Orgulho!

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sexta-feira, 27 de maio de 2011

O HOTEL DO COMÉRCIO NAS LEMBRANÇAS DE CORINA DE ABREU PESSOA


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Meu pai pensou em Cachoeira e resolveu embarcar no dia seguinte e lá esperar que o estado sanitário de Porto Alegre permitisse a nossa ida.
Seguimos no dia seguinte - 25 de abril. O destino conduziu-nos à cidade de onde não sairíamos mais! Cachoeira era a cidade desejada por meu pai. Cachoeira era a cidade onde ele sempre desejara morar! E assim foi.
Chegamos e hospedamo-nos em um hotel na rua 7 de Setembro, de propriedade de um senhor Guilherme Bartmann, que se achava foragido por questões políticas. A casa onde funcionava este hotel ainda existe, resistindo galhardamente, ao tempo e às reformas da arte moderna. Era o HOTEL DO COMÉRCIO. Ali estivemos algum tempo e ainda me lembro do café da tarde, com pão quente da padaria da "Bouna" que ficava em frente ao Hotel, do lado da rua travessa (a casa era de esquina), onde meus irmãos iam brincar.
Nesse tempo o pão era uma delícia e a manteiga puríssima! O Hotel constituía adaptação de casa antiga, mas serviam-nos muito bem. Não jantar não havia "feijão branco", nem água salobra.




Meu pai foi nomeado chefe da estação telegráfica de São Gabriel e levou os dois meninos mais velhos.
Cachoeira oferecia-nos aspecto de tranquilidade e bem estar, como não vimos nas cidades da fronteira. Bom clima. Boa água. Bom pão e boa gente!
Situada na margem direita do rio Jacuí, espalhava o seu casario branco pelas colinas verdejantes. Amplos e luminosos horizontes.
Cachoeira, nesse tempo de revolução, de lutas e invasões, era um "oásis" de paz! O tumulto revolucionários, com o movimento de tropas, não existia.




Notícias de combates, morticínios, chegavam atenuadas, quase diluídas! Se não fosse uma ou outra perseguição política, que às vezes aparecia, nem se sentiria o abalo da revolução em marcha!
Do hotel "O Comércio" passamos para casa de soteia, na rua Saldanha Marinho. Aí nasceu o meu oitavo irmão, - irmã, aliás.
Meu pai voltara de São Gabriel e esperava ser nomeado chefe da estação de Cachoeira.
Nessa ocasião correu a notícia da prisão de alguns cachoeirenses, acusados como inimigos políticos do governo. Houve pânico e alarme na cidade, porque os presos eram homens pacatos, de prestígio social, e exemplares chefes de família.
Dos prisioneiros, recordo-me dos nomes de três: Luziano Motta, João Jorge Krieger e Antônio Francisco Pessoa. Pertenciam eles ao Partido Federalista - eram MARAGATOS - e foram aacusados de atividades contra o governo estadual.
Foram presos pela ação direta e pessoal do então Sub-Chefe de Polícia, Dr. Augusto Borges de Medeiros. A notícia de que eles embaracariam para Cacequi, causou consternação na cidade, por todos sabiam o que significava "ir para Cacequi". Era o mesmo que ir para o Caty! Receberiam a "gravata colorada", nome pitoresco que davam à degola! ... Graças à intervenção de amagios influentes junto ao Governo, não foram para o Cacequi. Antônio Francisco Pessoa, que depois foi meu sogro, teve ordem de recolher-se a Porto Alegre, onde ficou com a cidade por menagem. Reintegrados na sociedade cachoeirense, voltaram aos seus labores: não foram mais molestados. De tudo isso, restou somente a lembrança do grande susto, causado pela trágica visão do "Cacequi".
Quem não ouviu contar as histórias trágicas do Caty e do Coronel João Francisco? Talvez fossem exageradas pelas paixões, pelos ódios, mas, até hoje, não houve quem as estudasse e estabelecesse a verdade a seu respeito ...


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Alfredo Leal, um brasileiro esquecido
Corina de Abreu Pessoa
Págs. 34 a 36

ASPECTO ATUAL DO HOTEL DO COMÉRCIO: a porção que alcançava a rua Sete já foi demolida há um longo tempo. A "sobra" dele agoniza.


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