Aguarda há anos a restauração que todos governos prometem mas não cumprem. A foto é do DVD "Cachoeira, 100 anos depois", de Claiton Fernando Nazar apoiado pelo Núcleo de Cultura de Cachoeira do Sul.
Ecologista
Jornal do Povo, 10 e 11 de fevereiro de 2001
A praça, o povo e as prioridades
A Praça José Bonifácio sempre ocupou um papel central no processo urbanístico de Cachoeira. Teve o Pelourinho, o Mercado Público, a pérgola e os canteiros caprichosamente dispostos, numa mistura de influência paisagística italiana e francesa. Em décadas passadas, havia a praça dos brancos e dos negros, numa sutil segregação consentida por toda a sociedade. Em termos cronológicos, teve fôlego para sobreviver até meados da década de 1970. Com o fim do Bar América, com o sumiço do relógio fronteiriço da Rua Dr. Sílvio Scopel (onde andará?) e com a mudança do point jovem para a Praça Honorato, ela foi murchando e definhando aos poucos.
Delírio do governo Marlon Santos, a "Concha Acústica" que rendeu R$ 5000 aos projetistas, prejuízo aos cofres públicos da Prefeitura e, por extensão, ao provedor do cofre, o contribuinte cachoeirense.
Eu e os então vereadores Luiz Machado e Pipa Germanos, conversando na esquina da Câmara, rapidamente chegados à mesma conclusão: não havia projeto (já que o vencedor pago pela Prefeitura havia sido jogado no lixo!) e as intenções do Sr. Secretário de Obras era iniciar a obra paralelamente a uma grande reforma da José Bonifácio.
Tivemos os três a mesma opinião e determinação: seria o caos e as Obras não conseguiria dar conta de tudo. Provavelmente seria o caos multiplicado por dois. Rumanos para os microfones da Fandango e gritamos no éter: não há projeto, não há verba, não há cronograma de obras, etc. Mas, em verdade, a obra então restrita à praça se estendeu pelos quatro anos do governo do PDT, com pequenas e desconexas etapas sendo realizadas. Por fim, adentrou ao Governo Pipa e logo de início teve uma prova de foto, capa então do Jornal do Povo: “O dia em que Witeck chorou”. Referia-se ao fato de que um biólogo havia atacado com motosserra um cipreste que tinha uma colméia de abelhas em seu pequeno oco. A ferida foi grande e a árvores ficou a perigo. O Dr. Witeck prometeu para, em 30 dias, realizar uma dendrocirurgia, ou seja, uma cicatrização e reforço da referida. Passados 60 dias sem que nada fosse feito, convoquei um funcionário de minha empresa, material cicatrizante, cimento, areia e fiz o serviço necessário. Parecia premonição, pois passados dois anos um temporal lascou a árvore fragilizadas e as “equipes especializadas” da Prefeitura devem ter tido orgasmos ao fazerem o que mais gostam: “vrummmm, e dê-lhe motosserra!”.
E a praça? Continuava inconclusa. Vieram os módulos para as lancherias (mais árvores foram suprimidas sem a devida compensação), mas a causa era nobre e higiênica: transferir os comerciantes dos trailers para um lugar mais digno e “limpar” o visual da calçada superior da praça. Resultado: até hoje eles relutam em mudar. As pequenas obras pipocavam ora aqui, ora ali. E o tempo foi passando. Os gramados mais do que nunca, jamais receberam um quilinho de adubo. Flores? Alguém já viu alguma? Mato alto, árvores desnutridas, lixo, terra nua. E funcionários de machadinha, raspando a casca das tipuanas para facilitar a passagem de cal, enfraquecendo os vegetais pela perda de seiva. Depois, quando os galhos caem com um ventinho, está sempre pronta a proposta da poda radical.
Por fim, os irmãos Mendonça trouxeram uma boa nova: a volta do Bar América (rebatizados de Santa Maria Lanches), com apenas um senão: uma famigerada e ilegal cerca de cordas que avança pelos canteiros da praça num claro comprometimento ao direito público de ir e vir num bem de uso público.
Resultado final: oito anos de obras e tudo está inconcluso. Como pode uma cidade não perder sua auto-estima se em oito anos não consegue concluir a reforma de uma praça? Mas, para não deixa-la sozinha na agonia, o poder público tratou de arranjar-lhe funesta companhia: as árvores estupidamente podadas antes do inverno nos fundos da Praça da Caixa d’Água, no alto da David Barcelos, em frente à própria Prefeitura, na Praça Honorato, na Presidente Vargas, onde os pobres plátanos decenários rebrotam da base (algo impensável numa árvore adulta), numa tentativa de sobrevivência. Isto tudo sem falar na destruição do túnel verde da Marechal Floriano. E, finalmente, a “nova irmãzinha”: a Praça Salgado Filho, também conhecida como “do Cândida” ou “dos Loretos”.
pediram socorro à Câmara.
O que é mais triste em tudo isto é a falta de importância que o Governo Municipal dá às praças, às árvores, ao ambiente urbano. Basta, ao que relatamos, somar o pasto que cresce nas calçadas e canteiros para termos uma só certeza: iniciamos o milênio com um triste aspecto urbano, pois, se ao mesmo tempo o asfalto agrega qualidade de vida, nunca tivemos uma cidade tão feia e suja.
OBS: hoje é 12 de fevereiro de 2012, e praticamente NADA mudou.
A INFELIZ praça segue EM OBRAS!