Orgulho!

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sábado, 3 de julho de 2010

UMA ESTAÇÃO CHAMADA FERREIRA




Antes de existir a Ponte do Fandango, os caminhos do sul e do oeste eram pelo trem e pela barca que atravessava o rio, no São Lourenço. A Ferreira era a última estação férrea antes de chegar a Cachoeira vindo da fronteira. O trem que trouxe Getúlio, Osvaldo Aranha, Glicério Alves, Flores da Cunha rumo à revolução de 30 passou por ali e tem gente que ainda lembra do dia em que João Neves e outros cachoeirenses embarcaram em Cachoeira, neste trem, em direção à Capital Federal e mudaram a história do Brasil.



Ferreira tinha um grande movimento, tinha uma pedreira que oferecia pedras de calçamento, havia uma olaria e 2 engenhos, quando éramos capital brasileira de cereais.



A Estação Ferreira tinha 12 funcionários, fora os carregadores de pedras, de arroz, de telhas, de tijolos. Havia os agentes chefes Mota e Dalmolim, o guarda-chaves e os telegrafistas. Como sempre acontecia nas estações férreas a população do local fazia rapaduras, sonhos e vendia a cada parada dos trens noturnos e diurnos.



A Ferreira possuía um clube, um armazém de secos e molhados do Seu Pedro Ache, muitas casas, uma curva, uma ponte, mas era o trem, que passava por uma ponte seca em direção ao S. Lourenço, uma linha morta onde dormiam os vagões, que era a alma do local. Eram 27 famílias na olaria, 20 famílias num engenho, 10 famílias no outro, 12 famílias na estação. Ou seja, todos viviam em função do caminho dos trens. Na enchente de 41 a água chegou até a gare e cobriu os trilhos e levou as ramas de arroz colhidas nas várzeas rio abaixo. Ferreira era forte e rica, mais forte que as colônias e que o os povoados do sul, mas aos poucos foi diminuindo o movimento, as pessoas começaram a ir embora, os engenhos fecharam, o trem mudou seu rumo numa variante, a olaria perdeu-se no tempo e poucos resistem para lembrar daqueles dias em que havia alguma esperança de que um trem fantasma ainda possa de novo passar por lá.

As pessoas da Ferreira


Adão Ache tem 85 anos e contou esta história ao Robispierre, que me contou. Filho de Pedro Ache, que chegou a Cachoeira no começo do século vindo da Síria. Os sírios eram chamados de turcos porque a Turquia através do Império Otomano dominava o Líbano e a Síria. Estes imigrantes eram católicos e se dedicaram ao comércio, sendo mascates de cidade em cidade a vender roupas compradas em São Paulo. Levavam roupas, medicamentos e notícias e traziam um futuro aos seus filhos e muitas histórias pra contar. Os Aches vieram da Síria com os Mafhus, Germanos, Amim e muitos outros.


Adão Ache contou esta história e fica triste, olha para a estação Ferreira desabando, olha para o chão e vê hoje tudo acabado, tudo acabado.

Carlos Eduardo Florence
Publicado no Jornal do Povo em 22-23 de dezembro de 2007.


Fotos: Robispierre Giuliani

Um comentário:

  1. Ja imaginei um Trem Turismo entre a Estação Ferreira toda restaurada com uma paradinha na Ponte Pedra esquecida no meio mato ....ate centro de Cachoeira ...

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