Orgulho!

Orgulho!

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

DOIS POETAS

Fernando Melo, militante comunista e natural de Pelotas, deixou uma obra póstuma, a novela "Os fios telefônicos" escrita em 1948, um ano antes portanto, de ser assassinado. Foi publicada pela Editora Universitária da UFPEL. Seus assassinos nunca foram punidos.
Fonte: UFPEL

Leonor Scliar Cabral é doutora em Linguística pela USP, Professor Emeritus, titular aposentada pela UFSC e pós-doutorada pela Universidade de Montreal. Possui dezenas de de títulos e trabalhos publicados no Brasil e no exterior.
Fonte: CNPQ

Seu marido, Plínio Cabral, jornalista, bacharel em Direito e publicitário. Foi militante comunista (marxista-leninista) e stalinista feroz até a medula. Natural de Santa Maria, foi repórter de Libertação (1945) órgão da intelectualidade do PCB. Foi também repórter da revista Horizonte entre 1949 e 1958. De repente trocou de lado, aliou-se ao que havia de mais reacionário no Estado e ajudou a preparar o Golpe de 1964. Foi premiado com o cargo de Chefe da Casa Civil do governo Ildo Meneghetti (1963-1965). Publicou, ainda, Política Sem Cartola Rio de Janeiro: Record Editora, onde ataca seus antigos companheiros.

Fonte: Dicionário Ilustrado da Esquerda, João Batista Marçal e Marisângela Martins, Editora Livraria Palmarinca.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

VENDA DE LEITOS PARA SENHORAS

Fonte: "Guardados" de Sérgio Zanotto

VENDA DE LEITOS PARA SENHORAS

Circular nº  314

Comunico-vos, para os devidos fins que a partir desta data nos casos de venda de leito para senhoras que viajam só, os agentes deve observar os seguintes dispositivos, quer no tráfego interno, como no tráfego externo:

A)     Ao serem vendidos os bilhetes lilás, as bilheterias procurarão colocar sempre as senhoras, que solicitarem apenas um leito, reunidas nas mesmas cabines.

B)     Quando tal não possam conseguir, por se apresentar, em tais condições número ímpar de senhoras, uma das cabines será ocupada por uma senhora apenas, podendo o leito disponível ser vendido em viagem a outra senhora, porém nunca a um cavalheiro, só se aquela concordar, expressamente, em aceitar a companhia do cavalheiro pretendente ao leito vago.


Porto Alegre, 5 de dezembro de 1934.

Homero Dias

P/ Empresa Chefe de Tráfego




BOLETIM INFORMATIVO, REDE FERROVIÁRIA FEDERAL SOCIEDADE ANÔNIMA


Sr. Sérgio Zanotto, posando junto ao último "trem azul", no Museu Municipal Patrono Edyr Lima. A foto fez parte da coluna de Eduardo Florence "O último telegrafista", de 16 de fevereiro de 2008.
Foto: Robespierre Giuliani
Sr. Sérgio Zanotto na gare da Parada 109 entre a Estação Cachoeira e Ferreira. Ao fundo observa-se o ponto de manobras. Segundo Sérgio, a foto é de 1985.

O telegrafista Sérgio Zanotto está em cima da locomotiva, de terno escuro. Perguntei a ele se recordava o nome dos colegas, infelizmente, não.

Tesouros guardados por Sérgio Zanotto.

Renate e Sérgio em 30 de agosto de 2012. Roubei o colete do meu colega Itamar que aparece no vidro atrás tirando a foto. Esta foi boa ... Sérgio já alcança avançada idade mas sua memória é quase nota 10!

sábado, 25 de agosto de 2012

25 de AGOSTO - DIA DO SOLDADO

Enedino, o última ex-combatente brasileiro (residente em Cachoeira)! 
Pelo Dia do Soldado que hoje comemoramos, segue minha homenagem a este senhor que chegou aos 90 anos esbanjando sorriso e simpatia. Enedino faleceu há um ano atrás e para conseguir estas fotos no seu último desfile foi uma ginástica e tanto, mas valeu a pena. O Jornal do Povo * publicou matéria sobre o ex-combatente Enedino em 11 de outubro de 2010.
*Clique sobre o título do jornal para chegar à matéria do repórter Luís Bacedoni.





Os últimos febianos estão partindo ...

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Serenata Monumental Queima das Fitas - Coimbra

O fado é lindo demais ... Esta cerimônia de formatura em Coimbra derrete qualquer coração. Merece ser conferido.

