Orgulho!

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sábado, 28 de agosto de 2010

FIGURA 'OPACA', LEAL E DISCIPLINADA

Antônio Augusto Borges de Medeiros, nascido em Caçapava do Sul em 1863 e falecido em Porto Alegre em 1961, governou o Rio Grande do Sul por vinte e cinco anos com alguns intervalos, de 1898 a 1908 e de 1917 a 1922.
Próxima à cidade de Cachoeira do Sul, no Irapuazinho, localiza-se "A Cabana", como assim chamava Borges sua propriedade que ora encontra-se em preocupante abandono. É página da história gaúcha que necessita de atenção.


Júlio de Castilhos faz eleger Borges de Medeiros à presidência do estado em 1898, que com a morte do patriarca em 1903, passa a dirigir também o PRR - Partido Republicano Riograndense.
Borges era tipicamente um burocrata leal e disciplinado, autoritário como Castilhos, mas sem sua iniciativa.
A escolha dessa figura opaca para a sucessão deveu-se, em larga medida, aos seus atributos conservadores, pois Castilhos desejava ver mantida inalterada a máquina política que acabava de consolidar, defendendo a ideia de continuidade. Um dos preteridos, o "Senador de Ferro" Pinheiro Machado, recebeu a função de defender os interesses rio-grandenses em nível nacional, enquanto Borges ocupava-se da política interna.
O isolamento gaúcho na federação brasileira devia-se à necessidade de preservação da Constituição estadual (completamente diferente da federal e dos demais estados) e do modelo econômico específico, pois a divisão existente no Rio Grande do Sul não permitia maiores aventuras frente aos dominantes São Paulo e Minas Gerais.


Fonte: A Crise dos Anos 20 de Paulo F. Vizentini, Editora Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Mais imagens da 'Cabana', fazenda do ex-presidente do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, segundo Paulo Vizentini, uma figura opaca, leal, disciplinada e autoritária.


"A Cabana"


"Duas grandes e vetustas figueiras deitam uma sombra amiga e acolhedora" ...


"Modesta vivenda de campo" ...


"Recanto perdido do Rio Grande" ...


Foto: detalhe da datação de 1862.
"Aspecto simples e pitoresco" ...




Foto: detalhe da datação de 1910.





"Mobiliada com austeridade" ...



Crédito das fotos: repórter Patrícia Miranda, do Jornal do Povo.
Fragmentos: matéria "Uma viagem ao Irapuazinho" do jornal 'O Comércio' de 10 de setembro de 1930.
Descrição preparada para o Semanário Actualidades pelo escritor De Souza Júnior, que esteve na época em visita à Cabana.
Acervo das fotos: COMPAHC, Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Cachoeira do Sul.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

IGREJA SANTO ANTÔNIO


Paróquia Santo Antônio em seus primeiros tempos. As torres estavam diferentes das de hoje porque estavam com uma espécie de "chapéu" visto que não haviam sido concluídas.


Em 1976 foram trocadas todas as telhas. As originais, de cerâmica, davam harmonia ao conjunto. O atual telhado acinzentado não combina com a beleza arquitetônica do templo.


A majestosa Igreja Santo Antônio foi concluída em fins de 1941. Nesta foto ela encontrava-se em reformas.

Sequência da obra:

- a construção iniciou em janeiro de 1934;
- em outubro de 1936 foram colocados os quatro sinos nas torres. Os sinos vieram
da Alemanha, de Bochum, Westfalia;
- em 1939 ficou pronto o belo forro da Igreja, construído pelo irmão redentorista José C. Uschold;
- Em 1941 foi colocado o artístico púlpito de madeira;
- Em 1946, foi a vez do relógio.


