Orgulho!

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

FESTA NACIONAL DO TRIGO - 20 a 22 DE NOVEMBRO DE 1956 - I PARTE

Há alguns dias comentei sobre uma ruína constrangedora que está localizada bem no centro da cidade, "quase" em frente ao Banrisul e que foi um dia o Hotel do Comércio.
Em 1956 esse hotel hospedou nada mais, nada menos do que o vice-presidente da República, Jango e o senador Assis Chateaubriand por ocasião da vinda deles para a Festa Nacional do Trigo que aconteceu no mês de novembro, entre os dias 20 a 22. Nosso presidente da época, JK, foi hóspede do prefeito Arnoldo Paulo Fuerstenau. Estive hoje no Museu Municipal e a pesquisadora Elisabete Farias alcançou-me para pesquisa precioso material sobre este momento cachoeirense. Na segunda parte contarei um pouco da festa e também haverá mais fotos.



Foto: Festa Nacional do Trigo
Cortesia Museu Municipal de Cachoeira do Sul - Patrono Edyr Lima
Doação da foto: Janice Bacchin Schneider em 16 de julho de 1996

A partir da esquerda:
Juscelino Kubitschek, Presidente da República
Ney Massgnan, Rainha do Trigo de Santa Catarina
João Goulart, vice-presidente da República
Irany Banchet, Rainha da Festa Nacional do Trigo
Janice Bacchin, princesa
Assis Chateaubriand, senador








Páginas escaneadas: Museu Municipal de Cachoeira do Sul - Patrono Edyr Lima
Revista "O Cruzeiro" de 17 de novembro de 1956

CABO TOCO - BREVE BIOGRAFIA


Imagem escaneada: recorte de jornal emprestado pela amiga de Cabo Toco, professora Vilma Zanini.
Título da matéria: Brigada perde sua heroína
Jornal do Povo, 22 de outubro de 1989


Olmira Leal de Oliveira, conhecida como "Cabo Toco", nasceu no dia 18 de junho de 1902 em Caçapava do Sul, filha de Francisco José Oliveira e ...... (?)* Coelho Leal de Oliveira.
* Encontrei dois nomes diferentes.
Na década de 20, integrou as fileiras da Brigada Militar, como combatente e enfermeira do 1º Regimento de Cavalaria, hoje 1º Regimento de Polícia Montada, sediado em Santa Maria. Participou dos movimentos revolucionários de 1923, 1924 e 1926. Ela incorporou em 1923 e só deixou a Brigada em 1932.
Olmira era natural da localidade de Camaquã, em Caçapava do Sul.
Em 1951, casou-se com Antônio Martins da Silva, mas não teve filhos.
Faleceu em 21 de outubro de 1989 com 87 anos.
Recebia até então uma pensão vitalícia especial, correspondente ao cargo de 2º sargento da Brigada Militar concedida havia dez anos por parte do Governo do estado
Sua figura ficou conhecida em 1987, quando a intérprete Fátima Gimenez venceu a V Vigília do Canto Gaúcho contando sua história na música "Cabo Toco".
Ela também é patrona da 1ª turma de PMs femininas do estado. Ijuí também homenageou Cabo Toco com o seu nome a uma rua da cidade bem como ao CTG do 9º Batalhão da Polícia Militar da mesma cidade (Jornal do Povo, 18 de agosto de 1991).
O Cabo Toco, apesar de atos heróicos dentro do 13º Regimento de Cavalaria da Brigada Militar durante as revoluções de 1923 e 1924, depois de passar por várias batalhas com destaque de bravura, em 1932 deixou a corporação. Apesar de ter sido considerada heroína, Olmira Leal de Oliveira só conseguiu receber um soldo do Governo do estado depois que Nilo Brum e Heleno Gimenez venceram a V Vigília do Canto Gaúcho com uma composição em sua homenagem. Mesmo assim, ela morreu em 1989 morando em um barraco na zona periférica da cidade.



Olmira Leal, a Cabo Toco e Vilma Zanini em 1985 do Seminário 70 anos de Antônio Chimango, Livro de Ramiro Barcelos. Esta foto está publicada na Página do Passado do Jornal do Povo e também na matéria intitulada "Cabo Toco combateu maragatos em 1923", no jornal Zero Hora em 19 de setembro de 1997.

À medida que conseguir mais detalhes, vou acrescentando. Publicarei brevemente artigo escrito por Vilma no jornal O Correio bem como vasta matéria publicada no jornal Zero Hora além do que for possível ir pesquisando e encontrando.



Jornal do Povo, 22 de outubro de 1989


Matéria jornalística: não foi identificado (ainda) o jornal

A HIPOCRISIA CACHOEIRENSE
Observar ou discutir a cultura dominante em Cachoeira do Sul tem sido uma constante de "papo furado". Pouco, aliás nada na água estagnada, tem saído do verbal. Acostumados a ver a "valorização do recurso humano cachoeirense" na solidão da espera, aplaudimos o abandono. Um exemplo vivo, "Cabo Toco" vencendo a Vigília em 1987, aplaudidíssima, com presença da personagem que absorveu a atenção da cidade. Bandeira de alguns políticos na época, buscou-se o "amparo" para a cachoeirense mais popular, naqueles dias, orgulho da terra do arroz. Da poesia para a realidade, o tempo vai passando e continua o mofo do desrespeito à vida, numa cidade de memória agonizante. Não é difícil encontrarmos na noite cachoeirense, pelas ruas do abandono, a "heroína Cabo Toco", como é popularmente conhecida Olmira Leal de Oliveira, a passos lentos e cansada, solitária, levando consigo a história que o povo desconhece, esquecida pela hospitalidade da falsa capital do arroz. Na madrugada de terça-feira, às 2h, encontrei-a na avenida Brasil, carregando no corpo por mais de 15 minutos, o tempo que levou para percorrer uma quadra - a do Supermercado Tischler até o Bar Azul, o peso de uma existência árdua. Uma verdade ante a excessiva hipocrisia cachoeirense. Eu questiono: "Será isso, desrespeito ao ser humano ou ignorância da sociedade?"
Roberto Cardoso

Jornal do Povo, 26 de fevereiro de 1989
Banco de Dados do Museu Municipal - Patrono Edyr Lima


Mais sobre o assunto:
Matéria sobre o curta-metragem do colégio Roque Gonçalves realizado pelo grupo de teatro da escola. Jornal do Povo, 18 de março de 2005.

