Orgulho!

Orgulho!

domingo, 26 de setembro de 2010

O PRIMEIRO HOSPITAL

Então nossa cidade segue engolfada pelas discussões sobre o que fazer com a maioria dos prédios tombados que estão em estado ou de semi-abandono ou totalmente abandonados.
Muito papel e muita discórdia abarrotam gavetas, o discurso da falta de recursos segue firme batendo na bigorna e enquanto isso, tentam-se outros meios para salvar o que resta.
Os jornais locais, O Correio e Jornal do Povo, estão engajados nesta dura batalha.
As notícias são a cada dia mais alarmantes.

Nesta semana que passou divulgou-se na imprensa a existência de placas espalhadas nas estradas, aparentemente já há seis meses, convidando viajantes a conhecer a nossa menina dos olhos, o Château d'Eau, porém,
após encher os olhos de encanto, brotarão a seguir lágrimas quando as retinas cruzarem com as ruínas do Casarão da rua XV de Novembro, o antigo prédio da Prefeitura Municipal, cuja realidade neste momento é dolorosa.
Segundo a professora, historiadora e diretora do Arquivo Histórico, Ione Maria Sanmartin Carlos, neste exato momento, é o caso MAIS EMBLEMÁTICO.
Renate Elisabeth Schmidt de Aguiar
Conselheira do COMPAHC, Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural



Jornal do Povo, 25-26 de setembro de 2010


Detalhe do esboço do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que ainda não foi assinado pelo hospital, e que aguarda maiores detalhes de custos e do próprio restauro em si


Vista do primeiro hospital de Cachoeira e da capela Santa Catarina
O prédio do hospital foi tombado em 1985 e seu estilo possui características barrocas e neo-clássicas
Foto: Renate Aguiar (janeiro 2010)


Segundo matéria publicada no Jornal do Povo no dia 19 de agosto de 2010, o prédio precisa de restauro urgente. Por duas vezes esteve prestes a ser interditado pelo Corpo de Bombeiros devido às condições da escada de acesso ao segundo piso. Não há acessibilidade e as aberturas estão com cupins. A maior preocupação é apenas com a parte estética externa.


A Lei de 1º de outubro de 1828, no seu artigo 69, incumbia as Câmaras Municipais de promoverem o estabelecimento de casas de caridade que cuidassem dos expostos e dos doentes pobres.
Baseado nesta lei, na sessão de 15 de outubro de 1846, o médico vereador José Pereira da Silva Goulart apresentou uma proposiçao que não foi aprovada, sugerindo que a Câmara providenciasse a criação de um hospital de caridade que se chamaria Hospital de São João.
O Conde d'Eu, ao passar por Cachoeira, em 1865, observou:


... encontrei em Cachoeira um serviço hospitalar muito superior a quantos eu até aqui tenha visto. É organizado por um antigo cirurgião-mor do exército, chamado Vieira, vulgarmente Cristóvão José, natural da Província de Pernambuco. Depois de ter feito a campanha do Prata de 1852, tinha-se retirado e vivia aqui, mas nas atuais críticas circunstâncias ofereceu, espontaneamente, seus serviços que foram aceitos, primeiramente para Cachoeira. Depois, por ocasião da passagem do Imperador, foi nomeado diretor-chefe de todos os hospitais criados ou por criar, de Porto Alegre à fronteira. Foi uma nomeação acertada, porque o doutor Vieira parece zeloso e competente para poucos. Por ora está em Cachoeira, donde não pode sair sem que lhe mandem um médico para o substituir. Tem aqui 26 doentes, repartidos por duas casas más, porém bem providas de tudo, leitos, colchões, cobertores, medicamentos,pratos de metal, talheres, etc ... Além disso, a Câmara Municipal, por sugestão do Imperador, cedeu generosamente as salas de seu Paço, belo edifício inteiramente novo; os doentes serão transportados para este novo alojamento, logo que um dia mais quente permita expô-los ao ar. As explicações são claras do bom Vieira, que revelavam tanto interesse pelos doentes, fizeram que eu encontrasse muito prazer em demorar-me ao pé deles ...

Em 1903, o artigo "Um apelo aos corações generosos", de Ernesto da Silva Barros, publicado no Jornal O COMÉRCIO, levantou a ideia da construção de um prédio para abrigar o hospital. Do grupo de cachoeirenses que trabalhou para concretizar essa ideia, destacaram-se Ernesto da Silva Barros, Domingos Luiz de Abreu, Modesto Soares de Almeida, Liberato Vieira da Cunha, Júlio Peixoto de Oliveira Barcellos. Em 23 de agosto do mesmo ano, foi lançada A PEDRA FUNDAMENTAL do Asilo da Caridade, que deu origem ao Hospital da Caridade.

A construção do prédio do Hospital de Caridade foi viabilizada através de campanhas de donativos entre a comunidade cachoeirense, permitindo a edificação da parte central do projeto, tendo como construtor o Tenente Manoel Gomes Pereira. O sobrado tem 52 palmos de frente por 103 de fundos, com cada pavimento medindo, internamente, 4 metros de altura.

