Os bons velhinhos
Carlos Heitor Cony
Folha de São Paulo, 21 dezembro
de 2014
Pior do
que acreditar em Papai Noel e não acreditar em nada. Por sinal, este é o caso
em que eu me enquadro.
Afinal,
a barra humana é dura de segurar e desde
os tempos das cavernas qwue o homem apela para os papais noéis de
circunstância.
Um a um, esse papais noéis foram desmascarados e restou,
para alguns, talvez para a maioria dos homens, esse imenso Papai Noel que é
justo e clemente, poderoso e universal, e ao qual devemos honra, louvor e
glória e do qual devemos esperar a chuva e o sol, a vida e a morte.
A ideia
de Deus foi burilada, copidescada em vários níveis e transformou-se em uma das
alavancas que sustentam o homem diante do mundo e da vida.
Até aí, tudo bem, cada um tem o Papai Noel que merece.
O diabo
é que os anos passam, passam, passam os séculos e ao contrário do Papai Noel,
que a idade adulta desmascara com facilidade, a ideia de Deus persiste no coração
e na mente do home, como a única alternativa que o libertará do desespero e do
nada.
Afinal,
são duas ideias nascidas no mesmo forno.
A do
bom velhinho, que toma conta das crianças bem comportadas e que, no final do
ano, traz brinquedos para elas e a ideia do pai universal, que anota os copos de
água que damos ou deixamos de dar e que preside - de acordo com as sagradas
escrituras - a cada cabelo que cai de nossas cabeças.
São
funções razoavelmente inúteis. Assim como seria desejável que Papai Noel desse
de comer a todas as crianças que passam fome no mundo, também seria decente se
Deus suspendesse por algum tempo os ditames de sua divina justiça e desse a
todos os homens os mesmos direitos e deveres, dispensando-os de provar, dia
após dia, a miséria que faz parte do nosso legado e da qual somos escravos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário