Orgulho!

Orgulho!

sábado, 31 de março de 2012

TITANIC 100 anos - I Parte



Há alguns dias atrás o Claiton Nazar enviou-me um e-mail onde ele falava numa coleção de revistas intitulada "O Eco" e que pertenceram à sua mãe, D. Irene (confessou-me que encontrou-as "remexendo" nas gavetas da mãe ...).
Claiton escreve:

" A década de 1940 era a época em que ela estudava interna em Vale Vêneto, e eles recebiam por lá este "pasquim".
Entre muitas curiosidades da época, encontrei um texto muito interessante: um relato detalhado, longo, dramático, não romantizado, do que realmente aconteceu no naufrágio do Titanic. O relato foi feito por um tripulante sobrevivente. A tradução é interessante também pois está com a ortografia da época. Imprime autenticidade."


O ECO


Diretor, Redator-chefe e Editor: Pe. Luiz Gonzaga Jaeger, S. J.
Proprietário: Pe Inácio Vale, S. J.,
Colégio Anchieta
Caixa Postal 358
Porto Alegre, Brasil
Impresso nas oficinas gráficas da Tipografia do Centro, S. A.,
Centro da Boa Imprensa
Rua Dr. Flores, 108, Porto Alegre





Construção do gigante jamais visto ...

Imagem: Maritime Quest




TITANIC 100 anos - II Parte

DA REVISTA O ECO

Colégio Anchieta
Porto Alegre
6 de junho de 1943
Nº 5
Ano XXX


Thomas Andrews (1873-1912), desenhista do Titanic (morto no naufrágio)



Imagem: Maritime Quest


TITANIC, o maior paquete mundial do seu tempo, com 47.000 toneladas, da Withe Star Line inglesa, já na sua viagem de estreia de Inglaterra a Nova Iorque, esbarrou violentamente contra enorme bloco de gelo, na noite de 15 de abril de 1912, afundando após duas horas e três quartos, em que se afogaram 1517 pessoas. Foi a maior catástrofe marítima, em parte motivada pelo deficiente serviço de salvamento. Desgraças parecidas acontecem hoje continuamente nesta presente guerra.
O excelente ANNUAIRE-ALMANACH DE L'APOSTOLAT DE LA PRIÉRE deparou-nos, traduzida em francês esta narração do famoso naufrágio, feita por um inteligente embarcadiço que dele escapou e circunstanciada ao vivo como porventura nenhuma outra. É leitura não só interessantíssima , de horrores e lástimas, como imprevistos lances de sentimento religioso, mas também instrutiva a muitos respeitos e principalmente por nos dar a conhecer mais um abismo nunca assaz conhecido, ainda mais profundo, traiçoeiro e misterioso do que o abismo dos mares - o abismo do coração humano.

Continua amanhã ...

A AGONIA DO TITANIC

Relato do náufrago John Sullivan, criado de bordo

TITANIC - III PARTE

Imagem: Maritime Quest

Subitamente tudo deu de si, tudo.
Aquele colossal convés, que os escarcéus mais furiosos do Atlântico apenas embalavam, afocinhou, agarrado de proa pela misteriosa atração da voragem.
Depois, a queda, assim como principiara de repente, também de repente cessou: e da primeira coberta estavam ainda três quartas partes fora da água: senão que era força fazer fincapé num como telhado esconso, com inclinação de 35 graus pelo menos.
A minha mão crispada colhera por milagre um cordão de arame das pavesadas: segurando-me assim, eu assistia ao medonho resvalar dos corpos dos calabres, dos trastes, ouvindo a confusíssima gritaria dos que ficavam vivos, aferrados como eu a qualquer cabo ou arrimados desesperadamaente a um obstáculo salvador - chaminé, salão, mesas fixas - com que haviam topado.
Para mim foram cinco minutos de reflexão atroz: que faria? Quedar-me ali, com a certeza de ser em breve engolido com a massa do transatlântico? Lançar-me às ondas, com risco quase também certo de tardar pouco em afogar-me, destituído de forças?
Uma súbita decisão, que devo certamente à Providência, me salvou. Vou-me escoando ao longo daquele cordão.
No fim, ia a cair no espaço vão; ainda pior, no escuro, porque as résteas luminosas, que as vigias dos camarotes despediam, deixavam na escuridão os costados do navio, nos quais, eu ouvia somente o marulho das águas e o embate dos destroços do iceberg.
Cerrei os olhos e - a Deus e à ventura - dei comigo no mar.