Antecedendo a inauguração do Hospital de Caridade, que ocorreu a 11 de dezembro de 1910, o Dr. Cândido Alves Machado de Fretias organizou, em outubro,uma Sociedade Beneficiente para manter o hospital, construído no extremo sul da rua Saldanha Marinho. Na ocasião dos atos inaugurais, o diretor Dr. Cândido Alves Machado de Freitas apresentou o relatório e os estatutos da Sociedade Beneficiente.

Um aspecto a ser destacado na história do hospital foi o trabalho realizado pelas Irmãs de Caridade. A visita da Superiora Madre Plácida, da Congregação Santa Catarina, em outubro de 1918, agilizou as tratativas para a efetivação da vida das representantes da Ordem. Em fevereiro de 1919 registrou-se a presença das "irmãs enfermeiras" contratadas pela Diretoria do Hospital de Caridade, que permaneceram neste trabalho até a década de 80.



Capela Santa Catarina
Foto: Renate Aguiar


Em junho de 1925, a Diretoria do Hospital, sob a presidência do Sr. Ernesto Müller, discutiu a construção deu um novo prédio, ficando o antigo destinado ao isolamento dos portadores de moléstias infecciosas. Em 1926, foi instalada uma farmácia junto ao hospital com atendimento médico e elaborados os estatutos e o regulamento interno do hospital.

Em reunião de setembro de 1935, a maioria dos membros da Diretoria aprovou a Praça Itororó, local doado pela Municipalidade para a construção do novo hospital.


Fonte: Cachoeira do Sul, em busca de sua história
Angela Schumacher Schuh e Ione Maria Sanmartin Carlos
Martins Livreiro-Editor
1991



Primeiro prédio do Hospital de Caridade
Foto: Renate Aguiar


Mais leituras:

HCB terá que recuperar velho isolamento [Jornal do Povo, 25-26 de setembro de 2010]


Um futuro sem história para Cachoeira [ Jornal do Povo, 19 de agosto de 2010]

sábado, 25 de setembro de 2010

COM A PALAVRA, UM PRACINHA QUE SE CHAMAVA ABRILINO


FOTO: ex-expedicionários Enedino Luiz Elesbão, Abrilino Luiz de Melo e Edvin Schultz no palanque oficial, por ocasião do desfile da Pátria de 2009. Ao lado está o prefeito municipal, Sérgio Ghignatti.
Cortesia: 3º Batalhão de Engenharia e Combate


Soldado Abrilino Luiz de Melo em 1943
Cortesia: familiares do ex-expedicionário

Há algum tempo atrás, quando estive no 3º Batalhão de Engenharia e Combate, o Batalhão Conrado Bittencourt, buscando informações sobre a Força Expedicionária Brasileira e sobre os pracinhas da guarnição de Cachoeira do Sul, soube que vivia ainda somente o Seu Enedino José Elesbão. Ao pesquisar em fotos do acervo da Seção de Relações Públicas, com a ajuda do Sargento Friedrich, percebi várias imagens nas quais o Seu Enedino estava ainda acompanhado do Seu Abrilino Luiz de Melo e do Seu Edvin Schultz (ambos falecidos).



Pois em uma das fotos localizei um rosto conhecido, o de um aluno, o Murilo. Conversa vai e vem quando certo dia Murilo aparece com uma entrevista recente concedida à Universidade de Santa Cruz, a UNISC, em data ainda desconhecida. Também ainda não consegui idenfificar quem foi o entrevistador que realizou este trabalho em nome da universidade.
Estou em busca destas informações.



O rapaz de azul claro é o Murilo, neto de Abrilino Luiz de Melo.

E hoje, 25 de setembro, ao folhear o Jornal do Povo dominical, deparei-me com um convite para a missa de um ano de falecimento do ex-expecionário Abrilino Luiz de Melo.
Quero homenagear um ex-combatente com a publicação de parte da entrevista.
Abrilino não serviu pela guarnição de Cachoeira, mas adotou esta cidade.
Procurei manter a originalidade do seu vocabulário e da forma como ele se expressava neste histórico texto.
Usei a maior parte do seu relato que é voz de uma TESTEMUNHA DOS TEMPOS, de tempos distantes e latentes.
Entreguei cópias ao Arquivo Histórico, Museu Municipal e ao 3º Batalão de Engenharia e Combate.


SOBRE O EX-EXPEDICIONÁRIO ABRILINO LUIZ DE MELO
Nasceu em julho de 1920 na cidade de Caçapava do Sul e faleceu em setembro de 2010 em Cachoeira do Sul.
Filho de agricultores e comerciantes, Seu Abrilino cursou o Ensino Fundamental. Antes de ingressar na FEB também era agricultor. Plantava-se de tudo, segundo suas palavras textuais, como milho, trigo, feijão e principalmente arroz.
Após a participação na guerra, volta a trabalhar na agricultura, onde se aposentou.


