Orgulho!

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sábado, 28 de maio de 2016

1966-2016 - CINQUENTA ANOS SEM SÉRGIO GASPARY LEZAMA

Há alguns anos participei de uma oficina de poesia "Ora conversa, ora verso", com Célia Maria Maciel. Tenho guardado comigo quatro preciosas folhas com poemas, entre os quais dois do poeta cachoeirense Sérgio Gaspary Lezama.
Lembro-me como se fosse hoje, das lágrimas brotando dos olhos de Célia, ao ler dois dos seus sonetos para o nosso enxuto grupo. 
Foi amor à primeira vista: paixão pelo versos de Lezama, pelos cânticos de sua orfandade, pelas suas prosódias e prosopopeias, pela densidão e pelo alcance atemporal dos seus escritos de cinquenta anos atrás. Sérgio calou na minha alma e neste ano estranho pelo qual atravessamos, serão completados cinquenta anos da morte precoce deste autor talentoso.
Certa vez meu irmão comentou: existem autores que produziram uma única obra-prima. Em outras palavras, quantidade não é sinônimo de qualidade. A herança de Lezama é escassa, ronda em torno de cinquenta escritos, porém qualidade é que não falta a eles.
Filho de um espanhol com uma brasileira, perdeu aos 14 anos sua mãe. Estudou no Colégio Roque Gonçalves, onde foi orador da turma por ocasião de sua formatura. Posteriormente foi trabalhar na cidade de Santa Rosa, onde dirigiu por uma temporada, a Biblioteca Pública.

Sérgio costumava andar vestido bem assim como na foto: terno e gravata!
De quem seriam as fotos atrás dele? Há uma foto dum senhor com um menino,
seria ele, talvez? Não há datação nesta imagem.


Sérgio sofria de asma e veio a falecer aos 36 anos. 
Não sei as razões do trabalho dele ter sofrido um lapso, quando entendo que ele deveria já ter sido reunido há muito tempo num opúsculo e que este eternizasse para os cachoeirenses um dos seus mais talentosos filhos poetas.
Na primeira edição da coletânea 'Poetas do Vale', foram publicados alguns dos seus poemas. Em breve irei publicá-los.

Anseio de fugir ao imediato
de partir antes de representar o extremo ato
da tragicomédia de existir!
Vontade de virar a cidade de pernas para o ar,
e percorrendo bares e cafés de uma vez,
o pálio da revolta desfraldar na cara do burguês.
Vontade de ser outro, bem diverso deste louco
que faz versos, mas é incapaz de triunfar na vida.
Desse louco, que ainda há pouco, pensando em mares,
fugas, ilhas, viu-se chorando como um calouro
diante de um velho álbum de família.

Poema publicado nas colunas de Eduardo Florence em 8 de novembro de 2003 e 19 de janeiro de 2013.
Fonte de pesquisa: 'As Ruas da Cidade', Jornal do Povo, 15 de junho de 2013, Mirian Ritzel.

domingo, 22 de maio de 2016

REVOLUÇÃO RUSSA

A REVOLUÇÃO RUSSA


Este postal pertencia ao meu pai. Como foi parar nas mãos dele, não sei. Após seu falecimento, foi a vez da minha mãe guardá-lo. Hoje, é uma das jóias da minha coroa. Consta atrás a identificação dos soberanos russos: Pedro, o Grande; Alexander II; Alexander III; (novamente Pedro, o Grande); Nicolaus II, Nicolau II, Katharina II, Nicolaus I, Alexander I, Alexei Michailowich; Paul I; Elizabeth, Michael Feodorowschy; Kremlin; Palácio de Inverno; Residência Romanov; Nicolau II. O postal foi impresso em Moscou, 1913. As três fotos centrais, maiores, da esquerda para a direita: Pedro, o Grande; Alexei e Nicolau II.

Nicolau II e Alexandra caracterizados luxuosamente

INTRODUÇÃO

Alan Wood
Professor de História da Rússia
Universidade de Lancaster

"A Revolução Russa de 1917 é sem dúvida, o fato mais importante da história política do século XX. Um observador contemporâneo da Revolução, o jornalista John Reed, deu a seu famoso relato desses acontecimentos o título de Os dez dias que abalaram o  mundo, e os tremores e as reverberações provocados pela sublevação continuam a ser registrados ainda hoje. Setenta anos depois do evento (no momento em que escrevo), as ondas de choque emanadas da Rússia em 1917 provocam um impacto direto ou indireto em toda uma gama de problemas políticos, econômicos, ideológicos, diplomáticos e militares em todo o mundo. Uma avaliação das causas, rumos e consequências da Revolução Russa, portanto, não se restringe a uma simples questão de interesse histórico, mas é algo decisivo para que se tenha um entendimento adequado e bem informado do mundo político em que vivemos, e em que a União Soviética - como Estado e sociedade nascidos dessa Revolução - desempenha um papel de extrema importância.