...

Continua ...

sexta-feira, 23 de março de 2012

COLETÂNEA DE FOTOS "DETALHES DO TEMPO"

Detalhes do Tempo: primoroso trabalho de Nelda Scheidt e Claiton Nazar
*Obs: a imagem não condiz com a capa do DVD

"Para encontrar a minha Cachoeira, fecho os olhos e sonho.
Desenho calçadas, risco ruas, apago absurdos, levanto prédios, pinto sobrados e busco na memória a beleza do que foi e que ainda pode vir a ser."


Eduardo Florence
"Pisando nos astros, distraído"
Jornal do Povo, 24 e 25 de março de 2012

QUANTA DIFERENÇA!

Nos dias 16, 17 e 18 de março o Grupo de Danças adulto Os PIONEIROS, do CTG Tropeiros da Lealdade, participou de um festival internacional de folclore na cidade de Concepción del Uruguay, Argentina. É claro que ... arrasaram ...!!

Passeios também aconteceram e um deles deu-se na Plaza Francisco Ramirez e ... vejam só ... quanta diferença das nossas "praças"!!!!

Reparem:

* a arborização
* a iluminação
* os bancos
* a limpeza

Bancos da Praça Francisco Ramirez

Imagem: Itamar Fraga


Porém, não consigo me esquecer de alguns fantasmas ...




quinta-feira, 22 de março de 2012

PARA QUE NÃO SE ESQUEÇA, PARA QUE NUNCA MAIS ACONTEÇA!

Direito à memória e à verdade!
Enviei um exemplar do Jornal do Povo com o encarte especial do Dia Internacional da Mulher onde, entre outros assuntos, constou a matéria sobre a desaparecida política Alceri Maria Gomes da Silva.
Na data de ontem recebi esta mensagem de Brasília.

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!
[RESA]


TEMPLO PRIMITIVO DE VELHA TIEFE EM BLUMENAU

Surpresa no dia 22 de março!

Com muita satisfação recebi hoje a página (abaixo) do jornal de Santa Catarina, datada de 15.3.2012, do amigo e pesquisador Wieland Lickfeld, através do correio. Nela consta este importante (e emocionante) resgate.
Por mais de 80 anos esta pequena foto esmaecida ficou guardada com apenas duas informações, data e lugar. Quando comecei a pesquisar para a elaboração do livro sobre a Saga Ruseler, com o qual estou me "digladiando" há dois anos, enviei a imagem desta igreja primitiva a várias pessoas/instituições.
Por fim ficou constatado que ela ainda 'existe' porém bastante modificada. O pesquisador de Blumenau, Wieland Lickfeld e a arquiteta cachoeirense Elizabeth Thomsen contribuiram na identificação.
Foi muito bom trazer à luz da história de Blumenau esta foto rara e agora ainda mais pelo fato dela ter sido publicada no Jornal de Santa Catarina para ser vista pela comunidade blumenauense/catarinense.
Queria compartilhar com vocês esta alegria!
Abaixo, a publicação no Jornalde Santa Catarina,
datada de 15 de março de 2012:

Fotografia original. Ela é pequena além de estar bem esmaecida

Aspecto atual da Igreja de Velha Tiefe. A foto é da década de 1980.
À frente dela, D. Anna Ruseler Schmidt.
Nela Anna e sua irmã Eleonora foram batizadas.

BOAS NOVIDADES E MÁS VELHADADES


Boas novidades!


As novas cores na edificação em processo de restauração (ex-Unibanco) estão começando a despontar detrás da "serra" ou do Morro do Cascalho ...


E enquanto isso, na Rua Sete de Setembro,
os desenhos geométricos foram preservados e aqueles que estavam deslocados foram recolocados no lugar.
"Está dando o dobro de trabalho", disseram os operários para Mirian Ritzel que foi checar a obra, "mas nós vamos fazer tudo direitinho" ...
Mirian contou-me que os rapazes estavam "entertidos" separando as pedras escuras das convencionais. Cena bacana esta ...

Tchem-tchem-tchem, o que se esconde por baixo da areia? Aguardemos!

A bagunça foi grande, porém os operários foram ágeis e rápidos!
Poeira para dar e vender ...

