Orgulho!

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domingo, 26 de setembro de 2010

O PRIMEIRO HOSPITAL

Então nossa cidade segue engolfada pelas discussões sobre o que fazer com a maioria dos prédios tombados que estão em estado ou de semi-abandono ou totalmente abandonados.
Muito papel e muita discórdia abarrotam gavetas, o discurso da falta de recursos segue firme batendo na bigorna e enquanto isso, tentam-se outros meios para salvar o que resta.
Os jornais locais, O Correio e Jornal do Povo, estão engajados nesta dura batalha.
As notícias são a cada dia mais alarmantes.

Nesta semana que passou divulgou-se na imprensa a existência de placas espalhadas nas estradas, aparentemente já há seis meses, convidando viajantes a conhecer a nossa menina dos olhos, o Château d'Eau, porém,
após encher os olhos de encanto, brotarão a seguir lágrimas quando as retinas cruzarem com as ruínas do Casarão da rua XV de Novembro, o antigo prédio da Prefeitura Municipal, cuja realidade neste momento é dolorosa.
Segundo a professora, historiadora e diretora do Arquivo Histórico, Ione Maria Sanmartin Carlos, neste exato momento, é o caso MAIS EMBLEMÁTICO.
Renate Elisabeth Schmidt de Aguiar
Conselheira do COMPAHC, Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural



Jornal do Povo, 25-26 de setembro de 2010


Detalhe do esboço do TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) que ainda não foi assinado pelo hospital, e que aguarda maiores detalhes de custos e do próprio restauro em si


Vista do primeiro hospital de Cachoeira e da capela Santa Catarina
O prédio do hospital foi tombado em 1985 e seu estilo possui características barrocas e neo-clássicas
Foto: Renate Aguiar (janeiro 2010)


Segundo matéria publicada no Jornal do Povo no dia 19 de agosto de 2010, o prédio precisa de restauro urgente. Por duas vezes esteve prestes a ser interditado pelo Corpo de Bombeiros devido às condições da escada de acesso ao segundo piso. Não há acessibilidade e as aberturas estão com cupins. A maior preocupação é apenas com a parte estética externa.


A Lei de 1º de outubro de 1828, no seu artigo 69, incumbia as Câmaras Municipais de promoverem o estabelecimento de casas de caridade que cuidassem dos expostos e dos doentes pobres.
Baseado nesta lei, na sessão de 15 de outubro de 1846, o médico vereador José Pereira da Silva Goulart apresentou uma proposiçao que não foi aprovada, sugerindo que a Câmara providenciasse a criação de um hospital de caridade que se chamaria Hospital de São João.
O Conde d'Eu, ao passar por Cachoeira, em 1865, observou:


... encontrei em Cachoeira um serviço hospitalar muito superior a quantos eu até aqui tenha visto. É organizado por um antigo cirurgião-mor do exército, chamado Vieira, vulgarmente Cristóvão José, natural da Província de Pernambuco. Depois de ter feito a campanha do Prata de 1852, tinha-se retirado e vivia aqui, mas nas atuais críticas circunstâncias ofereceu, espontaneamente, seus serviços que foram aceitos, primeiramente para Cachoeira. Depois, por ocasião da passagem do Imperador, foi nomeado diretor-chefe de todos os hospitais criados ou por criar, de Porto Alegre à fronteira. Foi uma nomeação acertada, porque o doutor Vieira parece zeloso e competente para poucos. Por ora está em Cachoeira, donde não pode sair sem que lhe mandem um médico para o substituir. Tem aqui 26 doentes, repartidos por duas casas más, porém bem providas de tudo, leitos, colchões, cobertores, medicamentos,pratos de metal, talheres, etc ... Além disso, a Câmara Municipal, por sugestão do Imperador, cedeu generosamente as salas de seu Paço, belo edifício inteiramente novo; os doentes serão transportados para este novo alojamento, logo que um dia mais quente permita expô-los ao ar. As explicações são claras do bom Vieira, que revelavam tanto interesse pelos doentes, fizeram que eu encontrasse muito prazer em demorar-me ao pé deles ...

Em 1903, o artigo "Um apelo aos corações generosos", de Ernesto da Silva Barros, publicado no Jornal O COMÉRCIO, levantou a ideia da construção de um prédio para abrigar o hospital. Do grupo de cachoeirenses que trabalhou para concretizar essa ideia, destacaram-se Ernesto da Silva Barros, Domingos Luiz de Abreu, Modesto Soares de Almeida, Liberato Vieira da Cunha, Júlio Peixoto de Oliveira Barcellos. Em 23 de agosto do mesmo ano, foi lançada A PEDRA FUNDAMENTAL do Asilo da Caridade, que deu origem ao Hospital da Caridade.

A construção do prédio do Hospital de Caridade foi viabilizada através de campanhas de donativos entre a comunidade cachoeirense, permitindo a edificação da parte central do projeto, tendo como construtor o Tenente Manoel Gomes Pereira. O sobrado tem 52 palmos de frente por 103 de fundos, com cada pavimento medindo, internamente, 4 metros de altura.

Antecedendo a inauguração do Hospital de Caridade, que ocorreu a 11 de dezembro de 1910, o Dr. Cândido Alves Machado de Fretias organizou, em outubro,uma Sociedade Beneficiente para manter o hospital, construído no extremo sul da rua Saldanha Marinho. Na ocasião dos atos inaugurais, o diretor Dr. Cândido Alves Machado de Freitas apresentou o relatório e os estatutos da Sociedade Beneficiente.

Um aspecto a ser destacado na história do hospital foi o trabalho realizado pelas Irmãs de Caridade. A visita da Superiora Madre Plácida, da Congregação Santa Catarina, em outubro de 1918, agilizou as tratativas para a efetivação da vida das representantes da Ordem. Em fevereiro de 1919 registrou-se a presença das "irmãs enfermeiras" contratadas pela Diretoria do Hospital de Caridade, que permaneceram neste trabalho até a década de 80.



Capela Santa Catarina
Foto: Renate Aguiar


Em junho de 1925, a Diretoria do Hospital, sob a presidência do Sr. Ernesto Müller, discutiu a construção deu um novo prédio, ficando o antigo destinado ao isolamento dos portadores de moléstias infecciosas. Em 1926, foi instalada uma farmácia junto ao hospital com atendimento médico e elaborados os estatutos e o regulamento interno do hospital.

Em reunião de setembro de 1935, a maioria dos membros da Diretoria aprovou a Praça Itororó, local doado pela Municipalidade para a construção do novo hospital.


Fonte: Cachoeira do Sul, em busca de sua história
Angela Schumacher Schuh e Ione Maria Sanmartin Carlos
Martins Livreiro-Editor
1991



Primeiro prédio do Hospital de Caridade
Foto: Renate Aguiar


Mais leituras:

HCB terá que recuperar velho isolamento [Jornal do Povo, 25-26 de setembro de 2010]


Um futuro sem história para Cachoeira [ Jornal do Povo, 19 de agosto de 2010]

2 comentários:

  1. Professora Renate
    Gostaria de entrar em contato, mas teria que ser por e-mail.
    Como posso fazer?
    Escreva para liana.marco@terra.com.br

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  2. Bom dia, anônima!
    Meu e-mail é
    resaguiar@gmail.com
    Aguardo teu contato
    Atenciosamente,
    professra Renate

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