Orgulho!

Orgulho!

domingo, 12 de fevereiro de 2012

A PRAÇA, O POVO E AS PRIORIDADES

A linda pérgola em seu século de ouro! Hoje jaz esquartejada e infeliz.
Aguarda há anos a restauração que todos governos prometem mas não cumprem. A foto é do DVD "Cachoeira, 100 anos depois", de Claiton Fernando Nazar apoiado pelo Núcleo de Cultura de Cachoeira do Sul.


Artigo de Eduardo Minssen
Ecologista

Jornal do Povo, 10 e 11 de fevereiro de 2001


A praça, o povo e as prioridades

A Praça José Bonifácio sempre ocupou um papel central no processo urbanístico de Cachoeira. Teve o Pelourinho, o Mercado Público, a pérgola e os canteiros caprichosamente dispostos, numa mistura de influência paisagística italiana e francesa. Em décadas passadas, havia a praça dos brancos e dos negros, numa sutil segregação consentida por toda a sociedade.
Em termos cronológicos, teve fôlego para sobreviver até meados da década de 1970. Com o fim do Bar América, com o sumiço do relógio fronteiriço da Rua Dr. Sílvio Scopel (onde andará?) e com a mudança do point jovem para a Praça Honorato, ela foi murchando e definhando aos poucos.


Imagem da Concha Acústica

Delírio do governo Marlon Santos, a "Concha Acústica" que rendeu R$ 5000 aos projetistas, prejuízo aos cofres públicos da Prefeitura e, por extensão, ao provedor do cofre, o contribuinte cachoeirense.



Imagem: Acervo pessoal

Todos pensaram que ela iria renascer, quando no início do seu governo, o Dr. Witeck proclamou aos quatro ventos que iria transformar Cachoeira em um jardim. Era o ano de 1989 e a virada da década encontrou a José Bonifácio em perfeito abandono. Sem vida, sem cores, com os banheiros imundos, entregue à escumália noturna. Como não realizou o seu propalado sonho, no último ano de seu governo (1992), o Dr. Witeck voltou à carga: instituiu um concurso de nível estadual para escolher um projeto arquitetônico e paisagístico para a sua completa remodelação. Fiz parte da comissão julgadora e lembro que foram apresentados vários trabalhos interessantes. Julgado o vencedor, ficamos esperando o início das obras. Vieram as eleições, o Dr. Ivo foi eleito e nos últimos dias do ano citado a Prefeitura Municipal (do então governo do PMDB) pagou uma belíssima premiação ao grupo de arquitetos vencedores. Iniciando o mandato do novo governo em janeiro de 1993, Cachoeira foi sacudida por uma placa colocada pelo prefeito e pelo secretário de Obras nos canteiros central, na esquina da 7 com Andrade Neves, no dia 31 de janeiro: “Enfim, o calçadão”.


Imagem: obras da "nova" pista de skate

Eu e os então vereadores Luiz Machado e Pipa Germanos, conversando na esquina da Câmara, rapidamente chegados à mesma conclusão: não havia projeto (já que o vencedor pago pela Prefeitura havia sido jogado no lixo!) e as intenções do Sr. Secretário de Obras era iniciar a obra paralelamente a uma grande reforma da José Bonifácio.
Tivemos os três a mesma opinião e determinação: seria o caos e as Obras não conseguiria dar conta de tudo. Provavelmente seria o caos multiplicado por dois. Rumanos para os microfones da Fandango e gritamos no éter: não há projeto, não há verba, não há cronograma de obras, etc. Mas, em verdade, a obra então restrita à praça se estendeu pelos quatro anos do governo do PDT, com pequenas e desconexas etapas sendo realizadas. Por fim, adentrou ao Governo Pipa e logo de início teve uma prova de foto, capa então do Jornal do Povo: “O dia em que Witeck chorou”. Referia-se ao fato de que um biólogo havia atacado com motosserra um cipreste que tinha uma colméia de abelhas em seu pequeno oco. A ferida foi grande e a árvores ficou a perigo. O Dr. Witeck prometeu para, em 30 dias, realizar uma dendrocirurgia, ou seja, uma cicatrização e reforço da referida. Passados 60 dias sem que nada fosse feito, convoquei um funcionário de minha empresa, material cicatrizante, cimento, areia e fiz o serviço necessário. Parecia premonição, pois passados dois anos um temporal lascou a árvore fragilizadas e as “equipes especializadas” da Prefeitura devem ter tido orgasmos ao fazerem o que mais gostam: “vrummmm, e dê-lhe motosserra!”.

A "velha" pista de skate em adiantado estado de desmanche. Prejuízo aos cofres públicos e mais um capítulo nas obras da praça que nunca terminam.