Aguardemos os resultados!

Más velhadades!


E o entorno do Banrisul? Até quando?


Imagens: Renate Aguiar

quarta-feira, 21 de março de 2012


TEMPLO MARTIM LUTERO

Patrimônio Histórico tombado




Belo e valioso trabalho de Nelda Scheidt, professora pós-graduada em História da Arte em parceria com a arquiteta Elizabeth Thomsen e a professora Regina Buss.
A revisão contou com a colaboração das professoras Vera Pinto e Dóris Gressler.
Tradução de textos da Pastora Regene Lamb e maravilhosas fotografias de Ben-Hur Almeida, Méia Albuquerque, Nelda, Regina, Renato Thomsen, Sérgio Ellwanger e arquivos da Comunidade Evangélica. Edição histórica!
Parabéns à toda equipe!

segunda-feira, 19 de março de 2012

SOBRE O COLISEU ..

O texto do Dr. Eduardo Florence, Andando nas Nuvens, exterioriza sua opinião pessoal de que não é válida a conservação de fachadas (estética do fachadismo?). Já a arquiteta Elizabeth Thomsen pensa o contrário, isto é, que a fachada art déco do Cine Teatro Coliseu merece e deve ser conservada.
Hoje, para fins de comparação, da edificação da União dos Moços Católicos, só resta a fachada e tudo o que ultrapassa o seu limite é construção quase ainda novinha em folha. A estas alturas apesar de desejar a presença de todo prédio original, penso que a distância entre o sonho e a realidade às vezes avança também os limites do nosso entendimento.

Imagem: acervo fotográfico do Museu Municipal Patrono Edyr Lima

Um debate importante, sem dúvida, porque dele vão surgindo ideias e soluções.
Após a queda do Muro de Berlin, na medida que os bens patrimoniais da República Democrática da Alemanha - DDR - foram sendo listados e novamente inventariados, percebeu-se que numa de suas mais famosas cidades, a capital da Saxônia, Dresden, das poucas construções que restaram em pé, havia um grande número de ... FACHADAS. Sim, isso mesmo! O corpo das construções ou havia sido perdido pelos incêndios de fevereiro de 1945 ou pelo golpe de misericórdia, leia-se "dinamite", das forças de ocupação russas, que concluíram atabalhoadamente "que não valia a pena reerguer".


Imagem: de uma simplória ruína melancólica brotará aos olhos dos habitantes da Florença do Elba um majestoso prédio similiar ao original

A fachada e o palco do cinema estão todos os dias na mira dos meus/nossos olhos. É muito enjoado ver tamanha estrutura deteriorar-se e não ver nada acontecendo. O impasse assume várias explicações e todos têm e não têm razão.
Como a fachada segue valente após anos a fio de desleixo, até não sei. Porém ela é hoje TOMBADA, portanto se esta decisão aconteceu é porque houve motivos suficientes para tal.
Ressuscitei o texto do Dr. Eduardo Florence e intercalei com algumas BELAS IMAGENS do hoje patrimônio tombado gentilmente cedidas pela arquiteta Elizabeth Thomsen, uma incansável defensora do Coliseu (com o meu apoio), pelo Claiton Nazar e pelo COMPAHC, que nos últimos tempos tem tido uma colheita de boas notícias.
[RESA]

sábado, 17 de março de 2012

Andando nas nuvens

Eduardo Florence
Jornal do Povo, 20/21 de março de 2004

"Acho errado preservar fachadas de prédios históricos.
O mesmo já aconteceu na Inglaterra, 20 anos atrás. Agora temos uma política bem forte para evitar o fachadismo. É como analogia ao corpo humano: não adianta deixar a pele num corpo estranho, perdeu-se a alma."
Arquiteto britânico Robert Tavernor
ZH, 11.3.2004


Imagem: cortesia Elizabeth Thomsen
Olha a pomba descansando na ponta da fachada ...

Imagem: arquivo COMPAHC
Cortesia: Claiton Nazar


O Patrimônio Histórico existe também para avaliar a contínua e desastrosa transformação por que passou nossa paisagem urbana. o triste é observar que não existe nenhuma política para preservar o que realmente interessa dentro de nossa urbanidade. Urge uma conferência municipal sobre nosso patrimônio e o plano diretor de Cachoeira é de uma inconsequência total. Precisamos projetar a cidade do futuro e preservar aquelas coisas que tenham real significância. Preservar não é manter escombros prestes a ruir nas nossas cabeças.

