Orgulho!

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quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Johann Heinrich Vogeler, um talentoso artista quase desconhecido!

Há alguns dias deparei-me com a obra de JOHANN HEINRICH VOGELER.



Vogeler, aos 23 anos.
Nascido em Bremen em 12 de dezembro de 1872, faleceu num lugar de impronunciável nome: perto de Korneyevka, Qaragandi, Cazaquistão.
Surpreendida pela beleza das sua obra, fiquei aguçada sobre o fato dele ter morrido num lugar tão distante.

O longínquo Casaquistão, tão longe do Brasil e tão perto da China!

Pintor, artista gráfico, arquiteto, desenhista, professor, escritor e ... socialista!
Ele era o membro mais jovem de um antigo grupo de pintores em Worpswede onde ingressou em 1884. depois de terminar seus estudos na Academia de Düsseldorf.

"É uma terra estranha. Quando se está de pé sobre a pequena elevação de areia de Worpswede, pode-se vê-la em todo o seu entorno, em sua extensão ... Ela se espalha no plano, quase sem sulcos, e os caminhos e leitos de água conduzem para longe, no horizonte. Ali começa um céu de indescritível mutabilidade e grandeza. Ele se reflete em cada folha. Tudo parece se ocupar dele; ele é onipresente."

Com essas palavras, o poeta Rainer Maria Rilke descreveu em maio de 1902 a pitoresca paisagem de pântanos em torno de Worpswede. Worpswede situava-se então isolada do mundo exterior, no meio do assim chamado "Teufelsmoor" ('o pântano do diabo"). Os moradores levavam uma existência dura e pobre, sobrevivendo da turfa extraída dos pântanos e vendida em Bremen. "Todos têm o mesmo rosto: o rosto duro e tenso do trabalho", diz o autor, "o coração fica espremido nesses corpos e não consegue se expandir ... E agora, diante dos jovens vindos para se encontrarem a si mesmos, estavam expostos os muitos enigmas dessa terra. As bétulas, as casas rústicas, as charnecas, as pessoas, as noites e os dias, dos quais não há dois iguais e nos quais também não duas horas que se possam confundir. E agora eles começavam a amar esses enigmas."
[Expressionismo Alemão, Cadernos de História, Memorial do Rio Grande do Sul, W. Herzogenrath e K. Erling].


Artistas de Worpswede, 1895. Vogeler é  primeiro, à esquerda.
Worpswede - o nome da pequena localidade nas proximidades de Bremen está indissociavelmente relacionado à colônia de artistas lá estabelecida. Worpspede é sinônimo de imagens carregadas de sentimento da paisagem nórdica. Mas é igualmente sinônimo do movimento de ruptura de jovens artistas, com seu distanciamento dos tradicionais temas acadêmicos. Guiados pela visão da natureza como mestra, Fritz Mackensen, Otto Modersohn, Heinrich Vogeler, Fritz Overbeck e Hans am Ende deixaram seus ateliers na cidade e mudaram-se para o campo. Eles empreenderam a tentativa de viver, trabalhar e publicar em conjunto, o que resultou na criação da sociedde de artistas e em exposições coletivas.
[Expressionismo Alemão, Cadernos de História, Memorial do Rio Grande do Sul, W. Herzogenrath e K. Erling].
Aspecto da Worpswede atual. Atenção: não é pintura, é de verdade!!!! Maravilha!!!
Aos 25 anos (1897), participou de uma exposição internacional de arte em Dresden. 
Na virada do século, Vogeler tinha se transformado num dos mais importantes representantes da arte alemã Jugenstil. Em particular, seu trabalho como artista gráfico e designer lhe rendeu fama nacional e internacional.
Aos 29 anos aconteceu o casamento com Martha Schröder. Com ela, Vogeler teve duas filhas, Marie-Luise e Bettina.
Como voluntário, em 1914 alistou-se no exército vindo a atuar como pintor militar. Em 23 de janeiro de 1918 escreve uma carta ao Kayser intitulada 'Conto de amor a Deus', carta de protesto e apelo pela paz. Seu serviço militar termina. Vogeler agora pacifista convicto e socialista passa a ser vigiado. 
Antifascista, Vogeler vai para Moscou em 1931. Empenha-se na arte e na literatura para a construção do verdadeiro socialismo. É contrário à ditadura nazista.
Seu trabalho teve um caráter expressionista que refletia suas convicções políticas.
A partir de 1923, Vogeler realiza várias visitas regulares a Moscou.
Em 1923 nasce Jan Jürgen, filho do seu relacionamento com Sonja, uma comunista filha do político espartaquista polonês Julian Balthazar Marchelewsky.
Em 1924 muda-se para Berlim antes de migrar para a URSS em 1931. Em 1924 divorcia-se de Martha Schröder.
Em 1941, com o início da Operação Barbarossa todos os alemães em terras russas tornam-se inimigos. Assim aconteceu com os descendentes dos imigrantes alemães que durante o reinado da czarina iluminista Catarina II foram parar na região do Volga. Por ordem de Stálin foram todos deportados para a Sibéria e poucos escaparam vivos para contar a história.
Logo após a invasão alemã, Vogeler foi deportado para o Casaquistão. Debilitado pela viagem, pelas privações, pelo trabalho forçado morre em 14 de junho de 1942, pobre, mal nutrido, quase anônimo, num hospital.
Esta perda terrível soma-se às tragédias sem fim da segunda grande guerra. Como foi possível o autor de obras tão lindas morrer neste vácuo de estupidez. Lembrei-me de Van Gogh que vendeu somente uma obra em vida, do corpo de Mozart ter sido jogado num buraco coletivo. 
Nosso mundo é mesmo estranho.


Dreams

Saudade

Spring Time

A anunciação

Barkenhoff in der Sohne

Frühling

Liebe

Lovers

Noite de luar no deserto do Uzbequistão

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