20 de julho de 1944
Em 19 de julho, a presença de Stauffenberg em Wolfschanze para uma reunião no dia seguinte foi requisitada. A chance que ele esperara pacientemente surgira. Na manhã seguinte, 20 de julho, Stauffenberg se levantou às cinco e, antes de partir, disse ao irmão Berthold: "Nós atravessamos o Rubicão". Dirigiu até o aeroporto com seu ajudante, Werner von Haeften, que havia falado por horas com Dietrich Bohoeffer sobre matar o Führer. Agora ele estava prestes a fazê-lo. Com eles, a maleta de Stauffenberg, contendo documentos importantes e, enrolada numa camisa, outras das ardilosas bombas de plástico que atormentavam os conspiradores repetidamente. Mas desta vez, como diz a história, ela não falhou em explodir. No fim, sua explosão causaria a morte de milhares, mas não de forma prevista.
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Pastor, Mártir, Profeta, Espião Eric Metaxas |
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Marechal de Campo Wilhelm Keitel, Reichmarschal Hermann Goering, Hitler e Martin Bormann Wolfschanze |
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A Toca do Lobo |
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O uniforme do Führer |
Stauff e Werner estão a caminho ...
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Local onde explodiu a bomba de Stauffenberg Memorial |
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À esquerda Martin Bormann e Goehring |
Mas havia três horas antes da reunião.
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A Toca do Lobo em outro ângulo |
Pouco antes do meio-dia e meia, Keitel avisou que a hora havia chegado. Eles deveria partir imediatamente. Mas, antes de deixarem o escritório de Keitel, Stauffenberg perguntou se poderia tomar um banho rápido; ele pretendia armar a bomba no banheiro. Quando viu que o banheiro não era o lugar adequado, pediu ao assessor de Keitel um lugar onde pudesse trocar a camisa. O assessor de Keitel levou Stauffenberg a outra sala, onde o conspirador fechou a porta, abriu rapidamente a maleta, desembrulhou a bomba, vestiu a camisa na qual ela estava enrolada, e quebrou a cápsula. A bomba explodiria em dez minutos. Stauffenberg correu apressadamente para o carro de Keitel, e num instante eles chegaram à conferência.
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Stauff e três dos seus cinco filhos |
No momento em que Keitel e Stauffenberg entraram na sala onde Hitler se encontrava, quatro dos dez minutos tinham passado. Hitler reconheceu Stauffenberg superficialmente e continuou a ouvir a conferência do general Heusinger. Stauffenberg olhou em torno da sala e viu mais problemas. Himmler e Goebbels não se achavam presentes. Contudo, ele sentou-se perto de Hitler, colocando a mala sob a mesa, a menos de dois metros de distância dos pés do Führer, que - a menos que ele se movesse - estariam separados do restante do corpo em cinco minutos.
Mas algo chamado peanha ficaria literalmente no caminho e mudaria o vetor da explosão histórica para longe do alvo pretendido. Uma peanha é um bloco maciço usado como suporte. No caso da imensa mesa de carvalho nessa sala de mapas, havia duas delas, um em cada extremidade. A mesa tinha aproximadamente cinco metros e meio por um metro e meio, e cada um das duas monstruosas peanhas eram quase tão largas quanto a mesa.
Essa mesa bizarra e sem pernas desempenharia um papel trágico nos assassinatos de Dietrich Bonhoeffer, seu irmão Klaus e seus dois cunhados, além de Stauffenberg, Haeften e centenas de outros conspiradores, sem mencionar os milhões de inocentes sofrendo naquele período em desespero miserável nos campos de extermínio. É um fato e um mistério que o curso da história esteja articulada a uma peculiaridade do design mobiliário.
Stauffenberg sabia que restavam três minutos antes que a bomba detonasse. Era hora de partir. Pediu licença repentinamente, resmungando algo sobre a necessidade de obter um conjunto final de dados para apresentar em sua conferência. Sair de uma sala na presença de Adolf Hitler era bastante incomum, mas Stauffenberg tinha razões urgentes. Ele caminhou para fora do prédio, lutando contra a poderosa tentação de correr em disparada. Atrás dele, na sala, Heusinger continuava a zumbir até que uma de suas frases foi prematuramente interrompida por uma explosão tão potente que Stauffenberg, já a duzentos metros de distância, avistou as chamas amarelo-azuladas trespassando pelas janelas, acompanhadas por alguns dos homens do alto escalão que visualizavam os mapas, com enfado, poucos milissegundos antes.
