Orgulho!

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quinta-feira, 23 de agosto de 2012

MUITO MAIS AMÉRICA!


Menino peruano descendente dos filhos do sol, os incas.

MAIS AMÉRICA

Quando tinha dez anos, cursava a quarta série primária. Eram tempos anteriores à Reforma do Ensino de 1972, que unificou o primário e o ginásio criando o hoje chamado ensino fundamental.
Numa aula de Estudos Sociais, estávamos concentrados no trabalho com mapas quando a professora interveio em meio à “pintança” dos mesmos e solicitou que usássemos no Chile o vermelho, porque acontecia “algo” por lá. Corria o ano de 1968.
Não me lembro se aprendi sobre o Chile. Acho que ninguém entendeu o Chile, muito menos o porquê da cor naquele momento e, no entanto, o inusitado pedido ficou armazenado em algum nicho da memória.
E a História daqueles anos passava na janela e só a “Carolina” Renate não via. Os livros didáticos eram áridos. Os registros em caderno, mais solicitados. Havia um vácuo, e eu não sabia.
Os anos de exceção revezavam-se nos trancos e barrancos.
Em 1972, minha turma foi conduzida ao Ginásio de Esportes para a inauguração da III Fenarroz. Foram muitas palmas para o descendente de bascos, Emílio Garrastazu Médici. Regressamos orgulhosos, pois havíamos conhecido pessoalmente, e pela primeira vez, um Presidente do Brasil.
Só fui entender a amplitude destes dois momentos muitos anos depois e, para não faltar com a verdade, não sei se entendi ainda direito sobre os acontecimentos da ascensão e queda do médico socialista eleito presidente do Chile, Salvador Allende, fuzilado no Palácio Presidencial de La Moneda, em 1973.
O buraco negro - largura 1964 x comprimento 1985 x profundidade 21 - ainda deve suas explicações.
A abertura política aliviava o ranço e oxigenava as editoras. A liberdade voltava a colorir páginas impressas.
E os livros didáticos alcançaram a onda. Ganharam inserções opinativas e textos jornalísticos. E o professor, antes cerceado porque refém, despedia-se da água morna e do chove-não-molha.
Com tais mudanças, fui percebendo a necessidade de um novo norte , uma nova História que enfatize menos a Antiguidade Oriental, o Mundo Clássico e Europeu. Tais temas terminam por consumir quase toda a comida do prato. Os jovens, cheios de presságios, curiosos de sufrágios e fartos de deságios, precisam de mais América e Brasil, mais Rio Grande do Sul e Cachoeira. Mais músculo, gordura e osso da terra continental que abriga a suas vidas e lutas.
Dos velhos cemitérios indígenas, o retorno dos espíritos de Touro Sentado, Gerônimo, Cavalo Doido, Montezuma, Atahualpa, Tupac Amaru, Cunhambebe, Sepé Tiaraju atiçaria novas curiosidades e reações.



Menina habitante do Lago Tititica

Mais América!


Cantuta, a flor nacional do Peru

Do nosso país negro, poucos ouviram falar do advogado mulato Luís Gama, especialista em libertar escravos; do abolicionista José do Patrocínio e do “triste fim” de Lima Barreto.
O porquê de tanta amargura nos versos de Augusto dos Anjos, no homem do seu poema, o Homo Infimus , “carne sem luz, criatura cega, realidade geográfica infeliz”. O porquê do filho de escravos alforriados Cruz e Souza ter tido recusada sua indicação para a promotoria de Laguna. Resposta: cor da pele.
Alguém sabe da vida e obra de José Maurício Nunes Garcia, filho de uma mestiça e de um negro alforriado, designado Mestre de Capela Real por D. João VI?
Mais Brasil!
Quem sabia que o marinheiro João Cândido Felisberto, o “Navegante Negro”, que pedia o fim da chibata na Marinha do Brasil, durante o governo do marechal presidente Hermes da Fonseca, era gaúcho?




Mais Rio Grande!
Sabes quem foi Cabo Toco?

Mais Cachoeira!




Flores do altiplano peruano. O lugar é próximo a Machu Pichu.

Texto publicado no Jornal do Povo na edição de 29-30 de agosto de 2010 na coluna de Eduardo Florence por ocasião das suas férias.
Fotos: gente e flores do Peru nas imagens de Liane Schmidt.
Fragmento scaneado de jornal: jornal Correio do Povo de 20 de junho de 2002.

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