No dia 18 de novembro de 1921, chegaram os primeiros redentoristas a Cachoeira. Vinham a convite de Dom Miguel de Lima Valverde, então bispo de Santa Maria.
Durante cinco meses , ficam instalados numa pequena casa, junto a então Capela de São José. A 2 de maio de 1922, mudam-se para o "Império", antigo salão de festas do Divino, da Paróquia Nossa Senhora da Conceição.
Nesse espaço de tempo, a 2 de fevereiro, os redentoristas adquirem um terreno do qual 667,60 m² a proprietária - Dona Antônia Carolina de Fialho - doou para a construção de "uma capela em honra de Santo Antônio."
Em 1927, é iniciada a construção da capela, sendo abençoada dois anos depois (1929), e utilizada para atender o povo.

Em dezembro de 1933, foi lançada a pedra fundamental da Igreja; foi abençoada e inaugurada no dia 31 de outubro de 1937, embora ainda não estivesse totalmente construída. O projeto da Igreja foi feito pelo pintor, poeta e arquiteto José Lutzenberger, pai do ecologista José Lutzenberger, em estilo barroco bávaro.
A 14 de outubro de 1957, foi assinado convênio entre a Mitra Diocesana de Santa Maria e o Superior Provincial dos Redendoristas, transformando a Igreja que era somente conventual em sede de paróquia, desmembrada da Paróquia Nossa Senhora da Conceição. A data oficial de criação da nova paróquia é 31 de dezembro de 1958, tendo sido instalada solenemente e dada posse ao primeiro pároco no dia 1º de janeiro de 1959.

Fonte de pesquisa: Banco de Dados do Museu Municipal.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O ÚLTIMO TREM AZUL FICOU NO MUSEU ...




Foto: Vista da Estação Cachoeira a partir do Largo Villagran Cabrita, datada de 1975.
Aparecem na foto, o técnico Jorge Ilha e a arquiteta Glenda Pereira da Cruz, da Secretaria Estadual de Obras.
O prédio atrás está por um fio ...




Lanterna de iluminação [acervo Museu Municipal]




Luminária do carro de passageiros [acervo Museu Municipal]




Foto: acervo pessoal


O ÚLTIMO TREM AZUL
Fragmento

...
A única certeza é a de que o prédio de 1883 não existe mais,


Foto: Carlos Augusto Schmidt



bem como todas as demais benfeitorias.




Foto: leito da Estação Cachoeira em 1975
Os trilhos já haviam sido arrancados.
Cortesia de Elizabeth Thomsen


A nova estação de 1973, a da Vila Oliveira, é hoje cenário de um filme de pavor.



Foto: interior da Estação Oliveira



Trem azul passando pela Estação Oliveira
Foto: Coaraci Camargo, 1990.

E a primeira parada na direção da Santa Maria da Boca do Monte – a Estação Ferreira,
datada de 1885,
está seguindo o mesmo caminho,
eclipsada pelo vandalismo bem perto dos nossos olhos e bem longe da atenção,



Foto: COMPAHC

da reação e da ação dos cidadãos cachoeirenses.




Foto: Estação Ferreira. Cortesia Defender

Incrédula, sigo observando o último trem azul,
o vagão solitário no Museu Edyr Lima,
que parece acenar todos os dias para a chave de troca postada próxima,




implorando a ela o socorro que não vem.




Foto: O último trem azul que ficou no Museu Edyr Lima ...

Esfarelando-se e sem ser atendido, segue introspectivo,



recordando os trilhos áureos, que transportaram vidas e farturas




e levaram embora uma época interessante, deixando, entre os dormentes arrancados,



a inequívoca realidade de uma partida com passagem vendida sem volta.

Renate E. S. Aguiar




Foto: guichê da antiga Estação Cachoeira



Foto: lanterna de sinalização

Fotos: acervo pessoal. Peças do Museu Municipal Edyr Lima

Texto: "O Último Trem Azul", fragmento, publicado no Jornal do Povo em 05 de julho de 2010.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

AS BELEZAS DA BOA TERRA

Enquanto o mundo possuiu Sete Maravilhas, Cachoeira não quis ficar para trás.
Onze Maravilhas daqui foram tombadas.
Algumas encontram-se em boas condições enquanto outras ...