ENTREVISTA

Unisc - Qual foi o seu maior motivo para o ingresso na FEB?
Abrilino - O Brasil declarou guerra e eu havia dado baixa naquela ocasião. Estava na fronteira, longe dos meus familiares fazia um ano. Então eles nos colocaram em forma, pediram oito voluntários de boa conduta de cada esquadrão de Cavalaria Independente para ir ao Rio de Janeiro, não sabíamos ainda qual o motivo, apenas que nosso destino era o Rio.
O nosso chefe perguntou se tinha homem para ir ou não à guerra. Fui e disse para ele, estou aqui servindo como homem e saí de forma com mais dois companheiros e fomos escalados. Partimos para o Rio de Janeiro em abril de 1943.


Unisc - Como foi sua preparação antes do embarque para a Itália?
Abrilino - Formatura diária e instrução, porque o Ministro da Guerra dizia que era mais fácil a cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra e nosso distintivo era uma cobra fumando. O Ministro da Guerra era o finado Eurico Gaspar Dutra, foi para os Estados Unidos, para mandar o Brasil ir lá ajudar, porque os aliados estavam fracassados. Então ele foi lá e convenceu o Ministro Beltrão, pois os mesmos eram contrários ao presidente, que queria mandar apoio logístico. Mas não queria mandar soldados brasileiros ir morrer no estrangeiro, mas como o Ministro foi lá e acertou com eles, o presidente não quis voltar atrás.
Lá foi incorporando gente de tudo quanto era lugar.
.....
O camarada chegava lá e tinha instrução com os americanos sobre o armamento, sistema de combate, uniforme, tudo era diferente. Nos organizaram primeiro para ficar recebendo instrução uma porção de dias, para em seguida entrar em combate.

Unisc - Qual foi a reação da sua família quando ficou sanbendo da sua ida para a guerra?
Abrilino - Minha família só ficou sabendo porque nós fomos embarcar numa segunda-feira e eu mandei uma carta a meu pai, avisando do embarque. Meu pai recebeu a carta no interior e foi assinar o salva-conduto que tinha que ter para viajar. Iríamos embarcar numa segunda-feira, mas acabamos embarcando na sexta-feira santa.
.....
Saímos à tardinha de São Gabriel, quando passamos por Santa Maria já era noite. Seguimos a Cruz Alta. Depois de passar por Santa Catarina, Paraná, tiramos dois dias para descansar em São Paulo, ficamos de uma dia para outro para trocar de trem pois as bitolas eram diferentes.
Viajamos cinco dias e quatro noites sem parar, nas estações foi incorporando gente. Quando saímos da fronteira eram 56 homens, no Rio de Janeiro eram cerca de 400. Após a apresentação junto ao Ministro da Guerra, nos mandaram para o 2º Regimento de Infantaria, onde ficamos 28 dias atirados num pavilhão aberto e chovia por todo o piso de cimento. Os 400 pracinhas aproximadamente, comiam o que sobrava do Regimento.
Ficamos depois num alojamento porque o resto já tinha embarcado para o norte.
Ficamos no 3º Batalhão entre quinze e vinte dias. Depois fomos para os acampamentos, onde hoje é o Maracanã, ao lado da ponte de São Cristóvão. Passamos para o Regimento de Infantaria, ali havia instrução. Havia a presença do general Mascarenhas de Moraes, auxiliado por Cordeiro de Farias e Zenóbio da Costa. Eu tenho um livro com as fotos de nosso desfile na Avenida Rio Branco, no Rio. O calor era horrível, uns caíam para um lado, outros para outro. Era muito calor. Desfilaram também as enfermeiras que nos atendiam no quartel.

Unisc - Como foi a viagem para a Itália?
Abrilino - Foi o maior sacrifício porque todos os dias nos enganavam sobre o embarque. Quando chegou o dia da turma ir, era bem de tardezinha, mas ninguém queria embarcar de 1º escalão. O sargento Paulino foi o primeiro a entrar no navio. Depois foi o 2º e 3º escalão. Quando o último escalão chegou lá, a guerra já tinha terminado, porque o primeiro combate foi o de Monte Castelo. Consta que morreram cerca de 460, mas morreram muito mais.
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Nossa infantaria lançava torpedos por cima da infantaria lá no meio do inimigo e assim foi até tomar Monte Castelo. Dali os nazistas começaram a se retirar para o norte da Itália. Achavam que não aguentariam mais, isso em 21 de fevereiro de 1945, a tomada de Monte Castelo. Depois do fim da guerra, 8 de maio, renderam cerca de 20 mil nazistas. Destes, 800 eram oficiais.

Unisc - O senhor estava preparado para entrar em combate?
Abrilino - Estava bem treinado. Desde o tempo da fronteira já tinhamos treinamento de cavalaria. Nossa instrução era a cavalo, com espada, lança e mosquetão. Depois fomos para a infantaria, quando tivemos instrução motorizada, de carro de combate, daqueles bem possantes com esteira. Eu até era motorista de um carro daqueles. Fiz o curso de motorista no quartel. Treinamos tiro antiaéreo em distância, de mosquetão, e com o canhão de 75 e 25 mm.

