes de estações ferroviárias, criando outras ...
Quem viajou no tempo das baldeações de Santo Amaro, deve lembrar-se dos almoços na estação de Cachoeira e do café com "leite de verdade" e saborosos sonhos. Sonhos grandes, dourados, que os passageiros devoravam rapidamente, na parada do trem. Valia a pena fazer uma viagem somente para comê-los.
Em Cachoeira, os passageiros desciam e almoçavam no "Restaurante Bertile*" em uma sala ampla, bem servidos e tranquilos; comiam em terra firme! Nada disso existe mais. Somente as velhas Estações nos lembram esse tempo, através da pátina que cobre as suas fachadas, sem os arrebiques modernos das "marquises".
Entra ano, sai ano, e lá está a velha estação de Cachoeira, a mesma que conheci quando chegamos no ano de 1893, mais escura, mais movimentada.
As velhas gerações passaram ali, as novas estão passando e elas, as Estações de Cachoeira e do velho e lendário Rio Pardo, sempre firmes, apesar do tempo decorrido, como avozinhas queridas da Viação Férrea, contando as suas glórias passadas, os seus carros novos e limpos, as locomotivas nipônicas, os horários certos e a alegria dos seus passageiros na hora do almoço em Cachoeira e do café com sonhos no Rio Pardo!

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* Fiquei em dúvida se ela não queria escrever Pertile. (RESA)

Alfredo Leal, um brasileiro esquecido
Corina de Abreu Pessoa
Págs. 48 a 50



Linha Porto Alegre-Uruguaiana - km 628,273 (1960)

RS-0694
Inauguração: 23.12.1890
Uso atual: museu e outros
Com trilhos
Data de construção do prédio atual: 1890

HISTÓRICO DA LINHA:

A Estrada de Ferro Porto Alegre-Uruguaiana foi aberta como empresa federal em 1883, ligando Santo Amaro (Amarópolis) a Cachoeira (Cachoeira do Sul).
Para se ir de Santo Amaro a Porto Alegre utilizava-se a navegação fluvial no rio Jacuí.
Em 1898 foi encampada pela Cie. Auxilaire, empresa belga, e em 1905 passou a ser a linha-tronco da VFRGS, ainda administrada pelos belgas.
Em 1907, os trilhos atingiram finalmente Uruguaiana, na fronteira com a Argentina. Somente em 1911, a construção da linha Santo Amaro-Barreto-Montenegro possibilitou a ligação da longa linha com a Capital, utilizando-se parte da antiga linha Porto Alegre-Novo Hamburgo.
Em 1920, a linha tornou-se estatal novamente.
Em 1938, a variante Diretor-Pestana-Barreto diminuiu a linha em 50 km.
Durante os seus anos de operação foram construídas algumas variantes, para encurtar tempos e distâncias, eliminando algumas estações de sua linha original.
Em 1957 foi encampada pela RFFSA.
Em 2 de fevereiro de 1996, deixaram de rodar os trens de passageiros pela linha, que, hoje transporta os trens cargueiros da concessionária ALL desde esse mesmo ano.

Fonte: Estações Ferroviárias do Brasil
Página elaborada por Ralph Mennucci Giesbrecht.


Imagem: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima

AS VIAGENS DE TREM - SEGUNDA PARTE


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Imagem: rua Sete de Setembro

Grande é o progresso do Rio Grande do Sul.
Acabou tudo isto, menos os carros velhos da Viação Férrea e as estações principais. Houve a retificação das linhas entre Santa Maria e Porto Alegre, reduzindo as horas de viagem. Os trens adotaram o carro-restaurante, a fim de poupar ao passageiro desgaste de tempo nas descidas para as refeições.
Deve ter sido um grande melhoramento, mas privou o passageiro de fazer refeição substanciosa e tranquila. Como se sabe, o carro-cozinha fica perto da locomotiva e o passageiro precisa vencer a perigosa travessia, aos solavancos, até alcançá-lo. Quando o carro é "Pullman" é mais fácil. Aí senta-se à mesa e espera que, entre dois solavancos, possa tomar o seu café ou a sopa ... Raramente coincide a refeição com a parada do trem. Na Viação Férrea do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre a Cachoeira ou Santa Maria, o caso é "menos pior", porque os felizardos viajantes dispõem dos trens diretos - (ou quase) - modernos e confortáveis, como o Minuano, mas na Sorocabana, que vai a São Paulo, de Santa Maria em diante, o caso muda de figura.
Tudo é velho e sem conforto. Péssimo o serviço dos carros-refeitórios, péssimas as cabines.
O viajante, após três dias de viagem, chega ao seu destino com a cabeça moída pelas pancadas que o atiram de encontro à sua cabine. Como é possível não ter saudades dos tempos felizes do café com sonhos de Rio Pardo e dos almoços de CACHOEIRA?



Imagem: vista da rua Sete de Setembro a partir do Banrisul. A data provável é por volta do início dos anos 1930.
Em primeiro plano, à esquerda o telhado do Hotel do Comércio. Ao lado a hoje Casa Dois Irmãos que ainda conserva a cabeça de Hermes (menos as asinhas da cabeça).
A imagem foi clicada pelo antigo e tradicional Studio Aurora.

Cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima

Destas maravilhosas viagens, por terra e pelo rio Jacuí, também participou o nosso amigo Alfredo leal. Mais de uma vez veio a Cachoeira, em visita ao meu pai.
Numa dessas viagens, ele quis visitar a estância de Augusto Motta, no Piquiri, a fim de ver e examinar as suas terras, abundantes em calcários. Lá esteve. Examinou-as, e voltou encantado com o que viu. O Rio Grande, Cachoeira, poder ter cimento.
O nosso químico sonhou com a sua exploração. Viu o Estado gaúcho produzindo o melhor cimento. A sua imaginação começou a trabalhar como a de D. Quixote ...

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Alfredo Leal, um brasileiro esquecido
Corina de Abreu Pessoa
Págs. 50 a 51



Imagem: Estação Cachoeira clicada por Carlos Augusto Schmidt
Acervo pessoal


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BREVE LINHA DO TEMPO

1845 - Ano da Lei Bill Aberdeen que permitia aos ingleses interromper o fluxo de navios negreiros provenientes da África para a América. Autorizava a Marinha do Reino Unido a interceptar os navios negreiros brasileiros e submetia suas tripulações a tribunais

1850 - Aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, proibindo o tráfico de escravos no Brasil. O efeito imediato é liberar recursos de capitais antes investidos nessa atividade. É deste ano o início da implantação do transporte ferroviário, período em que o Império procura consolidar-se enquanto nação unificada e desvinculada de Portugal

1854 - Inaugurada no Rio de Janeiro a primeira estrada de ferro do Brasil, empreendida pelo industrial nascido no Rio Grande do Sul, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá

1855 - O Império organiza a empresa Estrada de Ferro Dom Pedro II

1858 - A rede ferroviária já conta com seus primeiros 48 quilômetros

1866 - Início da história ferroviária no Rio Grande do Sul

1870 - Incorporada na Inglaterra a empresa “The Porto Alegre & New Hamburg Brazilian Railway Company Limited” com ações lançadas no mercado londrino

1874 - Inauguração da primeira seção da estrada de ferro compreendida entre Porto Alegre e São Leopoldo. Extensão: 33.756 metros. É a primeira ferrovia do Rio Grande do Sul

1877 - Início das obras da Estrada de Ferro Porto Alegre - Uruguaiana

1883 - CONSTRUÇÃO DA ESTAÇÃO FÉRREA DE CACHOEIRA DO SUL, como parte da primeira seção Porto Alegre - Uruguaiana

1884 - A Estrada de Ferro Rio Grande – Bagé inaugura seu primeiro trecho. O traçado pretendia interligar Rio Grande, Pelotas e Bagé

1885 - A ferrovia iniciada em Porto Alegre prossegue rumo a oeste. Neste ano atinge Santa Maria
1894 - Estabelecida ligação ferroviária com Cruz Alta a partir da capital

1910 - A mesma ferrovia atinge a fronteira norte, no ponto do atual município de Marcelino Ramos, passando por Passo Fundo

1916 - Olavo Bilac chega em Cachoeira do Sul para conferências cívicas e literárias

1920 - Criação da Viação Férrea do Rio Grande do Sul

1922 - A expansão da estrada Porto Alegre–São Leopoldo atinge o município de Canela

1959 - Extinção da Viação Férrea do Rio Grande do Sul e encampação pela Rede Ferroviária Federal

1973 - 21 de maio. Inauguração da nova gare da RFFSA no bairro Oliveira

1974 - 7 de janeiro. Inauguração da Variante de Cachoeira do Sul, retificação do traçado Santa Maria – Porto Alegre

1974 - Jornal do Povo: 22 de dezembro. A iminente compra da área da RFFSA é considerada vitória de Pedro Germano

1975 - Jornal do Povo: 17 de abril . Poder Executivo cachoeirense mobiliza-se para adquirir junto à RFFSA a área da antiga Estação Ferroviária

1975 - Jornal do Povo: 22 de maio. Confirmada a aquisição da Estação Ferroviária com 20% de entrada do valor e o restante em 60 parcelas

1975 - 1º de junho. Prefeitura inicia obras na área que pertenceu à Viação Férrea. Manchete do jornal: “Obras Iniciam Amanhã”

1976 - Idealizado o Museu do Trem em São Leopoldo

1983 - A RFFSA restaura a estação que passa a se chamar Centro de Preservação da Ferrovia do Rio Grande do Sul

1985 - Inauguração do Museu do Trem

1991 - Desativada a linha Porto Alegre - Uruguaiana

1992 - A Rede Ferroviária Federal é incluída no Programa Nacional de Desestatização do governo Fernando Henrique Cardoso

1993 - Permanecia ativa somente uma linha, que saía de Porto Alegre às 8 horas e 20 minutos passando por Cachoeira às 15 horas, com destino a Livramento

1996 - Passagem do último trem, em 3 de fevereiro. Os trens húngaros são desativados

1996 a 1998 - Privatização da Rede Ferroviária Federal. Transferência de sete malhas ferroviárias para a iniciativa privada

Pesquisa realizada em 2010 e publicada no Jornal do Povo na matéria "Passageiro da Agonia" em 24 de janeiro de 2011.
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sexta-feira, 27 de maio de 2011