Precisamos de especialistas, e se aqui não possuímos, para isto existem entidades e universidades públicas que, afinal, são pagas com nosso dinheiro. Onde andam projetos com real interesse histórico? Convenhamos, que país do mundo oferecerá dinheiro para preservar o Cine Coliseu art déco?

Cachoeira tem que mapear o que lhe interessa. o espaço catedral-Prefeitura-Château D'Eau tem que ser primoroso. Foi noticiado verbas internacionais para restauração, no entanto tudo evaporou, pelo menos na mídia. A Prefeitura continua com sua pintura tenebrosa, árvores lhe ocultam a existência, e o Château D'Eau, descascando e sem pintura. Alguém realizou um projeto para tombar o espaço dos engenhos, símbolo de nosso desenvolvimento e da arquitetura industrial?




Imagens: Château em construção (década de 1920), em primeiro plano a Prefeitura Municipal, aos fundos, o Teatro Municipal (demolido),
Cortesia: Claiton Nazar

A Ponte do Fandango recebe tintas e é pintada de cores sem obedecer normas e a cargo de qualquer cidadão que se interesse. Afinal, a ponte faz parte do nosso patrimônio. Tombada ou não. Irresponsabilidade. O espaço Ponte de Pedra ninguém sabe, ninguém viu.



Imagem: a Ponte de Pedra, arquivos COMPAHC
Cortesia: Claiton Nazar


Imagem: local da Ponte do Fandango
Cortesia: Claiton Nazar


Uma cidade é o convívio de épocas e de caminhos. O Coliseu é um risco a cada chuva. A Casa da Aldeia é ruína. Esta na hora de decidirmos de forma ampla e comunitária baseados em fatos técnicos e não em emoções de quem teve muito afeto pelo cinema. O que nos interessa preservar é decobrir os limites legais e financeiros de uma cidade pobre, para que tal fato não seja um caminhar nas nuvens.


Imagens: dos arquivos do COMPAHC, a Casa da Aldeia
Cortesia Claiton Nazar

Não vejo nenhum motivo histórico ou arquitetônico para preservar a fachada do Coliseu. Preservar fachadas, como falou o arquiteto inglês na Zero Hora, é uma fato ultrapassado, para todos aqueles que trabalham com patrimônio histórico. Ser exemplo de arte déco não é motivo para preservar nada em Cachoeira e sim para Nova Iorque, Miami e Goiânia. Além disso, o Astral, o segundo prédio do hospital e até até o Clube Comercial têm arquitetura influenciada por esse movimento.

Imagem: Clube Comercial, arquivo COMPAHC
Cortesia: Claiton Nazar

Outra coisa que temos que pensar é no destino a ser dado aos prédios tombados. Todo mundo sempre sugere um centro cultural. Tem museu na Casa da Aldeia, centro de cultura no Coliseu, nos engenhos, na antiga Prefeitura. Por favor, que sejamos pelo menos criativos.
Sou contra o tombamento do Coliseu, e hoje é uma temeridade passar embaixo das suas marquises. Temos bem mais significativas edificações a zelar do que ficar gastando pólvora em chimango. Absurda a luta sobre o cinema que teve numa cidade que deveria discutir o cinema que não tem.


ATENÇÃO

A fachada do Cine Coliseu foi tombada provisoriamente para que haja uma vistoria das reais necessidades de seu tombamento definitivo. Após esta vistoria, que não tem prazo, a Prefeitura irá falar com o proprietário do Coliseu, Aristides Kucera, para decidir se haverá ou não tombamento definito. Porem, a palavra final é da Prefeitura.
Jornal do Povo, 17 de março de 2004

Imagem: cortesia Elizabeth Thomsen

OS PERSONAGENS

Quem trabalhou pelo Coliseu
BETH THOMSEN
Em 2001 - Um pouco antes de ser enviado o material pedindo o tombamento da fachada do cine em 22 de março - recolheu 424 assinaturas, que foram anexadas aos documentos repassados à Prefeitura. "O JP está de parabéns pela apuração dos fatos a respeito da venda do Coliseu, que poderia passar despercebida. Isso movimentou os órgãos ligados à defesa do patrimônio e dos favoráveis ao tombamento da fachada do teatro, visando a preservação deste marco para Cachoeira", disse Beth.