Unisc - O senhor tinha noção do que iria enfrentar na Itália?
Abrilino - A gente não sabia de nada porque não tinha rádio, televisão, íamos pelo que eles diziam e a própria correspondência era dificultada pela censura. Mandei cartas para minha família, mas às vezes não recebiam.
.....

Unisc - Qual era a sua patente e função na FEB?
Abrilino - Tinha curso de cabo e motorista e cuidava a turma dos motoristas. Eu tinha pouco estudo, lá não exigia. Fiz o curso de cabo e fui promovido. Comecei a estudar e fiz curso para sargento. Não tinha tempo para mais nada. Fui promovido a sargento depois que saí. Hoje eles me promoveram como oficial da reserva agora depois de muito tempo.
.....

Unisc - O senhor sentiu diferença do padrão brasileiro em relação ao padrão americano de guerra?
Abrilino - Não, era a mesma coisa pois estávamos todos juntos.

Unisc - Como foi contato com o inverno rigoroso?
Abrilino - Era horrível, muito frio e o inverno brabo inclusive no dia da tomada de Monte Castelo. Lá para tudo havia uniforme, para enfrentar frio e gelo. Aqui não tinha, fomos ao Rio e nem capote nós levamos.

Unisc - O senhor sentia medo da guerra?
Abrilino - Não, nunca tive medo porque estava longe da família, já não contava mais com a vida.

Unisc
- O senhor perdeu muitos companheiros em combate?
Abrilino - Exterminaram com muitos companheiros. Um colega nosso que tinha o apelido de Bigode, porque vários soldados usavam naquela época, era motorista e transportava a munição num jipe americano quando passou por um terreno minado. Com a explosão o coitado desapareceu. Tinha um Primeiro Tenente da minha companhia. Esse tiraram a perna fora com um tiro de metralhadora. Levaram para os EUA e não morreu. Também desapareceu muita gente, não se sabe se morreu ou ficou prisioneiro.
Inclusive lá tem um cemitério brasileiro, que o presidente Castelo Branco junto com Mascarenhas de Moraes mandou reunir os corpos de outros cemitérios para enterrar naquele. Trouxeram vários para o Rio de Janeiro. No fundo do cemitério tem uma pedra de mármore, contendo o nome dos pracinhas que morreram. Mas muitos eles nem sabiam o nome, só Deus é que sabe. Nem todos usavam identificação na mochila. Aconteceu de três irmãos de Santa Maria irem como voluntários. Quando voltamos, seus pais foram esperá-los na Estação Férrea e desembarcou apenas um.

Unisc - O senhor tinha ódio ou raiva dos seus oponentes?
Abrilino - Não.

Unisc - Como dava-se a relação da FEB com os italianos?
Abrilino - Os italianos não se davam muito com a turma, pois se entregaram e foram dominados. Cederam o cemitério para o Brasil. Até café eles não tinham.

Unisc - O senhor voltou com o pensamento político diferente para o Brasil?
Abrilino - Muitos voltaram marcados, inclusive um colega meu que morreu há pouco tempo, ficou marcado para o resto da vida. Quando tinha formatura em comemoração ao dia da vitória, quando começavam a tocar a marca, ele chorava e tremia, parecia que ia cair.
Tinha um crioulo que um advogado matou pensando que era um assaltante. O crioulo estava bem de saúde mas tinha dias que se impressionava com as lembranças da guerra e enlouquecia, saía correndo dizendo que o inimigo vinha. Em um desses episódios ele pulou o pátio de uma senhora gritando. Ela pediu socorro e um advogado que morava perto, enxergou ele e atirou matando o pobre miserável. Também outros ficaram defeituosos, poucos ficaram bons.
Aquela coisa lá, tomara que nunca mais o Brasil veja o que aconteceu naquela época, que aquilo não foi brincadeira.
Hoje a turma acha que o quartel é isso e aquilo,ruim era no nosso tempo que nos escondíamos em valetas e os carros passando por cima e nos tapando de terra.
.....

Unisc
- Como é o seu tratamento hoje pela população como idoso e ex-combatente da FEB?
Abrilino - Somos muito bem tratados pelos militares que vêm nos buscar em casa para nos homenagear.


Unisc - Ao longo desse tempo todo o exército mudou. Como o senhor vê essa mudança?
Abrilino - O exército melhorou quanto aos quartéis, uniforme até o tratamento. No meu tempo não tínhamos direito a nada. Os próprios civis tratavam a gente como uma classe desmoralizada, mas depois da guerra começaram a nos respeitar, porque antes o militar não tinha valor.

Unisc
- Como o senhor vê os militares fazendo política no regime militar?
Abrilino - Agora os militares fazem até política, inclusive não havia eleição. Era só o presidente Getúlio Vargas.