O CABO QUE NÃO ERA MACHO


Foto: Jornal do Povo, Museu resgata cachoeirenses históricas, 01/02 de março de 2003

A AMIGA VILMA ZANINI ESCREVE SOBRE CABO TOCO

O CABO QUE NÃO ERA MACHO

A televisão funciona como meio cultural de longo alcance, para uma massa populacional que não teve acesso à cultura escolar. Está permitindo a milhões de brasileiros o conhecimento de um pouco da nossa sofrida e labutante história, através da série "Grande Sertão Veredas".
No universo mágico do escritor regionalista Guimarães Rosa, o bem e o mal representam o sonho de amor à liberdade de centenas de mineiros humildes que se confrontam em uma época do início do século, quando o país era envolvido por ideias federalistas e pela força do poder das províncias que amparadas pelos exércitos e jagunços combatiam as tropas do governo.
Um dos elementos singulares que me chamou a atenção é a figura de uma mulher, Diadorim, que anula sua postura de mulher e vira Reinaldo para conseguir proteger e guardar seus valores espirituais.
Não recordo o nome, mas já li, de um grande escritor, que disse: "Muitas vezes a vida imita a ficção ou a ficção se faz realidade".
Recentemente, o nosso Museu Cultural ofereceu a uma seleta equipe de professores um riquíssimo e histórico seminário sobre as Revoluções Gaúchas.
Descobri fatos sobre Borges de Medeiros, Ramiro Barcelos e tantos homens cachoeirenses, que colocaram suas ideias e provocaram revoluções para o Rio Grande do Sul tivesse vez e voz no cenário político nacional.
Conversando com minha ex-aluna Ione Sanmartin, lhe contei que conhecia uma senhora de 83 anos, qua participara das Revoluções de 1923, 24, 26 e 32, e é conhecida da população da Zona Alta como "Cabo Toco". Foi então, que encontrei Dona Olmira Leal de Oliveira morando sozinha em um casebre sem água e sem luz, na Vila Ponche Verde. No passado Dona Olmira, assumiu o lugar de voluntária no Regimento da Brigada Militar exercendo a função de enfermeira e lutando com despreendimento e bravura, esquecendo-se das limitações que a sociedade de então impunha ao seu sexo, não ser macho. Mesmo assim conquistou o posto de cabo e nos anais da história está registrada como Cabo Olmiro, encobrindo suas situação de mulher.
Uma equipe de professores que pesquisa sobre as revoluções deseja entrevistar e gravar depoimentos sobre a vida da D. Olmira, no contexto das revoluções gaúchas. Porém, ela está totalmente surda.
Seria bom conseguir um aparelho para surdos, com isto ela se sentiria mais segura em responder as perguntas. Quando eu a encontrei, ela estava lendo o Jornal do Povo, o artigo da professora Maria Eunice, "Antonio Chimango" e foi logo dizendo: "Vilma, sabes, Chimango era o Borges. Eu lhe perguntei como ela conseguia o jornal. Respondeu-me que três vezes por semana vai buscá-lo na redação. Alguém lhe deu uma assinatura de presente por dez anos. Agradeço aos médicos Romeu Scarparo, Zélia, as enfermeiras que trabalham na enfermaria e a Irmã Teófila, pois durante cinco dias cuidaram de Dona Olmira, que foi afetada por um ataque de asma.


Publicado por Vilma de Oliveira Zanini
1985
Jornal não identificado (se Jornal do Povo ou O Correio, ambos de Cachoeira do Sul, RS)

CABO TOCO É ADMIRADA PELOS CACHOEIRENSES

JORNAL DO POVO
DO LEITOR
Edição de sábado à quarta-feira, 05 de fevereiro de 2005 à 09 de fevereiro de 2005

CABO TOCO I

Concordo que Cabo Toco foi popularizada com a música na Vigília (Página 3, JP de 3/2). Antes disso, em 1986, ela foi reconhecida como figura histórica no Seminário Antonio Chimango, promoção do Museu Municipal, apresentada pela professora Vilma Zanini, maior conhecedora, hoje, da vida histórica e pessoal de Olmira Leal, a Cabo Toco.
Ione Sanmartin Carlos

OBS:
1º/12/2010: Ione atualmente é diretora do Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul.

Cabo Toco II

Cabo Toco não é cachoeirense, é caçapavana. Seus restos mortais estão em Caçapava. Cabo Toco ficou conhecida em Cachoeira do Sul em 1985 por ocasião do seminário sobre as revoluções do Rio Grande do Sul, onde foram abordados os 70 anos de Antonio Chimango, o apelido de Antonio Borges de Medeiros. Fui sua professora no primeiro grau do Colégio Imaculada Conceição, em 1958, mas a conheço desde 1947. O senhor Paulo Salzano, diretor do Jornal do Povo, me franqueou espaço para escrever sobre ela. Eu escrevi “O cabo que não era macho”. Então a Brigada Militar me procurou e a vida dela melhorou, e muito.