LUCIANO LARA
O VEREADOR foi quem indicou à Prefeitura o tombameanto do Cine Coliseu, dando início à tramitação jurídica da mobilização de Beth Thomsen.

Jornal do Povo, 17 de março de 2004


Registro: tenho a maior admiração pelo pessoal do COMPAHC. O Miguel Felipe sabe disto, e torço que se faça tudo que sonha e sei que sua visão de mundo e dos valores arquitetônicos é bem maior do que nossas idiossincrasias. A Mirian e a Ione Carlos são minhas gurus no afeto que me encerra pelo passado de Cachoeira. Sou amigo e irmão de todo o pessoal da Cultura, mas vamos cair na real e falar sério. Abaixo o Coliseu. Vamos preservar os lugares com


LUGARES COM ALMA E SEM ALMA
Renate Aguiar

A alma da anti-praça José Bonifácio já foi extirpada há anos. A última cirurgia mutiladora dela dotará o antigo belo recanto de uma gigantesca pista de skate. Seria aconselhável construir logo do lado um pronto-socorro de quebraduras, luxações e esfolamentos. [RESA]



Imagens: Renate Aguiar
Data: 15 de março de 2012
EMPLASTRO SABIÁ

Eduardo Florence
Jornal do Povo, 20/21 de março de 2004

Os sapatos quase sempre eram apertados e duros. Melhora com o tempo, diziam. Álcool derramado por dentro era uma receita infalível,como seria contingente e uso posterior de um torturante band-aid no calcanhar. Almanaques velhos de remédios falavam de chás, ungüentos, pomadas poções, depurativos,elixires, purgantes, linimentos, xaropes. O anual Almanaque do Pensamento previa o tempo e as chuvas. Diziam com um ano de antecedência se choveria no dia de nosso aniversário. Épocas de plantio e de colheitas, horóscopos e citações de personalidades.

Quem não viu e viveu, perdeu os porres homéricos que euforizavam com o álcool contido num Biotônico Fontoura. Vendido no Brasil desde 1914, estimulava o apetite, com o mesmo poder daquele aperitivo de butiá ingerido por nossos pais. Perderam os chás de camomila, macela, erva cidreira, confrei. Viveram um tempo de fascínio nas velhas farmácias com aquelas gravuras do homem e do peixe. O velho e o mar. Nada mais era do que o óleo de fígado de bacalhau, a terrível Emulsão de Scott. Sadol e Fimatosan também faziam parte da tortura de pais sádicos contra indefesas crianças.




Escalda-pés e cafiaspirina após ficar molhados. Xaropes para a tosse, salofeno. Bálsamo Alemão para que afinal existiram. Houve um tempo de sangrias e que os males eram decorrentes das linfas e humores internos. Os enemas e lavagens eram uma coisa cotidiana nas vidas das famílias. Quase fixação por laxativos e lavados intestinais. Pílulas de Witt, cor-de-rosa, Lacto-purga e Purgo-leite. O contrário e o mais caseiro, chá de casca de romã e de pitangueira.

Quem não viveu o tempo no qual o fígado era o maior vilão. Epocler e Heparema. Verminoses e sementes de abóboras. Lombrigas e ascaris? Licor de alcatrão e de cacau. Medicina do lar que se prezasse tinha sempre Sal de Frutas Eno, Magnésia Bisurada, Leite de Magnésia de Philips.

Ferimentos tinha o mercurocromo, Merthiolate, Violeta Genciana, e as pessoas viviam roxas. Caladryl nas queimaduras e para tudo, mas tudo mesmo, principalmente nas espinhas e acnes adolescentes. Pomada Minâncora e os jovens viviam brancos. Lysoform desinfetante, Cibalena, pílulas Foster e a instigante Maravilha Curativa do Dr. Humphreys.

Assepsia bucal com pastilhas Valda . E o Leite de Rosas enchia o ar de perfume e frescor. Polvilho anti-séptico Granado, Pó Pelotense, as colônias de Alfazema e os perfumes Mirurgia.

