Orgulho!

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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A moeda e o milhão de mortos

NO PASARÁN (Dolores Ibarruri, La Pasionaria)


Livro de Érico lançado em 1940, um romance sobre a Guerra Civil, baseado no diário de um
ex-brigadista brasileiro que, terminado o conflito, também conheceu as boas condições de vida em um campo de concentração francês.     
"FRANCISCO FRANCO CAUDILLO DE ESPAÑA POR LA GRACIA DE DIOS"
A Moeda

Há um tempo atrás resolvi dar uma caprichada na limpeza de uma escrivaninha que comprei já usada. Removida a torre de gavetas, observei dentro do "buraco" delas, entranhada/espremida, uma moeda (percebi logo pelo formato). Qual não foi minha surpresa quando vi do que se tratava: uma moedinha (mais ou menos igual ao tamanho da de 1 centavo), espanhola de 1959, ainda do amargo tempo do ditador Francisco Franco (1939-1975).

      Francisco Paulino Hermenegildo Teodulo Franco Y Bahamonde nasceu em El Ferrol, na Galiza. Pertencia a uma família cujos homens serviam como soldados e burocratas da Marinha Real Espanhola. De estatura baixa e voz anasalada, Francisco Franco fugiu à regra, tornando-se oficial de artilharia do Exército. Em 1912 foi destacado para servir no 58º Regimento da África, e em 1920 tornou-se sub-comandante da Legión Española. Promovido sucessivamente até alcançar o generalato, pelas vitórias que alcançou no Rif e por sufocar pela violência o levante dos mineiros das Astúrias, em 1935 foi nomeado chefe do Estado-Maior do Exército. Afastado de Madri depois da vitória da Frente Popular, ocupou o cargo de comandante-chefe das Forças Armadas espanholas na África.
Verso da pequena moeda

FRANCISCO FRANCO  

      Comandou a insurreição militar de 1936 e tornou-se chefe supremo das forças nacionalistas durante a Guerra Civil Espanhola. Terminado o conflito, em 1939, deixou atrás de si um rastro de um milhão de mortos, um país traumatizado. em setembro, iniciar-se ia a II Guerra Mundial. Assumiu o poder e governou ditatorialmente o país até morrer, em 1975 quando a Espanha voltou a ser uma monarquia sob a batuta do rei Juan Carlos (aquele que foi pego com a boca na botija, caçando recentemente elefantes na África ...).

 






Federico Garcia Lorca (1896-1938), brilhante e talentoso, antifascista e antifranquista foi umas das vítimas que tombou pela brutalidade das forças de reação de Franco. Foi fuzilado entre os dias 18 e 19 de agosto de 1936. 
Calou-se o corpo e nasceu para a eternidade sua obra.
Franco, o matador de poetas!



Infelizmente, os partidos políticos e organizações sindicais
espanholas (até 1939) eram demasiadamenate demais ...
Uma vez eu li ou alguém me disse: que as esquerdas só eram unidas na prisão ...

PRINCIPAIS PARTIDOS

1) PSOE: Partido  Socialista Obrero Español, fundado em 1879 por marxistas.

2) UGT: Unión General de los Trabajadores, central sindical socialista fundada em 1888.

3)  Confederación Nacional del Trabajo, central sindical fundada em 1910.

4) FAI: Federación Anárquica Ibérica: grupo político anarquista.

5) PCE: Partido Comunista Español: fundado em 1921. Caracterizava-se por seguir a orientação do Partido Comunista da União Soviética.

6) Ceda - Confederación Española de Derechas Autónomas: coligação de grupos católicos e monarquistas de direita, criada para concorrer às eleições de 1933.

7) Falange Española Tradicionalista: grupo fascista criado em 1933. Em 1937 passou a denominar-se Falange Española Tradicionalista de las Juntas de Ofensiv Nacional Sindicalista.

9) Poum: Partido Obrero de Unificación Marxista: fundado em 1935 por antigos membros do PCE. Influenciado por Trotsky, rejeitava a orientação stalinista do Partido Comunista soviético.


