Orgulho!

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segunda-feira, 30 de maio de 2011

AS VIAGENS DE TREM - SEGUNDA PARTE


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Imagem: rua Sete de Setembro

Grande é o progresso do Rio Grande do Sul.
Acabou tudo isto, menos os carros velhos da Viação Férrea e as estações principais. Houve a retificação das linhas entre Santa Maria e Porto Alegre, reduzindo as horas de viagem. Os trens adotaram o carro-restaurante, a fim de poupar ao passageiro desgaste de tempo nas descidas para as refeições.
Deve ter sido um grande melhoramento, mas privou o passageiro de fazer refeição substanciosa e tranquila. Como se sabe, o carro-cozinha fica perto da locomotiva e o passageiro precisa vencer a perigosa travessia, aos solavancos, até alcançá-lo. Quando o carro é "Pullman" é mais fácil. Aí senta-se à mesa e espera que, entre dois solavancos, possa tomar o seu café ou a sopa ... Raramente coincide a refeição com a parada do trem. Na Viação Férrea do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre a Cachoeira ou Santa Maria, o caso é "menos pior", porque os felizardos viajantes dispõem dos trens diretos - (ou quase) - modernos e confortáveis, como o Minuano, mas na Sorocabana, que vai a São Paulo, de Santa Maria em diante, o caso muda de figura.
Tudo é velho e sem conforto. Péssimo o serviço dos carros-refeitórios, péssimas as cabines.
O viajante, após três dias de viagem, chega ao seu destino com a cabeça moída pelas pancadas que o atiram de encontro à sua cabine. Como é possível não ter saudades dos tempos felizes do café com sonhos de Rio Pardo e dos almoços de CACHOEIRA?



Imagem: vista da rua Sete de Setembro a partir do Banrisul. A data provável é por volta do início dos anos 1930.
Em primeiro plano, à esquerda o telhado do Hotel do Comércio. Ao lado a hoje Casa Dois Irmãos que ainda conserva a cabeça de Hermes (menos as asinhas da cabeça).
A imagem foi clicada pelo antigo e tradicional Studio Aurora.

Cortesia Museu Municipal Patrono Edyr Lima

Destas maravilhosas viagens, por terra e pelo rio Jacuí, também participou o nosso amigo Alfredo leal. Mais de uma vez veio a Cachoeira, em visita ao meu pai.
Numa dessas viagens, ele quis visitar a estância de Augusto Motta, no Piquiri, a fim de ver e examinar as suas terras, abundantes em calcários. Lá esteve. Examinou-as, e voltou encantado com o que viu. O Rio Grande, Cachoeira, poder ter cimento.
O nosso químico sonhou com a sua exploração. Viu o Estado gaúcho produzindo o melhor cimento. A sua imaginação começou a trabalhar como a de D. Quixote ...

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Alfredo Leal, um brasileiro esquecido
Corina de Abreu Pessoa
Págs. 50 a 51



Imagem: Estação Cachoeira clicada por Carlos Augusto Schmidt
Acervo pessoal


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BREVE LINHA DO TEMPO

1845 - Ano da Lei Bill Aberdeen que permitia aos ingleses interromper o fluxo de navios negreiros provenientes da África para a América. Autorizava a Marinha do Reino Unido a interceptar os navios negreiros brasileiros e submetia suas tripulações a tribunais

1850 - Aprovada a Lei Eusébio de Queiroz, proibindo o tráfico de escravos no Brasil. O efeito imediato é liberar recursos de capitais antes investidos nessa atividade. É deste ano o início da implantação do transporte ferroviário, período em que o Império procura consolidar-se enquanto nação unificada e desvinculada de Portugal

1854 - Inaugurada no Rio de Janeiro a primeira estrada de ferro do Brasil, empreendida pelo industrial nascido no Rio Grande do Sul, Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá

1855 - O Império organiza a empresa Estrada de Ferro Dom Pedro II

1858 - A rede ferroviária já conta com seus primeiros 48 quilômetros

1866 - Início da história ferroviária no Rio Grande do Sul

1870 - Incorporada na Inglaterra a empresa “The Porto Alegre & New Hamburg Brazilian Railway Company Limited” com ações lançadas no mercado londrino

1874 - Inauguração da primeira seção da estrada de ferro compreendida entre Porto Alegre e São Leopoldo. Extensão: 33.756 metros. É a primeira ferrovia do Rio Grande do Sul

1877 - Início das obras da Estrada de Ferro Porto Alegre - Uruguaiana

1883 - CONSTRUÇÃO DA ESTAÇÃO FÉRREA DE CACHOEIRA DO SUL, como parte da primeira seção Porto Alegre - Uruguaiana

1884 - A Estrada de Ferro Rio Grande – Bagé inaugura seu primeiro trecho. O traçado pretendia interligar Rio Grande, Pelotas e Bagé

1885 - A ferrovia iniciada em Porto Alegre prossegue rumo a oeste. Neste ano atinge Santa Maria
1894 - Estabelecida ligação ferroviária com Cruz Alta a partir da capital

1910 - A mesma ferrovia atinge a fronteira norte, no ponto do atual município de Marcelino Ramos, passando por Passo Fundo

1916 - Olavo Bilac chega em Cachoeira do Sul para conferências cívicas e literárias

1920 - Criação da Viação Férrea do Rio Grande do Sul

1922 - A expansão da estrada Porto Alegre–São Leopoldo atinge o município de Canela

1959 - Extinção da Viação Férrea do Rio Grande do Sul e encampação pela Rede Ferroviária Federal

1973 - 21 de maio. Inauguração da nova gare da RFFSA no bairro Oliveira

1974 - 7 de janeiro. Inauguração da Variante de Cachoeira do Sul, retificação do traçado Santa Maria – Porto Alegre

1974 - Jornal do Povo: 22 de dezembro. A iminente compra da área da RFFSA é considerada vitória de Pedro Germano

1975 - Jornal do Povo: 17 de abril . Poder Executivo cachoeirense mobiliza-se para adquirir junto à RFFSA a área da antiga Estação Ferroviária

1975 - Jornal do Povo: 22 de maio. Confirmada a aquisição da Estação Ferroviária com 20% de entrada do valor e o restante em 60 parcelas

1975 - 1º de junho. Prefeitura inicia obras na área que pertenceu à Viação Férrea. Manchete do jornal: “Obras Iniciam Amanhã”

1976 - Idealizado o Museu do Trem em São Leopoldo

1983 - A RFFSA restaura a estação que passa a se chamar Centro de Preservação da Ferrovia do Rio Grande do Sul

1985 - Inauguração do Museu do Trem

1991 - Desativada a linha Porto Alegre - Uruguaiana

1992 - A Rede Ferroviária Federal é incluída no Programa Nacional de Desestatização do governo Fernando Henrique Cardoso

1993 - Permanecia ativa somente uma linha, que saía de Porto Alegre às 8 horas e 20 minutos passando por Cachoeira às 15 horas, com destino a Livramento

1996 - Passagem do último trem, em 3 de fevereiro. Os trens húngaros são desativados

1996 a 1998 - Privatização da Rede Ferroviária Federal. Transferência de sete malhas ferroviárias para a iniciativa privada

Pesquisa realizada em 2010 e publicada no Jornal do Povo na matéria "Passageiro da Agonia" em 24 de janeiro de 2011.
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