John Silas Reed (1887-1920)

Livro 'Os dez dias que abalaram do mundo'
,                                                                      
Este 'panfleto' (no caso, o opúsculo de Alan Wood) se limita a um exame de causas e dos rumos da Revolução desde a emancipação dos camponeses-servos da Rússia em 1861 até a tomada do poder político pelos bolcheviques em outubro de 1917. Uma análise das consequências dessas profundas mudanças será deixada para um futuro estudo.
Por que iniciar o exame da Revolução de 1917 no ano de 1861? Não é necessário adotar a visão marxista-leninista da história para que se concorde com a opinião do próprio Lênin de que as sementes da Revolução foram lançadas ao solo quando da insatisfatória legislação que aboliu a servidão na Rússia em 1861.


Camponeses russos. Era a maioria da população. Todos iletrados. Repare na mulher da escada que está sem sapatos.

O ambíguo e contraditório programa de reforma administrativa que se seguiu ao Ato de Emancipação gerou novas forças sociais, políticas e intelectuais que, contudo, foram limitadas pelo rígido quadro político de um Estado absolutista e autocrático. É uma lei física, se não histórica, a que nos ensina que a força de pressão do vapor contido em um recipiente rígido, sem espaço para sua expansão, sem qualquer estrutura elástica ou válvulas de segurança, provocará uma explosão e estilhaçamento desse recipiente.


Um batalhão de mulheres, mais bem vestidas (inverno) participando de protesto

Essas perigosas forças e pressões, tanto latentes quanto ativas, podiam ser constatadas por qualquer um na décadas que antecederam o ano de 1917. A revolução sempre constou da agenda tanto da autocracia quanto da oposição. Os intelectuais russos constantemente falavam e escreviam sobre ela, os ativistas se organizavam para ela, o governo legislava contra ela, e as forças militares e policiais, combinadas entre si, estavam em constante alerta para sufocá-la. Mas foram as massas, o povo russo, que por fim a concretizou. As páginas que se seguem procuram descrever e analisar algumas das circunstâncias objetivas e alguns dos fatores subjetivos que contribuíram para esse processo, criando as tensões e contradições dentro do Império Russo que só poderiam ser resolvidas pela revolução. Antes, porém, é necessário identificar algumas das importantes características do regime czarista e as antigas tradições revolucionárias a ele opostas."


Este pequeno opúsculo é grandiosos em informações sobre as condições do Império Russo pré-revolucionário

Líderes da Igreja Ortodoxa Russa

Oficiais do exército do czar

Esta foto mostra o primeiro carro russo.
A troika que sustentava a autocracia: Igreja Ortodoxa, Exército e burguesia.
Fotos de Maxim Dmitriev

Se isto não é escravidão feudal, o que seria então?
Um dos símbolos da miséria do povo russo era os barqueiros
do rio Volga. estes homens eram usados como animais de carga,
rebocando barcos até as margens do rio. Se um deles
caísse doente, simplesmente recebia seu salário e era
abandonado nas margens do Volga. 



Exército russo pronto para ser MOÍDO na Primeira Guerra Mundial. Enquanto as bombas explodiam nos campos dantescos,
no Império Russo a Revolução avançava. Milhares de soldados russos desertaram por absoluta falta de condições para a luta, sem armas, sem alimentos, sem roupas adequadas, sem comando. Os oficiais não sabiam se atendiam o front da guerra ou defendiam os Romanov que estavam por um fio no Império.


Vladimir Ilitch Lenin
Disfarçado (peruca e barba raspada)
Refugiado na Finlândia
11.08.1917
Nicolau II e Alexandra com seus cinco filhos: Olga, Maria, Tatiana, Anastácia e Alexei (que era hemofílico)


Este lugar ficou desconhecido do mundo e dos russos por décadas. Somente após a queda do comunismo os restos mortais dos Romanov foram resgatados, identificados e estão enterrados hoje na Catedral de Pedro e Paulo em São Petersburgo.


Rasputin
Nos muros do Kremlin estão enterrados heróis nacionais como o cosmonauta Iuri Gagárin, o comunista norte-americano John Reed - autor do livro 'Os dez dias que abalaram o mundo', soldados mortos na segunda guerra e quase todos os líderes do governo comunista - Stálin, Leonid Brejnev, Iuri Andropov, Konstantin Tchernenko.
As exceções são Nikita Khruschov, que foi expurgado por ter denunciado os crimes de Stálin e Mikhail Gorbatchov, que está vivo.

