Orgulho!

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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

A REVOLUÇÃO DE 1930


O Brasil após 1930: mudança histórica e grupos sociais

Icaro Bittencourt*

Os 80 anos da chamada “Revolução de 30” têm inspirado muitos textos e reflexões pelo Brasil afora. Dentre as inúmeras problemáticas que podem ser discutidas a partir do tema, uma me interessa em especial: a relação entre mudança histórica e grupos sociais no Brasil.
O fim da Primeira República oligárquica, hegemonizada pelas elites paulista e mineira, e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder no início da década de 1930 do século passado pode ser considerado o primeiro grande momento de mudança na história republicana brasileira. A partir daí, alterações significativas ocorreram na estrutura política, social, econômica e cultural brasileira, com a modernização e industrialização do país, a regulamentação das relações de trabalho urbanas, a formação de uma identidade nacional e a tentativa de construção de uma sociedade corporativista.
Essas mudanças, no entanto, são interpretadas muitas vezes como uma iniciativa apenas das elites e dos grupos políticos atrelados ao Estado e que, apesar das alterações significativas provocadas na sociedade brasileira após o Movimento de 30, aquelas transformações teriam apenas reconfigurado em outras bases a dominação das elites brasileiras sobre a classe trabalhadora. Assim, ficou famosa a comparação desse processo histórico com as palavras do aristocrata italiano do livro de Tomasi di Lampedusa, O Leopardo, eternizadas no cinema com o belíssimo filme de Luchino Visconti: “É preciso que as coisas mudem de lugar para que permaneçam onde estão”.

Tematizando o Risorgimento italiano no século XIX, essa expressão do conservadorismo em metamorfose virou o slogan interpretativo de diversos contextos históricos nos quais os grupos dirigentes resolveram promover algumas mudanças sociais “antes que o povo as fizesse”.
Apesar desta análise ser pertinente à primeira vista, uma pergunta importante deve ser feita: esta suposta ausência de participação dos grupos e movimentos sociais nas mudanças históricas no Brasil seria uma característica concreta de nossa realidade ou essa interpretação é fruto de discursos de poder que tentam perpetuar a idéia de que o Estado brasileiro e as elites que o controlam são os demiurgos da história nacional?
A resposta para essa pergunta não é simples e muitas versões sobre ela preocuparam historiadores e cientistas sociais. Isso porque as duas variáveis da pergunta estão intrinsecamente relacionadas. Apesar das lutas históricas dos trabalhadores para garantirem seus direitos frente à exploração do trabalho (motivação principal da legislação trabalhista), os canais de participação popular sofreram ao longo da história brasileira um processo de criminalização intransigente, incluindo aí o próprio governo Vargas que prometia oficialmente transformar a “questão social” em “caso de política” e não de polícia.
Assim, a tradição repressora aos movimentos sociais somada ao caráter elitista das interpretações da história brasileira forjou uma “história sem povo” e, pior do que isso, uma história sem grupos sociais distintos disputando projetos de sociedade, perpetuando uma visão da sociedade brasileira (com claro viés paternalista) como passiva e dominada pelo Estado, na qual a população e seus diferentes grupos sociais formadores não teriam condições de propor mudanças concretas para o país e, menos ainda, de realizá-las. Mesmo que a atuação de sindicatos, movimentos sociais e diversos grupos atestem a implausibilidade dessa “história sem povo e sem classes sociais”, este discurso ainda alimenta uma boa parcela da desmobilização política que caracteriza parte da sociedade brasileira.

Mas desde pelo menos o início da década de 1980 com o livro “O silêncio dos vencidos” de Edgard de Decca, que mostrou os projetos políticos alternativos ao Movimento de 30 e como a interpretação histórica sobre esse período ocultou as divergências entre eles (colocando o grupo de Vargas como a única solução para os problemas do país) devemos ficar atentos a essa prática dos grupos políticos brasileiros de negar legitimidade às propostas dos adversários (como essa eleição de 2010 deixou evidente) e, mais do que isso, à prática de negar aos grupos sociais a autonomia necessária para a formulação de propostas e para a tomada de ações que tenham por objetivo a mudança concreta da realidade social do país.

Assim, o convite que faço é que a reflexão sobre os processos de mudança histórica no Brasil trabalhem no sentido de clarificar os diferentes projetos de sociedade em disputa, pois eles são a matéria-prima na construção de uma política no país que supere essa democracia sem adjetivos, na qual a participação popular restringe-se quase que exclusivamente ao processo eleitoral. Ou seja, democracia sem movimentos sociais e política sem disputas de projetos de sociedade não são mais do que formalidades do processo de dominação social.


* Professor de História

EM CACHOEIRA SUL:

Revolução de 1930

Transcrito por João Carlos Mór, da Revista Centenário de CACHOEIRA DO SUL, editada em 1959 pelo jornalista Humberto Attílio Guidugli
Banco de Dados do Museu Municipal