Unisc - Se o senhor pudesse voltar no tempo, mudaria aguma coisa ou não se arrepende de nada?
Abrilino - Para mim foi muito bom, aprendi muito do que eu não esperava conhecer e ver, apesar do sofrimento e angústia, por que achávamos que nunca mais veríamos o Rio Grande. Graças a Deus criei minha família e estou no meio dela. Mas se não fosse a guerra, jamais conheceria outros países e estados e viajaria de navio.

Unisc - Ao longo de sua vida, o Brasil passou por muitas mudanças. O senhor acha que melhorou ou piorou?
Abrilino - A vida militar melhorou, o restante da vida civil que não tem melhorado nada.


COMO O BRASIL ENTROU NA GUERRA
A posição de Vargas perante a guerra foi de indefinição, ora pendendo para um lado, ora para outro. Na verdade, essa indefinição acompanhava as tendências de seus auxiliares mais próximos no início da guerra: Filinto Müller, chefe de polícia, Lourival Fontes, do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), Francisco Campos, ministro da Justiça, e o próprio general Dutra, chefe do Estado Maior do exército, inclinavam-se para o Eixo; do outro lado, Osvalo Aranha, ministro do Exterior e ex-embaixador em Washington, defendia o alinhamento comos Estados Unidos.
No dia 11 de junho de 1940, em meio às espetaculares vitórias da Alemanha na Europa, que incluíram a ocupação e a rendição da França, Vargas pronunciou um discurso violento, saudando o sucesso nazista. Temerosos, os Estados Unidos iniciaram a partir deste momento uma tentativa de aproximação cada vez maior com o Brasi. Já em setembro, o governo norte americano autorizou um empréstimo de 20 milhões de dólares com o objetivo de iniciar a construção da usina siderúrgica de Volta Redonda. Tal decisão, por sua vez, forçou uma definição do Brasil em relação à guerra, agora favorável aos Estados Unidos.
A participação dos EUA era considerada inevitável. Portanto,um dos objetivos da diplomacia norte-americana, nos anos que precederam a entrada oficial do país na guerra, foi garantir o apoio de todo o bloco americano aos Aliados. No caso do Brasil, esse apoio foi conseguido com a siderúrgica.
Em janeiro de 1942, o Brasil rompeu relações diplomáticas com os países do Eixo e, em agosto, declarou guerra. A declaração foi facilitada pelo afundamento de diversos navios brasileiros por submarinos alemães, que tinham relativa liberdade de ação por todo o Atlântico.



Rio de Janeiro, 1942. O presidente Vargas, reunido com seus ministros, assina a declaração de guerra contra os países do Eixo.

Imediatamente após a declaração de guerra, iniciou-se a preparação de um contingente militar para ser enviado para a guerra. Não é exagero dizer que Vargas trocou uma participação mais ativa do Brasil na guerra pela Usina de Volta Redonda.
A FEB era formada por uma divisão de infantaria reforçada, de aproximadamente 25 mil homens, e foi colocada à disposição do Alto Comando Aliado juntamente com elementos da Força Aérea Brasileira, a FAB. Entre julho de 1944 e o final da guerra, a FEB e a FAB participaram da Campanha da Itália, como parte integrante do 5º exército norte-americano.



Soldados brasileiros embarcando rumo à Itália.

A Itália, principalmente a partir de 1944, não era certamente o teatro de guerra mais importante da Europa, e os brasileiros enfrentaram tropas alemãs de segunda linha, mal-equipadas e desabastecidas. No entanto, tratava-se de uma guerra europeia e, pela primeira vez, uma tropa latino-americana combatia num conflito tão intenso. Seu desempenho nessas condições foi bastante satisfatório.


Fonte:
História do Brasil
Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo, Editora Scipione.

domingo, 19 de setembro de 2010

ALGUÉM FALOU QUE CACHOEIRA NÃO É BONITA?

Nesta semana que passou a diretora do Núcleo da Cultura, Mirian Ritzel, contou que há, próxima à Fenarroz, uma casinha antiga quase esquecida desse mundo.
Na investigação, antes de atingir o "alvo" a caminhada deu-se por um popular bairro de subidas e descidas, de asfalto, calçamento e terra batida, o bairro Barcelos.
Quase ninguém nas ruas.
É cedo de uma manhã de domingo.
É 19 de setembro de 2010.



Os famosos apezinhos, aqueles sem elevador ...


Essa terra tem dono


A casa (dica da Mirian) de 1921, adiante do portão principal da Fenarroz.
No seu tempo de juventude devia ter ficado num descampado evidente



A data, para não ter dúvidas


No caminho de volta elas, sempre elas, sempre belas belas


O poste de luz antigo resistiu à tsunami modernizadora


A rua Sete de Setembro em dia de graça

Mais leitura:

Chateau d'Deau ganha a estrada [Jornal do Povo, 22 de setembro de 2010]


Compahc quer recuperação completa no Château d'Eau [Jornal do Povo, 24 de setembro de 2010]

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

MERCADO PÚBLICO

MERCADO PÚBLICO
[Metade do século XIX - 1957]


O COMÉRCIO
28 de setembro de 1921

ADMINISTRAÇÃO ANNIBAL LOUREIRO

O Sr. Annibal Loureiro, acompanhado dos Srs. Conselheiros do Conselho Municipal, dirigiram-se para o recinto do Mercado Municipal a fim de inaugurar as obras executadas, tendo à sua passagem, a força da Guarda Municipal, que se achava formada à frente da Intendência, prestado as honras de estilo.