"Culto à imagem"
Curiosidade:
O corpo de Lênin é mantido a uma temperatura e nível de umidade controlados dentro de uma caixa de vidro à prova de balas. Todos os anos, o processo de embalsamamento é renovado, o que pode manter o corpo no atual estado de conservação durante séculos.
"Minha opinião": enterrem seus restos!


Segundo a revista Galileu, cada vez mais partes do corpo de Lênin
são substituídas por plástico. 

quarta-feira, 18 de maio de 2016

COMO ESCREVI "A CATEDRAL DE COLÔNIA"

Depoimento de Affonso Romano de Sant'Anna

POESIA SEMPRE
Ministério da Cultura
Fundação da Biblioteca Nacional
Rio de Janeiro, 1994
Ano 2, número 4

Em 1978 cheguei à cidade alemã de Colônia para lecionar literatura brasileira na universidade local durante uns três ou quatro meses. Diziam que era primavera. Mas fazia um frio incômodo.
Ouvira falar da catedral - o único monumento que teria resistido ao bombardeios dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Não me lembro de sua fotografia antes. Recordo-me apenas que num dos primeiros dias de minha estada, ia andando pela Hohe Strasse, uma rua meio estreita e cheia de lojas quando, de repente, por trás dos prédios veio irromper aquela aguda e pesada sombra, a catedral. Andei mais um pouco e o impacto foi ainda maior.




O vetusto, esse é o termo, edifício contrastava com a cidade reconstruída. Percorri com os olhos a fachada, entrei, abismei-me nos seus detalhes.



Foto: Luciana Beatriz Chagas


Não tinha em mente nenhum poema sobre ela.
Lá voltei muitas outras vezes, siderado.
Vindo de um país COM UMA HISTÓRIA RALA E MAL CONTADA, a densidade da história europeia sempre me deixou atônito.
Um dia, creio que já no final de minha estadia, dei por mim, no apartamento, escrevendo uma meia dúzia de versos que começavam assim:

A Catedral de Colônia
é uma escura montanha
de pedra, palavra e espanto
numa aguda arquitetura.
A Catedral de Colônia
é um gótico cipreste,
um cone de feno negro,
um monte de trigo em prece.

[...]



A ideia era fazer um poema pequeno, de uma página, em versos curtos, repetindo arquitetonicamente
a superposição de versos/pedras.
Voltei ao Brasil só com aqueles versos. Em Colônia, na verdade havia acabado um longo poema, que me custou vários anos: "A grande fala do índio guarani". Estava exausto. Não queria tão cedo meter-me num longo poema, coisa que exige a dedicação de quem escreve romances. Quando cheguei em Colônia, tinha, aliás os fragmentos de "A grande fala", mas não sabia ainda o que era em conjunto.
[...]

Portanto, não pensava em mergulhar em outro texto longo. Mas, de repente, o poema da Catedral começo a crescer dentro e fora de mim. A primeira parte com sete sílabas não esgotara meu pasmo. Tinha algo mais a dizer. E fui anotando.
[...]
Essa ideia de que a Catedral se foi construindo aos poucos durante uns seiscentos anos, fez com que algo crescesse em mim. E aos poucos percebi que uma arquitetura poética se ia formando. Comecei a abrir cada parte temática com os versos de sete sílabas, como se fosse pilares ou torres do poema. Em breve, quer dizer, ao fim de SETE ANOS, em 1985, quando o terminei, dei-me conta de que a Catedral era uma metáfora de inúmeras coisas.
O poema se converteu numa longa viagem dentro de mim e dentro da história europeia. Viagem de um brasileiro, mais ainda, de um mineiro, ainda mais, do menino que viveu, lá, em Juiz de Fora, enquanto os alemães consumavam a tragédia da Segunda Guerra Mundial.



[...]
A história sempre me atordoou. Minha obra reconheço, está prenhe deste pasmo. "A Catedral de Colônia" é a metáfora dessa perplexidade, símbolo de destruição e resistência, uma consciência erguida no tempo.




Foto: Luciana Beatriz Chagas

quinta-feira, 5 de maio de 2016

É verdade!


O maestro russo Valery Gergiev 
conduz a Orquestra de Teatro Mariinsky, 
de São Petersburgo, Rússia
Local: Anfiteatro de Palmira, Síria
Data: 5 de maio de 2015
O local foi utilizado pelo Estado Islâmico 
para exercer toda  a sua barbárie.