10) JSU: Juventudes Socialistas Unificadas: associação das juventudes comunista e socialista, organizada em 1936 e controlada pelo PCE.

11) Partí Socialista Unificat de Catalunya: criado em 1936 como resultado da fusão de dissidentes socialistas e comunistas e que se transformou no partido comunista catalão.



Fonte: A Guerra Civil Espanhola, série História em Movimento, 
José Carlos Sebe Bom Meihy e    Cláudio  Bertolli Filho, 1996, Editora Ática.

GRANDES FILMES













INTELECTUAIS, ARTISTAS E JORNALISTAS

 
Acima, André Malraux  e abaixo, George Orwell
                                                                     
                                                                     Ernest Hemingway
          
 Albert Camus

 Pablo Neruda


André Malraux, partidário dos comunistas, reuniu
cerca de vinte aviões, pilotos e mecânicos de seu
país, e formou uma esquadrilha própria para lutar
na Espanha. Escreveu livros e dirigiu um filme sobre
o conflito.

George Orwell, chegou à Espanha para lutar como
soldado comum nas colunas do Poum (Partido
Obrero de Unificación Marxista). Foi ferido em
combate depois de permanecer quatro meses nas
trincheiras.

Ernest Hemingway, autor do romance Por quem os
sinos dobram, certamente o texto literário mais famoso
sobre a Guerra Civil Espanhola. Enviou farto material
noticioso para os jornais americanos e escreveu a peça
teatral 'A quinta-coluna', sobre os espiões
nacionalistas infiltrados nos exércitos republicanos.

Pablo Neruda, desenvolveu contínua campanha em
favor da redemocratização espanhola, opondo-se ao
governo franquista. Participou do II Congresso
Internacional de Escritores para a Defesa da Cultura,
de tendência antifascista, em 1937.

Albert Camus, atuou na mesma linha do poeta
comunista Pablo Neruda. Tornou-se notável porta-
voz do antifranquismo.

Carlos Drummond de Andrade também compôs versos sobre o conflito. Em Notícias da Espanha, o poeta fala sutilmente da censura às notícias sobre a guerra civil.

Aos navios que regressam
marcados de negra viagem,
aos homens que neles voltam 
com cicatrizes no corpo
ou de corpo mutilado

peços notícias de Espanha
[...]

O RIO GRANDE DO SUL NA GUERRA CIVIL ESPANHOLA

Hermenegildo de Assis Brasil* (1910-1941)

Militar e militante comunista. Revolucionário profissional. Natural de Cacequi, sobrinho de Assis Brasil, comandante político da Revolução Maragata de 1923. Alistou-se três vezes no Exército Brasileiro. Nas três ocasiões, foi expulso por subversão, preso e conseguiu fugir. Participou do levante militar de 1935, sendo novamente detido, mas escapou de forma espetacular para alistars-e nas Brigadas Internacionais que atuaavam na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Em 1938, na Sierra de San Cornélio, nas montanhas dos Pirineus, comandando um pequeno pelotão, aprisionou um batalhão de 720 integrantes do exército franquista depois de vencê-los na Batalha de Piedras de Aôlo, conquistando o posto de capitão. Confinado em campo de concentração, na França, morreu em fuga, lutando, em 4 de julho de 1941.

João Moll Baptista (1884-1941)**

Gráfico e encanador, espanhol, natural de Carcagente, Valência. Sem raízes no nosso movimento operário, chegou aqui no Rio Grande do Sul às vésperas da greve geral de 1917 e firmou-se, no decorrer da mesma, com um de seus agitadores mais radicais. Preso, cumpriu pena por ter participado desse movimento. Franquista fanático, tentou participar da Guerra Civil Espanhola e chegou a editar, aqui no Estado, El Nacionalista Español (1937). Faleceu em Porto Alegre em 1941.
** Atuou ao lado das forças fascistas de Franco

José Gay da Cunha (1911-1987)

