Orgulho!

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quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A (ANTI) PRAÇA JOSÉ BONIFÁCIO

Observe bem lá no fundo o antigo Mercado Público, demolido em 1957.

Era uma vez, uma praça situada no coração de uma urbe chamada Cachoeira do Sul, a 5ª mais antiga cidade do Rio Grande do Sul. No final da década de 1920 por iniciativa do Vice-Intendente da época, João Neves da Fontoura, a antiga praça passou por uma minuciosa reforma deixando-a com ares europeus devido aos detalhes neoclássicos que foram nela inseridos com uma certa abundância.













Mas um dia algumas pessoas malvadas implicaram com a beleza serena do lugar e ...



deram início a uma longa, inexplicável e infindável sequência de desmanches,reformas e alterações de gosto muito duvidoso valendo-se de um vocábulo muito usado nestas ocasiões - REVITALIZAÇÃO (de X, Y ou Z).
Então começaram a acontecer umas coisas feias mais ou menos assim:




Imagens superior e inferior: Gestão Acido Witeck

Gestão Acido Witeck

Obras paralisadas - gestão atual


E então, cruzando pelo local nas idas/vindas ao/do meu emprego
não pude deixar de notar que ela está bem, mas bem mudada ...



Com tanta reforma até o au-au ganhou um cantinho


Este ser não identificado faz um long time que está assim ...

Que estranha esta escada!

Hum, o que seriam estas pedras?

Ops! Acho que era um banco ...

What is that?

Onde foi parar o toldo do posto da Polícia Militar?

Este lugar onde está vicejando este espécime de guanxuma,
é uma cicatriz dos pilares que sustentavam a balaustrada, retirada no governo Honorato de Souza Santos [1969-1972] ou talvez da base dos belos potes que hoje estão no Museu Municipal

Rampa de skate em uma da áreas mais nobres da cidade

Eca!

Poste importado da América do Norte, jogado às traças ou às boladas da cancha?

Exemplo de (in) segurança. Passem longe desta caixa!

Seriam "estroncas" ou parte do projeto presépio 2011?


Olha! É a Praça José Bonifácio na Idade de Ouro? Siiiiimmmmm!


Bebuns (farrapos humanos) clicados à luz do dia, seria a Idade das Trevas?

Imagens: Museu Muncipal, acervo pessoal, Claiton Nazar, João Carlos Mór, Osvaldo Cabral de Castro, Ana Lúcia Torres

No fim-de-semana farei um pequeno relato, dando nome a alguns bois, que foram os responsáveis pelo esquartejamento deste outrora encantador local.


CACHOEIRA DO SUL, O QUINTO MUNICÍPIO

Cachoeira do Sul é o quinto mais antigo município de Rio Grande do Sul. Antes dele, toda a Capitania de São Pedro possuía apenas os municípios de Porto Alegre, Rio Grande, Santo Antônio da Patrulha e Rio Pardo - naquele tempo, chamados de vilas. Pelo alvará de 26 de abril de 1819, assinado pelo rei D. João VI, surgia a Vila Nova de São João da Cachoeira, cujo território ficava desmembrado de Rio Pardo e tinha como principais povoações Alegrete, Bagé, Caçapava, Dom Pedrito, São Vicente, São Gabriel, Lavras, Quaraí, Rosário, Santa Maria e Santana do Livramento.
A criação de uma vila na Freguesia de Cachoeira atendia aos pedidos dos moradores da localidade. Eles alegavam sofrer incômodos e prejuízos porque, repetidas vezes, precisavam se deslocar até Rio Pardo, deixando por muito tempo desamparadas suas casas e atividades.
Muito antes da emancipação acontecer, Cachoeira já era um importante núcleo no território do Rio Grande do Sul. Assim como na Cidade Histórica, foram soldados paulistas e portugueses, ao lado de índios missioneiros, que começaram a sua povoação. A eles se juntaram, em seguida, casais açorianos que se estabeleceram em pequenas propriedades, e estancieiros que se instalaram às margens do Rio Jacuí.

Fonte: Uma luz para a história do Rio Grande, Rio Pardo - 200 anos - Cultura, arte e memória, de Olgário Paulo Vogt e Maria Rosilane Zoch Romero (organizadores), 2010. Editora Gazeta Santa Cruz Ltda.



LINHA DO TEMPO


1830 - Trabalhos de demarcação da Praça do Pelourinho (Ata de 1.2.1830)

1848 - O local escolhido foi vistoriado e deliberou-se a largura e o comprimento. A mesma ata do dia 15.5 relata o envio da planta ao Juiz Municipal da Vila e a determinação para que se levantassem os respectivos marcos de pedra

1850 - Primeira representação de mapeameanto da Praça do Pelourinho, confeccionada pelo engenheiro da comarca, Martinho Buff.