PRAÇAS SÃO ECOS DA CONDUÇÃO DA CIDADE







Nossas praças personificam ecos cotidianos da administração, da urbe ou singelas lembranças pueris. Quando penso nestes locais públicos de Cachoeira, chamados na antiga Grécia de ágoras, a linha do tempo delas configura imagens na minha mente: evolução natural, ficcional, surrealista, aventuras e desventuras.

São quatro as principais: 1ª) Praça do Pelourinho, atual José Bonifácio, a mais antiga, datada de 1830; 2ª) Praça Balthazar de Bem, erigida pouco a pouco, recebeu este nome em 1925; 3ª) Praça-reservatório Borges de Medeiros, construída em 1925 e, por fim, 4ª) a ‘E.T.’ Praça Honorato, nascida Estação Ferroviária, decepada em 1976 por forças ocultas e posteriormente meio recauchutada, meio metamorfoseada.

Um dia a Praça da Matriz sofreu o primeiro esquartejamento, praticado também por forças enigmáticas. Na volta dela, havia um gracioso muro mais ou menos alto com gradil – proteção contra os cavalos e que seria hoje, digamos, altamente pertinente nessa época onde a eficiência e a impunidade da cleptocracia assombram. Roubam-se desde anões de jardim, comida de creche a retroescavadeira (milagrosamente recuperada). Recebeu como vizinho o deus heleno das águas, Poseidon, cercado de beldades – as musas das artes e ciências, esculturas surpreendentemente ainda intactas. Conveniou-se usar a versão latina – Netuno – sem prejuízo algum ao encanto do monumento.

O neoclassicismo temperava os ares pelos olhares do construtivismo. Ao lado da passarela, havia um vizinho nobre, o Teatro Municipal (o segundo), construído em 1900. Quem habitava bem no píncaro da cumeeira, o lugar mais privilegiado? Mistério. Foi condenado à pena capital. Antes da execução, suas últimas palavras devem ter sido lagartos, cobras e pragas por não entender como um santuário cultural de menos de vinte anos desmanchava-se para anos mais tarde dar lugar a uma nova construção, padrão-arquitetônico-Europa-submetida-à-Cortina-de-Ferro. Nesta época, várias escolas públicas foram construídas muito parecidas obedecendo a plantas oficiais cujos critérios eram interrogações. Talvez, um sinal do arranque da massificação das escolas públicas com sua posterior degringolação.

Pelourinho, Ponche Verde, do Mercado ou das Palmeiras, nomes rudes demais cederam espaço a José Bonifácio, a eminência parda da independência, um nome forte, uma praça forte mas ... cadê a praça? O Mercado sucumbiu em 1957. E o Coreto? No lugar da majestade, surgem a negligência e a banalização: pista de skate, calçadão desértico, fonte parada e barzinhos. As dunas são os montículos de entulhos das reformas eternas. Mais? Evaporaram os bancos, a mureta, a escada curva com colunetas, o antigo cinema Coliseu, os potes, o relógio. O coração cachoeirense enfarta: o ventrículo esquerdo chora, o direito uiva tal como a “Casa da Aldeia do Florence”, uma aurícula se retorce, a última delira, febril. Cachoeira está farta.

No início da década de 70, descobriu-se que a Pátria não tinha aqui um altar à altura da dignidade que a Nação merecia. Fácil, muito! Consultou-se um oráculo onde habitavam cupins roedores, motosserras, picões, martelos e brocas. Desmaterializou-se no fumacê, a última praça pública com ares virginais – mas nem tanto ... Sob as fanfarras de ‘Pra Frente, Brasil, Salve a Seleção’ retumbando ainda havia somente dois anos, desfigurou-se a bela vista da Praça Borges de Medeiros com uma espantosa combinação ao estilo água e óleo. Não se misturaram. Acabei de lembrar do artigo do historiador Voltaire Schilling, na Zero Hora, ‘A Capital das Monstruosidades’, onde o autor se refere a um vale dos horrores, devido à existência de monumentos em Porto Alegre, deslocados da órbita do razoável. Foi outro duro golpe, porque a praça já estava desfigurada por reformas anteriores.

