Orgulho!

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sábado, 4 de fevereiro de 2012

ESTAÇÃO CACHOEIRA

1975: O ANO QUE NÃO QUER CALAR!

Imagem: Estação Cachoeira, em adiantado estado de demolição. Governo: Pedro Germano (1973-1976)
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS: Arquivo Histórico, Museu Municipal e Claiton Fernando Nazar.

Estação Cachoeira

Por Renate Elisabeth Schmidt de Aguiar


Imagem: Estação Cachoeira em fase avançada de demolição.
Cortesia: Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul



Jornal do Povo, edição de 4-5 de fevereiro de 2012


Existem dois marcos que calaram fundo nas minhas vistas tão fatigadas, ambos aconteceram durante o ano de 1975.

Extremo Oriente, 30 de abril de 1975: após 10 anos de invasão, ocupação, destruição e relatos de incontáveis crimes de guerra documentados e impunes, a resistência guerrilheira vietcong e o Vietnã do Norte presenciaram a debandada das últimas tropas e autoridades estadunidenses da terra milenar da recém-fundada República Socialista do Vietnã.

Lyndon Johson atacou, Richard Watergate Nixon entupiu a terra oriental de napalm e Gerald Mandato Tampão Ford rendeu-se ao óbvio: a incapacidade do monstro bélico americano derrotar a guerra de guerrilha organizada pelo estrategista general Vo Nguyen Giap e muito motivada pelo carisma do líder comunista Ho Chi Minh. Saldo do desastre: cinco milhões de mortos vietnamitas, cambojanos, laocianos e 59 mil estadunidenses. Não constam aqui os feridos, órfãos, traumatizados, viciados e segregados.

Cachoeira do Sul, minha terra. Estamos na primeira metade da década de 1970 quando uma assinatura do prefeito Pedro Germano (1973 - 1976) selou o destino da Estação Ferroviária Cachoeira. Estava autorizado o processo de desmanche de um dos mais importantes monumentos locais. Particularmente considero um dos mais constrangedores equívocos da minha cidade natal.

Havia dois anos que os trilhos de dentro da cidade andavam silenciosos. Não havia mais as conhecidas e decoradas rotinas de máquinas sumindo atrás das chaminés dos engenhos após embarque/desembarque na Estação Cachoeira. Desde 1973, uma estação novinha, no Bairro Oliveira , fazia as honras da casa para aos trens e suas cargas. Invencionisse sem graça, bem ao estilo arquitetônico stalinista - caixote. Nova variante chocada nos ninhos oficiais deslocou a rota dos trilhos. A quase centenária Estação Cachoeira ficou “sem serventia”.

Etapa mater para os acontecimentos que se sucederiam, a mudança desencadeou um tempo neurótico. As forças vivas e seus ecos exigiam o desentulhamento do Centro para a abertura dele ao progresso e à redenção da decadência citadina.

Trilhos, máquinas, gente, fumaça, horários, rotina, cargas e passageiros ficaram distantes dos olhos, da alma e do pensamento dos cidadãos cachoeirenses. Golpe do acaso ou do propósito?

Impávida e histórica, frágil e indefesa foi nominada de ENERGÚMENO, TRAMBOLHO e AQUILO, impropérios bradados por um dos seus algozes. Vítima da pressa, da afobação, dos detratores e dos inquisidores às portas de uma era temerária que banalizou-se como sendo a da “privataria”.

Encurralada pela ausência de debates isentos e muita adrenalina destrutiva, num dia de junho triste, a turba sem coração e emoção começou a enxergar o fruto de sua pressão e equívoco: os velhos muros começaram a ser derrubados e, em seguida, os trilhos retirados. Foram semanas inexplicáveis, pois quando a coisa aconteceu já veio armada e ávida por ruínas. Semanas memoráveis, por assim dizer, porque a dor da perda nunca arrefeceu.

Um senhor sábio chamado Tempus Edax Rerum (tempo devorador das coisas), cuja idade não sabemos ao certo, recorda que 37 anos se passaram, 37 invernos inclementes para as perdas patrimoniais que seguiram/seguem sua rotina asquerosa.

O que pode ser feito hoje? Construir uma réplica? Uma cidade que não cuida do prédio da Casa de Câmara e Cadeia, conhecida com Paço Municipal, cuja recuperação segue emperrada pela burocracia, investirá nesta utopia? A propósito, como será o restauro do Paço, do tipo “como manda o figurino” ou “a la miguelão”?

Serei prática e realista: há uma chance de purgar um enésimo das culpas - olhar para a Estação Ferreira e notar que bem ou mal ela ainda existe.

Pronto, olhei.

E então? Vou fingir que não é comigo? Vou justificar falta de tempo e grana? Vou declarar que estou nem aí? Vou dizer que velharia é coisa de doido por história e amantes malucos de ruínas?

Ferreira poderia ser a autoestima cachoeirense. Ressuscitar trilhos e dotá-los de um circuito turístico é doidice?

No Museu Municipal jaz quieto o trem azul, desmanchando-se diante dos humores do tempo. Tu te importas com ele? Não? Por quê?
Sim? Então vamos lá.

Plano da equipe pelo restauro da Estação Ferreira: em primeiro lugar trazer a vida de volta à antiga estação, construída em 1885. Cachoeira não merece?

Pedido de alguns doidos por História e saudosistas malucos: que as pessoas da cidade e de fora dela entrem em contato com o Museu Municipal Patrono Edyr Lima para enviar fotos antigas das nossas estações: Cachoeira, Ferreira, Jacuí, Estiva, Arroio do Só (trecho Cachoeira-Santa Maria), Restinga Seca (trecho Porto Alegre-Uruguaiana), Bexiga (trecho Rio Pardo-Cachoeira), por exemplo. De qualquer forma, nenhuma fotografia será rejeitada! O contato pode ser por e-mail, pessoalmente ou pelo correio. A equipe do museu já está alertada para realizar a tarefa. Existem planos para organizar uma exposição histórica e inesquecível sobre o assunto. Para viabilizá-la é fundamental a colaboração dos cachoeirenses.

Sítio eletrônico, endereço e telefone
do museu:
museu@museu cachoeira.com.br
Parque Municipal da Cultura - Rua Dr. Silvio Scopel, 502 - Telefone (51) 3724-6017 - CEP 96.506-630 - Cachoeira do Sul – RS
Telefone (51) 3724-6017


Imagem: retirada dos trilhos Cortesia: Museu Municipal Patrono Edyr Lima

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