Será que Narciso procura Cachoeira no espelho d'água?




Narciso prestes a afundar na água, encantado pelo seu reflexo. Obra de um dos mestres do barroco, o italiano Caravaggio (1571-1610)


Amanhã é o Dia do Patrimônio Histórico.
Sem os extremos de Narciso mas um pouco parecido com ele, queria imaginar todos os nascidos na boa terra cachoeirense um pouco mais debruçados sobre o que resta do filme antigo da nossa história.
Seus prédios, seus enfeites, telhados, suas ruas calçadas, cartas, documentos, seus mistérios, lendas e intrigas, faces e lugares da sua gente.
Gente que a construiu, prosperou e fortificou.
Que seus filhos respeitassem mais a vitalidade, a experiência e a sabedoria da sua velhice.

Em 8 de dezembro de 1981 foi criado o COMPAHC, Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural pelo Decreto Municipal nº 389. Dona Lya Wilhelm, professora, foi sua primeira presidente. Hoje é presidido por Miguel Felippe de Moraes.




UNIBANCO, União de Bancos Brasileiros S/A. Em 1924 foi sede do Banco do Brasil.
Tombado em 1986.




Prédio que foi a Escola Superior de Artes Santa Cecília. Abriga hoje a Casa de Cultura Paulo Salzano Vieira da Cunha, o Núcleo de Cultura e a Biblioteca Pública
Construído em 1915, o prédio foi residência do Dr. Balthazar de Bem até sua morte em 1924, tornado-se, sucessivamente, sede de várias entidades.
Tombado em 1985.




PREFEITURA MUNICIPAL EM TEMPOS DE RELATIVA CONSERVAÇÃO
O Paço Municipal foi entregue à Câmara em 5 de agosto de 1865, servindo inicialmente, como hospital, durante a Guerra do Paraguai, por sugestão de D. Pedro II. Foi sede do Poder Judiciário, até 1922 e do Poder Legislativo, até 1982.
Tombado em 1985.
Autoria da foto: desconhecida.




A nua e crua realidade do abandono. Neste momento é o caso mais grave porque não há sinalização de projeto de restauração.



Jardim de Infância do Colégio Sinodal Barão do Rio Branco, construído no período de 1916/1917.
Tombado em 1985.




Cine Teatro Coliseu
Fachada em art déco, foi construído por Henrique Comassetto por volta de 1921.

Tombado em 2008.



União dos Moços Católicos
Por volta de 1850, foi residência de José Custódio Coelho Leal, figura de destaque na vida pública da cidade. A partir de 1899 foi, sucessivamente, sede do Clube Cachoeirense, do Clube Renascença, do Centro Literário Marcelo Gama, do Banco da Província e da União dos Moços Católicos a partir de 12 de outubro de 1924 sob o lema Deus e Pátria.
Tombado em 1985.


PS! Reparem no poste monstruoso da AES Sul, Applied Energy Services Corporation, (sediada nos Estados Unidos) bem em frente ao que sobrou do prédio, isto é, somente a fachada. O restante virou poeira há muito tempo.



Hospital de Caridade e Beneficência: primeiro prédio erguido no período de 1903/1910.
Tombado em 1985.




Palácio Legislativo João Neves da Fontoura
Concluído e ocupado pelo Banco da Província em 1927.
Tombado em 1985.




Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, inaugurada em 1899.
Tombada em 1985.




Casa da Aldeia, a misteriosa face oculta do Marte cachoeirense.
Erguida há 161 anos, o que ainda resta por debaixo dos tapumes?

Tombada em 2005.



