Orgulho!

Orgulho!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ANIVERSÁRIO DO MUSEU E DA CIDADE

Apresentação do Grupo de Canto do Atelier Livre Municipal e Grupo Instrumental da Orquestra-Escola de Cachoeira do Sul por ocasião da comemoração do aniversário de 32 anos do Museu Municipal de Cachoeira do Sul - Patrono Edyr Lima e dos 151 anos de Cachoeira Cidade. O local foi o Museu Municipal e Parque Municipal de Cultura e a promoção foi do Museu e do Atelier Livre.

Nota
: em meio à apresentação um "pavão misterioso, pássaro formoso" deu o ar de sua graça e logo após foi passear perto do "Último Trem Azul", que segue pedindo socorro à cidade, a seus pés ...
Fotos: Renate Aguiar

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A CIDADE E SEUS POETAS


Os Poetas expuseram seu trabalho no Parque da Cultura

Em 2009 foi lançada a VII Coletânea dos Poetas do Vale, durante a 25ª Feira do Livro da cidade de Cachoeira do Sul, cuja patrona foi D. Ely Marciniak.
Quero despedir-me deste ano com algumas imagens realizadas durante a Feira bem como fragmentos selecionados das obras dos poetas que constam na Coletânea.
A 25ª Feira do Livro aconteceu no espaço da Feira Livre Municipal entre os dias 02 e 11 de outubro de 2009 e contou com variada programação.
Deixou saudades pois foram dias muitos bons e definitivamente inquietos.
E no fim, não poderia faltar para abrilhantar o encerramento a D. Chuva, fiel companheira que visita anualmente o evento, compartilhando com pessoas e livros um espaço que segue democrático e prazeroso.


Papai Noel Mensageiro
Ely Marciniak

Por sobre os povos
tão pobres
verteu-se o veio mais nobre
de humildade e tradição
Herdamos a bela árvore
o aconchego e os presentes
e ao bom velhinho barbudo
hospedamos com carinho
alegorias, canções.


Papai Noel, tão querido,
porque não trouxeste com a neve
as renas e teu trenó
também uma farta mesa

o bom salário que alegra,
a saúde e a educação,
a moradia almejada
e a confiança no futuro?


Volta lá, Papai Noel
e dá o nosso recado:
pergunta da exploração
poluição e pobreza.

Pergunta de dominação
distribuição de riqueza,
trilateral e outros planos
de desumano poder.


Foto: César Roos
O velho andarilho, conhecido como Paulinho do Capacete, por muitos anos perambulou por Cachoeira, enviando à cidade todos os dias o seu recado do quanto a injustiça reina entre nós ...


Pergunta, meu bom velhinho,
aos "homens de boa vontade"
que enquanto pregam amor

pregam também na cruz
seus miseráveis irmãos.



Patrona Ely acompanhada da também Poeta do Vale Neicla


Henrique Witeck apresentando-se no palco com seu grupo


Augusto de Lima e Júlio César Caspani na sessão de autógrafos


Poeta do Vale Rejane e sua filha


Poetas do Vale Jorge Correa e Célia Maciel

Abençoadas sejam as pessoas que iluminam
Nossas vidas com intenso brilho no olhar,
Os que têm calma, força e esperança
Abençoados sejam os puros,
De alma grande,
Sinceros,
De amor salutar.



Benção, Tiago Menezes de Vargas

Foto: professora Maria Helena Stracke, do Atelier Livre Municipal e seus pupilos



Felicidade
É caminhar no mato numa tarde quente
Molhar os pés
Atravessar uma pinguela banguela

Caminho da Felicidade, Jorge Ritter


Foto: da esquerda para a direita: Liselotte Klix, Jussara Ortiz, diretora da Biblioteca Pública João Minssen e a Patrona da Feira, D. Ely


A Poeta do Vale Camila, de jeans

jeans
surrado
simples
corte reto
sem segredo
como flor do mato
folha seca
força da terra
marca a linha litorânea
e me veste de contornos.

Velho Jeans, Zaira Cantarelli



Eu cruzava toda a cidade,
Tu sabes, fazendo fogueiras
As praças são testemunhas,
És o lastro de minha existência.


Contarei como foi, Diogo Lindenmaier, o Bagual


Eta minuano desigual
Que fica de tocaia atalhando invernadas
Prejudicando a engorda da boiada
Mas meu Patrão não me deixa mal
E nesta oração apelativa
A Nossa Senhora paixão contemplativa
Peço o amor de mãe incondicional


Oração contemplativa, Henrique Freitas

Cleiton e Henrique


Admiro os santos
Os loucos
E os poetas.
Os santos ...
Porque são loucos ...
Os loucos ...
Porque são santos.
E os poetas
Porque entendem
Muito bem
Os outros dois.