A mesa de carvalho ficou em pedaços. Cabeças estavam em chamas. O teto caíra no chão. Vários homens jaziam mortos. Mas, ao contrário do que Stauffenberg acreditava ao se apressar em direção do aeroporto, nenhum dos mortos era o "mal encarnado". Lá estava Hitler, fino e elegante, embora caricaturalmente despenteado.
"Foi a Providência que me poupou", declarou Hitler.
Fonte: Bonhoeffer - Pastor, Mártir, Profeta, Espião
Eric Metaxas
Stauffenberg (Coronel Claus Philip Maria Schenk, Conde de Stauffenberg) e Haeften (Tenente Werner von Haeften) conseguiram passar sem quaisquer problemas pelo primeiro ponto de observação situado fora do Covil do Lobo (Wolfsschansse, Rastenburg, Quartel General na Prússia Oriental). A situação ali era tão confusa que ninguém se lembrara de soar o alarma naqueles minutos subsequentes à explosão, que todos ouviram, é claro mas Stauffenberg conhecia o oficial do primeiro ponto de observação e usou de blefe para abrir caminho alegando ter pressa de chegar ao aeroporto, e mandaram-no passar.
Quando chegaram ao ponto de observação externo, tiveram de esperar, pois o alarma já soara e o sargento de serviço disse a Stauffenberg que todas as entradas e saídas haviam sido expressamente proibidas. Stauffenberg insistiu e o sargento disse que teria de falar ao seu superior. Felizmente, este era Moellendorf, com quem Stauffenberg e Haeften havia tomado o desdejum naquela manhã. Stauffenberg pegou o telefone e, no seu melhor estilo militar
ríspido (era superior a Moellendorf, que não passava de capitão), disse: "Moellendorf? Aqui é o Coronel Conde von Stauffenberg. É da maior importância que eu chegue ao aeródromo às 13h15 para ir a Berlim. Você tem de mandar o seu sargento aqui deixar-me passar. O Comandante está a par de tudo". O ardil funcionou, mas sem dúvida não tria sido tão fácil, se o próprio comandante estivesse no outro lado da linha. Para sorte de Stauffenberg, naquele momento, o comandante fazia parte do grupo de homens espantados que ouviram a explosão, acorreram à sala de mapas e agora tentavam descobrir como a bomba fora posta ali ou se de fato fora lançada por algum avião russo que sobrevoara o local.
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Hans von Dohnányi Cunhado de Dietrich Bonhoeffer assassinado por conspiração |
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Rüdiger Schleicher Cunhado de Dietrich Bonhoeffer também assassinado por conspiração |
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Berthold Boenhoeffer e esposa Assassinado como seu irmão Dietrich e com mais centenas de compatriotas "conspiradores". |
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvk_nZnIvHmVjYf_TxYJcc4Tr2SIjoKyNos5RJSLyABsRgFkgRW9aV-1GTTTZK9A410uMr49_dh4FeERavxxf5LD5h46j0vfzus1MYUvvEP9dmnS4ORHmoaoO36oS53B1k3r9_RxGPQ3SI/s640/Berthold+von+Stauffenberg.jpg)
Claus tinha dois irmãos gêmeos, Berthold e Alexander
(dois anos mais novos).
Embora nascidos na Baviera, Claus e todos os outros membros da família consideravam-se suábios. Berthold (foto) também foi assassinado como conspirador. Nesta imagem vê-se Berthold enfrentando o bárbaro tribunal ao vilipêndio de Roland Freisler.
Em sua maioria os infelizes foram executados por um processo lento de enforcamento usando ganchos de açougue com corda de piano.
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As forcas de Plötzensee, Berlim |
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A Condessa Nina e os filhos Berthold (1934), Heimeron (1936), Ludwig (1938), Valerie (1940) e Konstanze (1945) |
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Coronel Albrech Mertz von Quirheim, Tenente Werner von Haeften, General Friedrich Olbrecht e Stauff Fuzilados em 21 de julho de 1944 |
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Memorial Liberdade, Justiça e Honra! |
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Memorial em Plötzensee, Berlim |
Seguem as imagens de algumas das vítimas, várias delas no tribunal que tinha à frente a besta Roland Freisler. Um dos mortos é o filho do físico Max Planck, ganhador do Prêmio Nobel da Física de 1918, Erwin Planck.