O HOTEL DO COMÉRCIO NAS LEMBRANÇAS DE CORINA DE ABREU PESSOA


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Meu pai pensou em Cachoeira e resolveu embarcar no dia seguinte e lá esperar que o estado sanitário de Porto Alegre permitisse a nossa ida.
Seguimos no dia seguinte - 25 de abril. O destino conduziu-nos à cidade de onde não sairíamos mais! Cachoeira era a cidade desejada por meu pai. Cachoeira era a cidade onde ele sempre desejara morar! E assim foi.
Chegamos e hospedamo-nos em um hotel na rua 7 de Setembro, de propriedade de um senhor Guilherme Bartmann, que se achava foragido por questões políticas. A casa onde funcionava este hotel ainda existe, resistindo galhardamente, ao tempo e às reformas da arte moderna. Era o HOTEL DO COMÉRCIO. Ali estivemos algum tempo e ainda me lembro do café da tarde, com pão quente da padaria da "Bouna" que ficava em frente ao Hotel, do lado da rua travessa (a casa era de esquina), onde meus irmãos iam brincar.
Nesse tempo o pão era uma delícia e a manteiga puríssima! O Hotel constituía adaptação de casa antiga, mas serviam-nos muito bem. Não jantar não havia "feijão branco", nem água salobra.




Meu pai foi nomeado chefe da estação telegráfica de São Gabriel e levou os dois meninos mais velhos.
Cachoeira oferecia-nos aspecto de tranquilidade e bem estar, como não vimos nas cidades da fronteira. Bom clima. Boa água. Bom pão e boa gente!
Situada na margem direita do rio Jacuí, espalhava o seu casario branco pelas colinas verdejantes. Amplos e luminosos horizontes.
Cachoeira, nesse tempo de revolução, de lutas e invasões, era um "oásis" de paz! O tumulto revolucionários, com o movimento de tropas, não existia.




Notícias de combates, morticínios, chegavam atenuadas, quase diluídas! Se não fosse uma ou outra perseguição política, que às vezes aparecia, nem se sentiria o abalo da revolução em marcha!
Do hotel "O Comércio" passamos para casa de soteia, na rua Saldanha Marinho. Aí nasceu o meu oitavo irmão, - irmã, aliás.
Meu pai voltara de São Gabriel e esperava ser nomeado chefe da estação de Cachoeira.
Nessa ocasião correu a notícia da prisão de alguns cachoeirenses, acusados como inimigos políticos do governo. Houve pânico e alarme na cidade, porque os presos eram homens pacatos, de prestígio social, e exemplares chefes de família.
Dos prisioneiros, recordo-me dos nomes de três: Luziano Motta, João Jorge Krieger e Antônio Francisco Pessoa. Pertenciam eles ao Partido Federalista - eram MARAGATOS - e foram aacusados de atividades contra o governo estadual.
Foram presos pela ação direta e pessoal do então Sub-Chefe de Polícia, Dr. Augusto Borges de Medeiros. A notícia de que eles embaracariam para Cacequi, causou consternação na cidade, por todos sabiam o que significava "ir para Cacequi". Era o mesmo que ir para o Caty! Receberiam a "gravata colorada", nome pitoresco que davam à degola! ... Graças à intervenção de amagios influentes junto ao Governo, não foram para o Cacequi. Antônio Francisco Pessoa, que depois foi meu sogro, teve ordem de recolher-se a Porto Alegre, onde ficou com a cidade por menagem. Reintegrados na sociedade cachoeirense, voltaram aos seus labores: não foram mais molestados. De tudo isso, restou somente a lembrança do grande susto, causado pela trágica visão do "Cacequi".
Quem não ouviu contar as histórias trágicas do Caty e do Coronel João Francisco? Talvez fossem exageradas pelas paixões, pelos ódios, mas, até hoje, não houve quem as estudasse e estabelecesse a verdade a seu respeito ...


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Alfredo Leal, um brasileiro esquecido
Corina de Abreu Pessoa
Págs. 34 a 36

ASPECTO ATUAL DO HOTEL DO COMÉRCIO: a porção que alcançava a rua Sete já foi demolida há um longo tempo. A "sobra" dele agoniza.


ANÁLISE DA OBRA ARQUITETÔNICA

Nesta parte do trabalho, a professora Jussara destaca que em 1940 a edificação ainda encontrava-se intacta.
Posteriormente ela acabou desmembrada, a casa geminada pelo lado da rua Saldanha Marinho foi demolida e os acessórios que repousavam na platibanda desapareceram.
Jussara escreve:
"Atualmente o prédio encontra-se desprovido de muitas ornamentações, mas mesmo assim mantém as principais características da casa de porão alto, pertencente ao estilo neoclássico".

ANÁLISE DA OBRA ARQUITETÔNICA

A obra arquitetônica analisada identifica-se claramente com o estilo NEOCLÁSSICO, apesar da falta de acessórios que faziam parte da arquitetura*.

* Por ocasião do trabalho da professora Jussara, as esculturas, os vasos e as pinhas já tinham sido retiradas.




1 - No ato da construção, conforme ver-se-á a seguir, as platibandas eram encimadas por objetos de louça do porto, como as figuras que representavam as virtudes, as estações do ano, vasos e Pinhas.
De início, a presença da platibanda nas fachadas principais e motivos geométricos decorados com frisos.

2 - A faixa de azulejos portugueses ficavam abaixo da cornija que por sua vez, ficava embaixo da platibanda.


Imagem: fonte localizada na casa de Salita Abreu decorada com azulejos provenientes da Casa Bem-Bem. O leão por onde esquichava a água foi roubado. Segundo seu filho, Ricardo, D. Salita ao recuperar as duas esculturas verificou que as demais estavam quebradas. Um pequeno conjunto de azulejos está no acervo do Museu Municipal:


Está escrito nele: "Azulejos portugueses da fachada da casa em que D. Pedro II e sua esposa foram hospedados em Cachoeira, no ano de 1846".