Vilma Zanini
OBS:
1º/12/2010: Vilma é professora aposentada e foi amiga de Olmira, a Cabo Toco desde a tenra idade de 10 anos.


JORNAL DO POVO
DO LEITOR
22 de março de 2005

CABO TOCO

Na realidade, a história de Cabo Toco em Cachoeira veio à tona por obra da professora Vilma Zanini e pelas mãos do então repórter do JP Mauro Ulrich, que foi retratar a vida de uma velha ranzinza que amedrontava os moradores da Vila Ponche Verde ("Heroína Cabo Toco revive pelo talento dos cachoeirenses", JP de 18/3). A música interpretada por Fátima Gimenez foi uma conseqüência.
Silvestre Silva Santos
Gravataí (RS)

Tive a oportunidade de conhecer a veneranda senhora, que certamente tinha seus dias povoados pela lembrança de tempos memoráveis, onde a guerra e a luta se faziam por interesses coletivos e idealistas, muito diferentes dos tempos atuais, que de tão modernos já andam sendo pós.
Sandra Silva
Alegrete (RS)


FÓRUM DO LEITOR
JORNAL DO POVO
22 de março de 2005

CABO TOCO

Cabo Toco, ou Olmira Leal, até parecem duas pessoas diferentes, mas não são. Por muitos anos viveu como miserável, doente, passando necessidades, em Cachoeira e sem ser reconhecida por ninguém.
Viveu a penúria e revoltada como todo combatente, (velha ranzinza), palavra mal empregada para quem defendeu nosso chão com muita fibra e coragem deixando muitos homens envergonhados.
Virou heroína às vésperas de sua morte e estão esquecendo do delegado Ivo Bairros de Brum que escreveu sua história e que foi contada por Fátima Gimez.
Foi graduada ao posto de 3º SGT pelo governador Pedro Simon e logo em seguida faleceu. Como muitos outros, a homenagem veio tarde e o reconhecimento também.
Vamos ter maior visão com os filhos ilustres, reconhecer antes ou talvez confeccionar um busto para ser colocado no centro da cidade em respeito a Cabo Toco, que mereceu muito mais e não teve quase nada.
Carlos Alberto Saraiva Rodrigues - Vera Cruz/RS (Brasil)


09 e 10 de janeiro de 2010
Olho Mágico, Jornal do Povo





Legal!!!!!!!!
Já comentei sobre a Cabo Toco, faz parte do meu imaginário da infância, ela morava na Ponche Verde, suas histórias nos encantavam.
Jorge Ritter - Salvador/BA (Brasil)

Lembro da Cabo Toco, no início dos anos 60, andando na sua carroça e usando roupas pretas.
Abraços
Lindomar



JP2
CAVALGADA PARA CABO TOCO
Cabo Toco: viveu em Cachoeira e agora será homenageada em Nova Prata
ROBSON NEVES

16 DE SETEMBRO DE 2009

Na Revolução de 1923, os maragatos, ostentando o tradicional lenço vermelho da Aliança Libertadora, tentavam derrubar o presidente do Estado, Antônio Augusto Borges de Medeiros, acusado de se reeleger mediante fraude eleitoral. Do lado de Borges, para a sua defesa, estavam os chimangos do Partido Republicano Rio Grandense. Sem enfermeira para cuidar da tropa, ao passar por Caçapava do Sul o coronel João Vargas convidou a jovem Olmira Leal de Oliveira, 21 anos, para acompanhar os chimangos. Para servir o Governo, ela aceitou o convite e virou Cabo Toco, entrando para a história devido atuar como enfermeira e combatente nos conflitos de 1923. Depois ela participou da revolução contra a República Velha, de 1924 a 1926.

Depois das batalhas, Cabo Toco veio morar em Cachoeira do Sul, onde levava uma vida simples no Bairro Ponche Verde, fazendo fretes com sua carroça para poder sobreviver. Cabo Toco ficou conhecida apenas em 1987, ao ser agraciada com uma música em sua homenagem que venceu a Vigília do Canto Gaúcho. Dois anos depois, viúva e sem filhos, ela faleceu no Hospital de Caridade e Beneficência vítima de doença pulmonar. Foi sepultada em Caçapava. Após sua história ser tornada pública na Vigília, ela foi escolhida para ser patrona da primeira turma de mulheres da Brigada Militar.

LEMBRANÇA - No mês que vem, toda esta história será relembrada por cavalarianos do Piquete Cabo Toco, de Nova Prata, durante a segunda cavalgada para homenagear a patrona. Criado em 2005, o piquete coordenado pela assessora administrativa Zeli Anderle, 42, pretende reunir 100 mulheres na cavalgada, que ainda não teve sua data definida. Ela enfatiza que a escolha por Cabo Toco para batizar o grupo funcionou como homenagem a uma mulher muito importante para a história gaúcha. “Em 2005, quando fundamos o piquete, fizemos uma cavalgada reunindo 52 mulheres. Este ano queremos 100”, salienta Zeli. O passeio sairá da localidade de Rio Branco, percorrendo 10 quilômetros até o centro de Nova Prata, onde na Praça da Bandeira haverá tertúlia livre durante o dia. A noite haverá jantar na Cabanha Coroado.

FÓRUM DO LEITOR
"ME CHAMAM DE CABO TOCO..."

CABO TOCO é uma personagem muito interessante da história gaúcha!!!
Seu reconhecimento na música "Cabo Toco", interpretada fenomenalmente por Fátima Gimenez, vencedora da IV Vigília em 1987 é realmente marcante na história de Cachoeira do Sul.
Tive o prazer de estar entre os músicos que tocaram esta música no show de abertura da XVII Vigília do Canto Gaúcho!!!!!!

