Orgulho!

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sexta-feira, 15 de maio de 2015

O Museu do Imperador

Sobrado Portinho, o Museu do Imperador
Desenho: Cleiton Leal
Prédio 'Fazendas Irapuá'
Foto: Jornal do Povo

O MUSEU DO IMPERADOR*
Renate Elisabeth Schmidt 
Professora de História

         Andam dizendo por aí que o ano novo finalmente começou. Como sempre, o ano que passou foi intenso, rápido com picos no Everest ou nas profundezas da Fossa das Marianas. Nem tanto aos céu, nem tanto ao mar, e entre um e outro, o entrevero de sempre afinal, saber viver não é para qualquer um.
         Um acontecimento ficou retido na alma dos cachoeirenses: o inédito Natal de 2014, que agraciou Cachoeira com um arranjo no qual patrimônio tombado e restaurado, luzes e rouxinóis natalinos, com um toque de fogos celestes, roubaram a cena no cômpito da Sete com Ernesto Alves. Escrevo sobre momentos marcantes que aconteceram numa colina de outrora.
         A majestosa edificação iluminada, cantante, derramava encantamento numa cascata cristã de fé. Bem ali foi,o momento Cachoeira da Natividade do Menino recém-nascido, cercado de marias e josés enlevados e recolhidos às suas emoções
         Findo o momento mágico, desci a Sete quando aproximei-me da Praça José Bonifácio e vi extática o Mercado Público, construído em 1882, igualmente esbanjando notas natais, cachopas de brilhos, revelando-se tal qual o prédio Fazendas Irapuá. Suas portas delimitavam o passado e o presente, quando então a quimera refugiou-se nalgum escaninho do pretérito.
Mercado Público
Foto: Museu Municipal
Inserção dos fogos no postal: Claiton Nazar

         Imantada pela aparição, a direção oeste me atraiu, para a Saldanha e quando estranhamente uma troika foi completada:  em delicados clarões, as esculturas de faiança portuguesa faiscavam nos tons do Natal bem no topo do Sobrado Portinho, numa irrefutável prova do bom gosto dos fantasmas do casarão, naquele momento surreal  - o “Museu do Imperador”! Museu, quimera, Imperador, fuga, imagem ...
         Os acordes finais do conflito farrapo trouxeram o Imperador  Pedro II à Província de São Pedro e também a Cachoeira para checar, in loco, a Paz de Ponche Verde. O sobrado em 1846 e 1865 foi a casa de passagem do Imperador. E o lema da República Riograndense – Liberdade, Igualdade e Humanidade, Imperador, inspirou as decisões que se seguiram. E neste exato momento, segue firme e forte o axioma?
         E então?
         Então que grande parte da herança material, nascido na forja das rodas, no ritmo das ferraduras, arados, das chaminés, dos braços escravos e livres, do comércio, escambo, não existe mais.
         A demolição do onírico “Museu do Imperador” foi dramática. Dizem que ele estava em boas condições A senzala, localizada no térreo, recebia ar e luz das aberturas do tipo óculo. Décadas depois haviam sido alargadas, transformadas em barzinho, brechó, sapataria … Mas quem nasceu rei ...
         Nas janelas com vista para a Saldanha Marinho dependuravam-se senhoras curiosas, não sei se conscientes da importância do lugar onde elas viviam. O prédio viveu seu tempo de ouro, prata, cobre e entulho! Alguns dos azulejos salvos estão sob os cuidados do Museu Municipal, as compoteiras devem ter saído “caminhando”, assim como o “Relógio da Praça” rumo a uma estação ignorada. O luxo dela assim como as pinturas no teto ainda abastecem nossas lendas urbanas.
         Tanto por fazer aqui ...
         E então expliquem-me o porquê dos enxames de peregrinos voarem ao Velho Mundo e à 'América', para devorarem museus, ruínas e monumentos! Expliquem-me do porquê de irem à 'Florença do Elba', Dresden, torrada pelo 'Bomber' Arthur Harris, a fênix estropiada da Saxônia.
         O passado do Velho Mundo é de fato uma isca indiscutível, cujas abundantes sobras são resguardadas feito tesouros pelas gerações deste tempo.
Átila, o "Flagelo de Deus"
Rei dos Hunos (406 - 453)

Moeda do período do governo do rei Cnut, o Grande (995-1035), Rei da Dinamarca

         Nada de repassar contas e culpas de um continente afetado pela hecatombe das duas  guerras mais destrutivas da história a Assurbanipal, Alexandre,  Cnut, Genghis Khan, Átila, não senhores - “bárbaros, ímpios, hereges e selvagens”, sedentos de terras, escravos e riquezas. 
Genghis Khan, o líder mongol
Monumento, Ulan Batoor, Mongólia

A história provou direitinho que as piores das piores aconteceram no século XX, no Velho Mundo, organizado, disciplinado, avançado e cristão. Lembrem 1914 e 1939, cujos senhores da guerra eram da finíssima cepa europeia!

Assurbanipal,último rei assírio
668 - 627 a.C.

         Longe deste “Guinness Book” bélico e do lado oeste do Atlântico, fica minha cidade natal cuja paisagem histórica continua encolhendo – consequência de uma barafunda de interesses.
         Pelo meu gosto especial pelo antigo, um dia partirei para Dresden, também darei uma esticada ao Museu Hermitage em São Petersburgo, Rússia. No retorno visitarei a histórica Rio Pardo, que conservou a edificação que hospedou o imperador que também esteve lá na mesma época daqui.
Museu Hermitage, São Petersburgo (antiga Leningrado), Rússia

Furstenzug, Dresden, Baixa Saxônia
Mural dos Príncipes
O mural mostra os retratos ancestrais de 35 margraves (título medieval),
eleitores, duques e reis da Casa de Wettin entre 1127 e 1904.


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