"Como deu-se o levante em Cachoeira
Mais ou menos às 5 h da tarde de 3 de outubro de 1930, irrompeu pela rua 7, fazendo a vanguarda, um carro trazendo o tenente Ciro Carvalho de Abreu que ostentava um lenço encarnado ao pescoço, sendo aclamado por grande multidão, manifestação essa que mais se aceantuava com as explosões de vivas a causa da revolução.
O povo em massa se encaminha para os quartéis do exército, onde, no quartel do 3º G.I.A.P., já se encontravam os majores Argemiro Dornelles (pai de Luiz Lopes Dornelles, oficial da aeronáutica quem em 1942 constituiu o 1º Grupo de Caça da FAB que sob o comando do também cachoeirense major Nero Moura, lutou e morreu na segunda grande guerra em que o Brasil participou na Europa. O grifo é da equipe do Museu Municipal) e Graciliano Fontoura acompanhados dos tenentes Henrique e Orlando Geisel, Gilberto Marinho, Mucio Sampaio Ribeiro e Antonio Vasconcelos, que assestaram quatro possantes canhões contra o quartel do 3º Batalhão de Engenharia.
Todas as janelas daquele quartel estavam minadas de soldados revoltosos, de armas embaladas, prontos para ordem de fogo.
Expedido um convite à força legalista para que apoiasse imediatameante o movimento ou então entregasse o quartel, obtiveram os revolucionários a seguinte resposta:
"Os oficiais rendem-se"!
Com esta decisão o povo que se achava nos quartéis dos 3º G.I.A.P, prorompeu em vivas à causa da revolução, enquanto eram presos os oficiais da legalidade.
Após, foram recolhidos presos à Intendência Municipal, os seguintes oficiais, sob a vigilância de uma força da brigada:
Coronéis Luiz Mariano de Andrada, comandante do 3° B.E. e Felício Lima, comandante do 3º G.I.A.P; capitães Helio Cotta Gonzales, Alberto Segggiaro, Abd Pinto e Ângelo Notare; tenentes Guarani Frota, Liberato da Cunha Friedrich, José Valença, Nilo Cruz, Hilton Tavares, Mário Campos, Corinto Castanho, Ernani Mazzini, J. Falkenbach, João Rodrigues e José Elias Ajuz.
Aderiram em seguida ao movimento os capitães Helio, Abd e Notare e os tenentes Liberato Hilton, Corinto e Falkenbach.
Momentos depois, foram ocupados o Telégrafo e a Telefônica, que se efetivou com toda a ordem.
Sobre o desenrolar de todos os acontecimentos, o grande tribuno Dr. João Neves da Fontoura, dava por intermédio de conferências telefônicas com os próceros revolucionários, os detalhes da causa vitoriosa em sua terra natal.
Em nome do governo provisório da República, os drs. Orlando Carlos e Glicério Alves, retiraram-se da sucursal do Banco do Brasil toda a importância em caixa e recolhendo-à filial do Banco da Província.
Alguns dias depois, foi organizada uma coluna de quase 1.000 homens que, sob o comando do major Dorneles, embarcou em composições da Estrada de Ferro, com destino ao front."




VOLUNTÁRIOS DE CACHOEIRA


Orlando da Cunha Carlos, Glicério Alves e João Neves da Fontoura

Em 12 de outubro de 1930, partia a corporação de "Voluntários de Cachoeira", rumo ao front das operações em oposição ao Governo Legalista, contra o qual se insurgiam diversos estados, inclusive o nosso.
Nesse dia, a população acorria à gare da Estação da Viação Férrea para manifestar também a sua admiração ao futuro chefe da Nação, Getúlio Vargas, que se fazia acompanhar por altas personalidades, das quais se destacavam o general Flores da Cunha e João Neves da Fontoura, um dos grandes líderes do movimento revolucionário.
No momento em que o comboio deu o sinal de partida, a multidão ovaciounou os nomes de Getúlio Vargas, João Pessoa, presidente da Paraíba, covardemente assassinado, Flôres da Cunha, Osvaldo Aranha, João Neves e outros próceres revolucionários, seguindo-se estrondosas aclamações à guapa corporação dos Voluntários, que era constituída, além de outras pessoas, por:

* João Neves da Fontoura
* Glicério Alves
* Milan Krás
* Henrique M. de Barros
* Major Carlos Gama
* Capitão Clemente Cunha
* Tenente Ari Ghignatti
* Diamantino Carvalho
* Torquato Ferrari
* Draceli Costa
* Carlos Souza
* Amâncio Ramos

Aquarela. Ag. 60
Fonte: Banco de Dados do Museu Municipal


AOS QUE PARTEM
Mensagem de Aurélio Porto aos revolucionários de Cachoeira de 1930

Conjugando as energias nativas da raça, ressurge o Rio Grande dos tempos heróicos.
Crepitante, as chamas dos entusiasmos se propaga, e já, transformada em comunhão formidável, mantém o fogo perene do civismo gaúcho.
Exemplo sem par,superior mesmo aos dos grandes dias da Pátria, estamos insculpindo em páginas redivivas da história nacional. Vivemos horas que ficarão. Ficarão na sua vibração incomparável, cristalizadas na alma emocional do nosso povo.
As hostes que se levantam, galvanizaadas pelas forças conscientes do dever supremo, os que passam pelas ruas, rumo da vitória, os que partem cheios de esperança, os que ficam, aureolados pela emoção, esse estranho vaivém - simbólico avatar de uma vida nova - tudo evidencia que somos um povo que soube manter ileso o patrimônio legado por seus avós.
Segui! Fronte erguida como sói ser a dos fortes. Combatei o bom combaate da verdade e da causa nacional. Coroa-vos a vitória, espera-vos a palma triunfal, de bronze imperecível, que as gerações futuras, abençoando-vos, colocarão sobre as vossas cabeças.
Ide! Os que ficam, milhares de corações, numa cadeia fraternal de vontades, acompanhar-vos-ão, passo a passo, etapa a etapa, pelo caminho da glória, aberto por vós ao Rio Grande.
E quando lutardes, entre os estampidos alucinantes da metralha, tenho certeza de que sobre os vossos ânimos, erguendo-os, fortalecendo-os, ecoará a voz longínqua do pago, nas doces harmonias sempre inéditas, feitas de todas as orações dos que por vós rogam a Deus, dos incitamentos dos que escondem as lágrimas em brados de entusiasmo, e dos aplausos glorificados dos vossos irmãos que ficam.
Gaúchos, honrai o Rio Grande!


Fonte de Dados do Museu Municipal

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