Orgulho!

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

MERCADO PÚBLICO, SEMPRE UMA LENDA A NOS ASSOMBRAR

Corina de Abreu Pessoa conta:

"No princípio do ano seguinte, meu pai foi nomeado chefe da estação telegráfica de Cachoeira e passamos a residir à rua 7 de Setembro, na praça José Bonifácio, que era chamada "das Palmeiras", por causa das belas árvores que a circundavam.
Quando floriam era uma beleza, mas, quando os seus frutos começavam a abrir e a espalhar a sua penugem, era um martírio! Por esse motivo foram cortadas e substituídas ...
No centro dessa praça estava o MERCADO, bela construção quadrilateral, onde o cachoeirense encontrava carne, verdura e frutas. Tendo quatro entradas com portões de ferro, o Mercado dispunha de um pátio ladrilhado, com tanques para as verduras e água em abundância.
Cachoeira progrediu. As ruas foram calçadas. Bonitas casas foram construídas. Os excelentes Prefeitos que Cachoeira teve deram-lhe água, esgotos e luz elétrica. A praça foi remodelada e o Mercado passou a ser considerado um MONSTRENGO!
Era um marco do passado colonial. Representava a "presença" constante da construção antiga, constrastando com as linhas modernas dos novos edifícios e com a vida atual.
Decretou-se-lhe a DEMOLIÇÃO em nome da "ESTÉTICA" e do progresso da cidade arrozeira. Para substituí-lo aí está a feira! A estética urbanística foi salva, mas a cidade perdeu o lugar adequado para vender e comprar seus produtos, sem deixar a sujeira e o mau aspecto de um monturo no centro urbano!...
Será mais estético o abarracamento da feira, com as suas carroças, caminhões e todo o seu "trem"? Será mais econômico, mais higiênico?...
A estas horas o velho Mercado já deve estar arrasado e em seu lugar se erguerá um majestoso "arranha-céu" para dizer aos cachoeirenses que mais vale ser empilhado vivo em apartamentos de luxo, do que ter um edifício do tempo de D. João VI**. Mais vale um gosto do que seis vintens!...
Passemos adiante.


** O Mercado Público foi construído durante o II Império.

DO LIVRO ALFREDO LEAL*, UM BRASILEIRO ESQUECIDO
Corina Pessoa

Impresso em 20 de junho de 1959
Oficinas gráficas da Livraria Selbach
Porto Alegre
Comercializado pela Livraria Sulina

* ALFREDO LEAL, FARMACÊUTICO, BAIANO,FUNDADOR DA ESCOLA MEDICINA DE PORTO ALEGRE, JUNTAMENTE COM VALENÇA APPEL E JOÃO DAUDT

O Mercado Público da cidade de Cachoeira do Sul foi planejado a partir das necessidades, diante do avanço da cidade, para que se concentrasse num lugar estratégico, o comércio e prestação de serviços com características diversificadas.
Corria o ano de 1883, a seis anos da República, quando o conjunto foi entregue aos cachoeirenses.
Quantos foram os seus anos de fartura? Quarenta? Cinquenta?
Se foi ponto de "convergência das elites", conforme consta na matéria do jornal 'O Comércio', também foram as elites que dele divergiram, isto é, tomaram a decisão de destruí-lo.
De novo as forças vivas cachoeirenses entram em ação.
Pois obviamente que não foram os descamisados que tomaram a decisão de demolir os MAIS IMPORTANTES PRÉDIOS HISTÓRICOS DA CIDADE, subtraindo nacos do potencial turístico da HISTÓRICA CACHOEIRA!


Mercado Público - CM*/V/OF - 012 - retro

Contrato da Construção de um mercado na Praça José Bonifácio, arrematado em 29.11.1881, por Crescêncio da Silva Santos pela quantia de 22:600,000.

20 verso - Art. 1º - O Mercado será construído perfeitamente no centro da Praça José Bonifácio = que tem atualmente por divisa da parate (este o seguimento da rua Moron, tendo a mesma distância para os quatro lados.