Estação Ferreira.
Tombada em 2009.
Foto: COMPAHC [Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural]


Demais fotos: acervo pessoal

Fonte de pesquisa:
* Cachoeira do Sul, em Busca de sua História, Ângela Schumacher Schuh e Ione Sanmartin Carlos, 1991;
* Calendário Histórico-Cultural de Cachoeira do Sul, 1982.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

"VIDA AUSTERA E METÓDICA" NA "CABANA"



Jornal O COMÉRCIO, 10 de setembro de 1930
UMA VIAGEM AO IRAPUAZINHO

Quem, há menos de um lustro* será capaz de saber que significava este nome?
* cinco anos
Hoje, entretanto, ninguém ignora que se trata de um arroio do 20º distrito de Cachoeira, que emprestou seu nome até há pouco obscuro à fazenda do dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros.
Como será ela? Modesta? Suntuosa? Alegre? Pitoresca?
Pertencem a “Actualidades”, semanário que aparece na capital do Estado sob a direção do escritor De Souza Júnior, as observações que se seguem sobre a vida do preclaro chefe republicano dr. Borges de Medeiros, em sua modesta vivenda de campo, no Irapuazinho:
Triste?
E o dr. Borges que vida faz no recolhimento daquele recanto perdido do Rio Grande?
A viagem até Irapuazinho é feita em pouco mais de duas horas. A estrada que é toda de campo, não pode ser classificada de excelente, não se lhe aplicando, todavia, o quantitativo de má.
A poucos quilômetros de Cachoeira corre o Jacuí, que é vadeado sobre uma barca rebocada por uma gasolina. Daí por diante a viagem torna-se monótona, vendo-se aqui e ali, algumas plantações de eucaliptos.
Durante o trajeto, inúmeras carretas passam pelo automóvel, todas carregadas de arroz das plan tações à margem do Jacuí.
Várias porteiras obrigam o automóvel a parar.
A sede da fazenda do Irapuazinho – a “cabana” como a denomina o próprio Borges de Medeiros, é de aspecto simples e pitoresco, com duas grandes e vetustas figueiras que deitam uma sombra amiga e acolhedora.
“Fragmentos das descrições do visitante”:
- junto do lance principal da casa, ergue-se uma torre, que é depósito de água;
- casa modestamente mobiliada;
- Borges de Medeiros recebe as visitas em seu gabinete de trabalho à esquerda, peça pequena, mobiliada com austeridade;
- a visita ocupa uma cadeira de balanço;
- estante de estudante, à direita com cerca de 80 livros, a parte de baixo é ocupada com jornais;
- sala de jantar ao lado do gabinete igualmente decorada com muita austeridade;
- mesa simples com algumas cadeiras;
O dr. Borges de Medeiros que se apresenta já de manhã vestido como se já estivesse na cidade, de colarinho e gravata. Deseja saber como ocorreu a viagem e observa que há um atalho que abrevia a viagem em até quinze minutos. Fala pausado e sereno.
“Então o visitante é convidado para almoçar ...”


FOTO: cozinha "austera" da "Cabana"

É estatuto da casa não fazer cerimônia. O almoço é simples, cada conviva possui jarrinha d’agua e seu copo. Borges de Medeiros é gentilíssimo. A refeição é servida pela excelentíssima esposa **. A política é assunto banido da mesa. Sua Excelência prefere discorrer sobre a vida rural e negócios de campo.
“Não se pode conceber vida mais austera e metódica do que a que faz Borges de Medeiros na sua cabana de Irapuazinho”.


Foto: pia "austera" da "Cabana"

** D. Carlinda

OBS: as fotos foram realizadas pela Patrícia Miranda do Jornal do Povo. Posteriormente foram repassadas à diretora do Núcleo Municipal de Cultura, Mirian Ritzel que as doou ao COMPAHC, Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural. O Jornal O Comércio foi pesquisado no Arquivo Histórico. Em cada página lida destes jornais antigos há sempre uma surpresa por ser descoberta. O texto sobre a "Cabana" foi descoberta "arqueológica" da pesquisadora Ucha Mór.


Segundo Felippe Moraes, Presidente do COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural):
"reparem a técnica da 'escaiola' que impermeabilizava as paredes de banheiros e cozinhas (nunca havia visto este trabalho floral)."