Paulo Josué Elias Strechar - Cachoeira do Sul/RS (Brasil)

Lembrança especial

Parabéns amigo pela bela lembrança. Cabo Toco, uma história verídica e inesquecível. Um abraço.
Adão de Alves Ayres - Concórdia/SC (Brasil)

Cabo Toco

Tive o privilégio de morar perto da Cabo Toco, embora uma figura assustadora para nós crianças, claro com a ajuda dos pais: (quem fizer arte a cabo toco leva) tudo mentira, pois nos finais das tardes ajudávamos a cabo toco a desincilhar o cavalo, ai começava a nos contar histórias, sempre história da guerra, sem antes claro nos presentear com seu arroz com couve.
Jorge Ritter - Salvador/BA (Brasil)

Heroína

Eu não tive o privilégio de morar perto da casa da Cabo Toco, mas a grata satisfação de vê-la passar na rua aonde até hoje moro, no Bairro São José(nessa época ela morava no Ponche Verde). Eu, criança, já sabia dos feitos daquela velha senhora que cruzava a rua. E jamais deixei de enxergá-la com uma admiração típica de uma criança ao contemplar uma heroína.
Paulo Ribeiro Silva - Cachoeira do Sul/RS (Brasil)

domingo, 21 de novembro de 2010

UTOPIA, DEMOLIÇÃO, INVASÃO E DEGRADAÇÃO

...
"Por falta de projeto perde uma verba que poderia resolver a situação dos moradores do Beco dos Trilhos, atirados à própria sorte no meio do lixo e marginalidade".
Rodney Carvalho

Fórum do Leitor
Jornal do Povo, 18.11.2010


Na semana que passou uma matéria publicada no Jornal do Povo despertou minha especial atenção:

Política
ANO - Nº 118 - Edição de Quinta-feira, 18 de Novembro de 2010

HABITAÇÃO
Falta de projeto tira Cachoeira do PAC 2


Verba de R$ 4,2 milhões era para casinhas populares. “Município foi sincero demais”


Tenho acompanhado há anos o desenrolar do novelo ou "novela" Beco dos Trilhos, resultado de toda uma sucessão de equívocos: federais, estaduais e municipais.
Sem adentrar nas razões da existência deste bolsão de degradação, do ponto de vista urbanístico, o Beco existe porque outrora havia ali o antigo leito ferroviário.
Com a demolição da Estação Ferroviária acontecida em 1975, mesmo que não se reconheça explicitamente, toda a área correspondente ao leito ou quase toda, cujos trilhos haviam sido removidos, foi invadida. Quero destacar que a invasão não ocorreu somente pela população pobre.
Sem projeto, sem infra-estrutura, a toque de caixa, criou-se um problema que se agigantou e que não há semana que passe sem que de uma forma ou de outra, o Beco dos Trilhos ou Bairro Virgilino Zinn é citado em outros becos, docas, nos bares ou nas esquinas de Cachoeira do Sul. Dali brotam cenas de dignidade e indignidade.
A seguir uma foto muito antiga, de mais ou menos 70 anos atrás. Nela, a rua Aníbal Loureiro, que dá passagem ao bairro Santo Antônio ainda não existe.
Na sequência, a matéria de 2008 do fotógrafo Robispierre Giuliani, que esteve no "Beco" produzindo uma série de imagens e entre elas a da ponte seca, da qual recentemente despencou um caminhão (13 de novembro). E esta mesma ponte, em matéria preparada por uma estudante, anterior ao sinistro, foi reportagem da série REPÓRTER POR UM DIA, publicada pelo JP na data de 17 de novembro de 2010.
Fiz a analogia de três momentos, coincidência ou não.
E o problema do Bairro Virgilino Zinn persiste, como diz Rodney Carvalho, atirado à própria sorte em meio ao lixo e marginalidade.
E Cachoeira ainda deu-se ao luxo de negligenciar uma verba que poderia TER SIDO O MANÁ desta população, visto que da cartola da Prefeitura não anda saindo nenhum coelho.
Renate Aguiar



Época da foto: final da década de 30, início da década de 40.
Fonte: Jornal do Povo, 13 de janeiro de 2009


1. Igreja Matriz Santo Antônio, inaugurada em 1937.
2. Colégio Imaculada Conceição. Segundo Mirian Ritzel, o primeiro prédio da escola data de 1927.
3. Prédio construído em 1918 para sediar a firma Knorr & Eisner, posteriormente Banco do Brasil, depois agência do Banco Agrícola Mercantil e finalmente Unibanco até outubro de 2008. Tombado em 2008 (Fonte Jornal do Povo, 19/08/2010)
4. Engenho Brasil ou Roesch, desativado. Parcialmente em ruínas, parcialmente ocupado.
5. Estação Ferroviária (gare)construída em 1883 e demolida em 1975. Segundo Osni Schroeder, o modelo dela era igual ao da Estação de Santa Maria, que foi CONSERVADA.
6. Plataforma de embarque.
7. Local ainda baldio do "futuro" Engenho Progresso, depois Lojas Tumelero, hoje supermercado Superbrás.
8. Muro de proteção da Estação Ferroviária. Resta um fragmento grudado no supermercado recém inaugurado Superbrás.
9. Hoje Praça Honorato de Souza Santos.
10. Leito da Rede Ferroviária Federal.


Segundo observação da Mirian Ritzel, a rua Aníbal Loureiro ainda não aparece nesta foto. As torres da Igreja Santo Antônio estão com a cobertura provisória.

ENSAIO
Pra quê as fotos, tio?



A velha ponte seca sobre o antigo leito de trilhos.