Em 1º de junho de 1975, veio abaixo a Estação Ferroviária de Cachoeira do Sul, construída em 1883. Pena capital, assunto tabu. A comunidade virou estátua de sal. Quando se lê qualquer memória de Cachoeira, há um constrangedor vão, um buraco negro cujo espaço hoje, transtornado, abriga gregos e troianos, inferno e paraíso, rios e mares de lágrimas de uma ruptura. Há um imenso campo para o parque, um banheiro público fedorento, um acasalamento de pontos de ônibus, tenebrosos dogs, um camelódromo, um estranho monumento à imigração e um melancólico metro de muro remanescente da antiga Estação. Entre as árvores, no meio deste tabuleiro surreal, uma planta morta, seca e torta. Pergunta ingênua: por que não é construída uma réplica mais modesta? Devolveria à cidade uma tênue luz de respeito e dignidade para com sua história do tempo dos trilhos.

Delirou-se a revitalização da Estação Ferreira para amainar remorsos reprimidos, porém esta, esfiapa-se diante dos vândalos, da ignorância e da cegueira oficial. Segue ainda em pé, assumindo aparência de queijo suíço pelos roubos das aberturas, da cobertura e do assoalho. Parece que foi mesmo um sonho e nada mais.

Cachoeira pulsa e purga seus pecados. Uma histórica cidade, de históricos erros. As ágoras-praças seguem vivas, seguem lembranças, seguem doloridas recebendo, por seus generosos caminhos, seu povo. Parecem não se importar com o fato de que um dia foram cartão postal, refinadas rainhas. Oferecem seus bancos à sua gente, suas sombras ao descanso, o verde ao prazer dos olhares, seus mistérios às saudades de pessoas como eu, apaixonada platonicamente pelo passado intrigante, feliz e infeliz, dos recônditos deste nosso chão.


Publicado no Jornal do Povo, Cachoeira do Sul, em 07 de junho de 2010.


* Subsídios históricos: historiadora Mirian Ritzel, diretora do Núcleo Municipal da Cultura; historiadora Ione Sanmartin Carlos, diretora do Arquivo Histórico Municipal; Museu Municipal Edyr Lima e Felippe Moraes, presidente do COMPAHC.

* Créditos fotográficos: Museu Municipal, Arquivo Histórico, COMPAHC, Osvaldo Cabral de Castro, Renato Thompsen,Oni Lopes, Arquivo CORSAN, acervo pessoal.

* Fotos
NO TOPO:
Monumento ao Imigrante, praça Honorato de Souza Santos.
À ESQUERDA:
Primeira: Estação Ferroviária (foto do início do século XX)
Segunda: Passagem de trem pela Estação Ferreira
Terceira: Praça Borges de Medeiros (década de 30?)
Quarta: Vista aérea do conjunto Praça Balthazar de Bem, Chateau D'Eau, Igreja Matriz, Intendência e Teatro Municipal (década de 20 ou 30?)
À DIREITA:
Primeira: Estação Ferroviária de Ferreira
Segunda: Gazebo na José Bonifácio (demolido)
Terceira: Praça Borges de Medeiros

A CABANA POSITIVISTA CORRE PERIGO!


Foto: cortesia COMPAHC. Entrada da fazenda de Borges de Medeiros em Irapuazinho, município de Cachoeira do Sul

Recentemente a Patrícia Miranda, do Jornal do Povo juntamente com a funcionária Elisabete Farias da Silva, do Museu Municipal Edyr Lima, estiveram na Fazenda de Borges de Medeiros, fazendo um minucioso levantamento fotográfico do local.
O prédio principal, o interior, as benfeitorias, nada escapou das lentes curiosas dos visitantes.
As fotos foram, posteriormente, encaminhadas ao COMPAHC que enviou aos conselheiros imagens da gravidade dos danos, decorrente do abandono do patrimônio e da memória do Rio Grande do Sul.
Aparentemente estas imagens, transmitem normalidade.
Porém, a fazenda está semi-abandonada e entregue ao tempo, ao Minuano e às lembranças de uma época inquieta.



Foto: cortesia COMPAHC. Fazenda de Borges de Medeiros

O ex-governador positivista Antônio Augusto Borges de Medeiros (1863-1961), governou em dois longos períodos, de 1898 a 1908 e de 1913 a 1928. Em 1932 apoiou a Revolução Constitucionalista dos paulistas contra o presidente Getúlio Vargas, seu ex-companheiro do PRR.
Herdeiro político de Júlio de Castilhos, foi o mais importante político gaúcho da República Velha (1930-1945) e responsável pelo domínio do Partido Republicano Riograndense - PRR - durante mais de 40 anos na política gaúcha.
Do tempo de Borges foram criadas a Faculdade de Medicina (1898) e o Instituto de Agronomia (1899), que mais tarde foram reunidos e originaram a UFRGS.
Também encampou a Viação Férrea e o Porto de Rio Grande em 1920, que passou para o controle do governo gaúcho.

