Orgulho!

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sábado, 31 de março de 2012

TITANIC - III PARTE

Imagem: Maritime Quest

Subitamente tudo deu de si, tudo.
Aquele colossal convés, que os escarcéus mais furiosos do Atlântico apenas embalavam, afocinhou, agarrado de proa pela misteriosa atração da voragem.
Depois, a queda, assim como principiara de repente, também de repente cessou: e da primeira coberta estavam ainda três quartas partes fora da água: senão que era força fazer fincapé num como telhado esconso, com inclinação de 35 graus pelo menos.
A minha mão crispada colhera por milagre um cordão de arame das pavesadas: segurando-me assim, eu assistia ao medonho resvalar dos corpos dos calabres, dos trastes, ouvindo a confusíssima gritaria dos que ficavam vivos, aferrados como eu a qualquer cabo ou arrimados desesperadamaente a um obstáculo salvador - chaminé, salão, mesas fixas - com que haviam topado.
Para mim foram cinco minutos de reflexão atroz: que faria? Quedar-me ali, com a certeza de ser em breve engolido com a massa do transatlântico? Lançar-me às ondas, com risco quase também certo de tardar pouco em afogar-me, destituído de forças?
Uma súbita decisão, que devo certamente à Providência, me salvou. Vou-me escoando ao longo daquele cordão.
No fim, ia a cair no espaço vão; ainda pior, no escuro, porque as résteas luminosas, que as vigias dos camarotes despediam, deixavam na escuridão os costados do navio, nos quais, eu ouvia somente o marulho das águas e o embate dos destroços do iceberg.
Cerrei os olhos e - a Deus e à ventura - dei comigo no mar.

...

Continua ...

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