Mistério era apenas um. O emplastro Sabiá. O mundo havia evoluído e as pessoas insistiam em usar uma espécie de ventosas que aliviavam dores ocasionadas por governos opressivos que asfixiavam qualquer realidade que não fosse a promessa de uma país de futuro. O tempo passa e muda alguma coisa, para nada modificar. Pior do que tudo, estamos parados assistindo que só não é corrupto que nunca foi poder. Precisamos da Maravilha Curativa, de muito anti-séptico, de Biotônico Fontoura, mas com álcool, e a urgente volta do emplastro Sabiá. Nas costas, para relaxar o dorso, e um na boca para calar os impropérios que pensamos em falar aos arrogantes que nos mentiram tanto. Os sapatos nunca foram tão apertados.

quinta-feira, 15 de março de 2012

A MALFADADA PONTE

Não deixe de conferir a interessante história sobre a "malfadada ponte", também conhecida como a Ponte do Passo Geral do Jacuí.


Imagem: Méia Albuquerque

terça-feira, 13 de março de 2012

ROUBO


Postal: acervo Arquivo Histórico Carlos Salzano Vieira da Cunha

Roubei do feicibuqui da professora Loveli La Flor, atualmente atuante no Arquivo Histórico Carlos Salzano Vieira da Cunha, estes lindos versos do poeta cachoeirense Nilo Fernandes Barbosa, publicado no jornal O Comércio em 1º de janeiro de 1947:


Se algum dia alguém me perguntasse
Que é saudade?
Responderia
Com convicção:
Dor que se chora de olhos enxutos
Rolando as lágrimas para o coração.

quinta-feira, 8 de março de 2012

ALCERI MARIA GOMES DA SILVA

Livro com edições de 2007 e 2008,
publicado pela Comissão Especial sobre Mortos

e Desaparecidos Políticos
Acervo pessoal




Edição especial do Jornal do Povo contemplando o Dia Internacional da Mulher

PROCESSO 060/96

CEMDP

Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos

"Onde está a mulher que a ditadura fez sumir"?

Sobre mulheres há histórias de vida e da vida que, pela sua singularidade, possuem magneto de maior ou menor potencial. Elas vão de encontro às nossas sensibilidades multifacetadas e diante delas, predomina uma certa seleção natural.

Há histórias de cientistas, de operárias, de profissionais liberais, de professoras, de camponesas, de cantoras e atrizes, de líderes políticas. Mas também há histórias de mulheres-fruta, de sisters da brigbroderia global, de celebridades efêmeras e de musas de gosto duvidoso ... porém estas não encontraram meu interesse. Temos diante de nós uma presidente mulher com uma história pregressa “daquelas”. Em Cachoeira uma catadora de material reciclável será homenageada e junto com ela todas as mulheres e homens que lutam neste árduo front. Ele – o front - nos interessa, caso contrário nos afogaremos em breve no mar de lixo que as sociedades industrializadas produzem em ritmo cada dia mais alarmante.

Pois em um dia de janeiro deste ano, no meu correio eletrônico, recebo inusitada mensagem de um amigo pesquisador de Blumenau, Santa Catarina, chamado Wieland Lickfeld.

Sabedor da minha condição de professora de História e deveras interessada em “certas” questões brasileiras, Wieland perguntou-me sobre uma mulher que se chamava Alceri Maria Gomes da Silva cujo local de nascimento seria Cachoeira do Sul. Escreveu ele na mensagem eletrônica:

A Mensagem

“No último final de semana, apareceu uma reportagem no Jornal de Santa Catarina sobre uma senhora que mora em Blumenau, Clélia Gomes de Mello, irmã de Alceri Maria Gomes da Silva, nascida em Cachoeira do Sul/RS em 25/05/1943. Era militante da Vanguarda Popular Revolucionária e desapareceu em 17 de maio de 1970 nos porões do governo militar. Foi morta no mesmo dia, expedido atestado de necrópsia, mas o corpo jamais foi entregue à família. A família Gomes, da qual era a quarta das sete filhas, se mudou para Canoas quando ela era adolescente e quem a introduziu na VPR foi o então advogado Carlos Franklin de Araújo, que anos depois se casaria com Dilma Rousseff e se tornaria o pai da filha da nossa atual presidente. O contexto da matéria é a Comissão da Verdade, pela qual Clelia Gomes de Mello espera descobrir onde sua irmã foi sepultada”.