3 - Na imagem da década de 1980, uma parte da casa já tinha sido demolida. Geminadas, cada parte abrigava famílias de herdeiros diferentes.

4 - A porta da entrada principal que dá acesso ao interior é almofada com verga reta. Na parte superior da mesma, para manter a simetria e dar maior luminosidade foi colocada uma falsa janela, que como as demais é com verga em arco pleno, apresentando bandeira com vidros coloridos.
A entrada é constituída de um patamar de 1,30 m de comprimento sobre o qual se abrem as folhas da porta de entrada.
Para solucionar o problema do desnível entre o piso e a habitação e o plano do passeio, foi construída uma escada em madeira com catorze degraus, guarnecida por um corrimão de ferro terminando em pequenas pilastras.
Após a escada abrem-se três portas, todas almofadas e enquadradas por pilastras, com verga em arco plano e vidros coloridos. Todas dão entradas para salas.

5 - Abaixo da platibanda surge a cornija ornamentada com uma fileira de dentículos. A seguir uma faixa de azulejo português, salientando o encontro da fachada principal com a lateral aparece ema meia coluna canelada, que não sai diretamente do piso, mas sim de uma base, possuindo um capitel em forma de volutas.

6 - As janelas aparecem com verga em arco pleno e bandeira com vidros coloridos, sendo todas enquadradas por pequenas pilastras.
Na fachada lateral ainda permanece uma abertura em forma de óculos, sendo que cinco foram substituídas por portas com verga reta.

7 - Meia coluna canelada com capitel em forma de volutas.

8 - A construção é de esquina, sendo que a fachada principalmente e uma lateral foram erigidas sobre o alinhamento da rua.

9 - Rua Saldanha Marinho

10 - Rua General Portinho


JOAQUIM SALDANHA MARINHO

Joaquim Saldanha Marinho, político e jornalista brasileiro (Olinda, PE, 1816 - Rio de Janeiro, RJ, 1895). Teve grande atuação na campanha republicana e na Questão Religiosa (1872), que opôs setores da Igreja Católica a elementos da administração imperial ligados à Maçonaria.

Foi presidente das províncias de Minas Gerais (1865-1867) e de São Paulo (1867-1868). Nessa época promoveu em Campinas uma reunião de fazendeiros e financistas, da qual resultou a fundação da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, primeira do gênero organizada sem o concurso de capitais estrangeiros.

Em 1868, rompeu com o governo imperial. O manifesto republicano de 1870 foi redigido em sua casa. Era figura importante na Maçonaria.

Fonte: Enciclopédia Viva

JOSÉ GOMES PORTINHO
Nasceu em Cachoeira do Sul em 1º de setembro de 1814 e morreu na mesma cidade, em 8 de agosto de 1886. Iniciou sua vida atuando no comércio. Partidário de Bento Gonçalves, José Gomes Porto, o Portinho, ingressou na luta durante a Revolução Farroupilha. Por sua bravura, logo passou de soldado a sargento.

Em 1838 foi promovido a tenente-coronel e aos 28 anos Portinho já era general. Ele comandou as guardas nacionais de Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul e Santa Maria.

Foi deputado provincial e pecuarista em Cruz Alta, atividade que lhe rendeu um título de nobreza, o de barão. Em 1858 o general foi agraciado com o título de Brigadeiro Honorário do Imperial Exército Brasileiro.

Fonte: Banco de Dados do Museu Municipal Patrono Edyr Lima

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MERCADO PÚBLICO, SEMPRE UMA LENDA A NOS ASSOMBRAR

Corina de Abreu Pessoa conta:

"No princípio do ano seguinte, meu pai foi nomeado chefe da estação telegráfica de Cachoeira e passamos a residir à rua 7 de Setembro, na praça José Bonifácio, que era chamada "das Palmeiras", por causa das belas árvores que a circundavam.
Quando floriam era uma beleza, mas, quando os seus frutos começavam a abrir e a espalhar a sua penugem, era um martírio! Por esse motivo foram cortadas e substituídas ...
No centro dessa praça estava o MERCADO, bela construção quadrilateral, onde o cachoeirense encontrava carne, verdura e frutas. Tendo quatro entradas com portões de ferro, o Mercado dispunha de um pátio ladrilhado, com tanques para as verduras e água em abundância.
Cachoeira progrediu. As ruas foram calçadas. Bonitas casas foram construídas. Os excelentes Prefeitos que Cachoeira teve deram-lhe água, esgotos e luz elétrica. A praça foi remodelada e o Mercado passou a ser considerado um MONSTRENGO!
Era um marco do passado colonial. Representava a "presença" constante da construção antiga, constrastando com as linhas modernas dos novos edifícios e com a vida atual.
Decretou-se-lhe a DEMOLIÇÃO em nome da "ESTÉTICA" e do progresso da cidade arrozeira. Para substituí-lo aí está a feira! A estética urbanística foi salva, mas a cidade perdeu o lugar adequado para vender e comprar seus produtos, sem deixar a sujeira e o mau aspecto de um monturo no centro urbano!...
Será mais estético o abarracamento da feira, com as suas carroças, caminhões e todo o seu "trem"? Será mais econômico, mais higiênico?...
A estas horas o velho Mercado já deve estar arrasado e em seu lugar se erguerá um majestoso "arranha-céu" para dizer aos cachoeirenses que mais vale ser empilhado vivo em apartamentos de luxo, do que ter um edifício do tempo de D. João VI**. Mais vale um gosto do que seis vintens!...
Passemos adiante.


