Orgulho!

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terça-feira, 30 de novembro de 2010

O CABO QUE NÃO ERA MACHO


Foto: Jornal do Povo, Museu resgata cachoeirenses históricas, 01/02 de março de 2003

A AMIGA VILMA ZANINI ESCREVE SOBRE CABO TOCO

O CABO QUE NÃO ERA MACHO

A televisão funciona como meio cultural de longo alcance, para uma massa populacional que não teve acesso à cultura escolar. Está permitindo a milhões de brasileiros o conhecimento de um pouco da nossa sofrida e labutante história, através da série "Grande Sertão Veredas".
No universo mágico do escritor regionalista Guimarães Rosa, o bem e o mal representam o sonho de amor à liberdade de centenas de mineiros humildes que se confrontam em uma época do início do século, quando o país era envolvido por ideias federalistas e pela força do poder das províncias que amparadas pelos exércitos e jagunços combatiam as tropas do governo.
Um dos elementos singulares que me chamou a atenção é a figura de uma mulher, Diadorim, que anula sua postura de mulher e vira Reinaldo para conseguir proteger e guardar seus valores espirituais.
Não recordo o nome, mas já li, de um grande escritor, que disse: "Muitas vezes a vida imita a ficção ou a ficção se faz realidade".
Recentemente, o nosso Museu Cultural ofereceu a uma seleta equipe de professores um riquíssimo e histórico seminário sobre as Revoluções Gaúchas.
Descobri fatos sobre Borges de Medeiros, Ramiro Barcelos e tantos homens cachoeirenses, que colocaram suas ideias e provocaram revoluções para o Rio Grande do Sul tivesse vez e voz no cenário político nacional.
Conversando com minha ex-aluna Ione Sanmartin, lhe contei que conhecia uma senhora de 83 anos, qua participara das Revoluções de 1923, 24, 26 e 32, e é conhecida da população da Zona Alta como "Cabo Toco". Foi então, que encontrei Dona Olmira Leal de Oliveira morando sozinha em um casebre sem água e sem luz, na Vila Ponche Verde. No passado Dona Olmira, assumiu o lugar de voluntária no Regimento da Brigada Militar exercendo a função de enfermeira e lutando com despreendimento e bravura, esquecendo-se das limitações que a sociedade de então impunha ao seu sexo, não ser macho. Mesmo assim conquistou o posto de cabo e nos anais da história está registrada como Cabo Olmiro, encobrindo suas situação de mulher.
Uma equipe de professores que pesquisa sobre as revoluções deseja entrevistar e gravar depoimentos sobre a vida da D. Olmira, no contexto das revoluções gaúchas. Porém, ela está totalmente surda.
Seria bom conseguir um aparelho para surdos, com isto ela se sentiria mais segura em responder as perguntas. Quando eu a encontrei, ela estava lendo o Jornal do Povo, o artigo da professora Maria Eunice, "Antonio Chimango" e foi logo dizendo: "Vilma, sabes, Chimango era o Borges. Eu lhe perguntei como ela conseguia o jornal. Respondeu-me que três vezes por semana vai buscá-lo na redação. Alguém lhe deu uma assinatura de presente por dez anos. Agradeço aos médicos Romeu Scarparo, Zélia, as enfermeiras que trabalham na enfermaria e a Irmã Teófila, pois durante cinco dias cuidaram de Dona Olmira, que foi afetada por um ataque de asma.


Publicado por Vilma de Oliveira Zanini
1985
Jornal não identificado (se Jornal do Povo ou O Correio, ambos de Cachoeira do Sul, RS)

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