ONEIDE TEIXEIRA

Do outro lado das lentes do fotógrafo Robispierre Giuliani reflete-se a realidade do Beco dos Trilhos. São dois mundos ilustrados por contrastes: a inocência e a pureza nos olhos da criançada, o lixo na entrada do bairro e pessoas humildes mas de bom coração que se sentem esquecidas e abandonadas em meio ao anúncio de projetos e mais projetos anunciados neste ano eleitoral e nos muitos anos que já passaram.

Onde o fotógrafo ia, as crianças corriam atrás. “Pra quê as fotos, tio? É pro jornal?” perguntavam elas. Robispierre confessa que no fundo percebeu a tristeza nos olhos de algumas delas, crescendo em situação de miséria e sofrendo com a falta de atenção e respeito a quem precisa. “Um dia as crianças irão entender o motivo das fotos”, respondeu Robis.


Fotógrafo Robispierre flagra a felicidade infantil em meio à pobreza
As crianças estão sentadas na ponte ainda em razoáveis condições nesta foto de 2008. (RESA)


Degradação ambiental ostensiva
Fotos: Robispierre Giuliani
Ensaio
Matéria: Oneide Teixeira
Título: Pra quê as fotos, tio? Fotógrafo Robispierre flagra a felicidade infantil em meio à pobreza.
Data: 14 e 15 de junho de 2008.



Foto: Taís de Oliveira Maciel
1º lugar Fotografia


Na foto pode-se observar o adiantado estado de desmanche da ponte na imagem de 2010. Tem-se mesmo a impressão que neste momento ela só suportaria pedestre e bicicleta.
Passou-se um tempo razoavelmente curto entre esta foto e a da queda dela por ocasião da passagem de um caminhão carregado de areia. (Renate Aguiar)


REPÓRTER POR UM DIA 2010
BAIRROS
Ponte do Beco dos Trilhos: soluções temporárias para um problema permanente

A ponte do Beco dos Trilhos está quebrada, com as tábuas podres e as guardas quase caindo. A Prefeitura mandou dois homens trazerem duas tábuas e colocá-las onde tinha um buraco, tapando-o, mas estas tábuas também já apodreceram. Agora, os vizinhos estão colocando outras tábuas, porque se a ponte continuar deste jeito uma criança
pode cair num buraco e sofrer um acidente. Quando a Prefeitura resolver arrumar a ponte pode ser tarde. Será que a Prefeitura não tem verba para arrumar uma ponte pequena? Ou é falta de vontade para resolver o problema?

Em época de campanha, o prefeito prometeu resolver o problema da ponte. Agora que se elegeu esqueceu da promessa de campanha? “Ele não sabe como é horrível viver num lugar de difícil acesso e muitos dependem dessa ponte para se deslocar de um lado para outro com segurança”, diz a moradora Angela Karina Moura Lacerda, que usa todo o dia a ponte para chegar à Escola Juvêncio Soares. O Beco dos Trilhos, hoje conhecido por Bairro Virgilino Zinn, de bonito só tem o nome, porque muda prefeito e os problemas continuam os mesmos, começando pela ponte.



Matéria publicada na capa do Jornal do Povo do dia 15 de novembro de 2010*

Caçamba era pesada demais para a velha estrutura de madeira da ponte do Bairro Virgilino Jayme Zinn

Carregada de areia, a caçamba do motorista Luciano Ourives, 26 anos, despencou sábado da ponte da Travessa Batista Carlos, no Beco dos Trilhos. O acidente na Batista Carlos ocorreu quando parte da velha estrutura de madeira não resistiu ao peso do caminhão e quebrou, fazendo com que o veículo tombasse. A queda foi de uma altura de cerca de cinco metros. Após despencar, a caçamba capotou uma vez e parou com as quatro rodas no chão. Ourives sofreu apenas lesões leves e foi liberado após passar por exames no Hospital de Caridade e Beneficência.

Tomei a decisão de publicar esta foto "forte" a partir da matéria do Jornal do Povo, pelo fato do motorista estar relativamente bem.

sábado, 20 de novembro de 2010

CACHOEIRA DOS TRENS



Alunos da Escola João Neves da Fontoura viajando de trem. Ano desconhecido (década de 60?)
Foto: cortesia Museu Municipal de Cachoeira do Sul Patrono Edyr Lima


CACHOEIRA DOS TRENS

Maria Fumaça,
Minuano ... Noturno
Trem de carga
Trem de ferro
Dividia a cidade
Nos trilhos
De minha adolescência

Virou esquecimento
Destino? Sina?
É soco na memória
Do meu tempo de menina


Zaira Cantarelli

domingo, 14 de novembro de 2010

"HOTEL DO COMMERCIO - ESTABELECIMENTO DE PRIMEIRA ORDEM DO GENERO"

"LOCALISADO NO PONTO MAIS ACESSÍVEL DA CIDADE, DISTANTE APENAS MEIA QUADRA DA ESTAÇÃO DA V. FERREA"



"Possúe uma lavanderia modêlo"



Proprietário: Cícero Teixeira

Hotel do Comércio
Vista atual
Foto: verão 2009/2010




Hotel do Comércio, em primeiro plano à direita
Imagem clicada provavelmente do alto do Banco do Estado do Rio Grande do Sul com vista para a av. Presidente Vargas
Foto: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima



Fonte: Cachoeira Histórica e Informativa
1940
Vitorino & Manuel de Carvalho Portela


Foto: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima
Álbum da Corsan, 1924

Vista do Hotel do Comércio a partir da rua Sete de Setembro. Ao fundo o banco Banrisul, um pouco mais adiante, à direita a ex-sede do Unibanco com possibilidade de ser restaurado e bem mais ao fundo a saudosa Estação Ferroviária, demolida em 1975.
A parte do prédio do Hotel que chegava até a esquina não existe mais.
Segundo depoimento de Dóris Gressler, era nessa parte que funcionava o restaurante.
Hoje encontra-se no local um posto de gasolina.