** O Mercado Público foi construído durante o II Império.

DO LIVRO ALFREDO LEAL*, UM BRASILEIRO ESQUECIDO
Corina Pessoa

Impresso em 20 de junho de 1959
Oficinas gráficas da Livraria Selbach
Porto Alegre
Comercializado pela Livraria Sulina

* ALFREDO LEAL, FARMACÊUTICO, BAIANO,FUNDADOR DA ESCOLA MEDICINA DE PORTO ALEGRE, JUNTAMENTE COM VALENÇA APPEL E JOÃO DAUDT

O Mercado Público da cidade de Cachoeira do Sul foi planejado a partir das necessidades, diante do avanço da cidade, para que se concentrasse num lugar estratégico, o comércio e prestação de serviços com características diversificadas.
Corria o ano de 1883, a seis anos da República, quando o conjunto foi entregue aos cachoeirenses.
Quantos foram os seus anos de fartura? Quarenta? Cinquenta?
Se foi ponto de "convergência das elites", conforme consta na matéria do jornal 'O Comércio', também foram as elites que dele divergiram, isto é, tomaram a decisão de destruí-lo.
De novo as forças vivas cachoeirenses entram em ação.
Pois obviamente que não foram os descamisados que tomaram a decisão de demolir os MAIS IMPORTANTES PRÉDIOS HISTÓRICOS DA CIDADE, subtraindo nacos do potencial turístico da HISTÓRICA CACHOEIRA!


Mercado Público - CM*/V/OF - 012 - retro

Contrato da Construção de um mercado na Praça José Bonifácio, arrematado em 29.11.1881, por Crescêncio da Silva Santos pela quantia de 22:600,000.

20 verso - Art. 1º - O Mercado será construído perfeitamente no centro da Praça José Bonifácio = que tem atualmente por divisa da parate (este o seguimento da rua Moron, tendo a mesma distância para os quatro lados.

Data: 05/12/1881


Despesa da Câmara Municipal da Cachoeira no exercício de 1881 a 1882
Lei Provincial nº 1333
27 de março de 1881

Juros para o empréstimo de 25:000 réis autorizado pela lei nº 1210 de 1879 e pela presidência.
Obras do Mercado desta cidade autorizado pelo art. 4º da lei nº 1335.
Paço da Câmara Municipal da Cidade de Cachoeira do Sul
Janeiro de 1883
Presidente: Francisco Gomes Porto
Secretário: Manoel Teixeira Cavalheiro


Imagem: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima

IM/EA/SA/RL - 001
Copiador de atas
f. 9 r
"Em 30 de setembro de 1882 reúne-se a Câmara para receber o Mercado, para o qual já há locadores em 1º de outubro"

IM: Intentência Municipal
EA: Estatística e Arquivo
SA: Serviço de Arquivo
RL: Registro de Livros recolhidos 1909 (sub-série 1)

FONTE: Arquivo Histórico


Jornal O COMÉRCIO
Dia 9 de janeiro, quarta-feira de 1957

SETENTA E QUATRO ANOS APÓS A ENTREGA DO MERCADO PÚBLICO, ELE "SE ENTREGA":



SEGUNDA-FEIRA PRÓXIMA TERÁ INÍCIO A DEMOLIÇÃO DO VELHO MERCADO PÚBLICO
O material servirá para construção do Quartel dos Bombeiros

O velho e tradicional Mercado Público acha-se em agonia, praticamente em seus últimos momentos.
Segundo informações colhidas pela nossa reportagem, segunda-feira próxima terá início o começo do fim do velho e tradicional casarão.
A picareta inexorável do operário romperá aquelas antigas paredes, cujo vulto, já em tempos idos extasiaram os cachoeirenses de então. Por certo não será fácil dizer da alegria e dor que no seu recinto foram vividas. Precisamos considerar que, como tudo neste mundo de nosso Deus, o hoje velho mercado ou pardieiro mesmo já foi novo. E como tal teve o seu encantamento. Já foi o ponto de convergência das elites. Ponto de mexericos, também. E, por isso, dono de alguma graça e saudosas reminiscências.
Com a demolição do velho Mercado Público, lá se vai mais um marco da Cachoeira antiga.
O local do atual mercado será convenientemente ajardinado, estando prevista a construção de uma fonte luminosa, particularidade que por certo emprestará à Praça José Bonifácio, um destaque especial. O projeto de ajardinamento do referido local, está sendo elaborado pelos srs Joaquim Vidal e Willy Haas, desenhistas da Secretaria de Obras Públicas Municipal. Nesse projeto, pelo que estamos informados, está prevista a supressão do tráfico de veículos pela via de acesso que circunda o atual mercado. Todo o espaço será convenientemente ajardinado.
O material aproveitável da demolição que se processará, será empregado na construção do edifício do Quartel dos Bombeiros, que localizará em parte o terreno hoje ocupado pelo Almoxarifado da Prefeitura Municipal na rua Riachuelo.

Nas memórias de João Carlos Mór:




Mercado Público no meio da praça

No centro da Praça José Bonifácio, onde hoje está a Fonte das Águas Dançantes, existia o Mercado Público, uma construção de alvenaria com frente para todos os pontos cardeais, ou seja, entrada central em todas as faces. Cada face do mercado possuía cerca de 100 metros. Na face frente, lado oeste, na esquina com o lado sul, havia o açougue de Rocco Mainieri. Logo após o portão de entrada ficava o açougue de Ernesto Krieger, atendido pelo proprietário e pelo empregado Lobato.

