Jornal O COMÉRCIO, 10 de setembro de 1930
UMA VIAGEM AO IRAPUAZINHO
Quem, há menos de um lustro* será capaz de saber que significava este nome?
* cinco anos
Hoje, entretanto, ninguém ignora que se trata de um arroio do 20º distrito de Cachoeira, que emprestou seu nome até há pouco obscuro à fazenda do dr. Antônio Augusto Borges de Medeiros.
Como será ela? Modesta? Suntuosa? Alegre? Pitoresca?
Pertencem a “Actualidades”, semanário que aparece na capital do Estado sob a direção do escritor De Souza Júnior, as observações que se seguem sobre a vida do preclaro chefe republicano dr. Borges de Medeiros, em sua modesta vivenda de campo, no Irapuazinho:
Triste?
E o dr. Borges que vida faz no recolhimento daquele recanto perdido do Rio Grande?
A viagem até Irapuazinho é feita em pouco mais de duas horas. A estrada que é toda de campo, não pode ser classificada de excelente, não se lhe aplicando, todavia, o quantitativo de má.
A poucos quilômetros de Cachoeira corre o Jacuí, que é vadeado sobre uma barca rebocada por uma gasolina. Daí por diante a viagem torna-se monótona, vendo-se aqui e ali, algumas plantações de eucaliptos.
Durante o trajeto, inúmeras carretas passam pelo automóvel, todas carregadas de arroz das plan tações à margem do Jacuí.
Várias porteiras obrigam o automóvel a parar.
A sede da fazenda do Irapuazinho – a “cabana” como a denomina o próprio Borges de Medeiros, é de aspecto simples e pitoresco, com duas grandes e vetustas figueiras que deitam uma sombra amiga e acolhedora.
“Fragmentos das descrições do visitante”:
- junto do lance principal da casa, ergue-se uma torre, que é depósito de água;
- casa modestamente mobiliada;
- Borges de Medeiros recebe as visitas em seu gabinete de trabalho à esquerda, peça pequena, mobiliada com austeridade;
- a visita ocupa uma cadeira de balanço;
- estante de estudante, à direita com cerca de 80 livros, a parte de baixo é ocupada com jornais;
- sala de jantar ao lado do gabinete igualmente decorada com muita austeridade;
- mesa simples com algumas cadeiras;
O dr. Borges de Medeiros que se apresenta já de manhã vestido como se já estivesse na cidade, de colarinho e gravata. Deseja saber como ocorreu a viagem e observa que há um atalho que abrevia a viagem em até quinze minutos. Fala pausado e sereno.
“Então o visitante é convidado para almoçar ...”
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiQ7DsCVOHV8XrQ0D-2_ycAEJx1zDuDXwYvVautgW5ZTvPhH_gDrYNRajbZW7baBxtXPKr0DSpDXRQM5pR7T-PhT655s_hadsVp12gPOg8xkEYjn8Ll9UZ5cecVGPMeRYaNWqxlQ8_4S14/s400/A+CABANA_cozinha.jpg)
FOTO: cozinha "austera" da "Cabana"
É estatuto da casa não fazer cerimônia. O almoço é simples, cada conviva possui jarrinha d’agua e seu copo. Borges de Medeiros é gentilíssimo. A refeição é servida pela excelentíssima esposa **. A política é assunto banido da mesa. Sua Excelência prefere discorrer sobre a vida rural e negócios de campo.
“Não se pode conceber vida mais austera e metódica do que a que faz Borges de Medeiros na sua cabana de Irapuazinho”.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglQMX9i85jJI1S7tfLrAHI0HqXTIXYNhkv0xou7nfenetG1CgyDEo8CgqPGJVRZdWmpFupMvizr5gFPa1H2YLbWi1mJTRFt7yePhQD3TJSufnApfnGuGmMHQfOAON3rlB0U7IyCDjxuj8/s400/A+CABANA_pia.jpg)
Foto: pia "austera" da "Cabana"
** D. Carlinda
OBS: as fotos foram realizadas pela Patrícia Miranda do Jornal do Povo. Posteriormente foram repassadas à diretora do Núcleo Municipal de Cultura, Mirian Ritzel que as doou ao COMPAHC, Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural. O Jornal O Comércio foi pesquisado no Arquivo Histórico. Em cada página lida destes jornais antigos há sempre uma surpresa por ser descoberta. O texto sobre a "Cabana" foi descoberta "arqueológica" da pesquisadora Ucha Mór.
Segundo Felippe Moraes, Presidente do COMPAHC (Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Cultural):
"reparem a técnica da 'escaiola' que impermeabilizava as paredes de banheiros e cozinhas (nunca havia visto este trabalho floral)."
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