Jornal Correio do Povo
Juremir Machado da Silva
ANO 117 Nº 361 - PORTO ALEGRE, TERÇA-FEIRA, 25 DE SETEMBRO DE 2012
Grupo Cicloativado de Cachoeira do Sul
DIA MUNDIAL SEM CARRO
Foto: cortesia Rodrigo Carlos (como o Rodrigo também está na foto, outra pessoa clicou o grupo)
FUTURO DO PRETÉRITO
Porto Alegre rodou para frente. Começou a alugar bicicletas, como fazem grandes
cidades europeias. O futuro está no passado: trens, bicicletas, barcos, bondes,
sol, natureza. Precisamos deixar a era JK para trás. O tempo do automóvel e do
rodoviarismo caducou. Vivi quase seis anos em Paris e não sei onde fica a
estação rodoviária da cidade. Conheço bem as suas seis estações ferroviárias. A
capital francesa orgulha-se de não ter uma só residência a mais de 500 metros de
uma boca de metrô. Esses europeus sempre foram muito chatos. Começaram a
construir metrôs subterrâneos ainda no século XIX, quando se andava de carroça.
Andam de bicicleta pela saúde e pela facilidade.
De quebra, não colocam motores nas bicicletas. Os franceses não chamam bicicleta de bike. É só vélo.
- On va faire du vélo pour maigrir.
Assim mesmo: andar de bicicleta para emagrecer. Por aqui, ainda temos preconceitos, e os motoristas, com seus 4 x 4 absurdos e inúteis para a vida urbana, acham-se os donos das ruas. Há pouco, Porto Alegre fez uma grande descoberta: o rio Guaíba. Ressurgiu o transporte de barco entre a Capital e a cidade de Guaíba. A ideia foi tão revolucionária que está sendo ampliada para nossos bairros. Faz alguns anos, moderno era andar de ônibus e levar o dobro do tempo. Eu sou a favor de multa pesada para quem ocupa sozinho um carro em horário de pico. Quanto maior o carro, maior a multa. As pistas devem servir preferencialmente para transportes coletivos e limpos. Em quatro pistas, uma poderia ser destinada aos carros particulares. Na bucha.
Mesmo a Europa ainda está atrasada em relação a tudo isso. Vai acelerar. Alguns dos nossos motoristas sentem-se ultrajados por ter de dividir o espaço das ruas com bicicletas. Acham que bicicleta é coisa de pobre. O mesmo pensam os ricaços paulistanos e cariocas do metrô. Só gostam de subterrâneo em Paris, Londres e Nova Iorque. Aí é chique, fashion, choque. Porto Alegre cansou de ser moderna. Agora quer ser hipermoderna. A hipermodernidade é a bicicleta, o metrô, o barco, o deslocamento a pé, as energias limpas, o uso do corpo para se mexer. Para avançar, temos de recuar. Tudo aquilo que foi enterrado como anacrônico, reaparece como solução. Até o piquenique, que os europeus nunca desdenharam, está voltando aqui. Brasileiros achavam que era um baita mico.
A pós-modernidade condenou o cigarro, as caçadas e uma série de preconceitos. Abriu os armários. A hipermodernidade é um novo estágio que não dá mole para combustíveis fósseis, bullying, humor racista e outras sacanagens do gênero. Triunfo do politicamente correto? Em parte. Vitória da idiotice? Só se incomoda mesmo com o politicamente correto quem se beneficiava da incorreção, quem tinha poder ou força para humilhar os outros. A principal característica da hipermodernidade é a redefinição do espaço urbano: uma nova ocupação das ruas, o fim do reinado absolutista ditatorial do automóvel.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
De quebra, não colocam motores nas bicicletas. Os franceses não chamam bicicleta de bike. É só vélo.
- On va faire du vélo pour maigrir.
Assim mesmo: andar de bicicleta para emagrecer. Por aqui, ainda temos preconceitos, e os motoristas, com seus 4 x 4 absurdos e inúteis para a vida urbana, acham-se os donos das ruas. Há pouco, Porto Alegre fez uma grande descoberta: o rio Guaíba. Ressurgiu o transporte de barco entre a Capital e a cidade de Guaíba. A ideia foi tão revolucionária que está sendo ampliada para nossos bairros. Faz alguns anos, moderno era andar de ônibus e levar o dobro do tempo. Eu sou a favor de multa pesada para quem ocupa sozinho um carro em horário de pico. Quanto maior o carro, maior a multa. As pistas devem servir preferencialmente para transportes coletivos e limpos. Em quatro pistas, uma poderia ser destinada aos carros particulares. Na bucha.
Mesmo a Europa ainda está atrasada em relação a tudo isso. Vai acelerar. Alguns dos nossos motoristas sentem-se ultrajados por ter de dividir o espaço das ruas com bicicletas. Acham que bicicleta é coisa de pobre. O mesmo pensam os ricaços paulistanos e cariocas do metrô. Só gostam de subterrâneo em Paris, Londres e Nova Iorque. Aí é chique, fashion, choque. Porto Alegre cansou de ser moderna. Agora quer ser hipermoderna. A hipermodernidade é a bicicleta, o metrô, o barco, o deslocamento a pé, as energias limpas, o uso do corpo para se mexer. Para avançar, temos de recuar. Tudo aquilo que foi enterrado como anacrônico, reaparece como solução. Até o piquenique, que os europeus nunca desdenharam, está voltando aqui. Brasileiros achavam que era um baita mico.
A pós-modernidade condenou o cigarro, as caçadas e uma série de preconceitos. Abriu os armários. A hipermodernidade é um novo estágio que não dá mole para combustíveis fósseis, bullying, humor racista e outras sacanagens do gênero. Triunfo do politicamente correto? Em parte. Vitória da idiotice? Só se incomoda mesmo com o politicamente correto quem se beneficiava da incorreção, quem tinha poder ou força para humilhar os outros. A principal característica da hipermodernidade é a redefinição do espaço urbano: uma nova ocupação das ruas, o fim do reinado absolutista ditatorial do automóvel.
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
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