Orgulho!

Orgulho!

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Livro questiona a mitificação de Zumbi

Treze de maio ou 20 de novembro? That is the question! 

A foto abaixo é cachoeirense. 
A senhora e seus filhos viveram nesta terra, nestas condições, bem debaixo dos nossos olhos.

 
 Fototeca: Museu Municipal Patrono Edyr Lima

SOBRE O LIVRO "TRÊS VEZES ZUMBI"

"Para os autores, feriado da Consciência Negra (20 de novembro), celebrado no dia da morte do quilombola, esvazia 13 de Maio"

A história absolveu Zumbi. Mais que isso, deu-lhe um lugar de destaque no panteão nacional: 315 anos depois da queda de Palmares, aniquilado pelo bandeirante Domingos Jorge Velho, o herói negro dá nome a tudo, de universidade a banda de rock.
O dia de sua morte, 20 de novembro, é um feriado cada vez mais celebrado --o dia da consciência negra vem contribuindo para o "esvaziamento" do 13 de maio (Abolição) e sua protagonista branca, a princesa Isabel.

 
Em abril, o Supremo Tribunal Federal referendou as cotas raciais nas universidades, uma vitória inequívoca dos movimentos que têm em Zumbi o seu mártir.
A unanimidade do mito, porém, é bastante recente. E, como mostram os autores do recém-lançado "TRÊS VEZES ZUMBI", os historiadores Jean Marcel Carvalho França e Ricardo Alexandre Ferreira, as feições do herói mudam conforme as conveniências ideológicas de cada geração.

 
 Jean Marcel e Renato


Ao mostrar como uns e outros "construíram" seus próprios Zumbis, eles lançam uma fagulha de provocação às vésperas do 13 de Maio. Ou, como disse Ferreira à Folha, põem "uma pulga atrás da orelha" do leitor dos livros de história, para não comprar o que lê pelo valor de face.

 
 Princesa Isabel e seu marido, o Conde D'Eu rodeados de netos. Dizem que D. Pedro II mais vivia na Europa do que no Brasil, sempre "se instruindo" ...


Na tese dos autores, a "canonização" recente do líder quilombola, que o transformou num porta-bandeira dos oprimidos, é uma "construção" histórica. A ausência de dados biográficos sobre um homem cuja existência deixou poucas pistas facilitou a inclusão de capítulos fantasiosos na narrativa.
 

Mais pop do que nunca na era Lula, Zumbi tem figurino apropriado para o momento político --daí, talvez, o interesse recente em sua figura. "É um outro Brasil que está contando o seu passado, inventando o seu passado", disse França à Folha. "A elite branca tradicional de Higienópolis já inventou o seu passado há muito tempo. Já tem a mitologia."
Como exemplo da conversão de Zumbi em ícone de todo tipo de minorias, França e Teixeira citam a tese de Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, que retratou Zumbi como homossexual.
Esse "anacronismo", escrevem os autores, "faria um historiador como Lucien Febvre revirar no túmulo".
Mott disse à Folha que não teve "o beneficio da dúvida" e que os autores "nem desconstruíram sequer uma das cinco pistas" apresentadas por ele de que Zumbi seria gay. Não há, diz, "nenhuma prova de que o mitológico líder quilombola era heterossexual". O antropólogo diz que França e Teixeira estão "dominados pela ideologia heteronormativa".

ESQUERDA

O elo com a causa gay, mostram eles, vem de uma "construção" mais ampla: no século 20, sua rebeldia vinha a calhar como herói romântico da esquerda. França e Teixeira criticam o messianismo de autores como Décio Freitas e Joel Rufino dos Santos, que fixaram a atual "perspectiva verdadeira" de Zumbi.
Historiadores ligados ao movimento negro também são questionados. França e Teixeira recriminam o endosso de Flávio dos Santos Gomes a passagens fantasiosas escritas por Freitas, baseadas "em supostas cartas que só ele [Freitas] leu", como aquela que descreveria a infância de Zumbi como coroinha.
O líder imantado pela esquerda é o terceiro dos três anunciados no título. Antes dele, vêm o dos séculos 17 e 18, ameaça ao empreendimento colonial português, e o do século 19, providencialmente posto de lado pelos bem-pensantes na construção da identidade nacional.

 
O mesmo poderia ser feito com outros heróis. Para França, temos fascínio por figuras "desviantes", como Zumbi ou Tiradentes, e relegamos figuras "da ordem", como a princesa Isabel. "Não sabemos fazer uma história da norma."

Para a historiadora, professora titular da USP e autora de "As Barbas do Imperador" e "O Sol do Brasil", entre outros, diz: ""Três vezes Zumbi provoca o leitor, mostrando como o exercício da história é sobretudo construção social. 

Fonte: Folha Ilustrada, 8 de maio de 2012
Paulo Werneck
Editor da Ilustríssima

Belíssima fotografia!


Vamos perguntar às pessoas das imagens abaixo que vivem em regime de escravidão contemporânea, se: 
* interessa a elas saber se Zumbi era gay ou hetero;
* interessa saber se ele é ícone pop;
* se sabem a diferença entre quilombo e quilombola!





É preciso no entanto, ler o livro para saber se há dentro dele mais farofa ou mais churrasco.
De qualquer forma, ele é barato e fiquei curiosa para ler. Darei a sugestão à Biblioteca Pública João Minssen para uma possível aquisição.




Nenhum comentário:

Postar um comentário