1858 - Se nome é modificado para Praça Ponche Verde. Mais adiante ficou conhecida como Praça do Mercado

1902 - O Intendente Municipal Cel. David Soares de Barcellos promoveu o embelezamento da praça com ornamentação em forma de alamedas

1910 - Instalação de um ponto de carros de aluguel, construção de um coreto sobre o qual funcionava desde 1916, um restaurante denominado Gruta Azul.
Nela localizaram-se os primeiros cinemas (Cinema Parque, Coliseu Cachoeirense).
Havia apresentações de bandas (União dos Artistas e Estrela Cachoeirense). O engenheiro da Intendência Hans von Hof ajardinou os lados sul e leste com canteiros de flores e arbustos.

1911 - Instalação do Posto Meteorológico

De 1912 a 1917 - transferido para junto o coreto, o quiosque que abrigou o Bar Cachoeirense. Instalado pela Intendência de uma bomba movida por catavento no poço existente no centro do Mercado Público com o intuito de irrigar os canteiros. Construção de um carrossel americano e um centro de diversões no terreno onde funcionou o Cinema Popular. Construção do Chalé Avenida, destinado à venda de bebidas, frutas e comestíveis

1913 - Construção do Banco da Província

1916 - Construção do Bar e Restaurante Ponto Chic que instala-se no Chalé Avenida

1917 - O Chalé é demolido e o Ponto Chic é transferido de lugar

De 1925 a 1928 - Na gestão de João Neves da Fontoura, Intendente nomeado pelo Presidente Borges de Medeiros, estadista e visionário, aliado de Borges e de Getúlio Vargas, Cachoeira teve surto de crescimento (Vogt & Romero, 2010).
Na praça foram derrubadas as paineiras, inaugurados seis postes "Nova Lux", construída a balaustrada ao longo da praça e foram colocados vasos e bancos de cimento armado. O passeio em frente ao Coliseu Cachoeirense foi revestido por mosaicos, foram construídos o rinque de patinação e a pérgola

1928 - Colocação do relógio

1940 - Remodelados os jardins da praça. Nas imediações do Coliseu Cachoeirense foi construído um pequeno parque infantil

1957 - Demolição do Mercado Público na gestão de Arnoldo Paulo Fürstenau

1968 - No lugar do Mercado Público foi construída e é inaugurada a Fonte das Águas Dançantes, ainda no governo Fürstenau

De 1969 a 1973 - Cachoeira sob o comando de Honorato de Souza Santos retira as muradas (balaustradas), os bancos, as floreiras, os postes de luz e o relógio público.

Se é lenda urbana, eu não sei, porém "dizem" que alunas do Curso de Artes sentaram-se na balaustrada para tentar sensibilizar as autoridades e evitar a demolição do lindo detalhe da praça, (RES).


Entre 1989 e 1993 - No governo de Acido Witeck a praça SOFRE a última grande reforma, conforme atesta a imagem da cabeça do blog e as duas primeiras imagens coloridas de obras

2011 - É iniciada nova reforma para "revitalização" do espaço (decadente) pelo prefeito Sérgio Ghignatti, atualmente paralisada

TÚNEL VERDE
exemplo/exceção de sobrevivência

Onde andará a luz dele? No começo ou no fim?

Fontes: "Cachoeira do Sul em busca de sua história", de Ângela Schumacher Schuh e Ione Maria Sanmartin Carlos e "Uma luz para a história do Rio Grande, Rio Pardo - 200 anos - Cultura, arte e memória", de Olgário Paulo Vogt e Maria Rosilane Zoch Romero

4 comentários:

  1. Olha... até concordo que a praça já teve dias melhores, mas acredito que após a conclusão destas últimas obras ela ficará muito boa para o lazer da população da cidade.
    Considero muito infeliz a referência que a senhora fez a rampa da pista de skate, a final de contas o skate é um esporte. Incentivar o esporte é melhorar os caminhos da juventude que frequentam aquele ambiente. E isso sim é uma forma nobre de tratar os jovens lhe cedendo um espaço público para a pratica do skate.

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  2. Ainda tenho na lembrança de criança, os postes, com aquelas luzes amarelas, e os bancos antigos. No fundo da memória, imagens de uma praça bonita, das pessoas sentadas, apreciando os que passavam sem tempo para uma conversa, mas sempre com a educação e gentileza de um cumprimento, como os cavalheiros que tiravam o chapéu, e curvavam-se com um sorriso. E então, vieram os homens de educação, cultura, e gosto esquisito, e destruíram praticamente tudo que de belo havia. Seria demais, enumerar tudo que aniquilaram, basta lembrar, além da praça, da estação ferroviária. Importante a divulgação das fotos, e dos fatos, para essa geração, que nem lembranças têm.

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  3. Anilda, a pergunta que me faço seguidamente: por quê? Por que outros municípios não o fizeram?

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