Orgulho!

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sábado, 11 de agosto de 2012

FREI TITO DE ALENCAR LIMA

Se digo amor
Só é por alguém
É pelos malditos
Deserdados deste chão

Novena, Beto Guedes

Frei Tito de Alencar Lima (14.09.1945 - 10.08.1974)

    Ontem foram lembrados os 37 anos da morte do Frei Tito. Agradeço ao amigo Flávio Dalforno por ter me chamado a atenção para esta data carregada de melancolia. No tempo que Frei Tito passou na França, mais ou menos cinco anos, ele tinha alucinações intercaladas com lucidez. Mas o mal não venceu.
    Enquanto lembro dele com respeito e tristeza ao mesmo tempo, lembrarei sempre de todos aqueles que estiveram sob a tutela do aparato policial do Estado e que deveriam ter tido garantidas sua integridade física e moral. Mas não foi o que aconteceu. 
Quanto à quadrilha de sádicos que usou e abusou dos corpos e das vidas dos presos, para eles tenho somente duas palavras: o horror, o horror ...     
    Frei Tito foi torturado durante 40 dias pela equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, e, em seguida, transferido para o Presídio Tiradentes, onde permaneceu até 17 de dezembro (de 1969). Nesse dia, foi levado para a sede da OBAN, onde o conhecido torturador capitão Maurício Lopes Lima lhe disse: "Agora você vai conhecer a sucursal do inferno". 
     Frei Tito foi preso em 1968 sob a acusação de ter alugado o sítio onde se realizou o 30º Congresso da UNE, em Ibiúna, SP, e novamente em em 04.11.1969, em companhia de outros frades dominicanos acusados de manterem ligações com a ALN e seu líder Carlos Marighella.
     Enforcou-se numa árvore de um bosque ao redor do convento S. Jacques em Paris. A morte foi seu último ato de coragem e protesto. Foi enterrado no cemitério de Sainte-Marie-de-la-Tourette. Em 1983, seus restos mortais foram trasladados para o Brasil e acolhidos solenemente na Igreja dos Dominicanos, em Perdizes, em SP, capital, ao lado dos restos mortais de Alexandre Vanucchi Leme, morto em 1973.
Fonte: Direito à Memória e à Verdade, Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Brasília.



(Poema sem título, 1964)

Lila Ripoll [1905, Quaraí - 1967, Porto Alegre]


Não. Não aceito este vento
Como eterno.
Nem o céu toldado
como paisagem possível
Nem a música absurda dos tambores
quebrando o ritmo da melodia verdadeira.

Não. Não aceito a mutilação
de meu espírito.
De meus passos,
Da brasa de sonho
que arde dia e noite no meu peito.

Não Não aceito a vida
emoldurada em formas imutáveis;
as estrelas sem brilho; as vozes fechadas na garganta;
códigos substituindo pensamentos;
a neblina nos olhos; as palavras esmagadas.

Não. É preciso que amanheça.
Que se ouçam os cantos líricos
dos pássaros.
Os cantos nítidos daa vida.
A voz dos homens rompendo o silêncio de chumbo.

É preciso que amanheça.
Que música contida
irrompa caudalosa,
como um rio que deixa o leito
a procura do mar.

Fonte: Prêmio Lila Ripoll de Poesia, 2009
Coletânea de Poesias
Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul
Organizadores: Anália Sanches Dorneles e Neuza Silva Soares 

 

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