"Ruínas" do Hotel do Comércio vistas a partir do cruzamento da av. Presidente Vargas e rua Marechal Floriano

O Hotel do Comércio, um dos mais importantes e glamurosos da nossa cidade, hospedou pessoas ilustres como em 1916, o Príncipe dos Poetas, Olavo Bilac que esteve em Cachoeira do Sul promovendo a Liga de Defesa Nacional.
Na Festa do Trigo de 1956, segundo Eduardo Minssen, o prefeito era Arnoldo Paulo Fürstenau e, como "dono da casa", hospedou Juscelino Kubitschek.



Estiveram em nossa cidade o presidente Juscelino Kubitschek e seu vice, João Goulart em 1956, para prestigiar a FESTA NACIONAL DO TRIGO (2O a 22 de novembro). Para JK, foi construída (?) na residência do prefeito, segundo depoimento de Ione Carlos, uma suíte com banheiro especialmente para o presidente.
A antiga morada do ex-prefeito fica(va) do lado da casa da professora de Inglês Iza Ivi Gressler, na rua Comendador Fontoura.




Não havia mais lugares na morada de Fürstenau e, "obviamente", o vice Jango e o resto da comitiva ficaram no Hotel do Comércio, ainda segundo Eduardo Minssen.

Apenas para desenferrujar um naco de uma página da história, por muito pouco, Juscelino não toma posse se não houvesse acontecido o levante militar coordenado pelo Ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott.
Eleito com 36% dos votos (em uma aliança PSD-PTB e com o apoio do Partido Comunista), sua eleição foi contestada pela UDN (União Democrática Nacional) de Carlos Lacerda, alegando que JK não havia sido eleito pela maioria do eleitorado.
JK pelo PSD, Partido Social Democrático e Jango pelo PTB, Partido Trabalhista Brasileiro assumem em 31 de janeiro de 1956 para um mandato que duraria até 1961.



"Cosinha de 1ª"
Beleza e glamour


"Completo serviço de cópa"
Foto: cortesia Museu Municipal



"Estabelecimento de primeira ordem no genero, dispondo de acomodações confortaveis e higiênicas"
Foto: cortesia Museu Municipal


Quantas pessoas sabem quando por esta calçada transitam, que ao lado dela havia um dos mais requintados hotéis de Cachoeira?
E por que não sabem?



Para onde está fugindo nossa história?


O prédio, além de encolher, está em assombrosa decadência.


Coberta com delicados detalhes neoclássicos, está em ruínas ... E bem no centro da cidade. ...




Mas o que é isto?
Diagnóstico: fratura exposta.


Vai ficar assim?
Vai.


Hoje, 15 de novembro de 2010, numa matéria publicada no Jornal do Povo, intitulada "Cachoeira quer ser cidade modelo" consta um item "Para saber mais". Nele há um mapeamento de Cachoeira: vantagens competitivas, fraquezas, oportunidades - forças externas e ameaças - obstáculos externos.
No item oportunidades - forças externas, a última linha diz POSSIBILIDADES TURÍSTICAS ...
Penso que Cachoeira perdeu o bonde desta história.



O passado da cidade, com exceções, está a-r-r-u-i-n-a-d-o.



FOTO: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima
Antigo Hotel América, onde hoje está a sede atual do Banco do Brasil, agência Sete de Setembro.



Imagem escaneada do livro:
Cachoeira Histórica e Informativa
1940
Vitorino & Manuel de Carvalho Portela


Importante observar que tanto na propaganda do Hotel Savoia quanto do Hotel do Comércio, o CHAMARISCO era a proximidade do hotel da Estação Ferroviária - meia quadra, uma quadra ...

Existe um filme quardado na Secretaria do Áudiovisual/Minc, Rio de Janeiro com duração de 12 minutos sobre a Festa Nacional do Trigo.
Assim como recentemente foi resgatada uma filmagem de 1941 sobre a Festa do Arroz feita pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda) de Getúlio Vargas, por Eduardo Minssen (será apresentado e comentado ao público no dia 26 de novembro, na Casa de Cultura Paulo Salzano Vieira da Cunha), existe a possibilidade de se conseguir uma cópia desta filmagem, da Festa Nacional do Trigo de 1956.


sábado, 13 de novembro de 2010

KURT RIETH, UMA HISTÓRIA - PRIMEIRA PARTE

KURT RIETH (11.10.1914, Alemanha - 1945, Rússia)
 
Ontem, a diretora do Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul, Ione S. Carlos, mostrou-me uma série de documentos da Família Rieth. Ontem à noite a Natália, bisneta de Ernst Julius Rieth telefonou. Havia visto a foto do tio-avô (Kurt Rieth, filho de Ernst Julius Rieth) no blog, em postagem do dia 11 de setembro de 2010.