Chegados que foram a esse próprio municipal, novamente o Dr. Annibal Loureiro, entregando os melhoramentos ali introduzidos, ao uso do público. Visitadas as obras feitas a capricho pelo construtor José Mariné, passamos a descrevê-las pormenorizadamente, começando pelas instalações sanitárias.
As instalações sanitárias em linda construção com frisos de mosaico, paredes revestidas de baldosas brancas formando dois grupos distintos de construções, vêem-se os banheiros em número de dois e os mictórios num grupo e no outro quatro “water-closets” para homens e senhoras. Todos os serviços são feitos com água abundante e excelente ventilação nos quartos.
No centro do Mercado, em substituição ao poço que ali existia, foi levantada uma FONTE PÚBLICA, com duas bicas, dotada de quatro lâmpadas elétricas para a iluminação interna. A fonte, com a sua construção simples e elegante, apresenta lindo aspecto.




As velhas “bancas” de madeira, que existiam no centro do mercado, foram substituídas, vantajosamente, por outras construídas de tijolos e cimento perfeitamente alisado, aliando à sua solidez uma bela aparência de simplicidade e elegância.
A sua cobertura de zinco foi toda reformada e aumentada, de modo a ficarem as bancas resguardadas das intempéries.
Fora do Mercado, na face Norte, foi construído um BEBEDOURO para animais, que está destinado a prestar grandes benefícios aos animais dos veículos da cidade.
Como todas as demais obras, a sua construção é interessante e artística.
As obras do Mercado que acabamos de descrever, montaram aproximadamente a quantia de 20:000$000.
Terminada a visita às obras, falou o Dr. Arlindo Leal, saudando o operoso administrador do município, em nome do povo.
Seu discurso causou excelente impressão, tendo sido, ao terminar, muito aplaudido.
Logo após as 18 h., o povo que enchia o vasto recinto do Mercado entregou-se à Festa da Quermesse.



SETAS (da esquerda para a direita)
1] Mercado Público
2] Rua Sete de Setembro
3] Rua Milan Krás
4] Engenho de Arroz (sobrenome Pohlmann)

O COMÉRCIO
09 de janeiro de 1957


SEGUNDA-FEIRA PRÓXIMA TERÁ INÍCIO A DEMOLIÇÃO DO VELHO “MERCADO PÚBLICO”
O velho e tradicional Mercado Público acha-se em agonia, praticamente em seus últimos momentos.
Segundo informações, segunda-feira próxima, 14 de janeiro, terá início o começo do fim do velho e tradicional casarão. A picareta inexorável do operário romperá aquelas antigas paredes, cujo vulto, já em tempos idos extasiaram os cachoeirenses de então. Por certo não será fácil dizer da alegria e dor que no seu recinto foram vividos.
Precisamos considerar que, como tudo neste mundo, o hoje velho mercado ou pardieiro mesmo – já foi novo. E como tal, teve o seu encantamento. Já foi o ponto de convergências das elites. Ponto de mexericos, também. E por isso, dono de alguma graça e saudosas reminiscências.




Com a demolição do velho Mercado Público, lá se mais um marco da Cachoeira antiga.
O local do atual mercado será convenientemente ajardinado, estando prevista a construção de uma fonte luminosa, particularidade que por certo emprestará à Praça José Bonifácio um destaque todo especial.
O projeto de ajardinamento do referido local, está sendo elaborado pelos srs. Joaquim Vidal e Willy Haas, desenhistas da Secretaria de Obras Públicas Municipal. Neste projeto, está previsto a supressão do tráfego de veículos pela via de acesso que circunda o atual mercado. Todo o espaço será convenientemente ajardinado.
O material aproveitável da demolição que se processará, será empregado na construção do edifício do Quartel dos Bombeiros, que localizará em parte, o terreno hoje ocupado pelo almoxarifado da Prefeitura Municipal, na rua Riachuelo.



Foto: Fonte das Águas Dançantes (acervo pessoal)
A inauguração da Fonte das Águas Dançantes Artibano Savi ocorreu em 1968 no governo do Prefeito Arnoldo Paulo Fürstenau, no local do antigo Mercado Público.


Manchas

"Na Praça José Bonifácio tínhamos um mercado público que foi derrubado por ordem palaciana, sem consulta ao povo! Perdemos uma bela obra de arquitetura! Lá ficou um estrado e uma rua que o envolvia. Ela era o estacionamento da Rua 7. Desmancharam a rua, construíram bares para substituir lancherias “ambulantes-fixas” e nunca foram ocupados, mas o estacionamento foi diminuído. Sem consulta ao povo! A pérgola que lá existe, porque é sólida, desmancha no ar. O resto são manchas!"