Inverossímil, Liane Korberg


Ah, se eu fosse presidente
daria ao povo o canto do galo
no alto de sua dignidade
e do pássaro o voo
de sua liberdade
para construir seu ninho
sem o ônus de sua canção


Se eu fosse presidente, Liselotte Klix


Uma das inconveniências da vida
é ser transmitida ao vivo,
não podendo refazer nenhuma cena! ...


Viver, Madalena Alverne Medeiros Silva
(Madalena aparece à esquerda e está acompanhada de Liane Korberg)



Perderá o livro o seu espaço
para a tecnologia?
Com todo o avanço
não há quem goste
do pão caseiro?


O livro, Magali Vidal Domingues

Magali


Fechou o tempo no céu
Fechou tempo tempo
Campo verde, campo inço
Campo campo
Campo árvore
Campo vida
Estrada vida
Dolorida


A Estrada, Renate Elisabeth S. Aguiar


Em meu ventre já eras palavras,
pontos de exclamação e poemas!

Para meu filho Douglas, Neila Santos



Eu minto, mas minha mão não mente
Eu finjo, mas o meu verso não é falso


Não me julguem por fora, Rejane Savegnago


O vaso desta violeta agonizante
Atingiu-o a peteca do menino,
De um chofre deveras insignificante
Que ninguém vaticinaria tal destino.


O Vaso, de Frederico Eduardo Wollmann
FOTO: da esquerda para a direita, D. Maria, mãe da Magali Vidal Domingues e avó da Gabriela, D. Gilda Lermen, D. Sara Claveaux Jardim, D. Isolda Zinn, o vaso, e o dono dele atingido pela peteca, Seu Frederico.


Quando foi a última vez que chorei
Foi num filme
Num casamento
Ou simplesmente por sentir
A vida de uma maneira triste.


Viver, Fernanda de Azevedo Crespo



Nunca mais
quisera acordar!
Não sentindo a tristeza desse mundo
e ao infinito
pela esfera
voar ... voar ... voar.


Quero sonhar, Ester Escobar



nas sombras da noite,
entrelaçados de desejos,
nas carícias dos beijos,
no silêncio dos porquês,
somos apenas entrega,
sem medo do adeus ...


A sombra do pecado, Clara Costa


Ei, menino que corre as calçadas em busca de mãos,
Sossegue menino, pare com este desatino, senta um pouco,
descansa desta correria, pareces passarinho que perdeu a mãe
Ei, menino, agora mais calmo, conta pra mim do porquê
deste teu jeito assim.


Menino, de Luís Antônio Silva Dias, Tonho


Por que procurá-la no mundo
se ela precisa surgir primeiro
dentro de nós?

Paz, de Gabriela Vidal Domingues


Cleiton e Gabriela



Quem somos nós
Seres abençoados ou elucubrados
Arcanos malditos?
Ou quem sabe ...
A fina trama
Dos infinitos desatinos.


Enigmático, de Félix Korberg


Sonhei com um mundo diferente
Onde não existiam correrias
Onde guerras eram somente de travesseiros


Inverdades de Douglas Machado


O mesmo roqueiro que reclama
é o mesmo artista que te desenha
O mesmo poeta que te ama
é o mesmo homem que te odeia
O que amor esconde
Somente ódio consegue enxergar.


O amor e o ódio de Cleiton Santos


Passam as nuvens sobrejacentes
Um frágil teto que vem tombando por todo lado.


Pôr-do-sol de Carlos Quadros



O que será o amor ...
A não ser o viés da virtude?


Vício e Virtude de Camila Rosa Matos



Somos todos sonhos
uma realidade discreta,
Cada um em sua forma poeta.


Portas abertas de Bedermino Betat Leite


Andamos de um lado para o outro
Procurando em vão nos encontrar
Pois como acharemos alguma coisa
Se não sabemos o que encontrar ...
A Nau dos Insensatos!