Wieland Lieckfeld, 31 de janeiro de 2012

Wieland referia-se ao Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, em sua publicação de final-de-semana, de 28/29 de janeiro. Era a primeira de uma série de três matérias especiais do jornal, intitulada “Órfãos da verdade”.

Fonte: Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, de 28/29 de janeiro de 2012

Fui surpreendida pelo detalhe de Alceri constar no jornal como nascida em Cachoeira do Sul e pelo fato de nunca ter ouvido falar neste (doloroso) caso.

Fonte: Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, de 28/29 de janeiro de 2012

Sob o título “Que devolvam os ossos dela”, Clélia Gomes de Mello, 65 anos, integra uma das três famílias do Vale do Itajaí que, segundo o jornal, “tiveram renovadas as esperanças de obter respostas sobre as circunstâncias da morte de parentes de vítimas da repressão militar. Elas terão o nome do familiar morto durante a ditadura indicado para que a Comissão da Verdade, criada em dezembro de 2011, dê esclarecimentos sobre o abuso. Criada há cerca de pouco mais de dois meses, a Comissão ainda não tem data para começar os trabalhos”.

Imagem: a irmã Clélia, que mora em Blumenau

Fonte: Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, de 28/29 de janeiro de 2012

A Comissão da Verdade objetiva investigar em dois anos, as violações de direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988. A Comissão será composta por sete membros, que ainda serão nomeados pela Presidência da República. Particularmente penso ser difícil cumprir o prazo pelo mar de dificuldades que ainda persistem no acesso a informações fidedignas.

A Comissão


A Comissão não terá poderes para punir agentes da ditadura. As investigações incluem a apuração de autoria de crimes como tortura, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres, perdoados com a Lei da Anistia, de 1979 (governo João Figueiredo).
O grupo será composto por sete membros, "de nacionalidade brasileira, designados pelo Presidente da República, com base em critérios como o da pluralidade, reconhecimento de idoneidade e de conduta ética e por defesa da democracia, da institucionalidade constitucional e dos direitos humanos".
De acordo com o projeto aprovado, funcionários do Executivo ou filiados a partidos políticos não poderão participar. A comissão contará com 14 funcionários, além do suporte técnico, administrativo e financeiro da Casa Civil.

Fonte: O Globo

Atiçada minha curiosidade, fui adiante. Consegui o caderno do jornal, enviado pelo correio por Wieland e acesso a subsídios materiais e humanos que me auxiliaram na pesquisa.

Encontrei três lugares diferentes para o nascimento de Alceri: Cachoeira do Sul (conforme aparece no Jornal de Santa Catarina), Porto Alegre (na worl wide web ou simplesmente web) e por último, segundo parentes que residem aqui em Cachoeira, a cidade de São Sepé (tendo acontecido o registro de nascimento no cartório de Palmas).

Filha de Oscar Tomaz e Odila Gomes da Silva, quarta de sete irmãs, Alceri veio morar com a família em Cachoeira do Sul. Clélia, a irmã que reside em Blumenau é a sexta dentre elas. A mãe era costureira.

Imagem: à direita, Alceri em cerimônia de batismo

Fonte: Jornal de Santa Catarina, de Blumenau, de 28/29 de janeiro de 2012

Na adolescência mudou-se com a família para Canoas onde foi trabalhar no escritório da fábrica Michelletto, quando começou a participar do movimento operário. Alceri filiou-se ao Sindicato dos Metalúrgicos onde conheceu Franklin Araújo, futuro ex-marido de Dilma Roussef e que trabalhava para o sindicato. Parte da família retorna mais adiante para Cachoeira do Sul

Juntamente com a irmã Clélia, foram dados os primeiros passos na militância política. Ambas tomaram parte da Vanguarda Popular Revolucionária, VPR, levadas por Franklin.

Vanguarda Popular Revolucionária

Organização de extrema esquerda, criada em 1966, que lutava contra o regime militar e que tencionava estabelecer no Brasil um regime de ideologia socialista. Utilizou a luta armada e um dos seus líderes foi o ex-capitão do Exército, Carlos Lamarca. Auto-dissolveu-se em 1971, após a morte de seu último líder, José Raimundo da Costa, dedurado pelo Cabo Anselmo, espião infiltrado pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social)

No final dos anos 60, com o aumento da repressão aos opositores do regime, estes passaram a viver na clandestinidade. O perigo de ser flagrado em militância era iminente. Porto Alegre não tinha mais segurança.

