Orgulho!

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sábado, 28 de setembro de 2013

AMERASIANS da Guerra do Vietnã (1965-1975)

Vietnã (1965-1975)
AMERASIANS
Photograph (by Catherine Karnow, National Geographic)
Jim, an Amerasian, and his Vietnamese mother show a photograph of her with her 
American husband, Jim’s father, who had been stationed as a civilian in Saigon during the war. They were a family until the father returned to his original family, (whose existence he had kept a secret) in the United States....

Soldados do Vietnã e filhos deixados para trás tentam se reencontrar nos EUA
James Dao - New York Times
                                        
Logo depois de deixar o Vietnã, em 1970, o soldado James Copeland recebeu uma carta de sua namorada vietnamita. Na correspondência ela dizia que estava grávida e que ele era o pai.
Copeland se realistou na esperança de ser enviado de volta ao Vietnã. Mas o Exército dos Estados Unidos estava reduzindo seus contingentes e manteve Copeland nos Estados Unidos. No momento em que Saigon caiu em poder do Vietnã do Norte, em 1975, Copeland havia perdido o contato com sua namorada. Em seguida, ele conseguiu um emprego em uma fábrica de plásticos localizada no norte do Mississippi e iniciou uma família. Mas uma pergunta difícil permanecia sem resposta: será que ela realmente teve um filho vietnamita?
"Várias coisas que fizemos no Vietnã, consegui apagar da minha memória", disse Copeland, 67. "Mas não consegui tirar isso da minha cabeça".
Em 2011, Copeland decidiu buscar uma solução para a sua dúvida ao reconhecer o que muitos outros veteranos negaram, mantiveram em segredo ou tentaram esquecer: que eles deixaram filhos para trás no Vietnã.
As histórias desses veteranos são um legado esquecido de uma guerra distante. No entanto, para muitos ex-combatentes e para os filhos que eles tiveram com mulheres vietnamitas, a necessidade de uns encontrarem os outros ficou mais urgente do que nunca nos últimos anos. Atualmente, os veteranos têm entre 60 e tantos e 70 e poucos anos, e muitos deles estão aposentados ou doentes --e desejam curar as feridas de uma guerra antiga. E, para muitos dos descendentes vietnamitas desses ex-soldados, que venceram pelo menos algumas das barreiras da imigração dos EUA, a vontade de conhecer suas raízes norte-americanas só ficou mais forte.
"Eu preciso saber de onde eu venho", disse Trinh Tran, 46, corretor de imóveis de Houston que procurou em vão por seu pai soldado. "Eu sempre sinto que, sem ele, eu não existo".
Segundo algumas estimativas, dezenas de milhares de soldados norte-americanos tiveram filhos com mulheres vietnamitas durante a longa guerra do Vietnã. Alguns desses filhos nasceram de relacionamentos de longo prazo que seriam inimagináveis para os veteranos das guerras do Iraque e do Afeganistão, países onde a interação com a população local era mínima. Outros nasceram de encontros de uma noite só. Mas poucos entre esses pais-soldados chegaram a conhecer seus filhos -- e um número ainda menor os trouxe para viver nos Estados Unidos.
