Orgulho!

Orgulho!

sexta-feira, 24 de abril de 2015



POR UM FIO
Renate Elisabeth Schmidt*
*Professora de História
A débil democracia brasileira anda temerosamente equilibrando-se numa corda bamba estendida num precipício sobre o Hades da ditadura,  entre o passado imprudente e o frágil presente.
Moldado no modelo de colônia de exploração, o Brasil padeceu as agruras dum sistema pautado na extorsão de suas riquezas, arrancadas pela mão-de-obra escrava africana. Os rios de ouro daqui engolidos inundaram a metrópole, impedindo o colapso de sua economia paupérrima, concentrada na riqueza do mar, na produção de vinho e na exploração da oliveira asfixiada porque atrelada às potências europeias nascentes. Tão medíocre que o transporte do pau-brasil era feito por navios holandeses.
O Brasil viveu por 322 dos seus 515 anos, a ditadura colonial, para então trocá-la por um império fraco, impopular e estagnado. A ditadura da Coroa rendeu trocados, abastecendo o 1889 com meia dúzia de contos de réis democráticos, prato cheio para uma República golpista, passando então o Brasil a provar o modelo republicano,  cujas origens perdem-se nas histórias de Roma. Um ano antes, o marasmo imperial “libertou” os últimos escravos, jogando-os no limbo social, situação que perdura na atualidade.
Foi então dada a largada para a ditadura do “Café com Leite”, sob a batuta dos coronéis cafeicultores e dos usineiros, copiados e invejados meio de longe pelos colegas sulistas do charque. Tudo agregado aos currais eleitorais. Muito pouco da saudável prática republicana redundou em melhorias para o coletivo. A briga sulista de 1835-1845, anterior à República, deixou evidentes os interesses direcionados em questão.
Em 1930 a ditadura é de baixa estatura e veste farda. No novo viés é preciso enfraquecer o poder binário, até então senhor absoluto das terras brasileiras.
E o país segue equilibrando-se na corda, vivendo arroubos institucionais contraditórios. Os anos que se sucederam seguiam temerários porque se colhiam  as consequências duma delicada fragilidade nacional, a falta de matéria-prima bípede e supostamente inteligente, conhecida como Homo sapiens.
Nas democráticas terras do norte, nos EUA, a conversa é outra. As colônias do norte sangraram sua própria carne (Guerra Civil) para defender o modelo econômico que se adequava a elas, no contexto de recém ingressos na 2ª fase da Revolução Industrial. Diferentemente do Brasil, os EUA configuravam uma ‘colônia de povoamento’.
Como parte vitoriosa da Grande Aliança, eles despertam como potência inquestionável. Excetuando o ataque a Pearl Harbor, os seis anos da Segunda Guerra pouparam o solo estadunidense da destruição e do caos. Invocada levianamente, desconsiderando o custo de 50 milhões de mortos recém esfriando nas covas coletivas ou a céu aberto, a Guerra Fria recobre o planeta, rugindo pelos seus 360 graus. A paranoia anticomunista, em mutação, virou um cancro mortífero, alcançando inclusive o Brasil.
Suas células deformadas contaminaram razões e conspiraram ações fazendo o colapso de um governo constitucional, agitado pela drenagem criminosa dos princípios institucionais.

Jango jamais foi comunista, porém já iniciou seu governo como paciente terminal, circundado por células malignas reacionárias, que descendiam da cepa genealógica vigente no Brasil desde os idos das capitanias gerais, na ocasião contraditoriamente chamada de homens bons.
Aliás, quem seriam hoje os homens bons?