Orgulho!

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sábado, 17 de março de 2012

Andando nas nuvens

Eduardo Florence
Jornal do Povo, 20/21 de março de 2004

"Acho errado preservar fachadas de prédios históricos.
O mesmo já aconteceu na Inglaterra, 20 anos atrás. Agora temos uma política bem forte para evitar o fachadismo. É como analogia ao corpo humano: não adianta deixar a pele num corpo estranho, perdeu-se a alma."
Arquiteto britânico Robert Tavernor
ZH, 11.3.2004


Imagem: cortesia Elizabeth Thomsen
Olha a pomba descansando na ponta da fachada ...

Imagem: arquivo COMPAHC
Cortesia: Claiton Nazar


O Patrimônio Histórico existe também para avaliar a contínua e desastrosa transformação por que passou nossa paisagem urbana. o triste é observar que não existe nenhuma política para preservar o que realmente interessa dentro de nossa urbanidade. Urge uma conferência municipal sobre nosso patrimônio e o plano diretor de Cachoeira é de uma inconsequência total. Precisamos projetar a cidade do futuro e preservar aquelas coisas que tenham real significância. Preservar não é manter escombros prestes a ruir nas nossas cabeças.

Precisamos de especialistas, e se aqui não possuímos, para isto existem entidades e universidades públicas que, afinal, são pagas com nosso dinheiro. Onde andam projetos com real interesse histórico? Convenhamos, que país do mundo oferecerá dinheiro para preservar o Cine Coliseu art déco?

Cachoeira tem que mapear o que lhe interessa. o espaço catedral-Prefeitura-Château D'Eau tem que ser primoroso. Foi noticiado verbas internacionais para restauração, no entanto tudo evaporou, pelo menos na mídia. A Prefeitura continua com sua pintura tenebrosa, árvores lhe ocultam a existência, e o Château D'Eau, descascando e sem pintura. Alguém realizou um projeto para tombar o espaço dos engenhos, símbolo de nosso desenvolvimento e da arquitetura industrial?




Imagens: Château em construção (década de 1920), em primeiro plano a Prefeitura Municipal, aos fundos, o Teatro Municipal (demolido),
Cortesia: Claiton Nazar

A Ponte do Fandango recebe tintas e é pintada de cores sem obedecer normas e a cargo de qualquer cidadão que se interesse. Afinal, a ponte faz parte do nosso patrimônio. Tombada ou não. Irresponsabilidade. O espaço Ponte de Pedra ninguém sabe, ninguém viu.



Imagem: a Ponte de Pedra, arquivos COMPAHC
Cortesia: Claiton Nazar


Imagem: local da Ponte do Fandango
Cortesia: Claiton Nazar


Uma cidade é o convívio de épocas e de caminhos. O Coliseu é um risco a cada chuva. A Casa da Aldeia é ruína. Esta na hora de decidirmos de forma ampla e comunitária baseados em fatos técnicos e não em emoções de quem teve muito afeto pelo cinema. O que nos interessa preservar é decobrir os limites legais e financeiros de uma cidade pobre, para que tal fato não seja um caminhar nas nuvens.


Imagens: dos arquivos do COMPAHC, a Casa da Aldeia
Cortesia Claiton Nazar

Não vejo nenhum motivo histórico ou arquitetônico para preservar a fachada do Coliseu. Preservar fachadas, como falou o arquiteto inglês na Zero Hora, é uma fato ultrapassado, para todos aqueles que trabalham com patrimônio histórico. Ser exemplo de arte déco não é motivo para preservar nada em Cachoeira e sim para Nova Iorque, Miami e Goiânia. Além disso, o Astral, o segundo prédio do hospital e até até o Clube Comercial têm arquitetura influenciada por esse movimento.

Imagem: Clube Comercial, arquivo COMPAHC
Cortesia: Claiton Nazar

Outra coisa que temos que pensar é no destino a ser dado aos prédios tombados. Todo mundo sempre sugere um centro cultural. Tem museu na Casa da Aldeia, centro de cultura no Coliseu, nos engenhos, na antiga Prefeitura. Por favor, que sejamos pelo menos criativos.
Sou contra o tombamento do Coliseu, e hoje é uma temeridade passar embaixo das suas marquises. Temos bem mais significativas edificações a zelar do que ficar gastando pólvora em chimango. Absurda a luta sobre o cinema que teve numa cidade que deveria discutir o cinema que não tem.


ATENÇÃO

A fachada do Cine Coliseu foi tombada provisoriamente para que haja uma vistoria das reais necessidades de seu tombamento definitivo. Após esta vistoria, que não tem prazo, a Prefeitura irá falar com o proprietário do Coliseu, Aristides Kucera, para decidir se haverá ou não tombamento definito. Porem, a palavra final é da Prefeitura.
Jornal do Povo, 17 de março de 2004

Imagem: cortesia Elizabeth Thomsen

OS PERSONAGENS

Quem trabalhou pelo Coliseu
BETH THOMSEN
Em 2001 - Um pouco antes de ser enviado o material pedindo o tombamento da fachada do cine em 22 de março - recolheu 424 assinaturas, que foram anexadas aos documentos repassados à Prefeitura. "O JP está de parabéns pela apuração dos fatos a respeito da venda do Coliseu, que poderia passar despercebida. Isso movimentou os órgãos ligados à defesa do patrimônio e dos favoráveis ao tombamento da fachada do teatro, visando a preservação deste marco para Cachoeira", disse Beth.

LUCIANO LARA
O VEREADOR foi quem indicou à Prefeitura o tombameanto do Cine Coliseu, dando início à tramitação jurídica da mobilização de Beth Thomsen.

Jornal do Povo, 17 de março de 2004


Registro: tenho a maior admiração pelo pessoal do COMPAHC. O Miguel Felipe sabe disto, e torço que se faça tudo que sonha e sei que sua visão de mundo e dos valores arquitetônicos é bem maior do que nossas idiossincrasias. A Mirian e a Ione Carlos são minhas gurus no afeto que me encerra pelo passado de Cachoeira. Sou amigo e irmão de todo o pessoal da Cultura, mas vamos cair na real e falar sério. Abaixo o Coliseu. Vamos preservar os lugares com


LUGARES COM ALMA E SEM ALMA
Renate Aguiar

A alma da anti-praça José Bonifácio já foi extirpada há anos. A última cirurgia mutiladora dela dotará o antigo belo recanto de uma gigantesca pista de skate. Seria aconselhável construir logo do lado um pronto-socorro de quebraduras, luxações e esfolamentos. [RESA]



Imagens: Renate Aguiar
Data: 15 de março de 2012

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