O ÚLTIMO PRACINHA

O último ex-expedicionário da guarnição de Cachoeira do Sul chama-se Enedino Elesbão e vai desfilar no dia 7 de Setembro.





Enedino, Etvin e Abrilino (os dois últimos falecidos recentemente)


A COBRA VAI FUMAR, símbolo e grito de guerra dos expedicionários brasileiros.



Leio tanto sobre guerras e batalhas que a cada dia penso ser impossível que haja paz no planeta.
Uma delas nos é muito cara, a Segunda Guerra Mundial pelas dimensões alcançadas.

Segundo Voltaire Schilling, "a Segunda Guerra Mundial, iniciada setembro de 1939, foi a maior catástrofe provocada pelo homem em toda a sua longa história. Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos os continentes (direta ou indiretamente). O número de mortos superou os cinqüenta milhões havendo ainda uns vinte e oito milhões de mutilados.

É difícil de calcular quantos outros milhões saíram do conflito vivos, mas completamente inutilizados devido aos traumatismos psíquicos a que foram submetidos (bombardeios aéreos, torturas, fome e medo permanente). Outra de suas características, talvez a mais brutal, foi a supressão da diferença entre aqueles que combatem no fronte e a população civil na retaguarda. Essa guerra foi total. Nenhum dos envolvidos selecionou seus objetivos militares excluindo os civis.

Atacar a retaguarda do inimigo, suas cidades, suas indústrias, suas mulheres, crianças e velhos passou a fazer parte daquilo que os estrategistas eufemisticamente classificavam como "guerra psicológica" ou "guerra de desgaste". Naturalmente que a evolução da aviação e das armas autopropulsadas permitiu-lhes que a antiga separação entre linha de frente e retaguarda fosse suprimida".





O Brasil enviou à Itália em julho de 1944, 25.334 expedicionários. Destes, 943 morreram e 4000 ficaram feridos durante os onze meses de campanha.


Abrilino e Enedino



O 3º BEC homenageou o último pracinha e todos os demais expedicionários com placas, não diria comemorativas e sim, reflexivas.


Abrilino e Enedino


Abrilino, Enedino e Etvin



Canção do Expedicionário com Letra de Guilherme de Almeida e música de Spartaco Rossi

Ex-expedicionários Enedino, Abrilino e Etvin (da esquerda para a direita) recebem lembranças dadas pelo 3º Batalhão de Engenharia e Combate.

OBS: Os nomes completos dos pracinhas falecidos que acompanhavam Enedino José Elesbão na foto são: Abrilino Luiz de Melo e Etvin Schultz.
As fotos foram gentilmente cedidas pelo Setor de Relações Públicas do 3º BEC, de Cachoeira do Sul.

PASSAGEIRO DA AGONIA



Previsão do Tempo
Ensolarado

Tempo hoje
Mn. 19
Mx. 32

Geral
ANO - Nº 173 - Edição de Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2011
Olá, Renate | Alterar Meus Dados | Sair
VC REPÓRTER
Os últimos dias do Passageiro da Agonia

Como foi destruída a Estação Férrea do centro da cidade e ferida para sempre a memória de Cachoeira




Foto raríssima em Cachoeira: trem parado na Júlio de Castilhos, segurando o trânsito
Cortesia: Ricardo Radünz (a imagem foi clicada pelo seu pai, Júlio Emílio Radünz)

Renate Schmidt Aguiar

A antiga Cachoeira Grande do Sul foi cruzamento de coordenadas geográficas de trilhos, variantes e estações de marcantes passagens. A gaúcha Cachoeira Grande do Sul sofreu intervenções arquitetônicas e urbanísticas na onda dos modismos nacionais. Tais mudanças relacionaram-se com projetos modernizadores fundamentados, segundo a pesquisadora Lia Osório Machado, da UFRJ, “na esperança de um futuro melhor e na rejeição do passado, na abolição dos seus vestígios e na sua superação. A vergonha do passado e a crença no futuro se fizeram sentir, por exemplo, na disseminação das ideias de dimensão continental do país, de espaços vazios e de oferta ilimitada de terras, que fazia do Brasil um país do futuro, uma ideologia avassaladora a partir da República. Olhou-se para o passado apenas para cimentar a identidade nacional, que estava então sendo forjada”.