Almiro A. Martins da Silva

Foto: poetas Jorge Corrêa e Douglas Machado (sentado)


E uma vez na distância, sentimos saudade
Então deixamos o orgulho de lado
E perdoamos quem amamos de verdade


Atos e fatos de uma separação de Adroaldo Borba da Silva




Última foto do grupo presente por ocasião do encerramento da Feira do Livro 2009

O livro pode ser adquirido na Livraria São Paulo ou no Museu Municipal -Patrono Edyr Lima.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

DAVI"S" & GOLIAS

"A cultura do capitalismo seculariza tudo o que encontra pela frente e pode transformar muita coisa em mercadoria, inclusive signos, símbolos, emblemas, fetiches. Tudo se seculariza, instrumentaliza, desencanta. Essa é uma exigência da racionalização formal, pragmática, definida em termos de fins e meios objetivos imediatos".
Fonte: Introdução à Sociologia de Pérsio Santos de Oliveira.

SECULARIZAR: o capitalismo reduz TUDO às leis de MERCADO.
"INCLUSIVE um dos mais belos recantos de Cachoeira, junto ao SÍMBOLO Igreja Santo Antônio".
RESA


JORNAL DO POVO, 08 e 09 DE DEZEMBRO DE 2010

OBRAS DO BISPÃO COMEÇAM SOB PROTESTO




Fiéis da Santo Antônio são contra a obra, pois temem abalo à estrutura da igreja

PATRÍCIA LOSS (Fotos e Texto)

Começou ontem a terraplenagem da parte dos fundos da área da Igreja Santo Antônio, onde será construído um condomínio de 24 apartamentos, prédio chamado popularmente de Bispão. Mas o início das obras, que era para ser comemorado, acabou sendo marcado pelo protesto de oito fiéis da Santo Antônio. Liderados por Itassusa Avena, eles disseram representar em torno de 90% da comunidade da igreja que seria contrária à obra. A manifestação foi silenciosa e contou apenas com lamentações e colocações de faixas com expressões “Espigão, não” e “Vão terminar com a casa de formação” no muro da Santo Antônio.


A principal queixa dos católicos que protestaram ontem era quanto à estrutura do templo da Santo Antônio. “Os caminhões e máquinas que estão transitando por aqui podem abalar a igreja, que tem mais de 70 anos e recentemente foi restaurada”, destaca Itassusa. Outra preocupação é com a casa de formação da paróquia, que ficará a cerca de seis metros do condomínio. “Este imóvel é usado para retiro, encontros e meditação. De que forma se poderá ter concentração ao lado de um prédio com mais de 100 moradores?”, questiona.



ÁRVORES - Itassusa Avena lamenta ainda o corte de pelo menos 20 árvores para a obra, processo autorizado pelo Departamento de Vigilância Ambiental (DVA) e que foi acompanhado na manhã de ontem pelo futuro secretário municipal de Meio Ambiente, Henrique Witeck. A última cartada dos católicos para barrar a obra foi a entrega de um abaixo-assinado com mais de 2,5 mil adesões para o Ministério Público. Antes de acionar a Justiça, o grupo se reuniu com o bispo dom Irineu Wilges, mas ele não voltou atrás da decisão de erguer o condomínio na área dos fundos da Santo Antônio.


O NÚMERO

6


Total de andares do Bispão, que terá sete pavimentos, um deles a cobertura, com quatro apartamentos. No térreo funcionará a recepção e os acessos aos elevadores. As garagens serão no subsolo. O residencial será gradeado e com portão eletrônico.

Oito apartamentos negociados

Dos 24 apartamentos do Condomínio Renascença, conhecido popularmente por Bispão, oito já estão reservados e em fase de efetivação de contratos, o que viabiliza o início das obras. A preparação da área deverá se estender até o final do ano. No início de 2011 o prédio deverá começar a ser erguido pela Construtora Líder.
Os apartamentos serão construídos em terreno da Mitra Diocesana na Avenida Presidente Vargas, ao lado da Igreja Santo Antônio. A permuta da área já está assinada e, em troca do terreno, a Igreja Católica receberá um apartamento e três garagens, o correspondente a 7% do empreendimento, orçado em R$ 4,5 milhões.
A obra deverá ser concluída em dois anos e meio e os apartamentos podem ser financiados diretamente pela Líder. Além da construtora, a Imobiliária Rodrigues está negociando os imóveis. A venda é na planta e os apartamentos serão padrão, com dois dormitórios, dois banheiros e demais dependências, variando entre 80 e 90 metros quadrados cada.