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Erwin Rommel, a Raposa do Deserto. Apoiou o plano para matar Hitler. Envenenou-se como uma saída "honrosa" bem como para proteger sua família. Foi enterrado "com pompas militares". |
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Hans Bernd von Haefen (1905-1944). Jurista, membro da Resistência Alemã. |
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General Helmut Stieff (1901-1944). Enforcado pelo seu envolvimento com o 20 de julho. |
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Almirante Canaris. Uma das figuras da Resistência e um dos envolvidos no atentado de 20 de julho. |
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Adam von Trott zu Solz: advogado e diplomata, participou do complô. Foi enforcado em agosto de 1944. Tinha 33 anos. |
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Ludwig Beck. Chefe do governo provisório que seria instalado caso o atentado tivesse vingado. Suicidou-se. |
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Peter Graf Yorck von Wartenburg (1904-1944), jurista e fez parte do núcleo dos conspiradores contra o nacional-socialismo e do complô de 20 de julho de 1944. |
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Ulrich von Hassel. Diplomata, membro da resistência, foi condenado à morte em setembro de 1944. |
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General Erich Hoepner (1886-1944) Implicado no atentado de 20 de julho. |
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General Hans Thomas |
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Günther Smend. Colaborador da oposição, foi preso em agosto de 1944 e setenciado à morte como cúmplice do atentado de 20 de julho. Mais uma vez a Prisão de Plötzensee cumpria com seus desígnios. |
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Johannes Popitz(1884-1945). Ministro das Finanças da Prússia e membro da Resistência Alemã contra o Nacionalsocialismo |
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Friedrich Klausing (1920-1944). Membro da Resistência e participante do complô de 20 de julho. Foi enforcado na Prisão de Plötzensee em Berlim. Tinha 24 anos. |
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Plötzensee, Berlim |
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Ewald Heinrich von Kleist-Schmenzin Oficial, participou do complô, porém sobreviveu vindo a morrer aos 90 anos. |
Estes meses todos representaram ainda incontáveis perdas humanas, feridos, desaparecidos, órfãos, brutalidades, massacres e perdas materiais imensuráveis.
Esta longa noite da História da Europa nunca será virada. Tantos anos se passaram e ainda nos deparamos com novos documentos, imagens, fontes, fontes estas que reviram versões históricas, acrescentando novos capítulos.
A terra alemã repousa sobre milhares de bombas enterradas e não detonadas. Tesouros culturais foram perdidos para sempre. A URSS e a Polônia, as duas nações mais atingidas em todos os aspectos, ainda possuem testemunhas vivas do terror pelo qual passaram.
A matança nos campos de concentração foi intensificada, as terríveis vinganças contra atos dos partisans de todas as nações ficaram ainda mais bestiais, e à medida que os exércitos da Grande Aliança avançavam em direção a Berlim, só há relatos da insanidade desta tragédia.
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Hiroxima. A hora da bomba. 6 de agosto de 1945! |
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Prisioneiros russos "sobreviventes" do Campo de Concentração de Mauthausen. De cada 10 russos feitos prisioneiros pelos nazis, somente 3 voltaram para casa. |
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Dresden, a Florença do Elba O que restou dela após as raids de 13-14 de fevereiro de 1945 |
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Oradour-sur-glane, França Matança de civis |
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Horrenda imagem de um dos mil prisioneiros queimados vivos em Gardelegen, Alemanha, em 16 de abril de 1945, a três semanas da rendição alemã, pela SS e Luftwaffe. Os que tentaram escapar do galpão foram fuzilados. |
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Muitos mortos a poucos dias da rendição! |
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Pastor Martin Niemöller Campo de Concentração de Sachsenhausen |
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Pastor Martin Niemöller (1892-1984) |
Em 1934, o Pastor Niemöller ainda acreditava que poderia discutir com os novos donos do poder. Cada vez mais na mira do regime pela GESTAPO, foi proibido de fazer pregações. Niemöller ficou sete anos preso (1938-1945).
Inicialmente em Sachsenhausen e posteriormente no Campo de Concentração de Dachau.
Sobre o significado do Nazismo na Alemanha, Niemöller inspirou-se no poema de Vladimir Maiakovsky adaptando-0:
"E não sobrou ninguém"
Quando os nazistas levaram os comunistas, eu calei-me, porque, afinal, eu não era comunista.
Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu calei-me, porque afinal, eu não era social-democrata.
Quando eles levaram os sindicalistas, eu não protestei, porque, afinal, eu não era sindicalista.
Quando levaram os judeus, eu não protestei, porque, afinal eu não era judeu. Quando eles me levaram, não havia mais quem protestasse.
Fontes:
Stauffenberg, História Ilustrada da 2ª Guerra Mundial, Gerry Graber, Editora Renes, 1977.
Bonhoeffer, Pastor, Mártir, Profeta, Espião, Eric Metaxas, Editora Mundo Cristão, São Paulo, 2011.
Os Julgamentos de Nuremberg, Paul Roland, M. Books do Brasil Editora Ltda, 2013.
Diversos links internet.
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