Após a guerra, essas crianças --conhecidas como "Amerasians" (ou "Amerasiáticas", em tradução livre)-- sofreram muita discriminação e tiveram que enfrentar a extrema pobreza no Vietnã, pois eram vistas como uma lembrança terrível de um Exército invasor. Envergonhado pelos relatos sobre as péssimas condições de vida dos Amerasians, em 1987, o Congresso dos EUA aprovou uma legislação que garantiu aos descendentes dos soldados norte-americanos um status especial de imigração. Desde então, mais de 21 mil deles, acompanhados por mais de 55 mil parentes, se mudaram para os Estados Unidos com o auxílio do programa, e milhares mais entraram no país com a ajuda de outras políticas de imigração.
Muitos chegaram com a expectativa de se reencontrar com seus pais norte-americanos. Mas o governo dos EUA não os ajudou nessa busca, e apenas uma pequena fração deles --talvez menos de 5%-- conseguiu encontrar seus pais.
Um número enorme de Amerasians segue com sua busca, geralmente utilizando pouco mais do que nomes mal traduzidos, lembranças meio esquecidas e fotografias apagadas.
No entanto, contra todas as probabilidades e, apesar dos muitos anos que já se passaram, filhos e pais às vezes conseguem encontrar uns aos outros.
Cuong Luu nasceu no Vietnã, filho de um soldado dos EUA que conheceu sua mãe quando ela limpava o apartamento dele. O soldado deixou o Vietnã antes de Luu nascer, e sua mãe perdeu o contato com ele. Logo depois, ela se casou com um norte-americano que trabalhava para os militares. Ele levou a família para as Ilhas Virgens quando Luu ainda era criança.
Luu herdou muitas das características de seu pai, e no bairro negro de St. Thomas, onde cresceu, ele era insultado por ser branco. Segundo Luu, sua mãe também se esquivava dele, talvez por ter vergonha das memórias difíceis que sua presença evocava.
Quando tinha 9 anos, ele foi parar em um abrigo para meninos delinquentes. Aos 17, estava morando na rua, vendendo maconha e fumando crack. Aos 20 anos, Luu foi parar na prisão por assaltar um homem à mão armada. Ao sair da cadeia, sua meia-irmã o levou para Baltimore, onde ele retomou a venda de drogas.
Mas, em seguida, Luu teve uma filha com uma namorada, e algo dentro dele mudou. "Eu me preocupava. Achava que iria para a cadeia e que nunca mais iria vê-la", disse Luu sobre sua filha, Cara, que tem 4 anos. 
Atormentado por perguntas sobre sua identidade, ele decidiu que precisava encontrar seu pai biológico para endireitar sua vida. "Eu queria me sentir mais inteiro", disse Luu, 41. "Eu só queria poder vê-lo com os meus próprios olhos."
A busca de Luu se tornou uma obsessão. Ele passou várias as noites diante de seu computador, procurando, sem sucesso, até que percebeu que havia escrito o nome de seu pai errado: o nome era Jack Magee, e não McGee.