Obra é consenso dos padres

O ecônomo da Mitra Diocesana, o padre Edson Pereira, afirma que a construção dos apartamentos foi consenso entre os padres de Cachoeira do Sul. “O bispo dom Irineu Wilges tinha autonomia para tomar a decisão sozinho, mas ele optou por consultar os padres antes de iniciar as tratativas”, ressalta. O padre Edson acrescenta que a igreja fez uma reunião de esclarecimento aos fieis, onde foi afirmado pelos engenheiros da obra que a estrutura da Igreja Santo Antônio não sofreria danos.
O padre Edson estava em Santa Maria ontem e estranhou a manifestação dos católicos contrários à obra. “Todos foram convidados para o encontro de tira-dúvidas sobre o projeto”, acrescenta. O ecônomo da Mitra frisou que a construção está tendo todos os encaminhamentos legais, inclusive com autorização da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) para a derrubada das árvores. “Há um contrato firmado entre a Mitra Diocesana e a Construtora Líder”, observa o padre, reiterando que a obra vai sair.



Como era antes da derrubada das árvores
Foto: 24 de agosto de 2010
Renate Aguiar


Não tenho religião porém leio a Bíblia, não sou marxista, porém sou fã e leio Marx.[RESA]
A Bíblia continua cada vez mais atual. [Anna Luise Schmidt Chagas, 23 de agosto de 1992]

A verdadeira riqueza
Mateus 6:19-21

- Não ajuntem riquezas neste mundo onde as traças e a ferrugem destróem, e onde os ladrões arrombam e roubam. A contrário, ajuntem riquezas no céu*, onde as traças e a ferrugem não podem destruí-las e os ladrões não podem arrombar e roubá-las. Pois onde estiverem as suas riquezas, aí estará o coração de vocês.

*Cada um de nós pensa o seu céu. O céu não está neste empreendimento especulador que profana um lugar sagrado que deveria TER SIDO MANTIDO ÍNTEGRO, ORIGINAL. O céu ESTAVA neste pequeno bosque, nas cercanias, na fé e ESTÁ na esperança dos católicos que frequentam o templo. ESTAVA entre os fiéis que deliciavam-se com o recanto verde povoado de pássaros, formigas, borboletas, larvas.
Francisco de Assis TAMBÉM NÃO APROVOU a venda dos terrenos (obtidos POR DOAÇÃO).

Renate

A REVOLUÇÃO DE 1930


O Brasil após 1930: mudança histórica e grupos sociais

Icaro Bittencourt*

Os 80 anos da chamada “Revolução de 30” têm inspirado muitos textos e reflexões pelo Brasil afora. Dentre as inúmeras problemáticas que podem ser discutidas a partir do tema, uma me interessa em especial: a relação entre mudança histórica e grupos sociais no Brasil.
O fim da Primeira República oligárquica, hegemonizada pelas elites paulista e mineira, e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder no início da década de 1930 do século passado pode ser considerado o primeiro grande momento de mudança na história republicana brasileira. A partir daí, alterações significativas ocorreram na estrutura política, social, econômica e cultural brasileira, com a modernização e industrialização do país, a regulamentação das relações de trabalho urbanas, a formação de uma identidade nacional e a tentativa de construção de uma sociedade corporativista.
Essas mudanças, no entanto, são interpretadas muitas vezes como uma iniciativa apenas das elites e dos grupos políticos atrelados ao Estado e que, apesar das alterações significativas provocadas na sociedade brasileira após o Movimento de 30, aquelas transformações teriam apenas reconfigurado em outras bases a dominação das elites brasileiras sobre a classe trabalhadora. Assim, ficou famosa a comparação desse processo histórico com as palavras do aristocrata italiano do livro de Tomasi di Lampedusa, O Leopardo, eternizadas no cinema com o belíssimo filme de Luchino Visconti: “É preciso que as coisas mudem de lugar para que permaneçam onde estão”.