Na esquina, face oeste/norte, existia um bar onde faziam ponto os proprietários de carroças de aluguel. No lado sul estava estabelecido o armazém de Hugo Stringhini. Mais tarde, o armazém passou para o popular Carrasco. Ao lado do portão de entrada havia a venda de Clodomiro Silva e no lado leste o almoxarifado da Prefeitura e outros depósitos ou salões de barbeiros.

Cigarros - No centro do mercado, havia uma banca de peixes onde diariamente podiam ser encontrados, ainda vivos, dourados, piavas, pintados, lambaris, etc., todos pescados no Jacuí. Nesses pontos do mercado, a gurizada comprava cigarros a granel, pois não havia dinheiro para comprar em carteiras. O preço de uma Regência, Liberty, Tufuma ou Quero-Quero era o mesmo: dois por um tostão. Com 500 réis comprava-se 10 cigarros e toda a turma ia para trás do cinema, sob a sombra das paineiras, fumar todo o estoque, pois não era aconselhado chegar em casa com cigarros no bolso.


Fonte de pesquisa: Arquivo Histórico Carlos Salzano Vieira da Cunha

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A MODA SEMPRE À CASA RETORNA

Entre as imagens decorreram 150 anos (em torno de).
A senhora alemã e as primas do príncipe inglês William apostaram na extravagância.
E a english lady também.
E então?



Cortesia: Manfred Wispel (imagem de antepassados seus)



segunda-feira, 23 de maio de 2011

ESTUDO ARQUITETÔNICO DE UMA CASA DE PORÃO ALTO

A casa das Bem-Bem é uma lenda cachoeirense. É a casa que hospedou D. Pedro II.
É a casa que em 1940 ainda conservava apoiadas na platibanda, uma série de oito esculturas de cerâmica alouçada, potes e pinhas.
Quatro das esculturas representavam as estações do ano e as demais as virtudes. Uma sabe-se que representava Apolo, deus grego da beleza e da juventude.
Esta monografia foi escrita em 1982 por Jussara Maria Motta Schumacher no seu curso de pós-graduação em História das Artes pela Faculdade de Música Palestrina, Porto Alegre.
Transcrevi-a porque percebi nas palavras da Jussara, há 29 anos atrás, seu espanto quando ela diz: "mais um patrimônio histórico da nossa cidade vai ser extinto". E também para que outras pessoas possam analisá-la e tirar suas conclusões.
Por que a majestosa edificação não foi preservada?
Na medida que obtiver mais imagens e/ou detalhes desta encantadora morada "mas nem tanto" (o andar de baixo servia de senzala), publicarei novas postagens.
Na foto antiga percebe-se a inexistência de janelas no andar da senzala, somente aberturas conhecidas como óculos.



Obs: na época desta fotografia, esculturas, potes e pinhas já tinham sido vendidos e a casa modificada para que o andar inferior servisse de comércio. No seu interior certamente pouco e nada restava do glamour do início do século XX.

INTRODUÇÃO

A presente monografia mostra uma construção que encerra as características próprias de um estilo arquitetônico bem definido: o NEOCLÁSSICO.
O objeto em análise é uma casa de porão alto que além de representar um grande marco histórico para a cidade de Cachoeira do Sul, desde a hospedagem de D. Pedro em 1846, mantém através dos tempos as suas principais características.
O trabalho foi iniciado com uma visita pela cidade à procura de prédios antigos e com tristeza foi constatado que mais um patrimônio histórico da nossa cidade vai ser extinto, a velha casa da Saldanha Marinho, "A casa que hospedou D. Pedro II" como todos a conhecem.
Talvez por saber que daqui a algum tempo uma nova construção a substituirá, a escolha caiu sobre a mesma, para que mais tarde, a quem interessar, fique alguma documentação, pois, atualmente nota-se pouco interesse na conservação de prédios antigos, visto as dificuldades encontradas em conseguir informações e dados concretos sobre a referida obra.
A Prefeitura Municipal só possui registros a partir de 1942. O Registro de Imóveis possui somente um inventário datado de 12 de Setembro de 1908, tendo como inventariante o Sr. José Antônio Machado de Araújo.
Deste modo, tornou-se difícil fazer um histórico sobre a arquitetura, e os dados conseguidos foram de pessoas da comunidade, dos proprietários do imóvel e álbuns sobre a cidade, onde encontram-se fotos da casa.
No decorrer do trabalho procurar-se-á mostrar a construção em duas fases: a primeira quando foi construída; a segunda como está atualmente, através de uma pequena análise e fotografias.
Este estudo possibilitou uma completa visão tanto do estilo enfocado como da época em que foi construído. Também, serviu de alerta para a importância da conservação de um patrimônio histórico.

Jussara Maria Motta Schumacher
Cachoeira do Sul, janeiro de 1982.