Ernst Julius Rieth, nascido em Neuhausen, Nueringen, Würtenberg, na Alemanha em 1º de abril de 1871, formou-se na Koenigliche Baugewerbeschule de Stuttgart, em 1904.
Em 1914 fixou-se em Cachoeira. Casado com Frida Scheck Rieth 911.5.1891 - 20.5.1957) teve quatro filhos: Liselotte (Charlotte)(23.12.1991-30.4.1917), Kurt, Julius Ernesto e Hildegard.
Ernst Julius Rieth realizou projetos e/ou obras de grande importância em Cachoeira do Sul:
* projeto de reforma da Igreja Matriz (projeto do brigadeiro Francisco João Róscio). Segundo a historiadora Ione Carlos, este projeto não foi selecionado porque foram apresentados outros;
* Colégio Imaculada Conceição;
* parte do prédio que abrigou o Café Frísia, na rua 7 de Setembro, esquina General Portinho;
* Hotel do Comércio (localizado no centro da cidade, hoje em ruínas);
* Vinte residências, cinco pontes, quatro armazéns grandes e dois matadouros em "estilo moderníssimo".
Na paróquia da Igreja Evangélica de Cachoeira foram encontrados os projetos para a casa paroquial e o jardim de infância, por ele assinados.
Faleceu em 31 de julho de 1945, aos 74 anos. Estava construindo a Ponte do Irapuá.
O segundo filho de Ernst Julius Rieth chamava-se Kurt.

Kurt foi à Alemanha para cursar engenharia antes do estouro da 2ª Guerra Mundial e não mais retornou.
Morreu na União Soviética ocupada.


Kurt está em pé e é o quarto da esquerda para a direita.
Época: 1930
Local: Colégio Roque Gonçalves
Em pé, da esquerda para a direita:
* Irmão Gabriel Leon, fundador e 1º Diretor do Colégio
* Isidoro Dutra de Albuquerque
* Luiz (?)
* Kurt Rieth
* Antônio Domingos Gomes
* Diógenes Cunha
* Auro Leitão Pereira Krieger
* Belchior Gama de Bem

Sentados, também da esquerda para a direita:
* Fioravante Trevisan
* Germano Meinhardt
* José Ribeiro Paschoal
* José Pereira Krieger
* Edu Macedo de Oliveira
* João Cunha Carpes
* Georges O. Maissiat
* Argeu Fontoura
* (...?)
* Ney da Fontoura Boccanera

Doação da foto: Belchior Gama de Bem (em 1985)
Pesquisa e foto: Museu Muncipal Patrono Edyr Lima


Kurt era amigo de juventude de Carlos Augusto Schmidt. A foto abaixo foi tirada quando Carlos tinha 24 anos, Kurt deveria aproximadamente a mesma idade.
No Museu Municipal Edyr Lima existe uma foto de Kurt junto aos colegas de escola. Vou procurá-la e publicarei. Também tentarei descobrir novos detalhes desta história sofrida e impressionante.


Kurt Rieth e Carlos Augusto Schmidt, em 1932, na Praça Borges de Medeiros (Praça da Caixa d'Água)


Rússia*, 05 de junho de 1943.

Querido tio, querida tia**!

Hoje é domingo e tirei um pouco de tempo para escrever.
Já estou há uma semana no front e já me habituei bem. Encontrei aqui bons camaradas (no sentido de companheiros), de maneira que não me sinto só. Durante o dia sempre temos muito que fazer e isto é muito bom, não se tem tempo para pensar/refletir.
Muito muito me lembro de nossa querida Stuttgart, que se tornou minha segunda pátria.
Aqui na Rússia há lugares bonitos, só as pessoas deste país são sujas e desleixadas.
Acertei muito bem, fui incorporado à uma unidade suábica (Schwaben) e já me sinto muito em casa. Moramos entre seis numa barraca, onde já me instalei confortavelmente.
A gente pode tornar as coisas bonitas, mesmo aqui fora, é só querer.
É somente uma lástima que se está tão longe da pátria.
Só se pode pensar nela e nos entes queridos que lá estão.
Muitas lembranças de coração,
vosso Kurt


* Kurt não especifica qual lugar da Rússia, o que historicamente é uma lástima. Porém pela data é possível saber em que ponto estava a guerra. Seguirei pesquisando.
** Kurt escreve aos tios e primos que residem em Stuttgart.

Observação: as cartas dos soldados do front eram "censuradas". Aos soldados e oficiais era proibido descrever aos entes queridos a "insanidade" da guerra. Também era proibido opinar desfavoravelmente bem como descrever a destruição ou incitar o derrotismo e a covardia. Muito menos questionar a Operação Barbarossa, a invasão das terras russas em 1941, decidida pelo Führer e desaconselhada pela maioria do Alto Comando.
Renate E. S. Aguiar

Stuttgart, 10 de setembro de 1943.

Prezada família Rieth,

Pelo heróico tombamento na guerra de seu querido primo Kurt Rieth, expresso-lhes, em nome de minha família, meus sinceros pêsames.
Já como estudante, ele se tornou um querido e jovem amigo meu, pelo qual estou de luto respeitoso.
Seu modesto e bom caráter, bem como seu talento, prometiam dele ainda realizações significativas.
Oportunamente queiram por obséquio transmitir meus pêsames também a seus pais, no exterior.
Com saudação silenciosa,
Professor Speidel


Obs: as cartas originais, em alemão, possuem tradução para o português feitas também já há bastante tempo. Foram realizadas algumas pequenas correções ortográficas.

Primeiras pesquisas:
Depoimento Natália Rieth, Ione Carlos, arquivos da Família Rieth.

Foto: acervo pessoal Renate Aguiar

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ATÉ HOJE ME PERGUNTO: POR QUÊ?

No aristocrático bairro Rio Branco, próximo ao Templo Martin Luther (do outro lado da rua), existe uma antiga e majestosa morada, pertencente à Família Wilhelm.


Esta foto pertence ao álbum da Corsan e é de 1924. Hoje o álbum está sob a guarda do Museu Municipal Patrono Edyr Lima.
Em 1924 esta rua chamava-se Venâncio Aires, hoje é a Av. Presidente Vargas. A imagem relaciona-se com a construção da rede de abastecimento de água e com o posterior calçamento da rua.