Em setembro de 1969, visitou sua família em Cachoeira do Sul para informar que estava de mudança para São Paulo, engajada na luta contra o regime militar. Alceri abandona o emprego ainda em 1969, muda-se para lá e passa para a clandestinidade. Em menos de um ano estaria morta.

Página 128 do livro Direito à Verdade e à Memória

Acervo pessoal

Na obra DIREITO À VERDADE E À MEMÓRIA da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, de 2007, consta que Alceri foi presa e morta juntamente com Antônio dos Três Reis Oliveira (1948-1970). Ambos eram militantes de organizações clandestinas distintas. Antônio pertencia à ALN, Ação Libertadora Nacional. Ambos constam no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos.

Após receber a notícia de sua morte, em circunstâncias não esclarecidas, a família viveu um verdadeiro processo de desestruturação. O pai, desgostoso, morreu menos de um ano depois de saber, por um delegado de Canoas, que a filha fora morta em São Paulo. A mãe desenvolveu problemas de saúde. Segundo depoimento da irmã Clélia, D. Odila foi a primeira a saber, através de um investigador da polícia de apelido Dois Dedos, que foi à casa dela comunicar a morte de Alceri e ainda fazer ameaças veladas à família. A irmã Valmira (nascida entre Alceri e Clélia), também militante política, não suportou a culpa que passou por ter permitido que a irmã saísse de sua casa. Suicidou-se.

Segundo depoimento dos presos políticos de São Paulo, os dois militantes foram mortos por agentes da Operação Bandeirantes, OBAN, chefiados pelo capitão Maurício Lopes Lima. Ambos foram enterrados no cemitério de Vila Formosa e os corpos nunca foram resgatados, apesar das tentativas feitas em 1991, a cargo da Comissão de Investigação da Vala de Perus. As modificações na quadra do cemitério, feitas em 1976, não deixaram registros para onde foram levados os corpos dali exumados.

Clélia buscou informações somente após a morte dos pais. Enquanto estavam vivos preferiu evitar mais sofrimento. Conseguiu obter atestado de óbito, laudo da necropsia e alguns documentos onde a morte da irmã é relatada.

Alceri viveu parte de sua curta vida em Cachoeira do Sul. Como tantos outros hoje fazem e naquela década também, migrou com a família para a Grande Porto Alegre, cinturão que atraía/atrai as pessoas pelas melhores oportunidades de trabalho ali oferecidas. Alceri apreciava Chico Buarque e sonhava em ser comissária de vôo. Possuía engajamento social em defesa dos negros e homossexuais. Escrevia poesias, principalmente sobre o amor.

Sua decisão de aderir à VPR custou-lhe a vida, abortada junto à de Antônio, quando uma equipe dos “órgãos de segurança” averiguava a existência de um “aparelho”, no bairro do Tatuapé, em São Paulo. Conforme consta no relatório do Ministério da Aeronáutica de 1993, a morte do casal aconteceu em 17 de maio de 1970.

Adentrando os caminhos perigosos da militância anti-ditadura que assumia várias correntes, umas mais cautelosas, outras radicais como as da guerrilha, assaltos, seqüestros e assassinatos, Alceri selou seu destino trágico porque o regime militar não deixou barato e massacrou sem piedade a oposição. As fotos dos mortos são fontes históricas incontestáveis das brutalidades cometidas contra os presos políticos.

Numa leitura ainda superficial da obra “Direito à Memória e à Justiça”, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, nela deparo-me com uma constante presente em parcela significativa dos mortos – muitos eram estudantes universitários muito jovens.

Militante mulher e negra, Alceri foi morta com quatro tiros com 26 anos, três anos antes do violento golpe no Chile que também promoveu uma carnificina oficial.

O chamado Cone Sul, Brasil-Uruguai-Argentina-Chile atravessou longa e tenebrosa noite até alcançar seu dia. E a prova deste dia alcança sua plenitude quando histórias como a de Alceri Maria Gomes da Silva vem de encontro ao Direito à Memória e à Verdade e aos olhos dos brasileiros incluindo aqui aos da cidade que um dia foi também o seu lar.

Agradecimentos especiais: professora Dina Marilu Machado Almeida, professora Lair Vidal e pesquisador Wieland Lieckfeld.