Fonte de Pesquisa: Museu Municipal Patrono Edyr Lima

domingo, 22 de maio de 2011

TÚNEL DO TEMPO

PÁGINA INFANTIL - 1922



DE BENJAMIN CAMOZATO

GRANDE ÁLBUM DE CACHOEIRA

quinta-feira, 19 de maio de 2011

MERCADO PÚBLICO, SEMPRE UMA LENDA A NOS ASSOMBRAR

O Mercado Público da cidade de Cachoeira do Sul foi planejado a partir das necessidades, diante do avanço da cidade, para que se concentrasse num lugar estratégico, o comércio e prestação de serviços com características diversificadas.
Corria o ano de 1883, a seis anos da República, quando o conjunto foi entregue aos cachoeirenses.
Quantos foram os seus anos de fartura? Quarenta? Cinquenta?
Se foi ponto de "convergência das elites", conforme consta na matéria do jornal 'O Comércio', também foram as elites que dele divergiram, isto é, tomaram a decisão de destruí-lo.
De novo as forças vivas cachoeirenses entram em ação.
Pois obviamente que não foram os descamisados que tomaram a decisão de demolir os MAIS IMPORTANTES PRÉDIOS HISTÓRICOS DA CIDADE, subtraindo nacos do potencial turístico da HISTÓRICA CACHOEIRA!


Mercado Público - CM*/V/OF - 012 - retro

Contrato da Construção de um mercado na Praça José Bonifácio, arrematado em 29.11.1881, por Crescêncio da Silva Santos pela quantia de 22:600,000.

20 verso - Art. 1º - O Mercado será construído perfeitamente no centro da Praça José Bonifácio = que tem atualmente por divisa da parate (este o seguimento da rua Moron, tendo a mesma distância para os quatro lados.

Data: 05/12/1881


Despesa da Câmara Municipal da Cachoeira no exercício de 1881 a 1882
Lei Provincial nº 1333
27 de março de 1881

Juros para o empréstimo de 25:000 réis autorizado pela lei nº 1210 de 1879 e pela presidência.
Obras do Mercado desta cidade autorizado pelo art. 4º da lei nº 1335.
Paço da Câmara Municipal da Cidade de Cachoeira do Sul
Janeiro de 1883
Presidente: Francisco Gomes Porto
Secretário: Manoel Teixeira Cavalheiro


Imagem: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima

IM/EA/SA/RL - 001
Copiador de atas
f. 9 r
"Em 30 de setembro de 1882 reúne-se a Câmara para receber o Mercado, para o qual já há locadores em 1º de outubro"

IM: Intentência Municipal
EA: Estatística e Arquivo
SA: Serviço de Arquivo
RL: Registro de Livros recolhidos 1909 (sub-série 1)

FONTE: Arquivo Histórico


Jornal O COMÉRCIO
Dia 9 de janeiro, quarta-feira de 1957

SETENTA E QUATRO ANOS APÓS A ENTREGA DO MERCADO PÚBLICO, ELE "SE ENTREGA":



"SEGUNDA-FEIRA PRÓXIMA TERÁ INÍCIO A DEMOLIÇÃO DO VELHO MERCADO PÚBLICO
O material servirá para construção do Quartel dos Bombeiros

O velho e tradicional Mercado Público acha-se em agonia, praticamente em seus últimos momentos.
Segundo informações colhidas pela nossa reportagem, segunda-feira próxima terá início o começo do fim do velho e tradicional casarão.
A picareta inexorável do operário romperá aquelas antigas paredes, cujo vulto, já em tempos idos extasiaram os cachoeirenses de então. Por certo não será fácil dizer da alegria e dor que no seu recinto foram vividas. Precisamos considerar que, como tudo neste mundo de nosso Deus, o hoje velho mercado ou pardieiro mesmo já foi novo. E como tal teve o seu encantamento. Já foi o ponto de convergência das elites. Ponto de mexericos, também. E, por isso, dono de alguma graça e saudosas reminiscências.
Com a demolição do velho Mercado Público, lá se vai mais um marco da Cachoeira antiga.
O local do atual mercado será convenientemente ajardinado, estando prevista a construção de uma fonte luminosa, particularidade que por certo emprestará à Praça José Bonifácio, um destaque especial. O projeto de ajardinamento do referido local, está sendo elaborado pelos srs Joaquim Vidal e Willy Haas, desenhistas da Secretaria de Obras Públicas Municipal. Nesse projeto, pelo que estamos informados, está prevista a supressão do tráfico de veículos pela via de acesso que circunda o atual mercado. Todo o espaço será convenientemente ajardinado.
O material aproveitável da demolição que se processará, será empregado na construção do edifício do Quartel dos Bombeiros, que localizará em parte o terreno hoje ocupado pelo Almoxarifado da Prefeitura Municipal na rua Riachuelo.

Nas memórias de João Carlos Mór:




Mercado Público no meio da praça

No centro da Praça José Bonifácio, onde hoje está a Fonte das Águas Dançantes, existia o Mercado Público, uma construção de alvenaria com frente para todos os pontos cardeais, ou seja, entrada central em todas as faces. Cada face do mercado possuía cerca de 100 metros. Na face frente, lado oeste, na esquina com o lado sul, havia o açougue de Rocco Mainieri. Logo após o portão de entrada ficava o açougue de Ernesto Krieger, atendido pelo proprietário e pelo empregado Lobato.

Na esquina, face oeste/norte, existia um bar onde faziam ponto os proprietários de carroças de aluguel. No lado sul estava estabelecido o armazém de Hugo Stringhini. Mais tarde, o armazém passou para o popular Carrasco. Ao lado do portão de entrada havia a venda de Clodomiro Silva e no lado leste o almoxarifado da Prefeitura e outros depósitos ou salões de barbeiros.