Hoje, felizmente, se está diante de outra realidade, a de que a cada dia mais cidades buscam revalorizar seu passado através da preservação/recuperação/restauração do que sobrou de paisagens anteriores e, naquelas onde a destruição foi devastadora, somam-se esforços para salvar e valorizar o que restou. Lia Osório Machado reconhece que “essas tentativas nem sempre têm sido bem-sucedidas. O desejo de tombar toda edificação que possa ser identificada como memória urbana raramente tem sido acompanhado de adoção de medidas que incentivem proprietários e inquilinos a preservar os imóveis tombados, fato que tem levado, muitas vezes, ao tombamento ipsis litteris da edificação que queria proteger”.

DEPRIMENTE - Em Cachoeira, as deprimentes realidades da Casa da Aldeia, da Ponte de Pedra, do Paço Municipal e da Estação Férrea de Ferreira forjaram-se diante de discursos decorados, transferências de responsabilidades, abstenções, fugas, ignorância e burrice. Cachoeira poderia ser polo de atração turística pelas suas características temporais, mas perdeu-se numa babel de incompreensíveis contradições. E foi esta babel que desencadeou a decisão da retirada de toda a estrutura da Estação Cachoeira, a estação ferroviária do Largo Villagran Cabrita, convertendo em entulho e pó uma das mais ricas páginas da nossa história.

MUITO MAIS AMÉRICA!


Menino peruano descendente dos filhos do sol, os incas.

MAIS AMÉRICA

Quando tinha dez anos, cursava a quarta série primária. Eram tempos anteriores à Reforma do Ensino de 1972, que unificou o primário e o ginásio criando o hoje chamado ensino fundamental.
Numa aula de Estudos Sociais, estávamos concentrados no trabalho com mapas quando a professora interveio em meio à “pintança” dos mesmos e solicitou que usássemos no Chile o vermelho, porque acontecia “algo” por lá. Corria o ano de 1968.
Não me lembro se aprendi sobre o Chile. Acho que ninguém entendeu o Chile, muito menos o porquê da cor naquele momento e, no entanto, o inusitado pedido ficou armazenado em algum nicho da memória.
E a História daqueles anos passava na janela e só a “Carolina” Renate não via. Os livros didáticos eram áridos. Os registros em caderno, mais solicitados. Havia um vácuo, e eu não sabia.
Os anos de exceção revezavam-se nos trancos e barrancos.
Em 1972, minha turma foi conduzida ao Ginásio de Esportes para a inauguração da III Fenarroz. Foram muitas palmas para o descendente de bascos, Emílio Garrastazu Médici. Regressamos orgulhosos, pois havíamos conhecido pessoalmente, e pela primeira vez, um Presidente do Brasil.
Só fui entender a amplitude destes dois momentos muitos anos depois e, para não faltar com a verdade, não sei se entendi ainda direito sobre os acontecimentos da ascensão e queda do médico socialista eleito presidente do Chile, Salvador Allende, fuzilado no Palácio Presidencial de La Moneda, em 1973.
O buraco negro - largura 1964 x comprimento 1985 x profundidade 21 - ainda deve suas explicações.
A abertura política aliviava o ranço e oxigenava as editoras. A liberdade voltava a colorir páginas impressas.
E os livros didáticos alcançaram a onda. Ganharam inserções opinativas e textos jornalísticos. E o professor, antes cerceado porque refém, despedia-se da água morna e do chove-não-molha.
Com tais mudanças, fui percebendo a necessidade de um novo norte , uma nova História que enfatize menos a Antiguidade Oriental, o Mundo Clássico e Europeu. Tais temas terminam por consumir quase toda a comida do prato. Os jovens, cheios de presságios, curiosos de sufrágios e fartos de deságios, precisam de mais América e Brasil, mais Rio Grande do Sul e Cachoeira. Mais músculo, gordura e osso da terra continental que abriga a suas vidas e lutas.
Dos velhos cemitérios indígenas, o retorno dos espíritos de Touro Sentado, Gerônimo, Cavalo Doido, Montezuma, Atahualpa, Tupac Amaru, Cunhambebe, Sepé Tiaraju atiçaria novas curiosidades e reações.



Menina habitante do Lago Tititica

Mais América!


Cantuta, a flor nacional do Peru

Do nosso país negro, poucos ouviram falar do advogado mulato Luís Gama, especialista em libertar escravos; do abolicionista José do Patrocínio e do “triste fim” de Lima Barreto.
O porquê de tanta amargura nos versos de Augusto dos Anjos, no homem do seu poema, o Homo Infimus , “carne sem luz, criatura cega, realidade geográfica infeliz”. O porquê do filho de escravos alforriados Cruz e Souza ter tido recusada sua indicação para a promotoria de Laguna. Resposta: cor da pele.
Alguém sabe da vida e obra de José Maurício Nunes Garcia, filho de uma mestiça e de um negro alforriado, designado Mestre de Capela Real por D. João VI?
Mais Brasil!
Quem sabia que o marinheiro João Cândido Felisberto, o “Navegante Negro”, que pedia o fim da chibata na Marinha do Brasil, durante o governo do marechal presidente Hermes da Fonseca, era gaúcho?