Tematizando o Risorgimento italiano no século XIX, essa expressão do conservadorismo em metamorfose virou o slogan interpretativo de diversos contextos históricos nos quais os grupos dirigentes resolveram promover algumas mudanças sociais “antes que o povo as fizesse”.
Apesar desta análise ser pertinente à primeira vista, uma pergunta importante deve ser feita: esta suposta ausência de participação dos grupos e movimentos sociais nas mudanças históricas no Brasil seria uma característica concreta de nossa realidade ou essa interpretação é fruto de discursos de poder que tentam perpetuar a idéia de que o Estado brasileiro e as elites que o controlam são os demiurgos da história nacional?
A resposta para essa pergunta não é simples e muitas versões sobre ela preocuparam historiadores e cientistas sociais. Isso porque as duas variáveis da pergunta estão intrinsecamente relacionadas. Apesar das lutas históricas dos trabalhadores para garantirem seus direitos frente à exploração do trabalho (motivação principal da legislação trabalhista), os canais de participação popular sofreram ao longo da história brasileira um processo de criminalização intransigente, incluindo aí o próprio governo Vargas que prometia oficialmente transformar a “questão social” em “caso de política” e não de polícia.
Assim, a tradição repressora aos movimentos sociais somada ao caráter elitista das interpretações da história brasileira forjou uma “história sem povo” e, pior do que isso, uma história sem grupos sociais distintos disputando projetos de sociedade, perpetuando uma visão da sociedade brasileira (com claro viés paternalista) como passiva e dominada pelo Estado, na qual a população e seus diferentes grupos sociais formadores não teriam condições de propor mudanças concretas para o país e, menos ainda, de realizá-las. Mesmo que a atuação de sindicatos, movimentos sociais e diversos grupos atestem a implausibilidade dessa “história sem povo e sem classes sociais”, este discurso ainda alimenta uma boa parcela da desmobilização política que caracteriza parte da sociedade brasileira.

Mas desde pelo menos o início da década de 1980 com o livro “O silêncio dos vencidos” de Edgard de Decca, que mostrou os projetos políticos alternativos ao Movimento de 30 e como a interpretação histórica sobre esse período ocultou as divergências entre eles (colocando o grupo de Vargas como a única solução para os problemas do país) devemos ficar atentos a essa prática dos grupos políticos brasileiros de negar legitimidade às propostas dos adversários (como essa eleição de 2010 deixou evidente) e, mais do que isso, à prática de negar aos grupos sociais a autonomia necessária para a formulação de propostas e para a tomada de ações que tenham por objetivo a mudança concreta da realidade social do país.

Assim, o convite que faço é que a reflexão sobre os processos de mudança histórica no Brasil trabalhem no sentido de clarificar os diferentes projetos de sociedade em disputa, pois eles são a matéria-prima na construção de uma política no país que supere essa democracia sem adjetivos, na qual a participação popular restringe-se quase que exclusivamente ao processo eleitoral. Ou seja, democracia sem movimentos sociais e política sem disputas de projetos de sociedade não são mais do que formalidades do processo de dominação social.


* Professor de História

EM CACHOEIRA SUL:

Revolução de 1930

Transcrito por João Carlos Mór, da Revista Centenário de CACHOEIRA DO SUL, editada em 1959 pelo jornalista Humberto Attílio Guidugli
Banco de Dados do Museu Municipal

"Como deu-se o levante em Cachoeira
Mais ou menos às 5 h da tarde de 3 de outubro de 1930, irrompeu pela rua 7, fazendo a vanguarda, um carro trazendo o tenente Ciro Carvalho de Abreu que ostentava um lenço encarnado ao pescoço, sendo aclamado por grande multidão, manifestação essa que mais se aceantuava com as explosões de vivas a causa da revolução.
O povo em massa se encaminha para os quartéis do exército, onde, no quartel do 3º G.I.A.P., já se encontravam os majores Argemiro Dornelles (pai de Luiz Lopes Dornelles, oficial da aeronáutica quem em 1942 constituiu o 1º Grupo de Caça da FAB que sob o comando do também cachoeirense major Nero Moura, lutou e morreu na segunda grande guerra em que o Brasil participou na Europa. O grifo é da equipe do Museu Municipal) e Graciliano Fontoura acompanhados dos tenentes Henrique e Orlando Geisel, Gilberto Marinho, Mucio Sampaio Ribeiro e Antonio Vasconcelos, que assestaram quatro possantes canhões contra o quartel do 3º Batalhão de Engenharia.
Todas as janelas daquele quartel estavam minadas de soldados revoltosos, de armas embaladas, prontos para ordem de fogo.
Expedido um convite à força legalista para que apoiasse imediatameante o movimento ou então entregasse o quartel, obtiveram os revolucionários a seguinte resposta:
"Os oficiais rendem-se"!
Com esta decisão o povo que se achava nos quartéis dos 3º G.I.A.P, prorompeu em vivas à causa da revolução, enquanto eram presos os oficiais da legalidade.
Após, foram recolhidos presos à Intendência Municipal, os seguintes oficiais, sob a vigilância de uma força da brigada:
Coronéis Luiz Mariano de Andrada, comandante do 3° B.E. e Felício Lima, comandante do 3º G.I.A.P; capitães Helio Cotta Gonzales, Alberto Segggiaro, Abd Pinto e Ângelo Notare; tenentes Guarani Frota, Liberato da Cunha Friedrich, José Valença, Nilo Cruz, Hilton Tavares, Mário Campos, Corinto Castanho, Ernani Mazzini, J. Falkenbach, João Rodrigues e José Elias Ajuz.
Aderiram em seguida ao movimento os capitães Helio, Abd e Notare e os tenentes Liberato Hilton, Corinto e Falkenbach.
Momentos depois, foram ocupados o Telégrafo e a Telefônica, que se efetivou com toda a ordem.
Sobre o desenrolar de todos os acontecimentos, o grande tribuno Dr. João Neves da Fontoura, dava por intermédio de conferências telefônicas com os próceros revolucionários, os detalhes da causa vitoriosa em sua terra natal.
Em nome do governo provisório da República, os drs. Orlando Carlos e Glicério Alves, retiraram-se da sucursal do Banco do Brasil toda a importância em caixa e recolhendo-à filial do Banco da Província.
Alguns dias depois, foi organizada uma coluna de quase 1.000 homens que, sob o comando do major Dorneles, embarcou em composições da Estrada de Ferro, com destino ao front."