E a praça? Continuava inconclusa. Vieram os módulos para as lancherias (mais árvores foram suprimidas sem a devida compensação), mas a causa era nobre e higiênica: transferir os comerciantes dos trailers para um lugar mais digno e “limpar” o visual da calçada superior da praça. Resultado: até hoje eles relutam em mudar. As pequenas obras pipocavam ora aqui, ora ali. E o tempo foi passando. Os gramados mais do que nunca, jamais receberam um quilinho de adubo. Flores? Alguém já viu alguma? Mato alto, árvores desnutridas, lixo, terra nua. E funcionários de machadinha, raspando a casca das tipuanas para facilitar a passagem de cal, enfraquecendo os vegetais pela perda de seiva. Depois, quando os galhos caem com um ventinho, está sempre pronta a proposta da poda radical.

A velha pista de skate não serviu mais. Construída em área ingenuamente da minha parte caracterizada como "NOBRE". Foi nobre um dia, isto sim ...

Por fim, os irmãos Mendonça trouxeram uma boa nova: a volta do Bar América (rebatizados de Santa Maria Lanches), com apenas um senão: uma famigerada e ilegal cerca de cordas que avança pelos canteiros da praça num claro comprometimento ao direito público de ir e vir num bem de uso público.
Resultado final: oito anos de obras e tudo está inconcluso. Como pode uma cidade não perder sua auto-estima se em oito anos não consegue concluir a reforma de uma praça? Mas, para não deixa-la sozinha na agonia, o poder público tratou de arranjar-lhe funesta companhia: as árvores estupidamente podadas antes do inverno nos fundos da Praça da Caixa d’Água, no alto da David Barcelos, em frente à própria Prefeitura, na Praça Honorato, na Presidente Vargas, onde os pobres plátanos decenários rebrotam da base (algo impensável numa árvore adulta), numa tentativa de sobrevivência. Isto tudo sem falar na destruição do túnel verde da Marechal Floriano. E, finalmente, a “nova irmãzinha”: a Praça Salgado Filho, também conhecida como “do Cândida” ou “dos Loretos”.
Ao menos o nobre jacarandá parece não se importar com a bagunça e floresce majestosamente todos os anos!

Cicatriz da antiga e bela balaustrada (de 1927) retirada criminosamente durante o governo de Honorato de Souza Santos (1969-1973).




WATER CLOSET abortado graças à intervenção dos taxistas que
pediram socorro à Câmara.

Bagunça! "Nunca tivemos UMA CIDADE TÃO FEIA E SUJA"!

Eduardo Minssen, 10.2.2001

O que é mais triste em tudo isto é a falta de importância que o Governo Municipal dá às praças, às árvores, ao ambiente urbano. Basta, ao que relatamos, somar o pasto que cresce nas calçadas e canteiros para termos uma só certeza: iniciamos o milênio com um triste aspecto urbano, pois, se ao mesmo tempo o asfalto agrega qualidade de vida, nunca tivemos uma cidade tão feia e suja.

OBS: hoje é 12 de fevereiro de 2012, e praticamente NADA mudou.
A INFELIZ praça segue EM OBRAS!

domingo, 5 de fevereiro de 2012

História de Cachoeira do Sul: Insana decisão

História de Cachoeira do Sul: Insana decisão: A Prof.ª Renate Schmidt Aguiar (Jornal do Povo, 4 e 5 de fevereiro de 2012) pôs o dedo em uma ferida que corrói aqueles que vive...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

ESTAÇÃO CACHOEIRA

1975: O ANO QUE NÃO QUER CALAR!

Imagem: Estação Cachoeira, em adiantado estado de demolição. Governo: Pedro Germano (1973-1976)
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Arquivo Histórico, Museu Municipal e Claiton Fernando Nazar.

Estação Cachoeira

Por Renate Elisabeth Schmidt de Aguiar


Imagem: Estação Cachoeira em fase avançada de demolição.
Cortesia: Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul



Jornal do Povo, edição de 4-5 de fevereiro de 2012


Existem dois marcos que calaram fundo nas minhas vistas tão fatigadas, ambos aconteceram durante o ano de 1975.

Extremo Oriente, 30 de abril de 1975: após 10 anos de invasão, ocupação, destruição e relatos de incontáveis crimes de guerra documentados e impunes, a resistência guerrilheira vietcong e o Vietnã do Norte presenciaram a debandada das últimas tropas e autoridades estadunidenses da terra milenar da recém-fundada República Socialista do Vietnã.

Lyndon Johson atacou, Richard Watergate Nixon entupiu a terra oriental de napalm e Gerald Mandato Tampão Ford rendeu-se ao óbvio: a incapacidade do monstro bélico americano derrotar a guerra de guerrilha organizada pelo estrategista general Vo Nguyen Giap e muito motivada pelo carisma do líder comunista Ho Chi Minh. Saldo do desastre: cinco milhões de mortos vietnamitas, cambojanos, laocianos e 59 mil estadunidenses. Não constam aqui os feridos, órfãos, traumatizados, viciados e segregados.