Mais Rio Grande!
Sabes quem foi Cabo Toco?

Mais Cachoeira!




Flores do altiplano peruano. O lugar é próximo a Machu Pichu.

Texto publicado no Jornal do Povo na edição de 29-30 de agosto de 2010 na coluna de Eduardo Florence por ocasião das suas férias.
Fotos: gente e flores do Peru nas imagens de Liane Schmidt.
Fragmento scaneado de jornal: jornal Correio do Povo de 20 de junho de 2002.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Notgeld aus Kohle - Dinheiro "de conta" de carvão



ALLEN GEWALTEN ZUM TRUTZ SICH ERHALTEN

"Todas as forças para enfrentar o inimigo"




* Clique sobre o título e vá ao link do Money Museum



"Anos de carvão" ou moeda de carvão cunhada em 1922, quatro anos após o término da 1ª Guerra Mundial. A Alemanha tenta de todas as formas reerguer-se e irá trilhar o caminho errado ... Nela lê-se notgeld, isto é, dinheiro emergencial. A falta de metais, a inflação, a crise, impedia que o dinheiro fosse produzido em matéria-prima mais nobre.

Acervo pessoal

A moeda e o milhão de mortos

NO PASARÁN (Dolores Ibarruri, La Pasionaria)


Livro de Érico lançado em 1940, um romance sobre a Guerra Civil, baseado no diário de um
ex-brigadista brasileiro que, terminado o conflito, também conheceu as boas condições de vida em um campo de concentração francês.     
"FRANCISCO FRANCO CAUDILLO DE ESPAÑA POR LA GRACIA DE DIOS"
A Moeda

Há um tempo atrás resolvi dar uma caprichada na limpeza de uma escrivaninha que comprei já usada. Removida a torre de gavetas, observei dentro do "buraco" delas, entranhada/espremida, uma moeda (percebi logo pelo formato). Qual não foi minha surpresa quando vi do que se tratava: uma moedinha (mais ou menos igual ao tamanho da de 1 centavo), espanhola de 1959, ainda do amargo tempo do ditador Francisco Franco (1939-1975).

      Francisco Paulino Hermenegildo Teodulo Franco Y Bahamonde nasceu em El Ferrol, na Galiza. Pertencia a uma família cujos homens serviam como soldados e burocratas da Marinha Real Espanhola. De estatura baixa e voz anasalada, Francisco Franco fugiu à regra, tornando-se oficial de artilharia do Exército. Em 1912 foi destacado para servir no 58º Regimento da África, e em 1920 tornou-se sub-comandante da Legión Española. Promovido sucessivamente até alcançar o generalato, pelas vitórias que alcançou no Rif e por sufocar pela violência o levante dos mineiros das Astúrias, em 1935 foi nomeado chefe do Estado-Maior do Exército. Afastado de Madri depois da vitória da Frente Popular, ocupou o cargo de comandante-chefe das Forças Armadas espanholas na África.
Verso da pequena moeda

FRANCISCO FRANCO  

      Comandou a insurreição militar de 1936 e tornou-se chefe supremo das forças nacionalistas durante a Guerra Civil Espanhola. Terminado o conflito, em 1939, deixou atrás de si um rastro de um milhão de mortos, um país traumatizado. em setembro, iniciar-se ia a II Guerra Mundial. Assumiu o poder e governou ditatorialmente o país até morrer, em 1975 quando a Espanha voltou a ser uma monarquia sob a batuta do rei Juan Carlos (aquele que foi pego com a boca na botija, caçando recentemente elefantes na África ...).

 






Federico Garcia Lorca (1896-1938), brilhante e talentoso, antifascista e antifranquista foi umas das vítimas que tombou pela brutalidade das forças de reação de Franco. Foi fuzilado entre os dias 18 e 19 de agosto de 1936. 
Calou-se o corpo e nasceu para a eternidade sua obra.
Franco, o matador de poetas!



Infelizmente, os partidos políticos e organizações sindicais
espanholas (até 1939) eram demasiadamenate demais ...
Uma vez eu li ou alguém me disse: que as esquerdas só eram unidas na prisão ...