Esta bela foto guardada no museu mostra a D. Lya Wilhelm sentada no parachoque do carro e seu irmão Rolf sentado no muro da casa. Reparem na imponência dos dois pinheiros e na sofisticação da iluminação da época.
Foto: cortesia Museu Patrono Edyr Lima



Outra bela vista da morada. E os pinheiros? Maravilhosos!
Foto: cortesia Museu Patrono Edyr Lima



Foto: cortesia Museu Patrono Edyr Lima


E numa noite, há uns doze ou treze anos atrás, um vândalo (ou mais) colocou fogo nos dois pinheiros. As tochas incandescentes danificaram toda a vegetação circundante e a fachada da casa. Nada restou. Os dois tocos fumegantes deixaram a cidade indignada e envergonhada com o ataque covarde.


Passando pelo local, como faço todos os dias, volta e meia me recordo do cartão postal que um dia foi completo, enchendo de charme o quarteirão e de beleza o bairro e a cidade.
Com o afundamento do terreno e pela acomodação da terra, eis que nesta semana vislumbrei esta cicatriz ... É possível que ela esteja ali há alguns anos. Tanto faz ...



O toco jaz testemunha da insanidade da ação. Se parece a um periscópio tentando inutilmente identificar seu algoz.
Até hoje me pergunto, por quê?

O FIM DA CHIBATA NA MARINHA


João Cândido faz a leitura do protesto

CONSCIÊNCIA NEGRA
Quem foi João Cândido?


Líder da Revolta da Chibata terá importância resgatada

João Cândido, o Almirante Negro, marinheiro natural de Encruzilhada do Sul

Reconhecido no ano passado pelo governo brasileiro como um dos heróis negros, o marinheiro João Cândido, natural de Encruzilhada do Sul, que no começo do século passado liderou o movimento que ficou conhecido como Revolta da Chibata, será um dos destaques da Semana Municipal da Consciência Negra de Cachoeira do Sul. No dia 14 de novembro integrantes do movimento negro na cidade pretendem distribuir material informativo sobre a trajetória de João Cândido.


João Cândido e seu filho caçula, Adalberto do Nascimento Cândido, o Candinho

As atividades da Semana da Consciência Negra, que transcorrerá de 13 a 21 de novembro, culminará com kizomba na Bonifácio. De acordo com o presidente da Associação Cachoeirense da Cultura Afro-brasileira (Acca), Luciano Ramos, além do Almirante Negro, serão lembrados também os negros que foram massacrados por tropas federais no final da Revolução Farroupilha, no episódio que entrou para a história como a chacina dos voluntários e lanceiros negros. O fato ocorreu no Cerro dos Porongos, no interior do município de Pinheiro Machado, que tornou-se um dos pontos de referência da luta do povo negro gaúcho.


Joâo Cândido concedendo entrevista a jornalista

INDENIZAÇÃO - De acordo com Luciano Ramos, um dos objetivos da divulgação dos fatos históricos é reforçar o apelo feito pelo movimento negro brasileiro, que defende a indenização aos familiares dos negros assassinados. “Precisamos conhecer a história para entender a realidade presente e resgatar a cidadania e direitos do povo negro”, declarou o dirigente da Acca, que participou com representantes de outras entidades ligadas à consciência negra do encontro realizado nesta sexta-feira na sede da Coordenadoria da Igualdade Racial, no qual ficou definido o calendário de atividades da semana.

Além da lembrança dos heróis negros, haverá também atividades nas escolas municipais, onde serão eleitos os mais belos negros estudantis. No dia 15 as entidades negras visitarão o quilombo do Cambará, na BR 290, onde também haverá atividades. No dia 16 será promovido, em local ainda a ser definido, o encontrão da juventude negra de Cachoeira do Sul. Conforme Luciano, a semana encerrará com uma grande kizomba (festa) na Praça José Bonifácio.

JORNAL DO POVO, 08 DE NOVEMBRO DE 2010.



João Cândido morreu em 1969, na vigência plena da ditadura militar. À frente, à direita, seu filho Candinho.


ENTENDA O EPISÓDIO:
No início do século XX, precisamente no ano de 1910, durante alguns dias, mais de dois mil marujos movimentaram a Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro, ao tomarem posse de navios de guerra para exigir o fim dos castigos corporais na Marinha do Brasil.
Em abril de 1910, o “Minas Gerais”(navio blindado de guerra) chegou à Baia da Guanabara, era o navio mais bem equipado do mundo, mas, as questões de regime de trabalho, o recrutamento dos marujos, as normas disciplinares e a alimentação deixavam a desejar. O retardamento das reformas nessas áreas fazia lembrar os anos dos navios negreiros. Tudo na Marinha, Código Disciplinar e recrutamento, principalmente, ainda eram iguais ao da monarquia. Homens de bem, criminosos, marginais eram juntamente recrutados para servirem obrigatoriamente durante 10 a 15 anos e, a desobediência ao regulamento tinha a punição de chibatadas e outros castigos.
O açoite do marinheiro Marcelino Rodrigues, no dia 22 de dezembro de 1910, desencadeou a rebelião dos marinheiros, de maioria negra, contra os castigos físicos remanescentes da escravidão. À frente do grupo, a bordo do encouraçado Minas Gerais, estava João Cândido. Houve ataques à cidade e seis oficiais da Marinha foram mortos pelos revoltosos. Sobrevivente do degredo e do fuzilamento dos envolvidos, João Cândido foi expulso da Marinha. Morreu aos 89 anos, desamparado e com câncer, em 1969.
Fonte: Notas Judiciosas,recortes jornalísticos e opiniões sobre temas jurídicos.