VOLUNTÁRIOS DE CACHOEIRA


Orlando da Cunha Carlos, Glicério Alves e João Neves da Fontoura

Em 12 de outubro de 1930, partia a corporação de "Voluntários de Cachoeira", rumo ao front das operações em oposição ao Governo Legalista, contra o qual se insurgiam diversos estados, inclusive o nosso.
Nesse dia, a população acorria à gare da Estação da Viação Férrea para manifestar também a sua admiração ao futuro chefe da Nação, Getúlio Vargas, que se fazia acompanhar por altas personalidades, das quais se destacavam o general Flores da Cunha e João Neves da Fontoura, um dos grandes líderes do movimento revolucionário.
No momento em que o comboio deu o sinal de partida, a multidão ovaciounou os nomes de Getúlio Vargas, João Pessoa, presidente da Paraíba, covardemente assassinado, Flôres da Cunha, Osvaldo Aranha, João Neves e outros próceres revolucionários, seguindo-se estrondosas aclamações à guapa corporação dos Voluntários, que era constituída, além de outras pessoas, por:

* João Neves da Fontoura
* Glicério Alves
* Milan Krás
* Henrique M. de Barros
* Major Carlos Gama
* Capitão Clemente Cunha
* Tenente Ari Ghignatti
* Diamantino Carvalho
* Torquato Ferrari
* Draceli Costa
* Carlos Souza
* Amâncio Ramos

Aquarela. Ag. 60
Fonte: Banco de Dados do Museu Municipal


AOS QUE PARTEM
Mensagem de Aurélio Porto aos revolucionários de Cachoeira de 1930

Conjugando as energias nativas da raça, ressurge o Rio Grande dos tempos heróicos.
Crepitante, as chamas dos entusiasmos se propaga, e já, transformada em comunhão formidável, mantém o fogo perene do civismo gaúcho.
Exemplo sem par,superior mesmo aos dos grandes dias da Pátria, estamos insculpindo em páginas redivivas da história nacional. Vivemos horas que ficarão. Ficarão na sua vibração incomparável, cristalizadas na alma emocional do nosso povo.
As hostes que se levantam, galvanizaadas pelas forças conscientes do dever supremo, os que passam pelas ruas, rumo da vitória, os que partem cheios de esperança, os que ficam, aureolados pela emoção, esse estranho vaivém - simbólico avatar de uma vida nova - tudo evidencia que somos um povo que soube manter ileso o patrimônio legado por seus avós.
Segui! Fronte erguida como sói ser a dos fortes. Combatei o bom combaate da verdade e da causa nacional. Coroa-vos a vitória, espera-vos a palma triunfal, de bronze imperecível, que as gerações futuras, abençoando-vos, colocarão sobre as vossas cabeças.
Ide! Os que ficam, milhares de corações, numa cadeia fraternal de vontades, acompanhar-vos-ão, passo a passo, etapa a etapa, pelo caminho da glória, aberto por vós ao Rio Grande.
E quando lutardes, entre os estampidos alucinantes da metralha, tenho certeza de que sobre os vossos ânimos, erguendo-os, fortalecendo-os, ecoará a voz longínqua do pago, nas doces harmonias sempre inéditas, feitas de todas as orações dos que por vós rogam a Deus, dos incitamentos dos que escondem as lágrimas em brados de entusiasmo, e dos aplausos glorificados dos vossos irmãos que ficam.
Gaúchos, honrai o Rio Grande!


Fonte de Dados do Museu Municipal