PRINCIPAIS PARTIDOS

1) PSOE: Partido  Socialista Obrero Español, fundado em 1879 por marxistas.

2) UGT: Unión General de los Trabajadores, central sindical socialista fundada em 1888.

3)  Confederación Nacional del Trabajo, central sindical fundada em 1910.

4) FAI: Federación Anárquica Ibérica: grupo político anarquista.

5) PCE: Partido Comunista Español: fundado em 1921. Caracterizava-se por seguir a orientação do Partido Comunista da União Soviética.

6) Ceda - Confederación Española de Derechas Autónomas: coligação de grupos católicos e monarquistas de direita, criada para concorrer às eleições de 1933.

7) Falange Española Tradicionalista: grupo fascista criado em 1933. Em 1937 passou a denominar-se Falange Española Tradicionalista de las Juntas de Ofensiv Nacional Sindicalista.

9) Poum: Partido Obrero de Unificación Marxista: fundado em 1935 por antigos membros do PCE. Influenciado por Trotsky, rejeitava a orientação stalinista do Partido Comunista soviético.


10) JSU: Juventudes Socialistas Unificadas: associação das juventudes comunista e socialista, organizada em 1936 e controlada pelo PCE.

11) Partí Socialista Unificat de Catalunya: criado em 1936 como resultado da fusão de dissidentes socialistas e comunistas e que se transformou no partido comunista catalão.



Fonte: A Guerra Civil Espanhola, série História em Movimento, 
José Carlos Sebe Bom Meihy e    Cláudio  Bertolli Filho, 1996, Editora Ática.

GRANDES FILMES













INTELECTUAIS, ARTISTAS E JORNALISTAS

 
Acima, André Malraux  e abaixo, George Orwell
                                                                     
                                                                     Ernest Hemingway
          
 Albert Camus

 Pablo Neruda


André Malraux, partidário dos comunistas, reuniu
cerca de vinte aviões, pilotos e mecânicos de seu
país, e formou uma esquadrilha própria para lutar
na Espanha. Escreveu livros e dirigiu um filme sobre
o conflito.

George Orwell, chegou à Espanha para lutar como
soldado comum nas colunas do Poum (Partido
Obrero de Unificación Marxista). Foi ferido em
combate depois de permanecer quatro meses nas
trincheiras.

Ernest Hemingway, autor do romance Por quem os
sinos dobram, certamente o texto literário mais famoso
sobre a Guerra Civil Espanhola. Enviou farto material
noticioso para os jornais americanos e escreveu a peça
teatral 'A quinta-coluna', sobre os espiões
nacionalistas infiltrados nos exércitos republicanos.

Pablo Neruda, desenvolveu contínua campanha em
favor da redemocratização espanhola, opondo-se ao
governo franquista. Participou do II Congresso
Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura,
de tendência antifascista, em 1937.

Albert Camus, atuou na mesma linha do poeta
comunista Pablo Neruda. Tornou-se notável porta-
voz do antifranquismo.

Carlos Drummond de Andrade também compôs versos sobre o conflito. Em Notícias da Espanha, o poeta fala sutilmente da censura às notícias sobre a guerra civil.

Aos navios que regressam
marcados de negra viagem,
aos homens que neles voltam 
com cicatrizes no corpo
ou de corpo mutilado

peços notícias de Espanha
[...]

O RIO GRANDE DO SUL NA GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Hermenegildo de Assis Brasil* (1910-1941)

Militar e militante comunista. Revolucionário profissional. Natural de Cacequi, sobrinho de Assis Brasil, comandante político da Revolução Maragata de 1923. Alistou-se três vezes no Exército Brasileiro. Nas três ocasiões, foi expulso por subversão, preso e conseguiu fugir. Participou do levante militar de 1935, sendo novamente detido, mas escapou de forma espetacular para alistars-e nas Brigadas Internacionais que atuaavam na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Em 1938, na Sierra de San Cornélio, nas montanhas dos Pirineus, comandando um pequeno pelotão, aprisionou um batalhão de 720 integrantes do exército franquista depois de vencê-los na Batalha de Piedras de Aôlo, conquistando o posto de capitão. Confinado em campo de concentração, na França, morreu em fuga, lutando, em 4 de julho de 1941.