Cachoeira do Sul, minha terra. Estamos na primeira metade da década de 1970 quando uma assinatura do prefeito Pedro Germano (1973 - 1976) selou o destino da Estação Ferroviária Cachoeira. Estava autorizado o processo de desmanche de um dos mais importantes monumentos locais. Particularmente considero um dos mais constrangedores equívocos da minha cidade natal.

Havia dois anos que os trilhos de dentro da cidade andavam silenciosos. Não havia mais as conhecidas e decoradas rotinas de máquinas sumindo atrás das chaminés dos engenhos após embarque/desembarque na Estação Cachoeira. Desde 1973, uma estação novinha, no Bairro Oliveira , fazia as honras da casa para aos trens e suas cargas. Invencionisse sem graça, bem ao estilo arquitetônico stalinista - caixote. Nova variante chocada nos ninhos oficiais deslocou a rota dos trilhos. A quase centenária Estação Cachoeira ficou “sem serventia”.

Etapa mater para os acontecimentos que se sucederiam, a mudança desencadeou um tempo neurótico. As forças vivas e seus ecos exigiam o desentulhamento do Centro para a abertura dele ao progresso e à redenção da decadência citadina.

Trilhos, máquinas, gente, fumaça, horários, rotina, cargas e passageiros ficaram distantes dos olhos, da alma e do pensamento dos cidadãos cachoeirenses. Golpe do acaso ou do propósito?

Impávida e histórica, frágil e indefesa foi nominada de ENERGÚMENO, TRAMBOLHO e AQUILO, impropérios bradados por um dos seus algozes. Vítima da pressa, da afobação, dos detratores e dos inquisidores às portas de uma era temerária que banalizou-se como sendo a da “privataria”.

Encurralada pela ausência de debates isentos e muita adrenalina destrutiva, num dia de junho triste, a turba sem coração e emoção começou a enxergar o fruto de sua pressão e equívoco: os velhos muros começaram a ser derrubados e, em seguida, os trilhos retirados. Foram semanas inexplicáveis, pois quando a coisa aconteceu já veio armada e ávida por ruínas. Semanas memoráveis, por assim dizer, porque a dor da perda nunca arrefeceu.

Um senhor sábio chamado Tempus Edax Rerum (tempo devorador das coisas), cuja idade não sabemos ao certo, recorda que 37 anos se passaram, 37 invernos inclementes para as perdas patrimoniais que seguiram/seguem sua rotina asquerosa.

O que pode ser feito hoje? Construir uma réplica? Uma cidade que não cuida do prédio da Casa de Câmara e Cadeia, conhecida com Paço Municipal, cuja recuperação segue emperrada pela burocracia, investirá nesta utopia? A propósito, como será o restauro do Paço, do tipo “como manda o figurino” ou “a la miguelão”?

Serei prática e realista: há uma chance de purgar um enésimo das culpas - olhar para a Estação Ferreira e notar que bem ou mal ela ainda existe.

Pronto, olhei.

E então? Vou fingir que não é comigo? Vou justificar falta de tempo e grana? Vou declarar que estou nem aí? Vou dizer que velharia é coisa de doido por história e amantes malucos de ruínas?

Ferreira poderia ser a autoestima cachoeirense. Ressuscitar trilhos e dotá-los de um circuito turístico é doidice?

No Museu Municipal jaz quieto o trem azul, desmanchando-se diante dos humores do tempo. Tu te importas com ele? Não? Por quê?
Sim? Então vamos lá.

Plano da equipe pelo restauro da Estação Ferreira: em primeiro lugar trazer a vida de volta à antiga estação, construída em 1885. Cachoeira não merece?

Pedido de alguns doidos por História e saudosistas malucos: que as pessoas da cidade e de fora dela entrem em contato com o Museu Municipal Patrono Edyr Lima para enviar fotos antigas das nossas estações: Cachoeira, Ferreira, Jacuí, Estiva, Arroio do Só (trecho Cachoeira-Santa Maria), Restinga Seca (trecho Porto Alegre-Uruguaiana), Bexiga (trecho Rio Pardo-Cachoeira), por exemplo. De qualquer forma, nenhuma fotografia será rejeitada! O contato pode ser por e-mail, pessoalmente ou pelo correio. A equipe do museu já está alertada para realizar a tarefa. Existem planos para organizar uma exposição histórica e inesquecível sobre o assunto. Para viabilizá-la é fundamental a colaboração dos cachoeirenses.

Sítio eletrônico, endereço e telefone
do museu:
museu@museu cachoeira.com.br
Parque Municipal da Cultura - Rua Dr. Silvio Scopel, 502 - Telefone (51) 3724-6017 - CEP 96.506-630 - Cachoeira do Sul – RS
Telefone (51) 3724-6017


Imagem: retirada dos trilhos Cortesia: Museu Municipal Patrono Edyr Lima