Ele descobriu referências a um Jack Magee no site de veteranos de guerra e, por meio do Facebook, conseguiu rastrear um homem que tinha servido na mesma unidade. "O que você quer de Jack Magee", o homem perguntou. "Eu só quero um pai", respondeu Luu. "Seu pai quer falar com você", o homem respondeu pouco tempo depois.
Luu teve seu DNA testado, e o exame deu positivo. Em novembro do ano passado, Magee, um professor aposentado do sul da Califórnia, visitou Luu no dia de seu aniversário. Uma relação estranha, cheia de possibilidades, mas não livre de ressentimentos e desconfiança, nasceu.
Atualmente Magee liga para o filho semanalmente para verificar se ele ainda mantém seu emprego como faxineiro em um hospital em Baltimore. Ele também enviou um Toyota Corolla usado da Califórnia para Luu, que se deslocava por Baltimore de ônibus.
"Fiquei espantado quando descobri que ele existia", disse Magee, 75, em entrevista.
Segundo Luu, agora que encontrou seu pai ele se sente mais forte. Mas Luu se deu conta de que a descoberta não resolveria todos os seus problemas. O que um ex-detento pode fazer para ter uma vida melhor? Ir para a faculdade? Abrir uma empresa? O tráfico de drogas continua sendo uma tentação poderosa.
"Eu queria tê-lo conhecido antes", disse Luu. "Ele poderia ter me ensinado algumas coisas."
Brian Hjort, um dinamarquês que ajudou Luu e outros vietnamitas a rastrearem seus pais, disse que os Amerasians muitas vezes têm expectativas muito altas e irreais em relação ao encontro com seus pais biológicos, pois esperam que eles curem feridas emocionais profundas. Mas os veteranos que eles acabam conhecendo muitas vezes estão doentes ou têm problemas financeiros. Às vezes, esses novos relacionamentos são emocionalmente insatisfatórios.
"Eu tento dizer para eles: eu não posso lhes garantir amor", disse Hjort. "Eu só posso tentar encontrar seu pai."
Hjort, 42, faz parte de um pequeno grupo de especialistas autodidatas que têm ajudado os Amerasians a rastrear seus pais --na maior parte dos casos sem cobrar nada. Pintor industrial de Copenhague, Hjort conheceu a história dos Amerasians quando viajou pelo Vietnã e pelas Filipinas, há duas décadas, e ficou impressionado com a pobreza desesperadora dessas pessoas.
Um deles pediu a ajuda de Hjort para encontrar o pai de um amigo. E, para a surpresa de Hjort, ele conseguiu descobrir o paradeiro do homem mesmo sem ter nenhum conhecimento prévio sobre registros militares. As notícias sobre o sucesso de Hjort se espalharam rapidamente pelos de círculos dos Amerasians, e logo ele se viu atolado por pedidos de ajuda. Movido pelo sofrimento dos Amerasians, ele aceitou mais casos, cobrando apenas o custo de suas viagens para o Vietnã. Ele criou um site, fatherfounded.org, que gerou mais pedidos de ajuda do que ele era capaz de atender.
Trabalhando durante seu tempo livre, Hjort estima ter encontrado um grande número de pais. Alguns morreram e muitos outros bateram o telefone na cara dele. Alguns ameaçaram processá-lo. Mas talvez duas dezenas deles aceitaram reconhecer seus filhos. E, nos últimos anos, os veteranos também começaram a pedir a ajuda de Hjort. James Copeland foi um deles.
Em 2011, Copeland, que já estava aposentado, começou a ler sobre as vidas miseráveis dos Amerasians no Vietnã. Consternado, ele decidiu procurar seu próprio filho.
Copeland encontrou Hjort e enviou-lhe dinheiro para que ele fosse ao Vietnã. Armado com alguns nomes e com o rascunho de um mapa, Hjort encontrou a aldeia onde ficava a base de Copeland e rastreou o irmão de uma mulher Amerasian que estava morando nos Estados Unidos --e que Hjort acreditava ser a filha de Copeland.
Hjort enviou uma fotografia da mulher e de sua mãe para Copeland, e o coração do ex-soldado disparou: ele reconheceu imediatamente a mãe como sua antiga namorada. As mãos de Copeland tremiam de emoção quando ele discou o número da filha e perguntou: "é Tiffany Nguyen que está falando?".
Nos dias que se seguiram, ele visitou Tiffany, sua mãe e seus três irmãos em Reading, na Pensilvânia, onde ela administra um salão de beleza no Wal-Mart local. Nguyen e seus três filhos passaram o Dia de Ação de Graças de 2011 com Copeland no Mississippi. Por um tempo, eles conversavam por telefone todas as noites, e ela lhe contou sobre como sua mãe a tinha protegido contra abusos no Vietnã, sobre sua luta para se adaptar aos Estados Unidos, sobre como ela olhava para os homens mais velhos no Wal-Mart, imaginando se um deles seria o pai dela.
"Nós tínhamos muitos anos para recuperar", disse Copeland. "Eu consigo dormir muito melhor agora."
Mas o encontro também trouxe um sofrimento inesperado para o ex-soldado. A mulher de Copeland ficou furiosa quando descobriu que ele tinha uma filha vietnamita, e exigiu que ele não mais a visitasse. Copeland se recusou: Nguyen é sua única descendente biológica. Após 37 anos de casamento, ele e sua mulher se separaram e pensam em se divorciar.
Tradutor: Cláudia Gonçalves

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