João Moll Baptista (1884-1941)**

Gráfico e encanador, espanhol, natural de Carcagente, Valência. Sem raízes no nosso movimento operário, chegou aqui no Rio Grande do Sul às vésperas da greve geral de 1917 e firmou-se, no decorrer da mesma, com um de seus agitadores mais radicais. Preso, cumpriu pena por ter participado desse movimento. Franquista fanático, tentou participar da Guerra Civil Espanhola e chegou a editar, aqui no Estado, El Nacionalista Español (1937). Faleceu em Porto Alegre em 1941.
** Atuou ao lado das forças fascistas de Franco

José Gay da Cunha (1911-1987)

Militar e revolucionários. Comunista. Natural de Porto Alegre. Estudou na Escola de Guerra do Realengo. Por ter participado da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935, foi excluído das Forças Armadas e condenado a oito anos de prisão. Exilado em Buenos Aires, foi lutar na Guerra Civil Espanhola, onde comandou a famosa Brigada Lincoln. Entre seus comandados, estavam Hermenegildo de Assis Brasil* e Nemo Canabarro Lucas. Gay da Cunha foi gravemente ferido na batalha do Ebro.
Voltou ao Brasil, anistiado em 1945. Formou-se em Direito e foi funcionário da Caxia Econômica Federal no Rio Grande do Sul. Jornalista, escreveu no Diário de Notícias e na A Hora, de Porto Alegre. Autor de Um Brasileiro na Guerra Civil Espanhola (Porto Alegre: Globo, 1964).
Fonte: Dicionário Ilustrado da Esquerda Gaúcha
Anarquistas
Comunistas
Socialistas
e Trabalhistas
Editora Livraria Palmarinca, 2008, Porto Alegre



Em 1956, Jorge Amado também tratou do tema na trilogia Subterrâneos da liberdade. No segundo volume, o autor aborda a recusa dos marinheiros do porto de Santos em transportar café para a Espanha Franquista.
Monteiro Lobato (foto em preto e branco), um dos intelectuais mais perseguidos pela política de Vargas, traduziu na cadeia, em 1941, o romance Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway. Com essa tradução, Lobato procurava romper o silêncio imposto pelos órgãos de censura do Estado Novo.

Fonte: A Guerra Civil Espanhola, coleção História em Movimento, Editora Ática, 1996, São Paulo



 Considerações finais

Finda a Segunda Guerra Mundial, Franco esperou que a ajuda internacional beneficiasse a economia espanhola. Para tanto, definiu seu país como a “sentinela do Ocidente”. Deixou claro que negociaria com as nações capitalistas no sentido de agir como ponto estratégico contra a possibilidade de a União Soviética querer expandir sua influência em direção à península Ibérica e ao norte da África.
A definição espanhola em relação às nações envolvidas na guerra fria, porém, surtiu efeito somente na metade da década de 1950, quando o presidente norte-americano Dwight Eisenhower passou a conceder ajuda econômica à Espanha. Em troca, o generalíssimo permitiria o estabelecimento no país de numerosas bases militares americanas. Em seguida, o Estado franquista foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e beneficiado por vultosos empréstimos concedidos pelo Fundo Monetário Internacional  (FMI).
Com a ajuda externa, a Espanha pôde dar um impulso moderno à economia, favorecendo a mecanização da agricultura e a expansão do parque industrial. Mesmo assim, a ditadura manteve o país fechado à influência estrangeira, retardando por um tempo demasiadamente longo as transformações econômicas que já vinha se operando nas nações vizinhas.
Em 1945 ainda existiam mais de 140 mil prisioneiros políticos na Espanha. Os sindicatos estavam proibidos , assim como partidos políticos e qualquer agremiação que pudesse manifestar-se contra a ditadura. Os intelectuais e os líderes de esquerda era frequentemente presos ou "desapareciam'. Outros eram forçados a deixar o país. Tudo isso retardou o desenvolvimento científico e cultural da Espanha, que se manteve, durante muito tempo, entre as regiões mais atrasadas da Europa.
Para marcar a dimensão personalista imposta a seu governo, em 1942 o generalíssimo ordenou a construção de um imenso mausoléu, utilizando para isso o trabalho forçado de dois mil presos políticos. Inaugurado a 1º de abril de 1959, quando se comemorava o vigésimo aniversário da vitória franquista, o Valle de los Caídos, como ficou conhecida a obra, foi erigido em rocha bruta, contando com uma cruz de 150 metros de altura e que pode ser vista a cinquenta quilômetros de distância. A explicação oficial para sua construção foi a de que o monumento era destinado a homenagear os mortos na guerra civil. Na verdade, seu destino era outro: servir de túmulo para o ditador.
 Trabalho escravo dos prisioneiros republicanos
 Inauguração
Mausoléu faraônico de Francisco Franco