Cigarros - No centro do mercado, havia uma banca de peixes onde diariamente podiam ser encontrados, ainda vivos, dourados, piavas, pintados, lambaris, etc., todos pescados no Jacuí. Nesses pontos do mercado, a gurizada comprava cigarros a granel, pois não havia dinheiro para comprar em carteiras. O preço de uma Regência, Liberty, Tufuma ou Quero-Quero era o mesmo: dois por um tostão. Com 500 réis comprava-se 10 cigarros e toda a turma ia para trás do cinema, sob a sombra das paineiras, fumar todo o estoque, pois não era aconselhado chegar em casa com cigarros no bolso.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

REQUENTADA NA POLÊMICA

O historiador Voltaire Schilling publicou no dia 25 de outubro de 2009, um texto no jornal Zero Hora que incendiou vaidades e hostilidades.
Li o texto naquele dia e dei um bocado de risada.
Sem usar o recurso da baixaria, Voltaire escreveu de forma divertida sobre o que ele pensava de determinados monumentos de Porto Alegre.
Para desenferrujar a memória, segue o texto.


A CAPITAL DAS MONSTRUOSIDADES
Voltaire Schilling


Desde que Marcel Duchamp, um ex-artista cubista, francês de nascimento que escolheu os Estados Unidos como residência, mandou um urinol para ser exposto numa galeria de Nova York e, quase em seguida, em 1915, montou uma roda de bicicleta equilibrada sobre um pequeno banco e a fez passar por obra de arte, abriu-se a Caixa de Pandora dos horrores estéticos que a partir de então invadiram o cenário das exposições de arte.




Para acentuar ainda mais o seu deboche para com o que até então se entendia como arte, Duchamp, um pândego, um moleque crescido, pintou um belo bigode numa imagem da Mona Lisa de Leonardo da Vinci, ícone da pintura ocidental. Como ele não foi confinado num manicômio nem encarcerado por ofensas ao patrimônio estético (interessante observar que nunca o Direito Penal preocupou-se em classificar como crime hediondo quem de propósito fabricasse a feiura!), parte da vanguarda artística ocidental tomou-o como um profeta dos novos tempos. Estabeleceu-se então um deus nos acuda.



Todavia, o que particularmente nos chama a atenção como cidadãos desta nossa capital, que mais uma vez se vê intimidada pelo flagelo de uma nova “instalação”, é a notável concentração de “esculturas” e “monumentos” absolutamente espantosos. Um pior do que o outro.
Nosso calvário começa por aquela mandada erguer pelos burgueses do bairro Moinhos de Vento para celebrar sua vitória em 1964 que se encontra no Parcão (homenagem ao marechal Castello Branco, mas que também pode referir-se ao desembarque de um extraterrestre), chegando ao hediondo “timão” situado na rótula que antecede o museu Iberê Camargo.



Imagem: Monumento a Castello Branco


Aliás, o primeiro “timão”, que parecia ter esterco como matéria original da sua composição, foi destruído pelos vileiros do Morro Santa Tereza, certamente indignados em terem-no nas vizinhanças (sofriam de uma injusta punição, além da pobreza tinham que encarar diariamente o exemplo da medonhice).



Imagem: Timão

Este colar sem fim de mau gosto que nos assola ainda é composto pelo “cuiódromo”, encravado na rótula da Praça da Harmonia (obra que por igual pode ser entendida como a exaltação de um superúbere de uma vaca premiada), e por um tarugo de ferro enferrujado que adentra o Rio Guaíba nas proximidades da Usina do Gasômetro e que se intitula, pasmem, Olhos Atentos.


Imagem: "Cuiódromo"


Imagem: Olhos Atentos

Nem os que foram perseguidos pelo regime militar escaparam destas maldades estéticas. O “monumento” que os lembra, erigido no Parque Marinha do Brasil, nos faz supor que eles continuarão atormentados ainda por muito tempo mais.
A gota d’água derradeira destas perversidades que acometem contra nós, pobres porto-alegrenses, foi a inauguração recente da Casa Monstro, situada na Rua dos Andradas. Pelo menos o autor, um jovem paulista, enfim alguém sincero no ramo, não a escondeu atrás de um título esotérico ou poético: é monstruosa, sim!
Trata-se da reprodução de um tumor que, inchado, é expelido pelas aberturas da construção e vem se mostrar aos olhos dos passantes, tal como se fora um abdômen de um canceroso recém aberto pelo bisturi de um cirurgião. Como se vê, uma maravilha!



Imagem: Casa Monstro

Minha interrogação, depois de passar rapidamente os olhos sobre este vale de horrores que nos circunda, é por que Porto Alegre, cidade aprazível, moderna, povoada por gente simpática, habitada pelas mulheres mais belas do país e que abrigou artistas como Vasco Prado, Xico Stockinger e Danúbio Gonçalves, termina por excitar o pior lado de muitos que por aqui vêm expor?
Dizem-me que eles deixam estas abominações como doação (por não encontrarem compradores e não quererem arcar com o translado) e a infeliz prefeitura, constrangida, não tem como lhes dizer não.
Faço desde já um apelo ao secretário municipal da Cultura, Sergius Gonzaga, se este ano tal ameaça se repetir, mobilize-se. Levante recursos, promova uma ação entre os amigos da cidade para despachar tais coisas para qualquer outro lugar. Senão, peça socorro à ONU. Porto Alegre, aliviada, lhe será eternamente agradecida.


Jornal Zero Hora, Porto Alegre, RS - 25 de Outubro de 2009