Militar e revolucionários. Comunista. Natural de Porto Alegre. Estudou na Escola de Guerra do Realengo. Por ter participado da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em 1935, foi excluído das Forças Armadas e condenado a oito anos de prisão. Exilado em Buenos Aires, foi lutar na Guerra Civil Espanhola, onde comandou a famosa Brigada Lincoln. Entre seus comandados, estavam Hermenegildo de Assis Brasil* e Nemo Canabarro Lucas. Gay da Cunha foi gravemente ferido na batalha do Ebro.
Voltou ao Brasil, anistiado em 1945. Formou-se em Direito e foi funcionário da Caxia Econômica Federal no Rio Grande do Sul. Jornalista, escreveu no Diário de Notícias e na A Hora, de Porto Alegre. Autor de Um Brasileiro na Guerra Civil Espanhola (Porto Alegre: Globo, 1964).
Fonte: Dicionário Ilustrado da Esquerda Gaúcha
Anarquistas
Comunistas
Socialistas
e Trabalhistas
Editora Livraria Palmarinca, 2008, Porto Alegre



Em 1956, Jorge Amado também tratou do tema na trilogia Subterrâneos da liberdade. No segundo volume, o autor aborda a recusa dos marinheiros do porto de Santos em transportar café para a Espanha Franquista.
Monteiro Lobato (foto em preto e branco), um dos intelectuais mais perseguidos pela política de Vargas, traduziu na cadeia, em 1941, o romance Por quem os sinos dobram, de Ernest Hemingway. Com essa tradução, Lobato procurava romper o silêncio imposto pelos órgãos de censura do Estado Novo.

Fonte: A Guerra Civil Espanhola, coleção História em Movimento, Editora Ática, 1996, São Paulo



 Considerações finais

Finda a Segunda Guerra Mundial, Franco esperou que a ajuda internacional beneficiasse a economia espanhola. Para tanto, definiu seu país como a “sentinela do Ocidente”. Deixou claro que negociaria com as nações capitalistas no sentido de agir como ponto estratégico contra a possibilidade de a União Soviética querer expandir sua influência em direção à península Ibérica e ao norte da África.
A definição espanhola em relação às nações envolvidas na guerra fria, porém, surtiu efeito somente na metade da década de 1950, quando o presidente norte-americano Dwight Eisenhower passou a conceder ajuda econômica à Espanha. Em troca, o generalíssimo permitiria o estabelecimento no país de numerosas bases militares americanas. Em seguida, o Estado franquista foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e beneficiado por vultosos empréstimos concedidos pelo Fundo Monetário Internacional  (FMI).
Com a ajuda externa, a Espanha pôde dar um impulso moderno à economia, favorecendo a mecanização da agricultura e a expansão do parque industrial. Mesmo assim, a ditadura manteve o país fechado à influência estrangeira, retardando por um tempo demasiadamente longo as transformações econômicas que já vinha se operando nas nações vizinhas.
Em 1945 ainda existiam mais de 140 mil prisioneiros políticos na Espanha. Os sindicatos estavam proibidos , assim como partidos políticos e qualquer agremiação que pudesse manifestar-se contra a ditadura. Os intelectuais e os líderes de esquerda era frequentemente presos ou "desapareciam'. Outros eram forçados a deixar o país. Tudo isso retardou o desenvolvimento científico e cultural da Espanha, que se manteve, durante muito tempo, entre as regiões mais atrasadas da Europa.
Para marcar a dimensão personalista imposta a seu governo, em 1942 o generalíssimo ordenou a construção de um imenso mausoléu, utilizando para isso o trabalho forçado de dois mil presos políticos. Inaugurado a 1º de abril de 1959, quando se comemorava o vigésimo aniversário da vitória franquista, o Valle de los Caídos, como ficou conhecida a obra, foi erigido em rocha bruta, contando com uma cruz de 150 metros de altura e que pode ser vista a cinquenta quilômetros de distância. A explicação oficial para sua construção foi a de que o monumento era destinado a homenagear os mortos na guerra civil. Na verdade, seu destino era outro: servir de túmulo para o ditador.
 Trabalho escravo dos prisioneiros republicanos
 Inauguração
Mausoléu faraônico de Francisco Franco








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