LOTEARAM A HONORATO, Augusto de Lima
Jornal do Povo, 22/23 de março de 2008


Fotos: Arquivo Histórico
Pesquisa:
* Arquivo Histórico
* Museu Municipal Patrono Edyr Lima
* CACHOEIRA DO SUL, EM BUSCA DE SUA HISTÓRIA (Ângela Schumacher Schuh e Ione Maria Sanmartin Carlos)


Mais leituras:
CACHOEIRA ESTÁ MESMO PERDENDO SUA HISTÓRIA? [JORNAL DO POVO, 31 de março de 2007]
TRÊS PERGUNTAS PARA Elisabete Farias da Silva, professora de História e assessora técnica do Museu Municipal Patrono Edyr Lima


Enquanto isso, em Pelotas, segue a luta pela preservação/restauração do seu Mercado Público, localizado na Praça 7 de Julho e datado de 1847 ...


CORREIO DO POVO, 13 DE NOVEMBRO DE 2010
Caderno "Cidades"
Pelotas
Restauro avança

Após a transferência dos permissionários das salas externas do Mercado Central para o Shopping Praça XV, em Pelotas, a Marsul Engenharia, responsável pela restauração do prédio histórico, deu início às primeiras intervenções na área exterior. Segundo o secretário municipal da Cultura, Mogar Pagana Xavier, o trabalho passa a ser desenvolvido, simultaneamente, na parte interna e externa, com previsão de entrega entre maio e junho de 2011. Xavier explica que a obra no Mercado será agilizada por intermédio do deslocamento de funcionários do Casarão Seis, recentemente entregue à comunidade.
O serviço começou pela retirada dos azulejos e a quebra do reboco das primeiras entre as 50 bancas externas, que, além da requalificação estrutural, receberão nova instalação elétrica, hidráulica, telefônica e lógica. A empresa responsável pela restauração comunicou ao secretário da Cultura que todos os vidros das bancas localizadas pela Tiradentes foram quebrados por vândalos. "É lamentável que as pessoas não percebam a importância da obra e danifiquem o prédio dessa maneira. Em algumas das aberturas atacadas, foram quebradas vidraças restauradas no ano passado e que seriam reaproveitadas ao final do serviço", lamenta Xavier.



Foto:RBS Pelotas


Foto: Viviane Fonseca (Flick)

sábado, 11 de setembro de 2010

PRAÇA BORGES DE MEDEIROS


Placa antiga exposta no Museu Municipal Edyr Lima

SUA MAJESTADE,
A PRAÇA BORGES DE MEDEIROS,
ÀS SUAS ORDENS:






O N T E M

A praça-reservatório Borges de Medeiros foi construída na metade da década de 1920.



Foto: operários da obra de saneamento do município de Cachoeira do Sul
Arquivo Corsan
Cortesia: Arquivo Histórico de Cachoeira do Sul



Foto: praça-reservatório em construção
Data: 1924
Cortesia: Arquivo Histórico



Foto: anteriormente era a casa do zelador (segundo informação da historiadora Ione Carlos). Hoje é a Casa das Trabalhadoras Rurais
Cortesia: Arquivo Histórico



Foto: Casa das Trabalhadoras Rurais, hoje
Crédito: Renate Aguiar



Foto: construção do reservatório
Cortesia Arquivo Histórico



Foto: imagem da obra
Cortesia Arquivo Histórico.



Foto: cortesia Arquivo Histórico


Foto: cortesia Arquivo Histórico


Foto: cortesia Osvaldo Cabral de Castro.
A praça era murada.
No fundo, a rua Júlio de Castilhos.
A maioria dos prédios que aparecem ainda existem.
Época: a foto original não continha data porém, possivelmente é do final década de 1920, início da de 30.



Foto: acervo pessoal.
Nela aparecem Kurt Rieth e Carlos Augusto Schmidt.
Local: Praça Borges de Medeiros.
Época: 1932.


H O J E


Foto: acervo pessoal
Detalhe da balaustrada da escadaria.



Foto: acervo pessoal.
O descuido para com o jardim é evidente.



Foto: acervo pessoal
Local onde ficam as sentinelas que fazem a guarda do Fogo Simbólico.
O contraste do caixote feioso com o belo fundo é gritante!



Crédito da foto: Renato Thomsen


Foto: acervo pessoal
A poluição visual é imensa: postes, faixas, carros, módulo literário fechado, caixa d'água.
As sempre belas árvores 'escondem' um pouco da beleza mas muito longe de chamuscá-la, devem permanecer deusas intocáveis salvo "casos previstos em lei" como a retirada de galhos podres ou perigosos.
Uma revitalização do espaço seria urgente.


Foto: acervo pessoal


Crédito da foto: Renato Thomsen

Em setembro de 1974, bem em frente à bela construção 'alguém' teve a equivocada ideia de encaixar a Pira da Pátria.
Uma tristeza!
Tenho certeza que a Pátria também não gostou.



