
Em criança e seguindo adiante, ouvia minha mãe contar de uma antiga sinagoga que havia na rua Major Ouriques, próxima à Escola Estadual Rio Jacuí.
Em criança e sempre passando em frente ao referido prédio, ergui inúmeras vezes os olhos para observar o cimento áspero na platibanda do prédio com nítidos contornos da Estrela de Davi, símbolo da religião.
Em criança, os judeus da minha cidade haviam partido e a sinagoga, negociada com a Igreja Batista, em 1963.
Contudo, o vestígio da Estrela seguiu (e segue) misterioso, mesmo nos anos em que o prédio foi Igreja Cristã, até ser novamente negociado. Hoje, é oficina de consertos - a Eletrônica Fronza.
Seu proprietário cortês autorizou as fotos que ilustram esta matéria e alcançou-me uma cópia da conta de água que interessantemente, permanece em nome da Sociedade Israelita Cachoeirense.
Os judeus cachoeirenses chegaram na primeira década (entre 1913 e 1915 – antes do estouro da Revolução Russa) do início do século passado. No seu auge havia por aqui cerca de 25 famílias totalizando 60 pessoas. Os registros confiáveis confirmam a vinda de vários deles provenientes das terras da ex-URSS. Dedicaram-se ao comércio e indústria, principalmente.
Sem dúvida, a onda migratória russa de judeus naquela época para várias regiões do planeta e principalmente, EUA e Palestina, deveu-se às violentas perseguições a eles direcionadas nas terras russas. Conhecidas como POGROMS começaram a acontecer a partir de 1883, ainda durante o czarismo, ataques esses que se tornaram cíclicos, prosseguindo pelos primeiros anos da Revolução Russa de 1917, durante a Guerra Civil e posteriormente nos duríssimos anos iniciais da ditadura stalinista. Stálin pretendia criar repúblicas étnicas – uma delas, cuja capital era Birobidzhan, era república judaica na Sibéria.
Segundo uma das fontes pesquisadas, curiosamente “Birobidzhan hoje vive um renascimento graças à chegada de judeus vindos de Israel”.
Pelo Tratado de Versalhes, a Palestina passa a ser administrada pela Grã-Bretanha, contudo um ano antes (1917) havia sido assinada a Carta de Balfour pela qual os ingleses comprometiam-se a criar o Estado judaico.
Conclui-se, portanto, que a causa provável da vinda desses judeus foi todo esse imbróglio político dos primeiros anos do século passado, no qual havia um povo sem pátria e em evidente estado de diáspora. Destaco que ainda hoje, subsistem outros como os armênios, chechenos, bascos e palestinos, este últimos presos atualmente num gueto e palco de recente acontecimento internacional de ataque e aprisionamento, por parte de Israel, de navios com ajuda humanitária.
Há uma excelente matéria do Marcus Tatsch, no Jornal do Povo sobre o tema. O título é “Judeus, a etnia que desapareceu de Cachoeira”, cuja página pode ser pesquisada no JP online com data de 24/25 de julho de 2004. Esclarece, por exemplo, o porquê da partida destes cidadãos cachoeirenses.
Renate E S Aguiar
Pesquisa Histórica: Arquivo Histórico Municipal, Eletrônica Fronza, Jornal do Povo e biblioteca particular.
Fotos: acervo pessoal
Foto judeus cachoeirenses Abrahão Sklar, Sima German e Simão Sklar: Jornal do Povo.