Data: 05/12/1881


Despesa da Câmara Municipal da Cachoeira no exercício de 1881 a 1882
Lei Provincial nº 1333
27 de março de 1881

Juros para o empréstimo de 25:000 réis autorizado pela lei nº 1210 de 1879 e pela presidência.
Obras do Mercado desta cidade autorizado pelo art. 4º da lei nº 1335.
Paço da Câmara Municipal da Cidade de Cachoeira do Sul
Janeiro de 1883
Presidente: Francisco Gomes Porto
Secretário: Manoel Teixeira Cavalheiro


Imagem: cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima

IM/EA/SA/RL - 001
Copiador de atas
f. 9 r
"Em 30 de setembro de 1882 reúne-se a Câmara para receber o Mercado, para o qual já há locadores em 1º de outubro"

IM: Intentência Municipal
EA: Estatística e Arquivo
SA: Serviço de Arquivo
RL: Registro de Livros recolhidos 1909 (sub-série 1)

FONTE: Arquivo Histórico


Jornal O COMÉRCIO
Dia 9 de janeiro, quarta-feira de 1957

SETENTA E QUATRO ANOS APÓS A ENTREGA DO MERCADO PÚBLICO, ELE "SE ENTREGA":



SEGUNDA-FEIRA PRÓXIMA TERÁ INÍCIO A DEMOLIÇÃO DO VELHO MERCADO PÚBLICO
O material servirá para construção do Quartel dos Bombeiros

O velho e tradicional Mercado Público acha-se em agonia, praticamente em seus últimos momentos.
Segundo informações colhidas pela nossa reportagem, segunda-feira próxima terá início o começo do fim do velho e tradicional casarão.
A picareta inexorável do operário romperá aquelas antigas paredes, cujo vulto, já em tempos idos extasiaram os cachoeirenses de então. Por certo não será fácil dizer da alegria e dor que no seu recinto foram vividas. Precisamos considerar que, como tudo neste mundo de nosso Deus, o hoje velho mercado ou pardieiro mesmo já foi novo. E como tal teve o seu encantamento. Já foi o ponto de convergência das elites. Ponto de mexericos, também. E, por isso, dono de alguma graça e saudosas reminiscências.
Com a demolição do velho Mercado Público, lá se vai mais um marco da Cachoeira antiga.
O local do atual mercado será convenientemente ajardinado, estando prevista a construção de uma fonte luminosa, particularidade que por certo emprestará à Praça José Bonifácio, um destaque especial. O projeto de ajardinamento do referido local, está sendo elaborado pelos srs Joaquim Vidal e Willy Haas, desenhistas da Secretaria de Obras Públicas Municipal. Nesse projeto, pelo que estamos informados, está prevista a supressão do tráfico de veículos pela via de acesso que circunda o atual mercado. Todo o espaço será convenientemente ajardinado.
O material aproveitável da demolição que se processará, será empregado na construção do edifício do Quartel dos Bombeiros, que localizará em parte o terreno hoje ocupado pelo Almoxarifado da Prefeitura Municipal na rua Riachuelo.

Nas memórias de João Carlos Mór:




Mercado Público no meio da praça

No centro da Praça José Bonifácio, onde hoje está a Fonte das Águas Dançantes, existia o Mercado Público, uma construção de alvenaria com frente para todos os pontos cardeais, ou seja, entrada central em todas as faces. Cada face do mercado possuía cerca de 100 metros. Na face frente, lado oeste, na esquina com o lado sul, havia o açougue de Rocco Mainieri. Logo após o portão de entrada ficava o açougue de Ernesto Krieger, atendido pelo proprietário e pelo empregado Lobato.

Na esquina, face oeste/norte, existia um bar onde faziam ponto os proprietários de carroças de aluguel. No lado sul estava estabelecido o armazém de Hugo Stringhini. Mais tarde, o armazém passou para o popular Carrasco. Ao lado do portão de entrada havia a venda de Clodomiro Silva e no lado leste o almoxarifado da Prefeitura e outros depósitos ou salões de barbeiros.

Cigarros - No centro do mercado, havia uma banca de peixes onde diariamente podiam ser encontrados, ainda vivos, dourados, piavas, pintados, lambaris, etc., todos pescados no Jacuí. Nesses pontos do mercado, a gurizada comprava cigarros a granel, pois não havia dinheiro para comprar em carteiras. O preço de uma Regência, Liberty, Tufuma ou Quero-Quero era o mesmo: dois por um tostão. Com 500 réis comprava-se 10 cigarros e toda a turma ia para trás do cinema, sob a sombra das paineiras, fumar todo o estoque, pois não era aconselhado chegar em casa com cigarros no bolso.


Fonte de pesquisa: Arquivo Histórico Carlos Salzano Vieira da Cunha

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