"A Praça Borges que, para voltar a ser bela, apenas necessita colocar abaixo a Pira da Pátria e valorizar em luz e flores seus recantos e caminhos".
Eduardo Florence, Jornal do Povo, 19-20 de junho de 2010.


No próximo final-de-semana publicarei pesquisa sobre a história da Praça.
Buscarei subsídios no Arquivo Histórico do nosso município e no
Museu Municipal de Cachoeira do Sul - Patrono Edyr Lima.

Boa notícia: o nosso MUSEU MUNICIPAL "quase" não está dando conta da quantidade de visitantes diários!
Vida longa ao Museu!
Prosit!


Mais leitura:

PRAÇAS SÃO ECOS DA CONDUÇÃO DA CIDADE [Jornal do Povo, 7 de junho de 2010]

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CAPELA SANTA JOSEFA OU SENHOR DO BONFIM

Um amigo perguntou:
- O que é a Capela Santa Josefa?
No Museu Municipal pesquisei no banco do dados.
Não há registro de datas de nascimento e morte.
Encontrei histórias, recortes, matérias jornalísticas.
Josefa não é santa, não foi canonizada.
A capela oficialmente chama-se Senhor do Bonfim.
Mas ela está lá e é tão pequena quanto um quarto de dormir, tão singela quanto um berço, tão misteriosa e bela em sua simplicidade comovente.
Espremida entre duas edificações, é um lugar de paz.
Renate


SOBRE A CAPELA E SOBRE JOSEFA

Capela localizada na rua Comendador Fontoura, 38 teve iniciada sua construção em 22 de maio de 1912 pelo devoto Francisco Bifano, auxiliado por Vicente Polito, através de contribuições populares, do comércio e com o apoio do jornal "O Comércio", que se associou à campanha.
O início das obras de construção aconteceu em 4 de junho de 1928. O engenheiro dr. Leopoldo Souza, engenheiro-chefe das Obras Públicas da Intendência Municipal, marcou o lugar e deu instruções ao construtor Sebastião Moser.
Em 29 de agosto de 1928 foram concluídas as obras.
Oficialmente a capela chama-se "Senhor do Bonfim", uma vez que Josefa não é canonizada.
Com relação ao local, sabe-se que era uma fazenda, estando a capela, onde seria a senzala. Depois da abolição, formou-se ali um reduto de negros, próximo à Sanga da Micaela, que passa próxima à capela.




O local esteve abandonado por longos anos, coberto de mato e habitado por inúmeros insetos, visitado apenas por alguns crentes, curiosos e estudantes, que tinham passagem obrigatória por ali. Em 1979, mais uma vez, devotos fiéis movimentam a comunidade e através da colaboração da Prefeitura Municipal e do DAER (Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem), é feita a reforma da capela e ajardinamento do local.


Crédito da foto: Renate Aguiar
Detalhe da porta da capela


Na capela erguida em Cachoeira, para devoção à escrava Josefa, os fiéis depositam suas orações confiando numa história, misto de fantasia e realidade, que até agora não pode ser comprovada. As inúmeras velas, bilhetes e orações, distribuídos pelo suposto túmulo de Maria José nos fundos da capela, atestam a santificação popular do mito.


Crédito da foto: jornal O Correio, 30-31 de outubro de 1999.
Cortesia da cópia: Museu Municipal Edyr Lima


Crédito da foto: Renate Aguiar
Detalhe dos azulejos da porta


Várias são as versões da lenda sobre a escrava Josefa:
1ª] Dizem que a negra, por ter tido culpa de um fato banal, foi levada ao Pelourinho* para se sujeitar a uma terrível tortura, em conseqüência da qual veio a morrer. Enterrada próxima à rua do Carvão**, anos depois escorria sangue da sepultura ...
2ª] Josefa era uma escrava muito bonita, que atraiu o interesse do patrão. A esposa, enciumada diante disto, aproveitou uma viagem do marido para mandar açoitá-la. As chibatadas foram tantas que a infeliz criatura morreu. Passado algum tempo, apareceu na cova onde tinha sido enterrada um braço erguido, como que a clamar por justiça, não sendo possível dobrá-lo.

3º] Josefa era babá do filho do senhor. Um dia a criança levou um pequeno tombo, sem conseqüências. Mas o patrão, enfurecido, mandou açoitá-la. Os açoites foram tantos que ela, toda ferida, foi jogada num formigueiro, onde veio a falecer sem que as formigas tocassem seu corpo.
4ª] Escrava que morreu martirizada numa panela de sabão.
5º] Josefa era uma escrava muito judiada pela patroa, que a queimava com cera quente. Um dia fugiu queimada (indo cair no atual lugar da capela) morrendo ali, no meio do matagal.

* Pelourinho: coluna de pedra onde eram expostos e torturados criminosos.
** Hoje rua Milan Krás.


Fontes de pesquisa:
Banco de Dados do Museu Municipal
Monografia da professora Maria de Lourdes Xavier Pereira


Mais leitura:
Fogo no túmulo da Santa Josefa [Jornal do Povo, 30 de outubro de 2010]